24 fevereiro 2014

O Lenine que te ouça !!!


Diz o primeiro-ministro russo sobre a situação na Ucrânia:


“…parece-me uma aberração considerar legítimo o que aconteceu como resultado de uma revolta"

Ora bem: Outubro de 1917, diz-lhe qualquer coisa?

23 fevereiro 2014

CPLP e Guiné Equatorial


Não consigo entender o discurso de “virgem ofendida” que se vê por aí a propósito da adesão da Guiné Equatorial à CPLP. Acho bem que tenha aderido e não estou a colocar à frente o interesse pragmático de ser um país rico, nem sequer o argumento de que se fosse pouco democrático mas pobre, certamente haveria mais compreensão. Também não vou usar o argumento de que às equivalentes Organização da Francofonia e Commenwealth não faltarão largos motivos de vergonha.

Será que todos os países de regime não completamente sãos devem ser expulsos da ONU, por exemplo? Acho que não. A história mostra que os “problemas” não devem ser excluídos, mas pelo contrário, integrados no “concerto das nações”. É uma forma de os pressionar e de os fazer evoluir. Chegar, apenas isso não chega, mas é certamente melhor do que ficarem isolados. Se há um país que quer integrar a CPLP e há um mínimo de enquadramento cultural e histórico para isso (não estamos a falar do Nepal) isso só pode ser um motivo de valorização da língua de Pessoa. Se, por exemplo, com isso se consegue uma moratória à aplicação da pena de morte, que há de negativo neste facto?

Bem ou mal este mundo é só um e não podemos pretender estarmos entre uma elite restrita que ignora quem quer. As organizações internacionais são um fórum de pressão que pode permitir que o mundo se torne melhor, e para todos os que nele habitam

17 fevereiro 2014

Pequeno Cavaquinho, Grande Júlio

Júlio Pereira fez mais pela promoção dos instrumentos e da música tradicional portuguesa do que incontáveis museus e ministros todos juntos. Acredito que quando um dia mais tarde se escrever a história dos cordofones tradicionais portugueses haverá um antes e um depois dos trabalhos de Júlio Pereira, nomeadamente do Cavaquinho, da Braguesa e do Bandolim. Felizmente o seu trabalho não acabou e o álbum “cavaquinho.pt”, mais o projecto a ele associado, são uma boa notícia. É também de saudar o esforço de promoção feito, esperando que lhe dê uma visibilidade e uma divulgação que o anterior, e excelente, “Geografias” (aqui comentado) infelizmente não teve.

O problema das expectativas criadas antecipadamente é sempre o risco de serem sobreavaliadas e sobre este disco mais o seu livrinho o meu resumo é o seguinte. A introdução de Salwa Castelo-Branco é inócua. Tenta ser simpática mas é um desfilar de lugares comuns e de elogios básicos que o artista dispensaria. O texto documento sobre a história do instrumento e dos seus herdeiros não traz novidades espectaculares, mas tem o grande mérito de sistematizar e documentar o que se diz e o que se sabe.

Quantos aos temas gravados, confesso que não me “entraram” à primeira. Não fazem esquecer a exuberância do “cavaquinho” original, nem tão pouco a viagem do “Cádoi”. Dentro do seu registo, também não superam o “Fado” do “Acústico”. Mas está bem feito e ouve-se bem.

No livro que o acompanha há um capítulo final com uma série de considerações e reflexões sobre tradição e contemporaneidade e para mim é assim simples: o contemporâneo é algo que existe/existiu num dado tempo, bem definido, e que fica datado e associado a esse momento; a tradição não tem um tempo específico. Pode nem sequer ter um momento claro de nascimento e ser fruto de um processo evolutivo, mas, lá no fundo, tem algo que a identifica, com a qual nos identificamos, e que atravessa os tempos. Em oposição ao “com-tempo”, a tradição é um “sem-tempo”.

Em resumo, e como o mais importante, “cavaquinho.pt” é um trabalho bem feito, feito em boa hora e que certamente irá subsistir para lá dessa hora.

11 fevereiro 2014

O comboio e a bicicleta

Costumo pedalar pelo Alto Minho e lembrei-me de diversificar o meu ponto de partida ou de chegada utilizando o comboio. Fui informar-me e descobri o seguinte que o “material” actualmente utilizado na Linha do Minho não aceita bicicletas! Então a promoção da vida saudável, a utilização da bicicleta associada ao comboio tanto para o lazer como para as deslocações quotidianas é inviável por aqui? O site da CP até diz com grande destaque: “O Transporte de Bicicletas nos comboios Urbanos e Regionais é gratuito. É ecológico, é saudável e não custa.” Acrescenta mais abaixo em letra pequenina: “Devido às características do material circulante que efectua o serviço Regional nas linhas do Minho e Douro, não é autorizado o transporte de bicicletas”. Posso entender que o material não ajude, mas não seria possível algum tipo de adaptação?

