29 dezembro 2011

A bem da Nação

De acordo com alguns órgãos de comunicação social, a Assembleia de República este vazia de deputados no dia 23/12. Não havia tolerância de ponto, donde que das duas uma: ou os deputados assumiram uma tolerância indevida ou todos encontraram algo que fazer no exterior nesse dia, o que é uma coincidência extraordinária…

A bem da Nação, da dignidade do órgão e da seriedade e solidariedade que deve existir sempre e muito particularmente no período em curso, seria muito positivo que todos os grupos parlamentares comunicassem publicamente o que todos os seus deputados andaram a fazer nesse dia 23/12. 

27 dezembro 2011

Direitos de autor

Eu entendo que se comprar um livro ou uma música não tenho o direito de os copiar e distribuir ou vender e acho que a criação tem que ser remunerada com protecção da propriedade intelectual. Entendo que quem produz um medicamento é devedor de uma remuneração que pague o esforço de investigação e desenvolvimento.

Agora, custa-me mais a entender que isso se aplique com a terra e com sementes. Que um agricultor não possa seleccionar livremente grãos da sua própria colheita e semeá-los no ano seguinte! Mas é assim.

No caso concreto de França, 99% de todas as sementes comercializadas estão protegidas por um certificado de origem vegetal que integra o tal conceito de protecção dos direitos de quem desenvolveu a espécie, sendo assim proibida a sua “replantação”. Ainda em França, esta prática era tolerada mas o lóbi dos produtores de sementes conseguiu fazer votar uma lei que clarifica o contexto e obrigará a pagar ao “dono” da semente um certo valor em direitos. Pode fazer algum sentido e ser reconhecível o paralelo com outros processos criativos ou científicos, mas quando se fala de sementes e terra soa a algo bizarro e contra-natura.

21 dezembro 2011

Este parte, aquele parte ...

“Galiza ficas sem homens que possam cortar teu pão”. Assim escrevia Rosalía de Castro o que muito foi cantado. Há também a fotografia de Gérald Bloncourt da menina portuguesa com a boneca, na lama de um bairro da lata de Paris, muito recentemente identificada, que foi e é outro símbolo. Quando o governo sugere a emigração é natural que a evocação desta fase miserabilista desperte repulsa e reacções fortes.

Não tem que ser assim, uma diáspora de qualidade a funcionar em rede pode ser um enorme factor potenciador do desenvolvimento do país e não há nenhuma dívida de que a experiência internacional é um importante factor de valorização pessoal. Ou seja: a saída do país construtiva e ambiciosa é positiva; a saída para simplesmente fugir à miséria, não.

Da mesma forma que se incentivam as empresas a saírem, será lícito que o governo faça o mesmo com as pessoas? Acho que não. Não gostaria de ver um ministro no vale do Ave a sugerir aos desempregados têxteis que façam as malas e que partam para o Paquistão. O que gostaria era de ter visto o governo a dizer aos seus “boys” para irem gerir hospitais para Angola e para o Brasil em vez de ter substituído as administrações em Portugal para lhes dar lugar.

O problema do emprego em Portugal e na Europa não se resolve carregando barcos de gente; resolve-se com fábricas, mas isso está fora de moda.

16 dezembro 2011

Saber gastar, saber poupar

Na ressaca dos excessos do consumo público em que vivemos, é conclusão evidente que o Estado não soube gastar. Fazer uma larga requalificação urbana na cidade do Porto e arredores e esperar que seja o “andante” a pagar, investir na modernização da linha do Vouga e a seguir encerá-la … são apenas exemplos.

Agora que é necessário poupar, parece-me que também não está a saber poupar. As reduções devem ser baseadas em indicadores e rácios e, naturalmente, serem mais veementes para quem gasta proporcionalmente mais. As reduções cegas são mais rápidas de implementar mas potencialmente muito injustas.

Imaginemos duas entidades análogas. A “A” já tinha feito o trabalho de casa e tem uma estrutura ajustada e uma organização equilibrada e eficaz; a “B” mantém-se tranquila, pouco produtiva e com as suas gorduras estruturais. Vem o corte cego, igual para todos e o que acontece? A “A” vê-se e deseja-se para o conseguir cumprir devido ao seu ponto de partida mais apertado; a “B” com alguma facilidade lá corta algumas gorduras e alcança o objectivo. Quem fica bem e quem fica mal na fotografia?

Eu sei que dá muito mais trabalho definir indicadores relevantes, analisar rácios e definir objectivos, mas essa é a única forma de ser justo e nos tempos que correm a injustiça é muito difícil de insuportar
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13 dezembro 2011

"Afectos" com preço

A Assembleia Nacional Francesa votou unanimemente um documento de princípio tendente a abolir a prostituição e, a exemplo da Suécia, criminalizar os clientes. Uma das vantagens de ver estas notícias nas páginas abertas a comentários, como neste caso no Le Monde, é que, apesar de algum primarismo e chutos ao lado, há sempre uma grande latitude de pontos de vista que acabam por enriquecer o tema. Aqui não faltou: “É um puritanismo hipócrita; será válido apenas para os pequenos, os grandes como o DSK acabarão sempre por encontrar esquemas; é uma espécie de “lei seca” com as consequências conhecidas, é importante para a dignidade da “mulher”.. e etc.

Se o proxenetismo e o tráfico de seres humanos devem ser crime bem penalizado, e acho que já são, o cobrar pelos “afectos” simplesmente pode ser algo mais delicado de caracterizar. Vejamos no limite: se uma menina vai de férias com um homem (para já não pensemos no vice-versa para não criar mais confusão) em que ele paga tudo… e tem tudo… isso pode ser considerado um negócio e penalizado? E se simplesmente fazem um programa em que ele paga um bom jantar, tendo já subjacente o passo seguinte? Ainda é crime? E quando ela casa sem afecto e sem amor, apenas pela recompensa material, não estará também a vender a sua dignidade? E, aqui, a ser crime, é a vítima que é condenada…?

09 dezembro 2011

Uma oportunidade

Todos sabemos que os erros e as falhas são oportunidades para aprender e corrigir e vem isto a propósito da justiça em Portugal. Ao que parece, qualquer processo mediamente complexo e que disponha de meios de defesa suficientes transforma-se facilmente num queijo suíço de tanto buraco que evidencia ou, noutra imagem, é um simples castelo de cartas que qualquer sniper de boa pontaria faz ruir em dois tempos. E podem os casos actuais estarem perdidos. Pode Isaltino Morais continuar a fumar tranquilamente os seus charutos pagos pela conta do seu sobrinho taxista enquanto apela e recorre até onde preciso for; pode Carlos Cruz regressar às câmaras e recuperar o estatuto de vedeta da televisão, pode Dias Loureiro e o restante universo BPN voltarem a ser socialmente frequentáveis e pode até Manuel Godinho pôr uma acção qualquer contra o Estado Português e, quem sabe, ganhar.

Podem estes e outros casos passarem ao lado da justiça mas aproveitem por favor mudar qualquer coisa para nos próximos ser diferente, pode ser? Não que tenha que ser mesmo como naquele país maquiavélico do outro lado do Atlântico em que lida a sentença condenatória o réu é algemado e não vem dar palpites e lançar poeira para os media. Pode não ter que ser assim, mas pode ser muito melhor do que o que é actualmente. Questão de aproveitar a oportunidade para construir algo melhor, mais eficaz e eficiente … e, por favor, não deixem que os futuros snipers sejam os arquitectos do edifício.

30 novembro 2011

O alvo da Indignação

O movimento dos “indignados” provoca leituras muito díspares. Em primeiro lugar acho a palavra bastante espanhola. Mais adequado seria “desiludidos”, mas como começou num país algo orgulhoso, dos que mais fulgurantemente subiu e onde a regressão será mais sentida, “indignado” é mais altivo e assertivo do que “desiludido”.

As tentativas de comparação deste movimento “ocidental” com a chamada primavera árabe são de um absurdo que só pode vir de quem desconhece o mudo em que vive. Internet e facebook podem ser meios comuns mas isso não implica comunhão de motivações e de objectivos. Por exemplo, a dinamite é um meio que serve a fins muito variados. Sem entrar em detalhes sobre o abismo de diferença ente os contextos sociais e culturais, a rua árabe queixa-se de não sair da cepa torta enquanto o ocidente queixa-se de a cepa estar a entortar.

No entanto, e fundamentalmente, acho que estes “desiludidos” se enganaram no alvo. Os “mercados financeiros” não deveriam governar um mundo são e bem organizado. Se o fazem é por duas razões. A primeira é porque na sua ingénua crença na globalização insuficientemente regulada, os políticos de serviço não pensarem que ao ligarem em vasos comunicantes dois mundos de níveis muito diferentes, há um que desce. O ocidente está a descer e a inviabilização de uma enorme parte da indústria transformadora é socialmente fatal. Assim, os recursos financeiros que por cá sobram, em vez de serem usados para construir fábricas e proporcionar empregos sustentáveis, estão a ser usados … nos “mercados financeiros”. A segunda razão é que esses mesmos governantes entenderam que a solução seria gastar o que não têm nem geram, pedindo emprestado… aos mercados financeiros.

