30 dezembro 2014

E se o Syriza ganhar?

A possibilidade do Syriza ganhar as próximas eleições gregas e ser governo está a provocar muita excitação, em várias frentes. Eu confesso ter alguma curiosidade em assistir aos efeitos práticos de uma mudança dessas. Em primeiro lugar, seria um teste necessário para o Euro. A nossa bela moeda única, criada com muito optimismo (ou ligeireza) prevendo apenas dias de sol, precisa de estar preparada para lidar com decisões soberanas e democráticas de um país membro, doa a quem doer, e até poderá doer mais ao rebelde do que ao sistema.

Todos sabemos ou imaginamos qual o resultado de falar grosso a quem devemos dinheiro: depende de quanto a nossa dívida pesa para esse credor. Se for pouco manda-nos passear; se for relevante irá aceitando o “diálogo”… até valer pouco. Daí, eu ter muita curiosidade em ver na prática os efeitos desse “Não pagamos!”. Muito provavelmente ninguém depois emprestará decentemente um euro (ou um dracma) à Grécia e não acredito que fique numa situação melhor do que a actual.

Ou será que o Syrisa no poder, tornar-se-á mais “pragmático” e menos “idealista”? Sendo muito provável que a aplicação duma política de ruptura terá consequências duras, principalmente para os gregos, acho ser uma experiencia a tentar. De uma forma ou de outra é necessário clarificar e concretizar as alternativas possíveis para estas dívidas insustentáveis (onde se inclui a nossa) e para a governação desta europa perigosamente dividida entre o norte supostamente rico, sério e implacável e o sul declarado pobre, trapalhão e corrupto. A realidade é mais complexa e pode ser mais rica.

29 dezembro 2014

Ano justo?

Dois factos marcam a entrada em 2015, do ponto de vista da “grande” justiça. Um ex-primeiro-ministro em prisão, preventiva, e o arquivamento do processo dos submarinos. Para o primeiro caso resta esperar uma “preventiva” breve e que a decisão final chegue pelo fundo e não pela forma.

No caso dos submarinos, formalmente não houve crime. No entanto toda a gente sabe que circulou dinheiro por canais paralelos, houve mesmo julgamentos e condenações na Alemanha. Custa a crer como nada se conseguiu, nem sequer a cooperação completa da justiça alemã. Apetece insinuar que algures talvez tenha faltado vontade, mas deixando as suposições e passando para os factos, este arquivamento formal não é nenhuma prenda para os potenciais envolvidos, muito pelo contrário. A natureza do negócio não é compatível com “tudo acabou bem”, apenas por não se ter descoberto onde aterraram os milhões.

Um vulgar trapaceiro fica contente por se ter safado e nada ser provado em tribunal. Neste nível de responsabilidade política, a exigência é maior.

17 dezembro 2014

Sidi Bouzid - 17 / 12 / 2010


Nos primeiros dias de Dezembro de 2010 eu estava na Tunísia. Se alguém me tivesse dito nessa altura: - Sonhei que daqui a um mês isto vai estar tudo a ferro e fogo, palácios saqueados, o presidente a fugir e o regime deposto; eu teria respondido a esse suposto interlocutor: - Deves ter comido algo que te fez mal! Neste país, pode até o povo sair para a rua, mas antes de aquecerem as solas na calçada, já alguém lhes estará a aquecer as costas com um bastão. Cerca de duas semanas depois, em 17 de Dezembro, o vendedor de fruta de Sidi Bouzid, acossado e humilhado pela polícia, imolava-se, desencadeando a revolução, na qual, à partida, ninguém acreditava.

Razões para ter ido até o fim:

- a primeira dama e respectiva família, o clã Trabelsi, tendo passado de ilegítima a legítima, tratava o país como um bem pessoal. Que quem governa se governa é condenável, mas até certo ponto tolerável – isto não.

- o wikileaks tinha revelado muitos detalhes e dado uma maior e insuportável visibilidade a esses saques e abusos.

- as autoridades reagiram com bastão nas costas, sem entenderem que essa resposta já não servia.

- a Tunísia não é um país inventado um dia, a milhares de quilómetros de distancia. É herdeira do império cartaginês e a história e identidade contam muito.

- uma ajudinha da cadeia de TV do Qatar, Al Jazira, muito popular na altura, que deu uma enorme cobertura e destaque, mostrando os acontecimentos como uma epopeia empolgante.

Hoje, exactamente 4 anos depois, a Tunísia é o único país das “primaveras” onde a consolidação de um verdadeiro regime democrático parece ainda possível. Porquê? Devido à sua forte identidade… e, apesar de tudo, por ter sido pouco “ajudado”. A democracia não pega de enxerto e muito menos empurrada à força.

16 dezembro 2014

Os episódios de António Costa

É muito curioso como o tempo parece estar mais a favor do maldito governo em funções, do que do recém-chegado novo líder da oposição. António Costa continua sem dizer como irá mesmo endereçar as questões fundamentais mas, em contrapartida, os pequenos episódios que fazem dele notícia, vão de mal a pior. Para os feriados alinha-se com Paulo Portas. Se a restauração da independência e a instauração da República são importantes, e são-no, tratem de as manter em boa saúde evitando, por exemplo, negócios e negociatas que ameacem a sua saúde. É mais importante gerir bem o país do que reivindicar feriados e dias santos.

O aeroporto de Lisboa não é propriedade da Câmara de Lisboa, nem está construído exclusivamente no seu município. Além de várias questões de princípio sobre a tal taxa “neo-senhorial”, não é claro nem simples como na prática pode ser implementada. Um potencial futuro primeiro-ministro legislar sem se preocupar com a forma de aplicar as suas decisões, não augura nada de bom.

Sobre a TAP, esqueçam a troika e sejam homenzinhos. Privatizar ou não, e como, é uma decisão a tomar e a assumir hoje. Ir ler, reler e interpretar um documento com três anos para defender um ponto de vista é uma tentativa de desresponsabilização, quase infantil … Quanto à comparação do significado da existência de uma simples companhia aérea com uma das mais brilhantes e marcantes empreitadas da história da humanidade é demasiado rídiculo para ser levado a sério. Uma coisa posso dizer: se Vasco da Gama fosse da mesma fibra teria chegado, e com alguma dificuldade, … à Berlenga!

