30 maio 2017

A tática resultou


A cartilha inicial do atual governo era repor rendimentos, com isso gerar mais procura interna e esta induzir crescimento económico. Uma receita largamente questionável. Na prática, ele retirou a todos, por impostos, indiretos, para entregar a alguns e, no global, não houve mais dinheiro livre no bolso do português “médio”.

O crescimento económico que se celebra agora tem a ver fundamentalmente com exportações e o turismo e pouco ou nada, com a tal procura interna. No entanto, o governo acha que isso prova a bondade e justeza das suas políticas.

Imaginemos um treinador que manda jogar ao ataque, na prática a equipa joga à defesa e ganha o jogo. O treinador anuncia que a sua tática resultou… e a claque aplaude!

Se os resultados são importantes, saber como lá se chega não é menos. Só assim se podem tirar conclusões e encarar o futuro com seriedade e eficácia.

24 maio 2017

Pela Paz


Ao ver anunciadas as iniciativas “Contra a Nato”; perdão, “Pela Paz”, recordei-me da única manifestação em que participei na minha vida. Bem, participei aproximadamente em metade dela e passo a contar.

Nos anos 80, os USA quiseram instalar mísseis nucleares na Europa. Este projecto provocou uma grande reação pública, com motivações variadas. Desde a transmissão direta do canal URSS, até à de muita gente que, genuinamente, gostaria de ver um desanuviamento da ameaça nuclear.

Neste contexto foram organizadas umas “Marchas da Paz”, sob o signo de uma pomba singela com um bonito ramo de oliveira no bico. Eu e um grupo de amigos decidimos participar na marcha do Porto, porque entendíamos valer a pena demonstrar publicamente a nossa vontade de ver o mundo menos ameaçado. Na Praça da Liberdade recebemos um papel com as palavras de ordem oficiais, curiosamente todas elas reivindicando uma paz unilateral. Esvoaçavam bandeiras da Intersindical e comentámos: Então a Inter também é “pela paz...!”. E pensámos: vem cá a RTP, filma estas bandeiras, apresenta-as no telejornal e insinua que isto é uma manifestação só de “comunas”.

Lá arrancámos e, no grupo em que estávamos, improvisámos umas palavras de ordem: “Nem a Leste, nem a Oeste; nem Pershing, nem SS20”. Pershing era um dos modelos dos mísseis americanos em questão e SS20 era um míssil soviético. Rapidamente fomos instados a “utilizar somente palavras de ordens oficiais!” e um grupo diligente apareceu ao nosso lado com o “Milhões e milhões contra a bomba de neutrões”. Conseguimos mobilizar os vizinhos para insistir no “Nem a Leste nem a Oeste”.

Foi assim durante a descida de Mouzinho da Silveira. No largo de S. Domingos juntou-se-nos um automóvel com megafone, abafando as nossas vozes com os milhões e a bomba de neutrões. Demos uns passos rápidos à frente para fugir ao veículo, mas ele conseguiu furar até junto de nós. Depois de uma corrida adicional mais longa, passamos a ver e a sentir, não uns milhões, mas uns bons pares de sólidos cotovelos, tentando-nos separar e gritando contra a bomba de neutrões.

A manifestação para nós acabou ali, em frente à Bolsa, antes de se tornar conflituosa. Aparentemente, não era pacífico dizer “nem a Leste, nem a Oeste”.

22 maio 2017

An alternative fact


Leio que, na sua deslocação ao Médio Oriente, Donald Trump afirmou estarmos face a uma rara oportunidade de paz na região. O homem é um génio, “believe me!”. Ele consegue ver e concluir o que mais ninguém alcança.

Depois de ter vendido mil milhões de dólares de armas aos Sauditas… para ? Bombardear o Iémen não deverá ser, porque ali já não deve haver canto, recanto ou galinheiro que não tenha sido alvejado…. Para a Síria? Eh pá!! O problema é que aí pode-se saber por onde elas entram, mas não se sabem onde acabam.

Depois de ter condenado e ameaçado o Irão quando, “believe me”, era melhor, para a tal dita paz, procurar alguma equidistância, como fez Obama.

“Well, believe me!” Essa coisa da oportunidade para a paz, é um “real alternative fact”! “Believe me...” Isto está a piorar.


Foto do USAToday

19 maio 2017

Impedir que o mundo se desfaça



"Cada geração, sem dúvida, acredita estar destinada a mudar o mundo. A minha, no entanto, sabe que não o fará. Mas a sua tarefa é talvez ainda maior. Consiste em impedir que o mundo se desfaça.


Esta afirmação, podendo parecer muito premente e atual, quando tantas ameaças, de várias origens e naturezas, pairam sobre o nosso mundo, tem 60 anos. Foi proferida por Albert Camus em 1957, no discurso de aceitação do Prémio Nobel da Literatura.