Não sei qual é a solução, mas entre uma classe política imberbe de vistas curtas, um eleitorado mal informado e uma comunicação social que não questiona consequentemente o poder nem forma seriamente o eleitorado... estamos de vitória em vitória até à derrota final.

PS: Ouço criticar, que com a crise, nalguns países os “políticos” estão a ser substituídos por técnicos… Pode-se chamar políticos a estes seres nascidos e criados nas incubadoras dos aparelhos partidários e cuja principal motivação e habilidade é conquistar e manter o poder dentro do dito cujo aparelho?

23 novembro 2011

Reflexo de S. Martinho



A caminho de casa em dia de S. Martinho, vejo uma aldeia ali ao lado em festa, de igreja e ruas bem iluminadas. Depois do jantar pego na máquina fotográfica e vou ver de perto. Nas traseiras da igreja um enorme fogareiro assa quilos de castanhas. Pergunto quanto custa uma mão cheia e respondem-me que são oferecidas pela comissão de festas, assim como o copo do vinho que estão a distribuir lá atrás.

Trinco as castanhas regadas com o vinho novo e sinto algo estranho. Não paguei e, ainda mais estranho, não estou a ser objecto de nenhuma taxa ou imposto directo sobre este acto. Claro que no fundo não há castanhas grátis. Estas foram pagas pela vontade dos habitantes que contribuíram generosamente ao longo do ano e pelo trabalho voluntário da comissão de festas. E, sinceramente, espero não estar a dar ideias para o ano aparecer por lá um delegado das finanças a cobrar 20 cêntimos de taxa de S. Martinho por cada castanha oferecida, assim como confio que não se lembrem de o fazer retroactivamente como quando se lembraram agora que há mais de 2 anos eu paguei um IUC com mês e meio de atraso.

Enquanto circulava procurando captar a beleza das imagens do local, pensei que uma das vantagens que podemos ter nesses tempos de crise e de restrições é precisamente o valorizar e apreciar o que não tem preço nem factura e não me refiro naturalmente à economia paralela que foge ao IVA. Refiro-me a tudo o que de belo pode ser feito na terra, apenas pela vontade dos homens de boa vontade.

15 novembro 2011

As preocupações dos juízes

Li que uma associação de juízes se pronunciou sobre a suposta não constitucionalidade da supressão dos subsídios de férias e Natal aos funcionários públicos. Se calhar formalmente têm razão mas, até hoje, nunca vi preocupação em igualar o estatuto (e a segurança) da função pública com a dos “privilegiados” que aparentemente não perderão os ditos subsídios, sendo de realçar que muitos deles perderão é os salários todos e por inteiro. Se na origem do nosso actual drama está o excessivo gasto público, ele não estará apenas no custo dos funcionários públicos, mas também. Uma empresa “normal” se têm que reduzir 20% da massa salarial, reduz 20% do pessoal, não reduz 20% do vencimento a todos os funcionários, nem vai ao vizinho pedir uma contribuição adicional. É mesmo esta igualdade de tratamento que os funcionários públicos querem?

Ainda sobre os juízes, gostaria muito, mas mesmo muito, de os ver publicamente preocupados com o facto de, por exemplo, Isaltino Morais continuar condenado e solto esperando alegremente pela prescrição de crimes provados e cuja natureza até está bastante relacionada com a situação a que chegamos e que levou à anunciada confiscação dos seus subsídios.

04 novembro 2011

Venha mais um recurso!


Dizem as notícias do dia que o Tribunal Constitucional rejeitou o último recurso apresentado por Isaltino Morais e, como tal, a sentença transita em julgado (é assim que se diz?) e o senhor devidamente julgado e condenado deve “ir dentro”.

Ele acha que não… que ainda há mais recursos pendentes de decisão. Eu, se não entendo que raio tem o Tribunal Constitucional a ver com isto, entendo que a tática é, até à prescrição, que até parece já não estar longe, o senhor continuar a recorrer e a recorrer… até chegar ao supremo tribunal da Via Láctea… que se não existe, devia existir, pelo menos para estes casos…!

Que nojo !!!

03 novembro 2011

Mais um Outono do nosso descontentamento

Acto 1 – Outono de 2008. Por irresponsabilidade na gestão corrente da sua actividade, uma grande parte da banca europeia e ocidental ameaça entrar em colapso. Os governos saem em socorro com empréstimos, garantias e até mesmo nacionalizações.

Acto 2 – Outono 2009 – A crise bancária/financeira contamina toda a actividade económica. Os governos, fortes do sucesso da sua missão anterior de salvamento, acham que a solução passa por eles, chamando investir a tudo o que seja gastar e, pior, gastando o que não têm.

Acto 3 – Outono de 2010. Na ressaca da overdose de “investimento” e com o alarme disparado por uma Grécia especialmente indisciplinada e de contas assaz opacas, os governos descobrem que há limites para o endividamento. É a famosa crise da dívida soberana.

Acto 4 – Outono de 2011 – Para resolver o problema desta crise os governos vão recapitalizar os bancos…! Perdão, mas a origem do drama não foi precisamente terem gasto o que não tinham, uns mais do que outros, é certo? Se a história se repete, da segunda vez é certamente uma farsa. Há bancos e bancos, países e países, dívidas e dívidas. O “apoio” à Grécia não é pela Grécia, é claro. É pela exposição que os bancos dos países “A” têm nessa dívida. Em vez da chatice de ter que aturar e controlar os Gregos, perdoa-se uma parte da dívida e dá-se a massa directamente aos bancos credores. E os Gregos que não chateiem mais, que paguem os 50% que ainda devem e se não pagarem que se lixem porque já não doerá tanto aos nossos bancos. Os Gregos duros de roer e imprevisíveis anunciam um referendo, indiscutivelmente democrático, cujas consequências mais do que prováveis serão não receberão mais nada nem reembolsarão nada mais. Provavelmente sairão do Euro e seguramente sofrerão bastante. Não sei se será o fim do Euro mas certamente será o fim da “Europa”. Ficam mal os Gregos pela irresponsabilidade e ligeireza na gestão das suas finanças públicas “Europeias”, ficam mal as instituições europeias que carecas de saberem que as contas gregas estavam aldrabadas assobiaram para o lado durante anos e fica mal a Europa e a sua liderança cuja visão para a solução é reguadas nas palmas das mãos dos infractores e cuja acção na prática é correr atrás do prejuízo.

10 outubro 2011

A praxe e o sistema


Nos meus tempos académicos a praxe era uma coisa algo tímida a renascer com alguma tensão da proscrição a que tinha sido votada nos calores dos anos 70. Recordo uma recepção ao caloiro com aulas forjadas e uns carimbos na teste e recordo os desfiles da queima. Usar traje académico não seria directamente equivalente a ser betinho, mas todos os betinhos o usavam e quem não o usava certamente não o era. Não sei comparar se a alegria era mais genuína ou menos do que agora, mais regada ou não, mas uma coisa tenho a certeza: das regras académicas a grande maioria conhecia apenas a cor dos cursos e as insígnias do ano.

Uma geração após, ao ouvir falar do “sistema” da praxe e das “tradições” académicas, fico siderado com tão pomposa e fútil complexidade. Um caloiro para ser integrado (e respeitado?) tem que aprender rapidamente e prestar vassalagem a uma organização tortuosa, complexa e, sobretudo, sem mérito subjacente, considerando que não se pode considerar meritório passar muitos anos sem concluir o curso. Se eu fosse hoje caloiro gostaria de mandar directamente àquela parte os “doutores” que me coagissem a entrar em “brincadeiras” que não aprecio. Poderia? E da mesma forma que me vejo na vida sem padrinhos, gostaria de dispensar o apadrinhamento. Da mesma forma que qualquer regra ou lei que tem que ter um objectivo que a justifique, não gostaria de obedecer a prescrições arbitrárias, gratuitas, inconsequentes e, já sem entrar por aí, tantas vezes vexantes.

O sistema da praxe e respectivo “poder” não são legítimos nem saudáveis numa sociedade em que os valores de base devem ser clareza, justiça, respeito, iniciativa e mérito. Em grande parte são até mesmo o oposto do que a universidade deve incutir.

08 outubro 2011

Combustíveis “low cost”

Tive que ler e reler porque receei não ter entendido bem o que ouvi: o governo vai criar uma rede de combustíveis “low-cost”. A ideia até pode ser simpática para a maioria das pessoas que a ouve, pela expectativa de pagar menos pelo depósito cheio, mas eu esperaria que este anúncio fosse mesmo de um Ministro da Economia na perspectiva económica e não de propaganda. Para lá de não se saber quem vai mesmo fazer, quem vai investir e operar a rede, o que não é um detalhe, fica-me a enorme dúvida de qual o fundamento económico subjacente a esse “low cost” – um processo tecnológico, logístico, administrativo novo que ainda ninguém se lembrou de implementar? Porque se a estrutura de custo não muda e não estou a ver uma “rede criada pelo executivo” a superar as multinacionais que estão no negócio há muito tempo, o preço de venda só será inferior se a margem reduzir. E aqui, das duas uma, ou a margem actual dos distribuidores é demasiado elevada e há realmente um problema de concorrência que devia ser resolvida pela autoridade correspondente, que afirma bem alto que não é o caso, ou haverá um … subsídio. E então, como é que vamos ter mesmo esses combustíveis “low cost”… ?