14 dezembro 2014

Por aí não!


O advogado de José Sócrates pediu a libertação deste, invocando nulidades processuais. Como cidadão ele tem naturalmente o direito de se defender, como muitos, enveredando por gincanas jurídicas, centradas na forma e ignorando fundo.


No entanto, para a natureza dos potenciais crimes em causa, intrinsecamente associados a funções da maior responsabilidade, virem a ser determinantes factos do género não foi às 17h59 mas sim às 18h01, a folha tinha carimbo na frente e devia ser nas costas, é muito perigoso para a credibilidade das instituições.

A posição “política” pública actual de não se manifestar, deixando o assunto entregue, e bem, à justiça, deve no entanto exigir um esclarecimento pelo fundo. Fugir pela forma, pode até absolver formalmente o cidadão, mas para o sistema é destrutivo e inaceitável!

13 dezembro 2014

Se forem insultados, não estranhem

Os funcionários da TAP estão a planear uma greve para a época Natalícia, com o objectivo de “sensibilizar o governo” para não avançar com a privatização. Provavelmente nunca trabalharam fora de Portuga e possivelmente nem sequer passaram por outra empresa que não esta e pública. O efeito da sua acção de sensibilização não afecta apenas os portugueses que estão lá fora, mas para esses, é muito triste.

Não neste momento, mas já vivi fora de Portugal por duas temporadas e sei e entendo o que é vir passar o Natal à terra. É organizado com muita antecedência. Não é fácil depois arranjar bilhetes e muito menos com preço em conta. O tempo planeado em Portugal, para estar com a família, reencontrar amigos, rever o sol e o mar, a comida cá feita e colocar a respirar uma casa hibernada é precioso. Qualquer percalço que ponha em risco ou afecte esse tempo é dramático. Todos os potencialmente afectados com esta acção de sensibilização estarão a dirigir palavrões a esses funcionários e com razão.

Mesmo que acabe por ser apenas pólvora seca e a greve não se concretize, o pessoal que se lembrar disto vai para o ano evitar escolher a TAP. Com a vinda à terra no Natal não se brinca, mesmo até preferindo à partida usar um avião em que já “cheira” um pouco a casa.

O resultado desta “sensibilização” é que o governo deve mesmo vender a TAP e rapidamente. A continuarmos assim ainda vai acabar por ter que pagar para alguém ficar com os destroços duma empresa que os seus funcionários, não exclusiva mas determinantemente, estão a destruir.

09 dezembro 2014

Questão de estatuto ?

Recentemente falou-se muito de Mário Soares. Eu considero que a avaliação da sua contribuição para a consolidação da democracia em Portugal, se bem que relevante, está, em geral, algo inflacionada. Também não entendo o mutismo da comunicação social sobre tantas zonas escuras associadas a ele e aos seus amigos, parece que nunca existiram.


Para lá do conteúdo das suas intervenções, polémicas e questionáveis, o que me choca, e muito, é aquela afirmação, recorrente, de que o seu estatuto lhe permitir dizer o que pensa. Isto choca-me porque se há algo de básico numa sociedade livre é cada qual poder dizer o que pensa, sem necessidade de usufruir de um estatuto especial para isso.

Se é necessário ter sido primeiro-ministro, presidente da República e mais de 80 anos para se poder dizer o que se pensa, é muito grave. Assumir isso explicitamente, com toda a naturalidade, é assumir que a nossa sociedade está podre, é hipócrita e refém de interesses que amordaçam a consciência, a iniciativa e, já agora, como consequência, condenam o progresso.

Não digam que a culpa é da troika ou exclusivamente dos malvados da esquerda ou da direita, conforme o ponto de vista. A culpa está em todas as latitudes e achar esta situação “normal” é uma forma de cumplicidade. O meu avô não alcançou um milésimo da notoriedade de Mário Soares e, no entanto, teve sempre estatuto para dizer frontalmente o que pensava.

07 dezembro 2014

Alguém paga...


Quando a contestação popular começou na Síria xiita, aliada do Irão, os sunitas do golfo, a Turquia mais ou menos laica e os ocidentais atrás, entenderam ser uma oportunidade excelente para castigar e enfraquecer o Irão. Vai daí, ajudaram e financiaram todos que quisessem molhar a sopa, incluindo a Al Qaeda, curiosamente promovida a coisa menos má do que o maléfico Irão. O então EISL, agora pomposamente chamado “Estado Islâmico”, já dizia ao que ia e como. De tal forma que a própria Al Qaeda se afastou dele.

Hoje, estando como e onde queria, com a barbaridade conhecida, conseguiu a façanha de, aparentemente, alinhar contra ele, no sentido dos ponteiros do relógio: Síria, Ocidente, Turquia, Curdos, Irão, o que resta do Iraque e monarquias do golfo. É obra! No entanto, continuam pujantes e ricos. Dizem que os do Golfo já não lhes pagam mais. Está bem que se apropriaram do recheio de bancos iraquianos, receberam pagamento de resgates de reféns e também vendem petróleo dos campos que controlam. Curiosamente, o petróleo não se trafica como os diamantes num saquinho, que se esconde em qualquer lado!

O que me parece claramente é que algures no mostrador do relógio que atrás referi, há umas horas furadas. Se todos estivessem na prática firmemente determinados a acabar com aquela coisa monstruosa, pelo menos, pelo menos, petróleo eles não venderiam!

29 novembro 2014

Quanto vale uma cruz?


O NBAD, um banco de Abu Dhabi, nos Emiratos Árabes Unidos, estabeleceu um protocolo com o clube de futebol Real Madrid para usar a imagem deste numa linha de cartões bancários. As imagens acima são extraídas do site do banco.

Olhando com atenção nota-se uma curiosidade. O logotipo do clube está mutilado, desapareceu a pequena cruz do topo da coroa. A monarquia espanhola passou a laica? Não, nada disso, é uma questão de sensibilidades. Cruz - cristãos, Abu Dhabi – muçulmanos! Entende-se? Entende-se mas não se compreende.