Entretanto, em Abril 2013 a Assembleia da República recomendou ao Governo “a criação de condições para o transporte de bicicletas na CP – Comboios de Portugal” e “a continuação dos esforços de alargamento do transporte de bicicletas aos comboios Intercidades e, se tecnicamente possível, também ao Alfa Pendular”. Acho engraçada esta coisa da AR fazer recomendações e, como bons urbanos que são e concentrados nas grandes urbes, pensarem especialmente no Alfa…

Há muitas antigas linhas de comboio onde se retiraram os carris e em que agora circulam bicicletas. Nalguns casos a viabilidade económica mínima da linha seria mesmo inalcançável, mas fica a sensação de que não há grande esforço para a procurar. Vejo passar as composições entre Viana e Caminha pouco mais do que vazias e, pronto, é assim mesmo. Podem circular praticamente vazias que não faz mal, mas ciclistas lá dentro é que não pode ser! Talvez um dia os ciclistas venham a circular pela linha desactivada… por mera fatalidade do destino.

07 fevereiro 2014

As fronteiras da Justiça

Um juiz espanhol lançou um mandato de captura internacional contra uma série de altos dirigentes chineses do início da década de 90, incluindo o presidente e o primeiro-ministro da época, pelos acontecimentos no Tibete. A China não gostou, certamente, e, por coincidência ou não, o Parlamento espanhol vai a correr votar uma lei que limitará a jurisdição internacional do seu sistema de justiça.

Isto faz lembrar um pouco a história recente de Portugal-Angola, com a investigação a alguns altos dirigentes africanos. Foi um pouco diferente por os supostos crimes terem ocorrido mesmo em Portugal e não haver polémica sobre a tal abrangência internacional. Diferente também foi termos visto um ministro a comunicar e a antecipar publicamente as conclusões do processo e a decisão judicial estar plena de considerações políticas e diplomáticas…

Recordo ainda o caso da venda de equipamento militar do Reino Unido à Arábia Saudita em que uma investigação em curso teve que ser abandonada, dado os potenciais danos que a ira dos árabes poderia provocar. As razões invocadas foram “interesse público” e “segurança nacional”.

O que há de comum nestes três casos, é termos um país com um sistema de justiça supostamente independente que investiga algo relacionado com poderosos de um país terceiro, que este não aceita e em que as ameaças de retaliação fazem a justiça supostamente independente encontrar um caminho de recuo.

Pragmaticamente sempre foi assim, e provavelmente sempre assim será. Será que faz sentido ir até ao fim com estes processos, isolando um mundo da justiça cega para todos de outro mundo de valores relativizados. E o mundo da justiça cega, certamente empobrecido, conseguirá sobreviver ou acabará, de um forma ou de outra, comprado? Vale a pena pensar na expressão “pobres mas honrados”?

05 fevereiro 2014

Pensei que ele fosse mais inteligente

Supostamente Miguel Sousa Tavares não será limitado intelectualmente mas, por vezes, tem umas tiradas pretensamente superiores a todos os outros seres banais e limitados e que deixam muito a dever, no mínimo, ao discernimento. Sobre o 10º aniversário do Facebook diz ele que o odeia (é livre de o fazer…) e que por não estar lá fica a ganhar em privacidade e tempo. Aí, não me parece que estar no FB tenha um compromisso implícito de perda de tempo ou de privacidade, cada qual o usa e lhe dedica o tempo que entender.

Depois diz que não adere às “desculpas” usadas. Não precisa do FB para divulgar o seu trabalho (bom para ele…!) e que não tem interesse em encontrar os colegas da primária (ainda bem … para os colegas?). No fundo, desculpas desmontadas, aquilo é apenas uma agência de namoros, conclui o senhor.

Como muita coisa (ou tudo) que temos à nossa disposição, a forma como o usamos é que é determinante. Se eu vir passar uns totós de carro, com as janelas abertas e o volume da musica no máximo, poderei afirmar com grande pompa e arrogância que música no carro apenas serve para exibicionismos parvos, atitude com a qual eu não me identifico e por isso não tenho e estou muito contente por não a ter? Poder posso dizer, mas não abona muito a favor da minha inteligência mas uma coisa assim foi o que este senhor fez.

PS: Uma boa parte dos textos que aqui publico são enviados para o jornal “Público”, para secção das “Cartas ao Director” e alguns lá vão aparecendo publicados. Este nem merece o envio.