Nota: Ainda não há muito tempo os bancos davam todo o crédito do mundo às entidades públicas, sem a menor restrição, acreditando que era um negócio excelente e garantido. Agora que a coisa treme querem varrer esse crédito para um saco do lixo … público. A irresponsabilidade do sistema financeiro que esteve na origem da crise de 2008 e ajudou bastante a toda a confusão em que está o mundo ainda não acabou nem tem cara de abrandar.

06 outubro 2011

Ainda bem


Em plena overdose de notícias e comentários sobre a vida de Steve Jobs, não me apetece realçar o seu contributo para o quotidiano de tantos, nem entrar naquelas comparações pueris com outras figuras relevantes passadas.

Apetece-me dizer apenas “ainda bem” que é evocado com tanto destaque alguém terrível e de mau feitio, mas, mais do que tudo isso, alguém que acreditava mesmo naquilo em que acreditava e que após cada queda se levantava e recomeçava. Para todos os que entram em depressão com a mais pequena adversidade, o exemplo e tenacidade de Steve Jobs poderão ser uma boa fonte de inspiração. Para mim esse é o maior contributo que ele deixa, mais importante do que os seus “produtos”. Se tivesse desaparecido no final dos anos 80 quanto ele e a Apple atravessavam um deserto árido, apesar de ser a mesma pessoa, seria referido como alguém que fez algo de “engraçado”, o Macintosh, mas que não teve capacidade de o fazer sobreviver, seria recordado como alguém com boas ideias mas que no fundo falhou.

Por sorte ou azar morreu depois de ter acertado em cheio uma série de vezes e, de certa forma, ainda bem assim…

26 setembro 2011

Gerir as excepções

Não entendo muito de economia mas tenho alguma experiência de análise e desenho de sistemas. E toda a gente com essa experiência sabe que o difícil não é implementar o processo principal, a forma como as coisas correm normalmente. O complicado, e que é até dá bastante trabalho, é imaginar e prever as situações excepcionais e a forma de as gerir. Não importa que a probabilidade seja baixa ou baixíssima. O que pode acontecer acaba sempre por acontecer um dia e se o sistema não o tiver previsto, aterra.

Nesta nossa Europa e neste nosso Euro parece que estamos face a um problema de ter sucedido algo absolutamente imprevisto, não existindo procedimento para lidar com essa excepção. O habitual nesses momentos é assumir que estamos em crise, entrar em gestão de crise e alguém liderar claramente, tomando em devido tempo as decisões necessárias por muito drásticas que sejam, dar o peito às balas e, sobretudo, não assobiar para o lado, especialmente quando se está face a um problema que o tempo não resolve, mas que, pelo contrário, agrava.

Se os líderes e construtores (?) desta Europa não se preocuparam em pensar demasiado em cenários problemáticos isso pode ter sido excesso de optimismo ou... incompetência. Agora, ao fim de todos estes meses, que os actuais continuem como baratas tontas sem verdadeira capacidade de lidar com o problema significa que são intrinsecamente incompetentes ou… excessivamente formatados para o objectivo de ganhar eleições e “liderar” apenas em tempo de bonança.

23 setembro 2011

Cumprir objectivos


Não resisti a colocar aqui o cartoon do Público de hoje que está fantástico. E onde apetece acrescentar a agravante seguinte: no caso dos políticos os objectivos são definidos por eles próprios; nas empresas são mais ou menos negociados, mas há uma intervenção da hierarquia que não é passiva.

Numa fábrica em que 99 pessoas produzem entre 90 e 110 produtos por hora e onde há uma que sistematicamente apenas faz 20, essa pessoa está a mais e de uma forma ou de outra não deve ficar lá. O que recebemos é sempre fruto do que contribuímos e quando se recebe mais do que a contribuição isso é insustentável. Num mundo são isso passaria por enfrentar a questão e encontrar a melhor solução que até pode ser a pessoa em causa sair da empresa. Como não vivemos num mundo “são” pode não ser assim tão simples e podemos ter as 99 pessoas a subsidiarem o desadaptado. Mas como o mundo não é sempre são dos dois lados, também estou a ver alguns patrões a porem o objectivo mínimo em 100 produtos por hora para poderem despedir alegremente metade do pessoal quando lhes apetecer.

22 setembro 2011

A única via é a via única?



Depois tanto terem protestado na oposição, invocando o despropósito do investimento no TGV e depois de terem pomposamente anunciado a respectiva anulação, os actuais governantes passaram em seguida a referir a necessidade de reflectir sobre o assunto e agora parece que estamos em vias de sermos pioneiros mundiais em ter um TGV-QPM (QPM = Que Pára a Meio).

Pode até ser a melhor alternativa na situação actual, mas por favor expliquem com factos e números, pode ser? Tal alteração de postura num assunto desta relevância tem que ser aberta e claramente apresentada e justificada ao país. É um problema de compromissos internacionais, de compromissos contratuais com os construtores/concessionários? Se sim digam-no e quantifiquem por favor quanto perdemos em não fazer e como isso compara com o que perdemos ao fazer. Sim, porque isto de o fazer nesta modalidade de via única deve dar prejuízo pela certa. Qual o nível de serviço possível nesta configuração? É compatível com o necessário para rentabilizar o investimento? É que o “problema” do TGV não acaba no investimento, há a exploração. A título de exemplo, e onde se justifica claramente a alta velocidade, a ordem de grandeza da frequência dos comboios é: Paris – Bruxelas cada meia hora, Paris Londres cada hora, Madrid – Barcelona cada meia hora. Não é um comboio pela manhãzinha e outro à tardinha…

O cenário de investir numa infra-estrutura de alta velocidade em que depois se fazem parar os comboios a meio do percurso, eles ficarem quietinhos à espera que outro passe para arrancarem de novo é tão absurdo que nem sei que diga… E, ainda por cima, é obvio que a médio/curto prazo surgirá a necessidade imperiosa de instalar a segunda via, obra complicada e cara porque a primeira via estará em operação, conduzindo a um custo somado das intervenções faseadas muito mais elevado do que fazer tudo de uma só vez.

(Foto extraída do site da Alstom)

20 setembro 2011

Finalmente !



Finalmente um filme em que valeu a pena o preço do bilhete e a proximidade das pipocas e afins.

O último de Woody Allen conjuga humor e profundidade, ritmo e fotografia. Cada qual face à sua terra/tempo prometidos e à insatisfação crónica do “só estou bem onde não estou”.

Um belíssimo retrato do conflito fundamental entre o pragmático e o poético, entre a realidade e o fantástico e apresentado num pleno de elegância e bom gosto.

19 setembro 2011

Questão de Democracia?

Pedro Passos Coelho disse que a ocultação da dívida na Madeira é grave mas que é o PSD da Madeira e o seu eleitorado quem deve tirar conclusões. Não disse, como a sua antecessora, que a Madeira era um exemplo de um bom governo PSD. No entanto, acho que este problema não pode ser apenas democrático a ser sancionado com o resultado, oxalá negativo, das eleições. Da mesma forma como o resultado das últimas presidenciais não branqueia as suspeitas sobre o benefício indevido que Cavaco Silva terá tido com a SLN/BPN.

Para o eleitorado madeirense, numa perspectiva muita pragmática, esta habilidade de A. João Jardim permitiu trazer para a região mais dinheiro. Serão os princípios de ética e moralidade suficientes para o sancionar como espera Pedro Passos Coelho? Tenho sérias dúvidas.

Tem que haver uma forma clara e expedita de sancionar estas ilegalidades. Se tiverem impacto negativo no eleitorado também não me choca demasiado. A responsabilidade na democracia deve ser a 360º. Duas reflexões finais. O factor tempo é fundamental e se pensarmos que estamos num país que ao fim de uma década ainda não conseguiu colocar na prisão violadores de menores. Do ponto de vista preventivo ou há aqui um problema sistemático de autonomia a mais e/ou fiscalização a menos… ou há outras falhas para lá da original do governo regional.

14 setembro 2011

Há um vírus no ar

Anda por aí um vírus perigoso e parece-me atacar com mais intensidade na Antena 1.
É uma espécie de música portuguesa nova que…

Tem uns imberbes a cantar (quase) que fazem os gatos do telhado parecerem tenores;

Tem umas letras que, pior só ler anúncios classificados, e que fazem o Quim Barreiros parecer um poeta;

A “música”em si dá aquela sensação que não foi acabada, uma coisa assim não maturada – vulgo “aborto”.

Não me perguntem nomes porque não os fixo, mas garanto que é mesmo um vírus mais perigoso do que a simples música pimba que não presumia nada nem tentava enganar ninguém.