A seguir, sempre que for “politicamente” correcto iremos retirar da nossa bandeira os escudos em cruz, símbolo das cinco chagas de cristo? Recordo-me de ver na catedral de Santiago de Compostela, escondidos sob umas flores, os mouros que jazem aos pés da estátua do guerreiro, passando este, assim, de bravo mata-mouros a pacato jardineiro. Vamos também, eventualmente, ter de retirar do nosso escudo os 7 castelos, aparentemente representando conquistas aos mouros, para não ferir susceptibilidades? A que preço/com que custo… !? (Por acaso até já foram pagodes chineses, mas isso foi por outros motivos …).

Sou agnóstico (de raiz cultural cristã), não concordo com os crucifixos nas escolas e em lugares públicos, mas considero que para alterar um símbolo histórico deve existir um valor muito forte e de natureza diferente da de um cheque.

E o CR7 que vá pensando em mudar o seu nome próprio…

28 novembro 2014

Paint ball ou Dostoievsky ?

A minha última participação no Roda Pé Cultural do Centro Cultural do Alto Minho, cuja publicação agradeço.

27 novembro 2014

Uma questão de tempo

Se a prisão no aeroporto de José Sócrates era necessária, não sei. Se a sua prisão preventiva actual se justifica, também não sei. Quero dar o benefício da dúvida à justiça, contrariamente a muitos que não hesitam em afirmar publicamente em alta voz que está errado.


Quanto à intervenção de Mário Soares a pôr as mãos no fogo pela inocência de Sócrates e a etiqueta-lo como “primeiro-ministro exemplar”…. Ou está mesmo senil, ou a militância justifica a desonestidade intelectual, ou o conceito de inocente para ele é algo diferente do do comum dos mortais… Digo e repito: a real acção de Mário Soares está ainda por escrever e é uma história muita mais feia do que a maioria das pessoas pensam.

Só falta mesmo é vê-lo dia a abraçar Alberto João solidariamente, quando este for perseguido pelos fascistas, perdão pelos juízes… haja tempo e lá chegará….ou vice-versa.

25 novembro 2014

Ainda os ricos espertos

Depois do escândalo (pseudo) fiscal luxemburguês a que me referi atrás, há naturalmente muitas pressões sobre o Sr Juncker, questionando a sua legitimidade. Ele argumenta que no seu programa está precisamente combater as evasões e as fraudas fiscais na Europa. Lembrei-me do outro do filme, que após passar meia vida a falsificar notas, mudou-se para a polícia para os ajudar a apanhar falsários. Provavelmente o Sr Juncker terá um enorme conhecimento técnico para realizar esse trabalho, mas precisa de algo mais: autoridade e reconhecimento.

Enquantos os eurofóbicos fustigam o novo presidente, e com razão, os do sistema pedem para seguir em frente. Não é o escalpe dele que resolve o problema e uma queda do novo executivo provocaria um atraso de meses no plano de investimentos que a Europa tanto necessita. Esquecem-se de uma coisa: o pragmatismo não pode matar os princípios. À força de repetirem “é circular, não se passa nada”, acabarão por reduzir a nada a sua credibilidade. Depois, não se queixem nem chorem quando os “Le Pen” e afins ganharem eleições. Sobretudo, nessa altura não evoquem (falta de) princípios porque será caricato.

24 novembro 2014

Presunção de injustiça?

José Sócrates desperta paixões. Para as negativas é motivo de júbilo ele ter sido detido; para as positivas é um choque e impõe-se uma relativização/teoria da conspiração e até uma certa “presunção de injustiça”. No entanto, quem já foi passar um simples fim-de-semana a Paris, questiona-se certamente como um ex-servidor do Estado pode ter ou obter fundos para viver lá um ano inteiro como ele viveu.

As reações oficiais, responsáveis, apontam para a necessidade de separar a justiça da política e está certo, mas talvez apenas por agora … Ou Sócrates está/sai inocente, ou o problema pode chegar à política, sobretudo se se provar que a origem dos fundos em causa está dalguma forma relacionada com as suas anteriores funções de ministro e primeiro-ministro. Pior ainda será se ficar evidenciado que estes fundos tresmalhados não constituem um caso pontual mas sim sistémico.

A prudência oficial dos outros quadrantes políticos pode ter mais a ver com os vidros nos telhados do que com os “princípios”. Neste momento quero acreditar que a justiça tem fortes razões para agir como agiu e que algumas televisões terem estado no aeroporto será efeito de bufaria individual e não institucional. Não sabemos detalhes nem temos que os saber hoje, mas insinuar ou afirmar que não havia necessidade de o deter é, no mínimo, pouco fundamentado.

21 novembro 2014

DDT ou PDT?

Chamar a Ricardo Salgado “Dono Disto Tudo” era um grande exagero. Os activos geridos por ele, se bem que com algum significado, estavam muito longe de serem “isto tudo”. Aliás, entre o que o GES geria e o que tinha mesmo, ia uma diferença muito grande, graças ao efeito de alavanca das participações em cascata. Se eu tiver 51% de A, quem tem 51% de B, que tem 51% de C, eu controlo C, apesar de no fundo não possuir mais do que o equivalente a 13% seu capital (0,51 x 0,51 x 0,51).

Uma expressão melhor adequada seria PDT : “Patrão Deles Todos”. De facto, Ricardo Salgado não era dono do país. “Apenas” mandava nos seus mandatários. No fundo, era também uma espécie alavancagem. Não é preciso ser dono do país, basta mandar em quem nele manda. A coutada do GES albergava e alimentava uma boa parte dos políticos passados, actuais e mesmo futuros.

A história o dirá, mas esta falência do país e consequente intervenção da troika, para lá de tudo que já se sabe e se berra, terá tido um efeito positivo. Não há dinheiro, não há vícios. O PDT deixou de ter dinheiro para os pagar a eles todos. Durante algum tempo ainda aspirou tudo que podia da PT, bem alavancada, e escandalosamente saqueou as poupanças de muito boa gente, para quem um banco e uma família centenária de banqueiros eram um garante de seriedade. Veremos como ficará tudo no fim.