Os problemas passados parecem-nos frequentemente menores do que os contemporâneos, mas é de recordar que naquela data ainda pairava no ar o cheiro das cinzas da II Guerra Mundial e estávamos em plena Guerra Fria, que, a aquecer, poderia provocar estragos irreparáveis.

O mundo não se desfez e se, até hoje, a Europa não voltou a cair na barbárie, isso foi em muito devido à construção das Instituições Europeias, assim como, com todas as suas deficiências, a ONU contribuiu para o mundo ficar um bocadinho melhor.

Aqueles que hoje menosprezam a “Europa Construída” e pedem excitados a sua desconstrução, não viveram uma guerra. Também não deveria ser necessário tê-la vivido para sentir a necessidade permanente desta prioridade evocada por Camus.

13 maio 2017

Glosa Crua, 12 - Tempo, 0


Doze anos de “glosa crua” e 1635 publicações. Vale algo? Para mim, vale…

Há uns anos, numa daquelas manobras estúpidas que não devo ser o único a fazê-las, apaguei o blog. Nuns instantes iniciais, quando a manobra parecia irreversível, não dei literalmente com a cabeça na parede, mas faltou pouco! Como se me tivesse desaparecido algo de irrecuperável e de muito valioso... para mim.


E continuo celebrando, já que "No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, eu era feliz e ninguém estava morto" !

10 maio 2017

Coisas cá da terra


Cenário 1 – Os estrangeiros ignoram ou ridicularizam a participação.

Resposta cá na terra: Estava-se mesmo a ver. Aquilo é absolutamente ridículo; não tem jeito nenhum. É inconcebível como foram escolher uma “coisa” daquelas. Outro resultado não era de esperar.
Acrescentar-se-ia, certamente, uma boa série de piadas e graçolas de natureza e gosto variados.


Cenário 2 – Consta que os estrangeiros gostam e, se calhar, vamos ficar bem.

Resposta cá na terra: Yeahhh!!! Sobral, amigo, estamos contigo! És o maior! Mostra a esses estranjas como se canta! Vamos lá, somos bons…!
E só falta pendurar bandeiras nacionais nas janelas e varandas.

Assim somos...

09 maio 2017

Milagres e Santos


Começando com uma declaração de interesse: sou agnóstico, não sou crente, mas tenho uma matriz cultural cristã. Aprendi a catequese em pequenino e não deixo de me reconhecer nalguns dos valores desta religião.

O que quer que aconteceu em Fátima em 1917, nos calores e nos apertos da primeira República, teria provavelmente uma projeção diferente caso tivesse ocorrido 30 anos antes ou 50 anos depois. No entanto, é um fenómeno social, vivo, que cresceu, que se consolidou e o seu valor atual para os crentes, não seria muito diferente se a sua base de 1917 tivesse sido mais verosímil ou menos fantástica, menos manipulada ou mais genuína. Esta “fé” pode e deve ser respeitada, independentemente das visões e convicções de cada um.

Nesta excitação toda com a vinda do Papa e para lá da proliferação dos vendilhões do templo (inclusive de colchões e de locais para dormir), não consigo entender e aceitar (se é que esse direito tenho) o processo de canonização e a sua sustentação. O critério de ser determinante e suficiente o reconhecimento de um milagre, muitas vezes associado a curas improváveis, parece-me pobre.

Muito mais determinante para o bem-estar humanidade e termos um mundo melhor são os atos e o exemplo deixado pelo próprio. Se algum cego passar a ver e me atribuir o mérito e a inspiração, isso não deverá fazer de mim santo, julgo eu…

07 maio 2017

Partidofobia


Ufa! Macron ganhou; o que se seguirá logo se verá, mas é sempre melhor do que a alternativa e ganhou apesar da demissão da extrema esquerda antifascista, que, provavelmente, gostaria de ter fascistas no poder para poder ser contra e forte. Seria mais interessante passarem a ser a favor de qualquer coisa positiva. A especificidade desta segunda volta é a ausência de candidatos dos partidos tradicionais.

Por cá, vimos a tristeza do PS no Porto, uma historia que nem sequer será potencialmente única deste partido. Como é óbvio, Rui Moreira é o candidato que muito provavelmente vencerá, por mérito próprio, independentemente dos partidos que o apoiem. Mas o PS quis reservar dividendos, para lá do razoável, e Rui Moreira mandou-os passear. Qual a reação do “aparelho”? Começar a malhar de todas as formas e feitios e “denunciar” a partidofobia (bonito, não?) do Presidente da Câmara, independente. Partidofóbicos ficamos nós todos assim e, depois, não vale a pena chorar. Felizmente é o Porto e é Rui Moreira, podia ser outro local e o Tino de Rans.

PS: Vamo-nos prepar para ver a armada de “comentadores” e cuscos oficiais a descobrir e a denunciar os dias em que Rui Moreiras se esqueceu do desodorizante.