11 setembro 2011

A amálgama do pós 11 de Setembro

Pois… eu não gosto de efemérides e até tinha planeado passar ao lado desta, mas não resisti. Sei bem onde estava na altura mas isso interessa pouco, como também sei que a 11/9/2006 estava a apanhar um avião para me instalar de armas e bagagens na Argélia.

Quanto ao de 2001, acho que ele criou/cria muitos equívocos quanto à relação do mundo ocidental com o Islão. Por um lado, uma negativa pela identificação dos atentados com os muçulmanos em geral e subsequente desconfiança e repulsa; por outro lado uma simpatia e compreensão de outra facção para com quem está a ser injustamente ostracizado. Vamos por partes … a Al Qaeda é uma organização que não se pode identificar com a globalidade do Islão. É terrorista como o foram as Brigadas Vermelhas e ainda o é a ETA. A grande maioria dos muçulmanos não se identifica com ela, apesar de não lhes ficar mal uma condenação mais clara e rotunda destes actos. Mas, por muito perigosa que seja a ameaça da Al Qaeda, existe um arsenal de legislação, polícia e tribunais para a combater. Com mais ou menos vítimas a lamentar o desfecho é claro como o foi para as Brigadas Vermelhas e é/será para a ETA.

No entanto, para o Sr Dupont e o Sr Smith o seu problema com o Islão não está nos potenciais atentados da Al Qaeda. Está em um dia, pela evolução demográfica e pelo princípio da democracia serem impedidos de tomar um pastis ou um pint à luz do dia, a menos de x metros da mesquita mais próxima. O Sr Silva ainda não imagina isso…

PS: E rever aqueles momentos com G.W. Bush bloqueado sem saber como reagir após receber a notícia é revelador da capacidade de discernir e agir do homem...

10 setembro 2011

Steve Jobs

Steve Jobs deixou as suas funções executivas na Apple no mês passado, no que será mais do que provavelmente o fim da sua vida profissional, pelo menos, e os comentadores de fim de jogo lá vão dando os seus palpites, comentários e conclusões. Alguns até ousam compará-lo de alguma forma a outra figura de referência contemporânea do mesmo meio: Bill Gates, com a Microsoft suposta inventora do Windows. Aqui, vamos com calma, por favor: Bill Gates também ficou milionário e influenciou a nossa relação com a informática mas não inventou nada: aproveitou bem as oportunidades que teve, e é um mérito, mas não inventou nada e tudo que fez/copiou raramente funcionava bem à primeira. A ideia do Windows (rato mais interface gráfico) nasceu na Xerox e foi pela primeira vez aplicado comercialmente nos Macintosh … da Apple. Quem, como eu, tentou trabalhar, e digo tentar porque não se passava da tentativa, com os primeiros Windows 2.x da Microsoft enquanto uns Macintosh’s ao lado funcionavam perfeitamente, só pode ficar com os cabelos em pé ao ver atribuir a paternidade do Windows à Microsoft … e curiosamente quem está a mudar esse paradigma e a tirar o rato da ligação do operador com a máquina … é a Apple.

O insucesso dos anos 80 e o sucesso dos anos 2000 da Apple/Steve Jobs têm o mesmo fundamento. A preocupação pelo design, elegância, bom gosto, eficácia e prazer de utilização. Só que nos anos 80 poucas empresas ou pessoas tinham o design dos equipamentos informáticos como critério prioritário. O importante era o preço e o desempenho; cor, forma ou tamanho do caixote era irrelevante. Se o Ipod e o Itunes marcaram, foi o Iphone que realmente fez descolar a Apple, oferecendo aos consumidores um brinquedo interessante e bonito que era comprado com a desculpa de ser um telefone. E isso foi tão bem feito e tão bem compreendido que se seguiu o sucesso espectacular do Ipad. Quando foi lançado alguns viam apenas um Iphone grande que nem fazia chamadas… mas no fundo é um brinquedo que o pessoal compra sem precisar da desculpa de ser também um telefone…

08 setembro 2011

Participação de um roubo

Acho curioso averiguar o significado dos nomes próprios: podem ser qualidades físicas ou morais, objectos, animais, plantas, etc. Nalgumas culturas é frequente quando alguém se apresenta, acrescentar de imediato a “tradução” do seu nome. Pelos nossos lados esse significado é frequentemente desconhecido. A larga maioria das vezes o nome é escolhido pela sua sonoridade e estética ou por antecedente familiar ou homónimo célebre e muito raramente pelas qualidades do nome com que gostariam que os filhos se identificassem.

Ao investigar se um nome próprio era masculino ou feminino caí num site que parecia ser precisamente de informação/aconselhamento para futuros pais sobre a origem e o significado dos nomes próprios. Obviamente que testei o meu e, para minha enorme surpresa, deu “homem livre”! Surpresa porque me recordo bem de uma revistinha juvenil, dos tempos em que as recebia, numa secção tipo “Como te chamas”, ter visto lá bem escrito que Carlos vinha do alemão Karl e significava “viril/forte”! E acreditei nisso estes anos todos...

Numa investigação mais aprofundada confirmei a versão do “homem livre” com a variante de apenas “homem” e até podemos assumir que, no fundo, dizer “homem livre” é algo redundante.

Foi um choque: não porque preferisse o “viril” ao “livre”, até pelo contrário, mas por ficar a pensar: então não é que Salazar e os seus censores não queriam que eu soubesse que, pelo nome, eu era um homem livre? É um abuso confiscarem-nos assim a identidade antroponímica! Será que irei necessitar de acompanhamento psicológico para vir a ser plenamente um “homem livre”?

07 setembro 2011

Santa...

Santana Lopes provedor da Santa Casa. Surpresa... estranho?
Que existe em comum entre a pessoa e a instituição?
Ora, é fácil, claro e está mesmo à vista: as 5 primeiras letras.

01 setembro 2011

Os ricos e as taxas

Acabadas as férias nada de especial a anotar. Mesmo ministro cobrador vir anunciar que arranjou mais uma forma de nos meter a mão no bolso não constitui novidade… Ao menos com o Sócrates ainda se enumeravam os PEC … agora já perdemos a conta, é todas as semanas uma nova… já não chega! ?! Como é que se pára isto? Anunciam-se cortes futuros na despesa… e enquanto não se corta, lá se vai cobrando mais de toda a forma e feitio.

Entretanto, os políticos desta desorientada Europa encontraram um chavão populista para animar a malta.” Vamos taxar os ricos!”, que é como que dizia há uns anos: os ricos que paguem a crise. Para já é só anúncio, não sei se concretiza, pelo menos cá em Portugal. Quem tem mais rendimentos (declarados) já paga mais em percentagem e em valor absoluto, naturalmente, mas se é pedido um “esforço adicional”, esse suplemento deve tocar a todos. O argumento de que essas novas taxas podem fazer fugir os capitais… é bem verdade, como também é verdade que aumentar o IRS e reduzir o rendimento disponível pode fazer emigrar gente, subir o IRC pode fazer cancelar investimentos criadores de riqueza e de postos de trabalho e subir o IVA pode proporcionar a organização de excursões a Espanha para encher a despensa, como em tempos se fazia do interior para os hipermercados.

Quanto aos ricos, há ricos e ricos e não me refiro ao nível cultural ou de responsabilidade social. Se alguém colocou tudo o que tinha num projecto arriscado que ao fim de uns anos resultou, que criou postos de trabalho, que desenvolveu conhecimento e que neste momento contribui para o aumento da riqueza do país, não me importo que esteja rico. Agora aqueles que compram acções A ao início da manhã para trocar por B meia hora depois, com a promessa de recomprar à tarde e apostando na expectativa de …. Esses, não são investidores, são especuladores e o enriquecimento por este meio tem que ser travado e taxado. Por falar em acções, ricos e taxar, lembrei-me daqueles papeizinhos a que se chamavam acções da SLN aos quais o Sr Oliveira e Costa atribuía um valor de venda e de compra arbitrário, sem nenhuma sustentação económica subjacente e que enriqueceram muita gente… Esses deviam ser taxados a 100% (é preciso fazer um desenho?).

09 agosto 2011

Indignação

Não, não é sobre os indignados que acampam nas praças públicas, especialmente em Espanha (apesar de um espanhol me ter comentado recentemente que são uma ruidosa… minoria). Nem é uma indignação especial minha. Essa chegará quando actualizarem o IMI em valor patrimonial e em taxa para evitar a falência das autarquias que se endividaram irresponsável e alegremente e, agora, adivinhem quem irá pagar...

Está longe esta questão e que é mais sobre a falta de indignação. Leio que a reacção do poder na Síria já matou mais de 2000 manifestantes. E lembrei-me da ofensiva Israelita em Gaza de 2008 que causou uns 1400 mortos e criou uma ruidosa indignação em meio mundo. Sem pretender comparar qualitativamente e entrar em considerações sobre se a intervenção de Israel era muito ou pouco justificada ou desproporcionada, não me parece que um exército disparar e abater assim indiscriminadamente milhares dos seus concidadãos que manifestam nas ruas possa merecer menos indignação. E não a vejo …!