Sou optimista e quero acreditar que algo mais limpo será.

20 novembro 2014

Rio infinito?


Muitas bandas musicais, assim como outros criadores, vivem um ciclo em que, depois de atingirem um pico, se transfiguram e degradam, seja por alteração da sua composição, seja por esgotamento criativo. A partir desse momento, passam a ser “outra coisa”, mesmo mantendo o nome.

Na semana em que se celebraram os 40 anos do lançamento do “The Lamb Lies Down Broadway”, o trabalho pico dos Genesis, talvez o mais brilhante grupo de rock sinfónico dos anos 70, os Pink Floyd estão no top das vendas com o novo álbum “Endless River”. Estes tiverem o seu pico um pouco mais tarde, com o “The Wall” de 1979 e no recente trabalho estão apenas 3 dos 5 músicos originais. Um grande desafio, portanto.

Este novo álbum não é mau … nem bom. Não busca novos caminhos, pelo contrário, cheira muito forte aos Pink Floyd dos tempos áureos - recorda e sem fazer esquecer. É como um prato aquecido. Não tem o vigor e o fulgor do cozinhado fresco, mas sabe bem recordar o sabor fantástico original. Fica a questão: será que o álbum representa algo para quem não se apaixonou e empolgou com um “Comfortably Numb”, só para citar um exemplo? Provavelmente não.

Uma coisa é certa. Após ter ouvido os novos temas tive um impulso irresistível de ir buscar o “The Wall”. E outra coisa também é certa para mim: o rock sinfónico dos anos 70 tem já um lugar destacado na (minha) história da música e não estou a ver nada posterior nessa área nem de perto ao mesmo nível, nem de perto... “Hey you…. Is there anybody out there… ?”

18 novembro 2014

A estranha tranquilidade de Putin

Na recente cimeira do G20 na Austrália, Putin afirmou tranquilamente que a Rússia não iria retirar do leste da Ucrânia, simplesmente porque não estava lá. Eu não entendo a sua tranquilidade!

Então, há um movimento enorme de forças militares atravessando a fronteira entre os dois países e a Rússia não tem nada a ver com isso? Quem terá então? Há destroços de blindados russos em território ucraniano - como foram lá parar? Há soldados russos a colocarem fotografias nas redes sociais, localizados na Ucrânia - quem os enviou para lá? Há submarinos a falar russo nas costas da Suécia, mas o kremlin ignora-os.

Isto tudo a acontecer sem o conhecimento e o controlo do Sr Putin, deveria ser muito preocupante para ele. Ou há outro país na região a usar impunemente meios militares russos, ou há dissidentes a agir fora do controlo de Moscovo. Não entendo mesmo como Putin pode estar tranquilo!!

17 novembro 2014

Empresas da teia


Sim, tenho uns morangueiros nas traseiras da minha casa, mas nunca deram morangos, acho até que já morreram. Pode-se falar assim da horta, mas dificilmente se entende que alguém se refira desta forma à sua participação numa empresa. Para começar, uma participação não vem tipo oferta do detergente da roupa. Tem um valor que o próprio pagou ou alguém pagou por ele, não há participações grátis. Depois, ser sócio de uma empresa implica responsabilidades e algum risco. Por prudência básica seria previsível que os sócios acompanhassem minimamente a gestão da “sua” empresa, para não se depararem um dia com surpresas desagradáveis.

Uma empresa, mesmo sem actividade comercial, continua a ter obrigações fiscais e sociais, não se extingue por morte natural. Há uma formalidade a seguir e estranho será que os donos não estejam a par. Um sócio desconhecer o estado da sua participação, no mínimo não é muito responsável.

O escândalo de corrupção em volta dos vistos gold escandaliza por ser uma teia e uma teia criminosa a um nível muito elevado. Marques Mendes tinha um ponto de contacto com essa teia e em vez de manifestar surpresa e vontade de se afastar, acha mais importante dizer que não ganhou nada nessa empresa. A ideia que fica é tratar-se de uma teia difícil de quebrar.

16 novembro 2014

A Força da Razão


Última publicação aqui.

Colecção aqui.

Nota; Há um ponto de contacto entre uma parte da narrativa e alguns acontecimentos recentes, Ela já estava estruturada e parcialmente escrita antes de esses acontecimentos serem notícia. Tentei desligar um pouco o contexto, mas enfim.. fica assim

12 novembro 2014

Torre de Ucanha para Lisboa



Sobre o rio Varosa, em Ucanha, no concelho de Tarouca, existe uma ponte fortificada que simboliza, entre outras coisas, o tempo em que os senhores da terra podiam livremente arbitrar um valor a cobrar a quem entrasse nos seus domínios. Lembrei-me deste monumento a propósito das taxas “turísticas”, anunciadas para Lisboa.

Vamos por partes…

É um valor pequeno? O valor pedido pelos arrumadores também é pequeno, mas é irritante ter de o pagar quando não achamos justo nem devido. O objectivo é taxar todos os turistas que entram em Lisboa? E os turistas que chegam ao aeroporto de Lisboa para outros concelhos limítrofes e até outros pontos do país, pagam por igual? Quantas pessoas vão a Lisboa sem serem turistas, muitas vezes em consequência directa e indirecta de aí estar instalada a capital do país? Não será isto por si só já uma grande fonte de rendimentos para o município? Os turistas que entram por estrada ou comboio estão dispensados? Não se aplica a quem chegar ao aeroporto de Lisboa em trânsito, mas não há apenas ligações ar-ar. Será justo cobrá-lo a quem desembarca em Lisboa para seguir viagem em comboio ou em estrada e da cidade apenas ver uns escassos quilómetros?

Sobre a aplicação prática. Nalguns países, os estrangeiros à chegada são obrigados a comprarem um selo-taxa para colar no passaporte. É esse o nosso modelo? Teremos funcionários com caixas-mealheiro ao pescoço no aeroporto, controlando a residência dos viajantes? Seria relativamente simples aumentar em 1 euro as taxas de aeroporto existentes. Infelizmente até nem se notaria muito, mas como gerir a excepção dos residentes de Lisboa é que complica. Será que para um valor pequeno e alguma complexidade de aplicação iremos ter custos administrativos a absorver uma boa parte do montante recebido? Provavelmente nada de muito chocante para uma burocrática capital.

Sugestões. Para obter receita dos verdadeiros turistas, criem e vendam produtos a explorar a imagem da cidade. Eles comprarão e até ficarão contentes. Para equilibrar as contas do município dispensem metade, para começar apenas metade, de todas as pessoas que por lá andam sem nada fazer.

10 novembro 2014

Merkelite e Merkelfobia

Alguns factos: existem muitos cursos superiores em Portugal a formarem pessoas em número largamente acima ao do seu mercado de trabalho potencial; para muitas funções não se encontram quadros com a formação necessária e têm de ser as empresas a assumi-lo, de forma mais ou menos estruturada, mais ou menos eficaz; certas grandes empresas, algumas alemãs, têm centros de formação profissional com um grande sucesso quanto à colocação dos formandos no mercado de trabalho.

Tudo isto é conhecido, dito e repetido cá na terra. Que venha um estrangeiro comentá-lo, e concretamente a maléfica Sra Merkel, isso ninguém aceita, é quase um atentado à soberania nacional. Não tenho nenhuma simpatia especial pela senhora, mas não me parece que a sua intenção fosse decretar que os portugueses não deveriam passar de profissões de baixas qualificações. É óbvio que a economia não necessita apenas de “doutores e engenheiros”, como também é certo que a Alemanha, nesse e noutros campos, tem mais sucesso do que nós.

A reacção exacerbada é típica de terceiro-mundista complexado. Seria mais interessante aproveitar a oportunidade para reflectir com mais profundidade e subtileza. Encerrar o assunto na simples métrica da percentagem da população com formação superior é pouco relevante, como a prática o confirma. Quanto aos malefícios que sofremos do país da maldita senhora, eu gostaria muito, mas mesmo muito, que existisse na Europa outro país idêntico, que tivesse cá outras Autoeuropa, Bosch, Continental e só para citar algumas.

08 novembro 2014

O Olhar Certo

Passou-me à frente dos olhos uma coisa de coluna social, a propósito do novo aspecto da actriz que representou Bridget Jones. O rosto aparece gasto, sem frescura, aparentemente fruto de tentativas de rejuvenescimento mal sucedidas.

Não conheço os detalhes, nem sinto necessidade de saber o que aconteceu exactamente a Renée Zellweger, mas lembrei-me de algo que ocorre numa certa idade, talvez mais com mulheres do que com homens. Olha-se ao espelho e não se gosta do que se vê. Vem daí uma urgência de decretar uma luta feroz pela linha, contra as marcas. Se um certo cuidado é naturalmente importante e são, a luta contra o tempo está à partida sempre perdida e até pode levar à perdição.

Apetece-me dizer o seguinte: o que torna uma mulher interessante é o olhar. Esse olhar não é sensível a calorias, não melhora nos ginásios, nem piora com a idade. Muito pelo contrário. Um olhar interessante é o que está aberto e virado para o mundo, para o que se viveu e se tem por viver. Não é o olhar fixo no espelho, longe disso.

PS: E concordo com a Keira Knightley, não precisa de fazer nada, está bem assim! :)

07 novembro 2014

Ricos espertos

Tenho para mim que grande riqueza conseguida de forma fácil, com pouco esforço, tem valores que a integridade desconhece. A prosperidade do pequeno Luxemburgo é um caso assim. São ricos por esconderem e guardaram activos com discrição e segurança. Uma espécie de cofre-forte à prova de ladrões, fiscais das finanças e até mesmo polícia. Que um país isolado como o Liechtenstein o faça pode ficar-lhe mal, mas tem a sua soberania. Se alemães, ou outros, vão lá abrigar a sua fortuna, o Estado alemão que se ponha em campo.

A Europa não tem, nem parece vir a ter tão cedo, uma harmonização fiscal, mas é evidente que os cantinhos abrigados são moralmente condenáveis e há pressões justas para acabar com isso, sejam eles na Madeira ou as ilhas inglesas do canal da Mancha. O que se soube esta semana sobre o Luxemburgo é de uma gravidade incrível. O seu governo negociava com empresas, incluindo europeias, acordos fiscais secretos. Ou seja, uma empresa francesa, por exemplo, em vez de declarar o seu lucro na sua sede real e aí pagar impostos, fazia um desvio pelo vizinho para pagar simplesmente 1% ou até menos. Podem os luxemburgueses dizerem que não é ilegal, mas é imoral. É uma verdadeira sacanice e pelas costas!

Se as instituições europeias pressionam a Irlanda por publicamente acordarem apenas 10% de IRC a empresas que lá se instalam industrialmente, que dirão destes 1% secretos, para simples caixas de correio, sem nenhuma actividade económica real local? O Sr Juncker, recentemente empossado presidente da comissão europeia, tendo sido primeiro-ministro do Grão-ducado e certamente parte activa e informada nesses acordos, que moral e autoridade tem ele para liderar a Europa? Eu acho que nenhuma, mas mesmo nenhuma.

06 novembro 2014

Tinha que meter Deus?

Tim Cook, o CEO da Apple, veio corajosamente assumir em público a sua homossexualidade. Como estamos nos EUA onde há o mau hábito de invocar o divino por tudo e por nada, resolveu acrescentar isso ser um dom, dos maiores que Deus lhe tinha dado. Ora, eu acho este complemento muito infeliz. E sem sequer entrar pelo caminho de que se Deus tivesse dado um dom idêntico ao seu pai, provavelmente ele não teria nascido... mas isto é terreno que não quero pisar agora.