05 agosto 2011

A nuvem informática e o efeito de estufa

Sou do tempo em que a transmissão de dados mais frequente era por linha telefónica com uns modems ranhosos e cantantes, que com sorte chegavam aí a uns 1200 baud, uns 120 bytes/seg (esqueçam lá os Kilos e os Megas). Passar o equivalente a uma musiquinha de 3 minutos em MP3 seriam umas 6 horas e tal. Para lá do custo de utilização da linha, manter o canal sem cair durante esse tempo todo era outra proeza.

Ainda, antes de começar a transmissão propriamente dita, era preciso que o computador se entendesse com o modem, com aqueles fantásticos sinais de controlo, RTS – CTS – CD, etc . Até que conseguisse ter canal aberto para iniciar a transmissão propriamente dita, era um cabo de trabalhos. De tal forma, que eu achava fantástico que num simples ciclo de levantamento de Multibanco, o terminal conseguisse consultar a minha a conta e informar-me sobre o meu saldo naquele momento!

Mais tarde tivemos, já em casa, umas ligações mais rápidas - 9600 baud – 4 x mais! A musiquinha chegaria em apenas uma hora e meia, mas ainda nos cobravam ao tempo de navegação/volume de tráfego e, por isso, tínhamos algum cuidado de gestão da utilização dos meios. Talvez pela memória destes antecedentes ainda franzo o sobrolho quando vejo emails com muitos megas anexados.

Hoje não nos cobram tempo de ligação e muitas vezes nem sequer o tráfego. Até podemos, por “facilidade” ter a nossa informação algures na “dataesfera”, numa nuvem qualquer, e acedê-la com a maior facilidade de qualquer ponto. Já não é o terminal MB que se esfola a pedalar para ter acesso ao simples saldo da conta bancária; somos todos nós que com um “coiso” qualquer na mão, em quase qualquer sítio, temos acesso a tudo, muito rapidamente e sem custo/custo adicional de utilização. Tão rapidamente que navegamos e cruzamos oceanos de informação para trás e para a frente com a maior facilidade e ligeireza. Da informação que se descarrega qual a percentagem que realmente se lê/utiliza? A olho, entre coisas que abrimos e fechamos no instante seguinte, coisas que saltamos e até a publicidade, acho que se a chegar 50% já não é mau. No entanto, os outros 50% (ou mais) que andam aí para trás e para a frente gastam recursos, não gastam? E com esta nova moda da nuvem (in english cloud) faz sentido que eu tenha sistematicamente os meus ficheiros textos, músicas, fotos ou filmes algures no planeta e gaste infra-estrutura e energia nessa transmissão, mesmo que não o pague directamente, em vez de os ter no disco duro aqui ao lado? Eu acho que há aqui uma pegada de carbono que é uma verdadeira patada de dinossauro…!

02 agosto 2011

Multiculturalismo não é uma coisa a preto e branco

Dizem uns que a natureza dos atentados de Oslo foi uma desilusão para a direita europeia xenófoba. Se na origem do atentado tivesse estado um islamita, isso provaria a “razão” dessa direita e da sua argumentação de rejeição dos estrangeiros. Assim, terão ficado “contentes” os outros, os da outra “razão”, e que acham que a tal direita tem sérias responsabilidades no drama de Oslo.

Em primeiro lugar, e por muito execrável que seja o discurso de Jean-Marie Le Pen e do Vlaams Blok, estabelecer algum paralelismo entre o que sai dessa direita e o terrorismo islâmico é um absurdo de ignorância, distracção ou desonestidade. Dizer que a extrema-direita é responsável por Andres Breivik equivale a dizer que o Islão é responsável pela Al Qaeda...

Depois, a questão do chamado multiculturalismo não é qualitativa do tipo escolher entre maçã e salada de frutas: é quantitativa. Indo aos extremos: poucas pessoas se sentirão chocadas por encontrar um diferente no seu caminho quotidiano, mas poucas aceitarão, ao regressarem de férias, encontrarem na sua rua todas as pessoas diferentes em comportamento… Algures no meio fica o limite da tolerância ao diferente, que é dinâmico e evolutivo. E poderemos entender que se um supermercado na periferia de Paris parecer um da periferia de Argel, um francês “tradicional” não se sinta em casa. Se a mensagem da extrema-direita passa é por muita gente achar que o nível da “diferença” no seu quotidiano está superior ao seu limite de tolerância e será mais útil estudar isto do que simplesmente invectivar os “Le Pens”.

Para terminar, não acredito que a “Europa” esteja em risco de sucumbir a uma investida do Islão. Parece-me que o conflito principal, mas latente, é entre Islão e Islão: entre a leitura de um livro com 1400 anos e a sua interpretação no contexto social actual. Se considerarmos algum paralelismo nos ciclos, o século XV do cristianismo foi um período terrível de mudanças e de rupturas…

26 julho 2011

O século XIV no XXI

Na televisão iraquiana, dois cientistas discutem e argumentam sobre se a Terra é redonda ou plana, sobre se o Sol gira à volta da Terra ou vice-versa e outras coisas mais.

Se não tiverem paciência para verem tudo, concentrem-se nos últimos 30 segundos. São assustadoramente representativos.

25 julho 2011

Esta gente...!

Li que o actual director regional dos Assuntos Fiscais da Madeira, João Machado, foi acusado por crimes de fraude qualificada e branqueamento, no âmbito de um processo em curso contra o clube de futebol “Nacional”. Não vi os pormenores do processo, mas ouvi o senhor defender-se na rádio. O que disse? Que à época a que se referem as acusações já não seria dirigente do clube e que o crime de branqueamento só passou a ser mesmo crime face à lei em data posterior e que não pode haver justiça “retroactiva”.

Exemplar! Eu esperaria da parte de qualquer cidadão e em especial de alguém com responsabilidades públicas sensíveis face à acusação em causa, que comentasse o fundo da questão; se sabia, o que sabia e se participou directa ou indirectamente no processo. Não esperaria que a resposta fosse baseada na forma e especialmente naquele espírito da gincana jurídica em que o fundamental não é o que aconteceu mas sim o que (não) pode ser provado.

22 julho 2011

Oslo, 22/7/2011

3 anos depois continuam "humilhados e ofendidos" assim...
Não sei que mais diga, não sei...

PS e correcção em 23/7: Afinal, ao contrário do que circulou inicialmente, os malucos foram outros... !

21 julho 2011

18 julho 2011

Negócio indigno



Milly Dowler é o nome de uma jovem inglesa, foto acima, raptada em 21 de Março de 2002, com 13 anos, e assassinada. O chamado “jornal”, News of the World, contratou um detective particular para descobrir coisas sobre o caso, a história da vítima, a família, os amigos, etc, enfim tudo aquilo que o povo gosta de saber e que dá “business” aos média. Entre outras coisas, os jornalistas conseguiram ter acesso, obviamente ilegal, à caixa de correio de voz do telemóvel da vítima e ficaram a saber quem lhe tentava ligar e as mensagens que deixavam, obtendo assim informações muito interessantes para o seu “jornalismo”.

Ao fim de alguns dias ocorreu um problema: a caixa de correio encheu. Como não queriam perder a “fonte”, encontraram uma solução. Apagaram as mensagens antigas para permitirem o registo de novas, numa altura em que a vítima até já estaria morta. Além da eventual destruição de provas importantes para a polícia, o facto indiciava que ela ainda estava viva, dando falsas pistas à investigação e uma enorme esperança infundada à família, que até concedeu uma entrevista exclusiva ao dito cujo “jornal”, referindo-se à enorme alegria que esse “facto” lhes tinha proporcionado!!! Essa edição deve ter vendido muto bem ! E, por muito sincero que seja, o que vale hoje um pedido de desculpas para isto…?

Este caso de escuta é apenas um de muitos, mas tem um significado muito mais fundo do que o simples coscuvilhar a vida privada de uma “socialite” qualquer. Por um lado, ainda bem que foi na Inglaterra que tem alguma tradição em levar estas coisas ao fundo, doa a quem doer (não como cá com a nossa “Casa Pia”).

O proprietário do jornal e grande empresário do sector, Rupert Murdoch, encerrou o jornal. A última edição de despedida teve uma tiragem quase dobrada e esgotou os cerca de 4,5 milhões de exemplares. Nas imagens da despedida não vi claramente vergonha estampada na cara dos “jornalistas”, vi mais consternação e, apesar de tudo, um certo sentido de terem feito o seu trabalho, de dignos guerreiros derrotados. Este caso não se resume a um jornalista isolado e tresmalhado, mas ao espírito de todo um sistema “pragmático” que factura em cima de qualquer valor. Houve e continua a haver quem não hesita em invocar os direitos e o respeito que merece o jornalismo e, ao mesmo tempo, sem ter o mínimo pejo em recorrer a tudo, e mesmo tudo, a bem da tiragem/audiência. É possível sobreviver individualmente um jornalista e colectivamente um título sem se renderem? Não sei mas espero sinceramente , ingenuamente talvez, que tamanha monstruosidade conduza a alguma mudança consolidada nas práticas do sector.

Nota: Informação e foto recolhidas no "Guardian"

17 julho 2011

Viana


Há sempre qualquer coisa em Viana. Ou isto ... ou aquilo...
O "isto" vai ser agora, já no próximo dia 19 de Agosto.