Ele fala como CEO de uma enorme empresa, das maiores no mundo, e certamente para chegar onde chegou terá muitos e variados méritos e dons, seguramente muito mais relevantes do que a “simples” orientação sexual. Depois, imaginemos que uma celebridade diz: “Agradeço a Deus ser heterossexual, foi um grande favor que ele me fez!”. Levantaria imediatamente um coro de protestos indignados, com meio mundo chocado e a exigir logo o escalpe moral e ético do individuo. O que Tim Cook disse foi mais ou menos isso …  

05 novembro 2014

Tristeza

Dentro dos defeitos e contra efeitos das colonizações, julgo existir uma particularidade na nossa. Como me dizia em tempos um belga conhecedor das Áfricas: Os portugueses, donde saem, deixam amigos. O relacionamento pessoal estabelecido com os locais tinha, segundo ele, um nível de proximidade, muito diferente do dos restantes europeus.

Em 1974 pouca gente em Portugal sabia bem onde ficava Timor Leste, mas a mobilização posterior contra a ocupação indonésia foi enorme e genuinamente solidária. Dentro das suas limitações Portugal ajudou a estruturar o novo país, quando este era pobre e de uma forma materialmente desinteressada.

Aparentemente Timor já sofre da maldição do petróleo. Até se pode entender que lhes seja desconfortável verem estrangeiros a investigarem e a julgarem notáveis locais. O que não se entende mesmo é a palavra expulsão e as 48 horas. Esta urgência dificilmente justificável é uma grande infelicidade / falta de jeito de quem a decreta e acaba por, indirectamente, esclarecer o fundo da questão. O povo timorense merecia melhor.

04 novembro 2014

Medo e ébola


Quando vivia na Argélia e me pediam uma avaliação do risco do país, costumava dizer: há uma actividade terrorista residual, em zonas geográficas bem determinadas. Sem estatísticas muito precisas, não provocará mais de uma dúzia de mortos por mês, quase exclusivamente membros de forças de segurança e apenas nessas zonas. Em contrapartida, na estrada morrem em média 12 pessoas todos os dias e por todo o país. Apesar de objectivamente o risco da estrada ser muitíssimo mais elevado e generalizado do que o terrorismo, este último era/é precepcionado com mais intensidade por quem lá vai. Porquê? Porque temos sempre mais medo daquilo que conhecemos mal e que julgamos não dominar.

Actualmente, passo cerca de 4 vezes por mês no aeroporto de Casablanca que tem várias ligações diárias com os países da áfrica ocidental onde o ébola anda descontrolado. Certamente corro algum risco, mas provavelmente inferior ao de escorregar na banheira e, obviamente, nem eu nem ninguém deixa de tomar banho por isso. Achamos que a “necessidade” do banho se sobrepõe ao risco associado.

Este assumir correr riscos não está apenas associado a aspectos utilitários ou necessidades básicas. O nosso quotidiano está cheio de riscos e viver plenamente passa por encará-los e saber como os enfrentar. É muito estúpido menosprezar o risco, como também é estúpido reagir desproporcionadamente. O medo irracional é uma enorme restrição à qualidade de vida. O problema está, como em tantas coisas, na ignorância. Se há tanta dificuldade em controlar a epidemia na áfrica ocidental, isso tem muito a ver com a ignorância. É muito difícil ter sucesso quando acontecem coisas como a de agosto passado, quando uma multidão atacou e “libertou” os infectados isolados num centro de quarentena em Monróvia…

Certo, mesmo certo, é que o céu não nos cairá em cima da cabeça, mas, mesmo assim, há quem tenha medo disso.

31 outubro 2014

Angústia pré-eleitoral

Tipicamente a aproximação das eleições trás cheiro a festa, papas e bolos, mas para mim é uma angústia. O orçamento de estado tenta ser um círculo quadrado. Não se pode abrir muito os cordões à bolsa, mas é necessário dar a ideia disso. E como a ilusão tem custado a passar, é uma trapalhada e uma valsa de receitas fiscais a subir, descer ou a fazer de conta que fico confuso. Especialmente aquela coisa de simular o IRS novo e o IRS antigo e depois poder optar…. parece-me uma brincadeira.

O vice-primeiro-ministro continua irrevogável na sua cavalgada de cavaleiro solitário, com uns tiques de justiceiro, e não se sabe bem se ele ainda faz mesmo parte do governo ou se se terá, eventualmente, mesmo demitido.

O candidato alternativo a primeiro-ministro acha que ainda é cedo para dizer o que pretende fazer, ou cedo para o eleitorado ouvir, mas considera importante apelar ao Tribunal Constitucional por causa do horário de 35 horas nas autarquias… Sim senhor, é uma grande prioridade nacional!

A minha sugestão para esta campanha é: cada candidato apresenta uma proposta de orçamento de estado, plurianual. As propostas serão analisadas por especialistas nas várias áreas, daí convir serem feitas por especialistas, e discutiam-se/validavam-se os méritos/deméritos e a viabilidade de cada uma. Será muito mais importante do que este brincar às escondidas e a campanha resumir-se depois ao habitual concurso de cuspidelas.

30 outubro 2014

Mobilidade


O que é aquilo? Não é pássaro nem avião… Meio de transporte de pessoal, também não.

Apenas um escritório de obra que, naturalmente, tem todo o interesse em ser móvel, dado a obra evoluir ao longo uma estrada. É barato, prático, além de também servir para pôr à prova o sentido de equilíbrio dos utilizadores.

O local de trabalho futuro ideal será qualquer coisa assim.

Em Cheraga, Argel.

28 outubro 2014

Os inimigos do SNS


Parece-me absolutamente inquestionável que o Estado deve garantir assistência na saúde a todos os cidadãos, sem ser necessário pesquisar previamente a carteira de um doente ou de um ferido para procurar um cartão bancário ou de uma seguradora. Agora, se o SNS se apoia em estabelecimentos apenas públicos ou também recorre a privados é uma discussão de outro nível. Se há quem use o argumento de que o Estado não é por norma bom gestor, as suas contratações com privados também frequentemente deixam muito a desejar.

Acho curiosas as manifestações da corporação médica em defesa do Serviço Nacional de Saúde. Não me recordo de os ter visto no passado assim activos a criticarem ou fazerem algo para impedir a má gestão e a utilização abusiva do sistema. Os médicos que cobram a consulta em casa e arranjam os examos no hospital, por exemplo? Pode-se dizer que hoje é muito menos do que no passado. Sim, mas se algo mudou não foi certamente com o apoio da corporação, muito pelo contrário. A norma é estarem sempre contra. O que fez a corporação proactivamente para moralizar e disciplinar tanta coisa errada que se vive no sistema público de saúde? Qual o histórico da sua reação quanto ao escândalo dos prémios à receita?