16 julho 2011

EUA, Portugal e Grécia… e Europa

Teoricamente os EUA estão a um passo de dar um calote aos seus credores e Obama veio a público realçar que os EUA não são a Grécia nem Portugal. E tem razão, independentemente de ser um pouco estranho ele sentir a necessidade de o afirmar assim em público. Acredito que os EUA não terão um hospital público com 45 jardineiros para 4 arbustos como acontece na Grécia e também acredito que lá um BPN não seria pago pelos contribuintes. Descontando esse tipo de diferenças, o fundo é o mesmo: o estado gasta acima das suas receitas e precisa de pedir mais dinheiro emprestado. Convém recordar que se o problema actual é o aumento do limite de endividamento ter que ser aprovado pelos Republicanos e estes estarem em braço de ferro com a administração Obama, a despreocupação com o défice das contas públicas já começou nos bons velhos tempos da administração Bush.

Mas há uma outra diferença, e a principal, entre os EUA e Portugal. É que eles têm nas traseiras da sua administração uma máquina de produzir dólares, que põem a trabalhar à velocidade que entenderem, vendendo essas notas ao resto do mundo sem grandes dificuldades. Essa é a diferença fundamental. Na europa (em minúsculas) temos o Euro e até poderíamos fazer algo parecido, mas a Sra Merkel e afins, preocupados com os eleitores dos seus quintais, continuaram a achar que o problema da Europa é apenas o dos jardineiros gregos e dos BPNs portugueses e insistem que tudo se resolve com disciplina e austeridade. A austeridade e o equilíbrio das contas públicas não são uma opção, são uma necessidade, mas enquanto ficarmos apenas por aí vamos continuar fundamentalmente diferentes dos EUA.

06 julho 2011

Revolta à vista?

Sem esquecer que a situação de falência a que Portugal chegou foi fundamentalmente consequência de (má) governação nossa, não deixa de merecer alguma reflexão esta questão das agências de notação financeira. Podemos chamar-lhes o que quisermos, até mesmo insultá-las, mas elas “apenas” prestam um serviço a quem tem dinheiro para investir e estes investirão onde e quando quiserem, dando ouvidos a quem bem entenderem.

Eu próprio, se tivesse dinheiro para investir não sei se me sentiria muito confortável em colocá-lo nas mãos do estado Português. E não foi uma figura maior da nossa praça, Silva Lopes, que disse há 3 dias que o empréstimo concedido pela troika era insuficiente e que a prazo a situação de Portugal não seria muito diferente da da Grécia? Depois ainda esperaríamos benevolência por parte das empresas de notação?

O rigor e isenção dessas empresas não estão acima de qualquer suspeita. Sabemos que foram algo permissivas na festa antes da crise, considerando seguras aplicações que eram e foram lixo. Alguém ganhou com isso e alguém perdeu. Cada vez que a dívida soberana de um país é desclassificada, sobem os juros que paga e desvalorizam-se as suas empresas, empobrecendo este no global. Alguém ganha com isso e alguém perde. Não há muito tempo Warren Buffet dizia muito frontalmente que estava em curso uma guerra entre ricos e pobres e que a classe dele, a dos ricos, estava a vencê-la. Está bem, só que há guerras que, ao serem ganhas, deixam o germe da revolta. Muito sinceramente e sem ter nenhuma simpatia ou identificação com as teses anti-capitalistas das esquerdas radicais, acho que alguma coisa vai acontecer um destes dias. Não que no final os pobres venham a ficar menos pobres, mas ao menos terão tido a satisfação e alguma sensação de dignidade em terem mandado àquela parte os ricos arrogantes e gananciosos.

01 julho 2011

É quando um homem quiser?

Como se costuma dizer que “Natal é quando um homem quiser”, estou a pensar em tentar convencer a minha empresa a pagar-me o dito subsídio antes ou depois de Dezembro e assim escapar ao tal imposto extraordinário. Julgo que não a conseguirei convencer mas estou certo de que, mesmo que tal sucedesse, o nosso fisco estaria atento e não deixaria de encontrar uma forma de me cobrar o dito cujo imposto extraordinário e seria justo… ou pagam todos…

No entanto, no final do ano passado, uma série de empresas grandes e idóneas anteciparam o pagamento de dividendos aos seus accionistas para assim escaparem ao novo regime fiscal. E até nem teria sido nada difícil ao tal fisco detectar e corrigir essas habilidades, de valor bem mais significativo do que o meu simples subsídio de Natal. Qual a diferença?

30 junho 2011

A Maldição da Fama?

Às vezes parece que a comunicação social não sabe bem o que há-de inventar para ter títulos a faiscar. Se um famoso morreu em consequência de um acidente de viação, independentemente das circunstâncias, isso não é bem uma maldição exclusiva de famosos. Em 2010 morreram 747 pessoas nas estradas em Portugal, em média cerca de 2 por dia, 14 por semana e que não sofrerão de nenhuma maldição especialmente diferente da dos famosos… a principal diferença é que não são (tão) objecto da maldição da comunicação social.

Caso diferente será o de Sónia Brazão, que eu nem conhecia, e que, ao que parece, fez explodir a casa com ela lá dentro … e assim voltou a ser capa de revista. Mas… aqueles não famosos que têm um tropeção sério na vida como desemprego, luto ou alguma frustração forte que não conseguem ultrapassar, não têm também tantas vezes comportamentos destrutivos individuais ou colectivos?

As grandezas e misérias da condição humana não têm género, época, grupo social ou segmento mediático específicos.

Balsemão e Pais do Amaral unidos contra a privatização da RTP

E cintando o DE: Francisco Pinto Balsemão e Miguel Pais do Amaral voltaram a alertar para as consequências da privatização da RTP no mercado publicitário. Segundo o presidente da Impresa e fundador do PSD, "não haverá mercado para mais um ‘player' em televisão de sinal aberto".
Ora bem, se o mercado não suporta 3 canais, qual a melhor solução? Fechar o que está a mais ou manter um excedentário à custa do contribuinte? Será assim tão díficil responder à pergunta?

Nota: Para a RTP2 não me importo de contribuir, mas apenas para essa.

29 junho 2011

Revisão dos feriados

Supostamente para aumentar a produtividade por redução das pontes demasiado longas o novo governo pensa em alterar a data efectiva dos feriados. Apetece perguntar se o problema é do coiso ou das calças. As pontes são obrigatórias ou uma fatalidade? Não. As pontes são umas prendinhas que se dão para adoçar os colaboradores ou os funcionários. Se o gestor privado ou público entende que o dia perdido é importante e negativo para os resultados da sua organização, tem uma solução simples: não dar ponte!

Quando muito pode haver algumas actividades em que arrancar na segunda, parar na terça e rearrancar de novo na quarta represente uma perda de produção significativa. Aí sim, pode-se justificar ter menos descontinuidade e deslocar o dia “feriado” de terça para segunda. Nos outros casos e muito especialmente no sector público do Estado, o que precisamos é de uma cultura de responsabilização e não ter de “legislar” desta forma para limitar a generosidade dos “chefes porreiros”.

25 junho 2011

As primaveras árabes em curso

Dizem por ai muitos opinadores e comentadores que a “Democracia” está a chegar ao mundo árabe, que isso é fantástico e acrescentam outras teorias e baboseiras. Ora bem, eu sobre os árabes mesmo lá do Médio Oriente sei pouco, mas sobre o norte de África posso acrescentar algo. Dentro de toda a gente que mexe ou faz mexer actualmente aquela parte do mundo, identifico 4 grupos. Não necessariamente rigidamente estanques e homogéneos, mas dentro da simplificação esta divisão já é suficiente para não concluir assim rapidamente que não há “um” povo a sair à rua.

Grupo 1 – A alternativa. Aqueles que de uma forma ou de outra e com motivações distintas aspiram subir ao poder. Considerando um acesso pela via da democracia, será necessário que cheguem a uma boa camada da população. E aqui surge o primeiro problema: na maior parte desses regimes os partidos do poder podem ser um ou vários mas de nenhuma forma são projectos de mudança. Os outros, que serão mesmo de oposição, quando existem, estão desgastados numa imagem envelhecida de “pregadores do deserto” e sem conseguirem uma afirmação credível que mobilize uma larga fatia do eleitorado. Os únicos que conseguem apresentar um projecto que pode alcançar e convencer uma boa parte da população, são os de base religiosa. Aqui convém confirmar se estes se manterão democratas mesmo após subirem ao poder ou se uma vez lá e como representantes de um poder divino inquestionável trancarão as portas a qualquer outra posterior mudança.

Grupo 2 – Os esclarecidos, que querem viver num país melhor, mais justo, mais desenvolvido, que premeie o mérito, em que o poder preste contas a sério e que acreditam que a democracia é o caminho para lá chegar. Alguns desta base já emigraram e os que ainda lá estão e são mesmo esclarecidos vêm com bastante apreensão o panorama do grupo 1.