Quero realçar que não estou a referir-me “aos médicos” na globalidade. Estou a referir-me à sua representação corporativa, à sua enorme falta de humildade e ao desplante de agora se proclamarem defensores do SNS, quando ao longo de todos estes anos a sua inacção foi um dos piores inimigos.

25 outubro 2014

Não há melhor no mundo

Para a minha última deslocação a Rabat os hotéis habituais estavam cheios. Procurei no “booking” algo razoável em preço e não demasiado exótico. Na viagem de ida perdi uma ligação e faltaria à primeira noite. Telefonei para informar e para me manterem a reserva para o dia seguinte. Tudo bem, teria que pedi-lo por email e, no entanto, debitavam-me a primeira noite. Deram-me o endereço electrónico, tentei duas vezes e a mensagem vinha para trás. Liguei de novo e ao tentar identificar-me, questionaram: “é o senhor a quem vamos debitar uma noite por não vir… ?” Correcto e afirmativo! Dei o meu endereço de email para ver se ao contrário funcionava, mas, de qualquer forma, o meu caso já estava aparentemente bem controlado.


À chegada, no dia seguinte, ainda tentei discutir o débito da noite anterior mas sem sucesso e pediram-me para pagar logo. Paguei, deram-me um recibo, mas a factura recebê-la-ia no último dia apenas… protestei, que não queria ficar à espera e prometeram-me no dia seguinte fazerem-me uma “factura comercial”. Nesse dia seguinte, depois de insistência, lá me produziram a factura “tipo comercial”. Era um simples documento de texto produzido ali no momento e pelo qual esperei cerca de 15 minutos. Protestei que não devia ser assim, ao pagar deviam fazer logo e automaticamente a factura. O senhor diz que não. Que eu ia ter uma factura comercial, que não havia coisa melhor no mundo (para eles não pagarem impostos, presumi eu).

O hotel não era mau de todo. Apenas aquela alcatifa… Ao fim de um longo dia quente e poeirento… não era a visão muito refrescante.

22 outubro 2014

21 outubro 2014

Low cost




Low cost até na forma como se apresenta.


Uma placa de alumínio, uns rebites mais ou menos localizados e já está !

17 outubro 2014

Low clean



Mas é certo que voa !!

Nota posterior: Esta imagem foi recolhida num voo Barcelona - Argel. Publiquei originalmente esta nota no aeroporto de Argel, enquanto esperava o voo de regresso.
Para castigo o avião previsto .... avariou

15 outubro 2014

Sobre a paragem do “Mais rápido”

Eu, e muitos outros certamente , estou farto de ouvir notícias sobre a falha do Citius sem saber a razão de fundo. É grave que ele tenha colapsado na implementação do novo mapa judicial, mas o diagnóstico mínimo já devia ser conhecido. Aliás, sem isso seria difícil implementar as correcções necessárias. E então? Foi um problema estrutural? – A aplicação não estava preparada de todo/de raiz para a transição? Custa-me a crer que seja esse o caso, seria incompetência a mais. Estava teoricamente preparada mas na prática não? Ou seja, se tivesse sido usada de forma rigorosa suportaria a migração, mas na prática os processos tinham campos de referência em branco e daí ficarem perdidos no novo contexto? Se foi este o caso a responsabilidade é em parte de quem simplificou a sua utilização ao longo dos anos e também de quem tomou teoria igual a prática, que nestas áreas é uma ingenuidade perigosa.

Logo aqui temos dois cenários muito distintos e com responsabilidades de origens e níveis diferentes. Também me surpreende que agora “toda a gente sabia” que não ia funcionar quando na véspera não me recordo de nenhuma notícia específica sobre este potencial problema. Havia sim a corporação a protestar mas na generalidade, como é habitual. E este é um problema das nossas corporações, que as descredibiliza – estão sempre contra as mudanças, a defender o nada acontecer e a esfregar as mãos de contentamento quando algo corre mal. Ideias alternativas construtivas, muito poucas.

A comunicação social faz eco deste cruzar de espadas entre corporação e tutela, o público sabe que houve um problema, que para uns se resolve com a cabeça da ministra e para outros com um pedido de desculpas. É muito pouco, é pobre.

08 outubro 2014

Feminismo ou outra coisa

Numa televisão muda de um espaço público passavam imagens da intervenção de Ema Watson na ONU, muito mediatizada, em defesa dos direitos das mulheres. Ao pensar no contexto e na premência do assunto, dei por mim a concluir existirem realidades muito distintas, pedindo estratégias diferenciadas. Em países como, por exemplo, a Arábia Saudita ou o Paquistão há evidentemente muito, muitíssimo a fazer. Só que nesses locais o problema dos direitos das mulheres é apenas um fruto, grande é certo, de um mal mais amplo. Se supostamente essa parte fosse resolvida, outras limitações da dignidade humana em geral permaneceriam, sendo aliás muito improvável que uma evolução parcial dessas pudesse acontecer. Aí, o combate não é simplesmente pelos direitos das mulheres, deve ser dirigido à raiz do mal.

Doutro lado, nesta nossa sociedade, haverá ainda muita gente que acredite honestamente que a mulher não deva ter os mesmos direitos e oportunidades que o homem? Não muita. Muitos mais serão aqueles que exploram as especificidades do sexo feminino em proveito próprio, não por convicção, antes por oportunismo. Sem teorizar em demasia, todos temos mais apetência para umas coisas e mais dificuldades noutras. Será sempre melhor uma pessoa de 2,2 m de altura jogar basquetebol e uma de 1,70 m jogar hóquei em patins do que vice-versa. No entanto, se os negros dominam a maratona, isso não deve impedir os brancos de praticarem atletismo, tentarem a sua sorte em pé de igualdade e serem avaliados pelos resultados objectivos.

A discriminação ser feita por convicção ou por oportunismo tem uma diferença grande e exige uma abordagem diferente. Aliás, aqueles que aproveitam qualquer pretexto para abusar de um ser humano e da sua dignidade, não são selectivos. Não é inédito mulheres com poder discriminarem negativamente outras mulheres. O simples “heforshe” pode parecer poético mas nos tempos actuais é até algo redutor. Em resumo, feminismo parece-me ser uma palavra curta.

03 outubro 2014

Desculpem lá

Leio que o Facebook pediu desculpas aos seus utilizadores por terem sido cobaias involuntárias de uns estudos de comportamentos que alguém fez, utilizando a rede social. Há pouco tempo foram uns ministros que também vieram a público pedir desculpa por umas coisas que correram mal e pelos transtornos causados.


Isto faz-me lembrar aquela expressão do “Desculpem qualquer coisinha…”, que num dado contexto irónico se lê como “se eu fiz algo de errado que vos prejudicou, façam o favor de o esquecer e bola para a frente”.

Ora bem, eu acho que as desculpas caracterizam quem as pede, apenas e nada mais. É sempre preferível uma postura humilde de reconhecer e assumir o erro do que arrogante de o ignorar. Se alguém me prejudicar/afectar negativamente de alguma forma e a seguir pedir desculpa isso altera a forma como eu vejo esse autor, mas não corrige o prejuízo. O fundamental é a contextualização: correu mal por isto e faremos aquilo para que não volte a ocorrer. Dizer “desculpem lá o texto estar pobre” não melhora muito a coisa…

30 setembro 2014

Não foi em envelope

Depois de alguns dias de reflexão o nosso primeiro-ministro veio dizer que nada recebeu como remuneração da Tecnoforma nem da sua ONG satélite. Foi apenas reembolso de despesas efectuadas. Era importante saber um pouco mais sobre isso porque facturas há muitas…

E lá se aguenta, como também se aguenta o seu homólogo espanhol, à partida até bem pior colocado. Ao que parece, ele e demais notáveis do partido, recebiam notitas dentro de envelopes, geridos e distribuídos pelo tesoureiro do partido.

Esta remuneração B de políticos, melhor ou pior enquadrada, é uma praga que vai para lá dos aspectos fiscais de rendimentos não declarados ou incompatibilidade com o estatuto de exclusividade. Mesmo até com facturas certinhas e rendimentos declarados, não há almoços grátis. O dinheiro que circulou pela tal ONG que origem tinha e qual o propósito real da sua utilização? Obviamente que não se explica por uma lógica económica “normal”. Como milionários excêntricos não há assim tantos a fumarem notas pelo prazer de gastar, há neste e em tantos outros casos uma razão que a ética desconhece.

A autoridade só existe se houver moral em quem a exerce, independentetemente dos sacrifícios em curso que vivemos, que simplesmente a tornam mais premente.

29 setembro 2014

Riqueza para distribuir, deve ser criada

Na mesma altura em que se anunciam recordes de encomendas para o novo iPhone recém-lançado, uma ONG de Hong Kong lança mais uma polémica sobre a fábrica chinesa da Foxconn que produz equipamentos para Apple. Fala-se em 13 casos de leucemia, provavelmente ligados às condições de trabalho, embora sem haver clara confirmação da relação causa-efeito. Não tenho naturalmente nada contra a China e o seu desenvolvimento, mas as questões recorrentes quanto às condições de trabalho reais demonstram ser um ambiente economicamente imbatível.

Nesta Europa deprimida e em crise crónica, quem governa não encontra mais remédio do que ir acrescentando buracos ao cinto que nos aperta e quem está na oposição, em geral, declara ser contra a austeridade e “pelo crescimento”. Nomeadamente a oposição de esquerda faz fóruns e plataformas para reunir pessoas contra “esta política”. É preciso ir contra os antigos “porcos capitalistas”, que agora ganharam uma nova alcunha de “mercados”, para manter o estado social, a solidariedade e todas essas coisas inquestionavelmente importantes.

No entanto, quantos dos participantes nesses fóruns e plataformas não terão uma poupançazita num fundo qualquer, que em boa parte são quem alimenta os malditos “mercados”? Mesmo sem terem corrido a encomendar o novo iPhone, quantos não convocarão essas reuniões de protesto e reflexão a partir de um equipamento fabricado numa Foxconn qualquer, com operários descartáveis e a trabalhar muito mais horas dos que as permitidas cá? Quantos estariam dispostos a pagar algo mais por um equipamento produzido na Europa, permitindo reduzir o desemprego e criar a tal riqueza que tão afincadamente querem distribuir?

Antes dos discursos inflamados e dos apelos à defesa das “políticas sociais”, seriam interessante entender porque esta está a falir, ir à raiz do problema… e ser coerente.

28 setembro 2014

Ninguém falou em desculpas

Num texto anterior eu referia a necessidade que os muçulmanos responsáveis tinham de separarem o trigo do joio e demarcarem claramente o que é o islão espiritual do político e muito especialmente da barbaridade em curso na Síria e Iraque. Certamente que não era só eu a pensar assim. Um conjunto de figuras relevantes do islão sunita veio a público e, com base na sua interpretação do Corão, evidenciar que que o que lá se passa não está de acordo com os princípios da sua religião. Pode ser discutível terem excluído shiitas e mulheres dos signatários, para terem mais força, mas globalmente é positivo. Seguiu-se uma série de iniciativas individuais de muçulmanos do “not in my name”, que quiseram realçar que os bandidos não falam em nome deles.

No entanto, é no mínimo curioso como estas iniciativas conseguem levantar polémica. Há alguns muçulmanos que acham que não têm nada que se manifestar, não têm desculpas a apresentar, isso pressupõe uma presunção de culpa que eles não assumem.

Se um conjunto de fanáticos desatar a matar mouros em Tanger, invocando o nome de Portugal, eu não me sinto culpado, mas sinto-me certamente obrigado a dizer em voz bem alta que “o meu Portugal não é esse”. Ninguém é obrigado a assumir publicamente uma posição, mas em muitas alturas é altamente recomendável. Não ter culpa não justifica assobiar para o lado no estilo “isso não é comigo”. Muito pelo contrário.