Grupo 3 - Os pobres, aqueles que simplesmente querem ter uma vida melhor. Se para viver como na Europa em que há democracia, o caminho é a democracia, eles serão democratas; se os convencerem de que essa melhoria passa pela x_cracia, eles serão x_cratas. Não estão necessariamente preocupados com a justiça na distribuição da riqueza, o mais importante é que o caminho da riqueza passe por eles. Em caso de democracia, mesmo democracia, provavelmente será da escolha deste grupo que sairá o novo poder.

Grupo 4 – Os vândalos que aproveitam a desestabilização para sair à rua e quebrar e queimar, sem uma preocupação construtiva. Destroem por instintos de maus fígados ou/e por vontade de primária de demonstrar que existem e que esta é a sua forma de afirmação.

Do peso de cada um destes grupos e da sua interacção com a realidade sócio, económica, histórico e política de cada país, nascerá uma realidade diferente e perspectivas diversas de mudança. Veremos isso a seguir.

10 junho 2011

A Banda do Chico passa em Barcelos


"A Banda" de Chico Buarque por Nara Leão.
Bonecos de João Ferreria (Oleiro de Barcelos).
Versão com melhor qualidade aqui .

E, para quem quiser ver algo relacionado, há um jovenzinho a cantar isto aqui.

08 junho 2011

Governar o próprio ou mandar no alheio

Como todos sabemos temos perdido ao longo dos últimos tempos parte da nossa soberania. Perdemos com a adesão à UE, perdemos com a adesão ao Euro e agora mais recente e mais dramaticamente perdemos com o plano de resgate. Será mau? Será preferível o “orgulhosamente sós”? A mim, não me choca pensar em ter um ministro das finanças alemão, um ministro do interior inglês, da cultura italiano, do ensino finlandês e por aí fora. Não me importo com uma condição: que quem quer seja que mande cá, se sinta identificado connosco e membro da mesma comunidade.

A senhora Merkel e respectiva equipa podem entender que precisam de mandar na Europa, arranjando a companhia da França só para não parecer demasiado mal o estar a Alemanha isolada nessa campanha. E isso até pode ser bom, mas desde que seja de Europa para Europa. Se a Alemanha entende que “nós mandamos nos outros”, já começa a ser uma espécie de colonização. Sendo assim, sem a tal identificação comunitária, vai dar mal resultado como deram as colonizações. Porque, por muito esclarecido que seja um governante, a sua autoridade nunca será sustentável se não for percebido como “ um dos nossos”.

PS: É claro que os alemães saberem do fantástico recorde de existirem mais de 9 mil gregos com mais de 100 anos de idade “vivos” e a receberem pensões não deve ajudar muito a essa identificação…

06 junho 2011

Pós - reflexão

Afinal o eleitorado não estava assim tão perdido quanto as sondagens pareciam manifestar. A diferença real entre o PSD e o PS é a normal e a expectável para as circunstâncias. Penso que as ameaças de empate das sondagens tiverem uma explicação: o eleitorado crítico e que define o resultado (há quem lhes chame flutuante, mas enfim, o que flutua são as rolhas, estes estão ancorados numa análise não clubista da capacidade de governação dos candidatos) demorou demasiado tempo a definir a sua tendência e, apesar de todas as dúvidas, acabou por dar o seu voto ao PSD. Está claro.

Duas notas negativas. Contra toda a expectativa, a incapacidade de o CDS subir francamente como parecia previsível - talvez uma lição para Paulo Portas pensar em reduzir a taxa de utilização da sua caixinha de alfinetes com que gosta de presentear os seus adversários e até mesmo potencial parceiros. Na sua ânsia de marcar pontos ao PSD ele exagerou, ver o infeliz debate com Passos Coelho, e acabou por criar desconfiança aos potenciais eleitores migrantes de todos os quadrantes. Depois o Bloco: aquela coisa chique tão cheia de nada terá finalmente começado o caminho de regresso à sua dimensão nuclear? Um Acácio Barreiros ou um Major Tomé que lá estão no Parlamento para apresentar de vez em quando uns discursos politicamente incorrectos e necessários, mas que obviamente não conseguem credibilidade alguma para um trabalho de governação construtivo?

E do PC/CDU nada a acrescentar, como sempre.

04 junho 2011

Dia de reflexão

Dia de reflexão para uns eleitores desesperados

- Então como é? Em quem votamos?
- Naquele que nos engana ou naquele que se engana?
- Queres dizer: no aldrabão ou no nabo?
- Nem tanto assim, mas pronto: em qual deles?
- E quem te garante que o nabo não é também aldrabão?
- Pois… mas o Sócrates, especialmente “pós-troika” tornou-se verdadeiramente impossível de aturar de tanta falta de humildade...
- Pois… e então em quem votamos?
- E o Passos Coelho não tem cara de quem consegue definir e manter um rumo. Flutua demasiado.
- Pois… e então em quem votamos?
- Venha o diabo e escolha!
- O diabo… votamos no Garcia Pereira ?
- Se calhar vamos votar no nabo…
- E daqui a seis meses, estaremos arrependidos…
- Seis meses? Optimista!

    02 junho 2011

    Campanha para quê ?

    Se há uma campanha que merecia e devia ter sido diferente, seria esta, por vários motivos e destacando especialmente o facto de estarmos em pré-falência e metade do programa de governo estar já feito e aprovado no tal documento da troika. O que é que vimos? Aqueles que disputam a vitória fazerem um verdadeiro concurso de caneladas, a ver quem pisa a canela do outro com mais intensidade; aquele que sente que de uma forma ou outra vai chegar ao poder não consegue disfarçar o seu contentamento, não importa que chapéu, boné ou boina tenha enfiado; aqueles que sabem e/ou não querem correr o risco de ter mesmo que governar lá vão debitando e ideias e utopias, como, por exemplo, o falido falar grosso ao banco, mesmo antes de este lhe ter aprovado o empréstimo que o salvará da falência.

    Para que servem os comícios, almoços, jantares, arruadas e beijinhos em feiras e em tascas? Para cada qual, no seu partido, fazer a festa e mobilizar o seu aparelho e animar os seus simpatizantes? Ainda por cima gasta-se dinheiro causando algum stress nas finanças dos partidos com soluções muitas vezes no limite… Se é pela festa basta uma anual no verão! Para o eleitorado em geral este carnaval acrescenta muito pouco.

    Em resumo, em geral e muito especialmente nesta vez, uma campanha destas não serve para nada. Coloquem os líderes dos partidos, assessorados da forma que entenderem, em fóruns públicos com especialistas que os questionem abertamente e os forcem a responder às questões fulcrais: de que forma realmente pensam governar e abordar e resolver (ou tentar resolver) os gravíssimos problemas que temos pela frente. Seria muito mais útil, esclarecedor e até barato do que este carnaval fora de tempo.

    31 maio 2011

    Lugares em branco

    Eu sei que a sugestão não passará. Os que a poderiam aprovar são parte interessada, mas vale sempre a pena referir o assunto. Quem se dá ao trabalho de se deslocar a uma mesa de voto, esperar pela sua vez, receber o boletim e respeitosamente dobrá-lo em branco, não deveria ter uma leitura igual a quem vai lá desenhar uma careta ou escrever um palavrão, nem àquele que fica em casa ou na praia por não estar para se chatear.

    Quem vota em branco tem o cuidado de dizer: eu quero votar, não prescindo desse direito e obrigação, mas não me reconheço em nenhuma das propostas apresentadas. Assim, os votos em branco deveriam ser contados para a repartição dos deputados e os lugares proporcionais deixados em branco. Quem respeita o sistema dessa forma, deveria também ser respeitado e não ser ignorado com, no final, as bancadas completas (quando não há faltas), supostamente espelhando a vontade expressa de todo o eleitorado.

    Os lugares em branco seriam um sinal permanente aos deputados dizendo: não julguem que têm a representatividade garantida. Estamos aqui em nome de alguém que não vos julga merecedores do seu voto. Se querem o voto deles, tentem fazer melhor.

    29 maio 2011

    Justiça cega para todos ?

    Na minha pasta de viagem estava o último número da “The Economist” que tinha um artigo sobre as diligencias abertas pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia a mais dois dirigentes africanos: Laurent Ghagbo da Costa do Marfim e M. Khadafi da Líbia. Referia ainda uma possível aproximação do Egipto e da Tunísia ao TPI, o que daria alguns motivos mais de preocupação aos seus ex-líderes. Se juntarmos a condenação formal de Omar El Bashid do Sudão e a de Charles Taylor da Libéria que pode vir a seguir, vê-se que África está fortemente representada nos casos tratados por este TPI.

    O artigo analisava o facto de os africanos se sentirem discriminados neste campo. Sem entrar muita na questão do continente estar efectivamente bem servida de déspotas criminosos, o artigo tentava concluir que não havia uma preferência especial por esse continente. No TPI existia muita África porque ele se substituía aos sistemas locais de justiça fracos.

    Isto até terá alguma lógica, mas, por acaso, eu tinha na mesma pasta de viagem o livro “A era da mentira” de M. Elbaradei. Entre outras coisas ele descreve e pormenoriza o seguinte: a administração Bush tinha decidido a guerra no Iraque e estava disposta a todo o tipo de manipulação para ter as “provas” que sustentassem a sua legalidade. Não as teve antes, nem as conseguiu obter depois, apesar de muito terem procurado. Ou seja, o que ouvimos a administração americana dizer na altura não tinha por motivação esclarecer a verdade e eliminar um perigo mas sim “To get Saddam!”. No entretanto os milhares que sofreram e morreram são certamente humanidade e uma guerra com esta base parece realmente crime. Os USA não fazem parte do TPI, assim como não faz parte o Sudão, cujo caso foi aberto a pedido do conselho de segurança da ONU, onde por acaso os EUA estão representados permanentemente e com natural poder de veto… mas, a justiça para ser justiça deveria ser cega e não depender da nacionalidade nem da importância do criminoso.

    27 maio 2011

    Glosa Crua, 6 e um p... - Tempo, 0



    Pois é. Eu bem digo que não sou muito dado a efemérides. E tanto assim é que nem me lembrei da data do sexto aniversário do Glosa Crua, no passado dia 13 de Maio... Mas pronto, cá fica o registo, um p... à frente.

    PS: E até ganhei um bom exemplo para me desculpar quando um dia me esquecer de efemérides que envolvam terceiros.

    22 maio 2011

    Continua... sim, mas como?



    Marraquexe 21-5-2011, Praça Yamaa el Fna, menos de um mês após o atentado de 28 de Abril, que causou 17 mortes.

    O café Argana está parcialmente tapado por uma estrutura coberta por um plástico opaco, como se houvesse umas simples obras em curso. Na frente um simples ramo de flores seguramente trazido por um particular familiar ou amigo de alguma vítima. Ao lado as bugigangas do costume e os negociantes que oferecem tudo o que se quiser. As motoretas ziguezagueiam por entre aquela mistura de locais e turistas. Tiram-se fotografias às serpentes e àquele pitoresco pouco espontâneo e algo forçado.

    Certamente seria pior que a praça estivesse morta e vazia, significaria que o objectivo duplo tinha sido alcançado: matar pessoas e a amedrontar de forma permanente… mas ignorar e banalizar aqueles mortes assim também não…

    10 maio 2011

    Alguém chamou "ajuda"?

    Independentemente da bondade e da oportunidade das medidas impostas pela troika, o pior veio agora: a taxa de juro anunciada como “algo entre 5,5 e 6%”. Esta não era seguramente a expectativa e não deixa de ser curioso que tenhamos assinado um protocolo com uns credores, que no fundo é o que são, e depois disso, estes vão para casa pensar e definir qual a taxa aplicar…!?!

    Quando Portugal se financiava comercialmente e considerava um “sucesso” a colocação da dívida a estes valores de taxa ouvi dizer duas coisas: uma era que muitos mais “sucessos” assim e estaríamos falidos a prazo; a segunda era que essas taxas elevadas eram consequência dos critérios duvidosos das tais agências de “rating”, que pareciam privilegiar a especulação e até merecer investigação judicial.

    Agora temos uma chamada ajuda institucional, supostamente não especulativa, que decreta uma taxa que efectivamente nos leva à insolvência. Neste prazo, nunca criaremos riqueza suficiente para a remunerar!

    05 maio 2011

    Ditadura ou solução ?


    “Cachucho não é coisa que me traga a mim mais novidade do que lagostim”. Assim começava o “FMI” de José Mário Branco escrito em 1979 após a primeira passagem da instituição por cá em 1977. Ouvi-o ao vivo no início dos anos 80 num Coliseu, “despejado” pelo autor de uma forma particularmente intensa e dramática. Para uma certa esquerda ainda na ressaca do Novembro de 1975, o FMI se não era o diabo capitalista em pessoa, estava pouco longe. Recordo também a capa, foto acima, do livro de Rui Mateus, “Contos Proibidos”, em que, muito colegialmente sentados numa escada, ele e Mário Soares recebem umas dicas de Helmudt Schmidt, o único que tem papeis nas mãos, na preparação das negociações com o FMI que se aproximavam. Recordo ainda mais recentemente Manuela Ferreira Leite ter dito que para endireitar o país era necessário suspender a democracia por 6 meses.

    E recordo tudo isto ao consultar as 34 páginas do documento elaborado pela troika FMI/BCE/CE. Aproveito para sugerir aos interessados que o consultam na íntegra e no original, em vez de andarem atrás dos títulos que os média vão libertando de uma forma quase avulsa, seguidos dos variados palpites opinatórios amadores ou profissionais da praxe.

    O conteúdo do documento pode ser bom para Portugal, mas para quem nos governou é arrasador. Um mínimo de pudor deveria abster a classe política de se congratular com o que quer que seja. Não está em causa o ser “melhor do que as piores previsões”. Está em causa é como é possível que haja tanto por fazer e que não tenha sido feito até hoje? Depois de tantos anos de apregoada boa governação e contenção, vem uma equipa a Lisboa e em apenas duas semanas e meia detecta e decreta tudo isto?

    Não vislumbro a marca demoníaca imperialista do FMI que nos quer pôr de rastos como a esquerda tanto gosta de anunciar. Muito mais submissão foi e é pedida pelos nossos parceiros europeus ricos, algo fartos de nos pagarem as festas. Não terão a razão toda, mas alguma.

    Este documento se não é um programa de governo completo, é-o pelo menos para uma série de capítulos sensíveis. Como é que nenhum governo nosso e democrático conseguiu avançar com uma boa parte destas medidas antes, apesar de toda a necessidade óbvia e visível? Incompetência, irresponsabilidade, rendição a interesses que não o público ou… porque se o tivessem feito teriam perdido as eleições? De todas as hipóteses, a última é a menos grave, mas façam-me um favor: tenham pudor e não sorriam nem mostrem orgulho com o que temos à nossa frente.

    No fundo, Manuela Ferreira Leite não tinha razão porque errou no prazo. Não vamos ter seis meses mas sim três anos sem que a “democracia” bloqueie as reformas necessárias. Foi preciso termos falido para o conseguirmos, mas esperemos que no fim saiamos melhor. Se aprenderemos ou não, isso já é outra questão.

    29 abril 2011

    Bolludos e Pelotudos



    Foi-me recomendado por um colega, antigo combatente comum daquelas latitudes, o filme argentino “O segredo dos teus olhos”. E vi, com prazer, um daqueles filmes que não é linear de narrativa única e previsível, como parece ser a norma recente. Tão pouco necessita de guia e tradução para se entender o que o realizador quer realmente contar. Uma história simples mas com níveis e linhas narrativas suficientes para ter a profundidade e a riqueza necessárias. E, mais do que tudo, um filme sobre pessoas e a suas “normais/excessivas” paixões.

    Tem um encanto nostálgico especial para quem viveu (e aturou) algo por ali, com aquelas saídas “bolluzadas” e afins. Sem pegar na origem da palavra e na sua tradução literal (descubra quem quiser), “bolludo” é muito amplo. Sendo originalmente sinónimo de estúpido e imbecil, pode em ambiente de familiaridade até servir de saudação: nós também podemos chamar “urso” e “camelo” a um amigo... Em caso de desgaste excessivo passa-se ao mais rotundo “pelotudo!”, mas pronunciado com todas as sílabas bem marcadas!

    Na ficha do filme encontrei o nome da actriz principal, Soledad Villamil (pronunciar "Vijamil"), e descobri que também canta. Não é uma Adriana Varela, pelo menos por enquanto, mas canta de uma forma … “bolluda” – ou será que não se pode usar isto no feminino? Não sei, mas pelo menos não fica bem ser usado por quem não sabe, donde que retiro o que disse.

    A Argentina é um país complexo e complexado. Tanto se sente um certo desespero ao lidar com gente frustrada por ter tentado atravessar culturalmente o Atlântico e o Equador, sem sucesso (ao contrário do Brasil que vive muito melhor a sua pele); como se admira aquela tipicidade “bolluda” (e cá estou eu de novo a reincidir na falta).

    E um par dançando/representando um tango numa manhã de fim-de-semana, à sombra das árvores de uma praça de S. Telmo, não tem nem pode ter correspondência ou equivalência em nenhum outro lugar.

    25 abril 2011

    Sobrevivendo os Pardais

    Alturas houve em que eu não tinha paciência para ouvir falar nos “Descobrimentos”. Na história oficial que tínhamos que aprender, eles eram o momento alto e, bem vistas as coisas, o único momento alto. E, 500 anos depois, apetecia dizer: sim, está bem, foi extraordinário, mas fechemos a página e deixemos de viver uma identidade plantada nas cinzas dos Gamas e dos Cabrais!. Posteriormente achei que se a nossa dimensão não se pode esgotar e encerrar nessa empresa, podemos e devemos, no entanto, olhar para a frente sem a menosprezar nem ignorar.

    Curiosamente, enquanto a Grécia, que até tem alguns tristes pontos em comum recentes connosco, continua após vinte e cinco séculos a capitalizar os seus Sócrates e Aristóteles, nós não conseguimos que o Mundo reconheça a dimensão devida aos Descobrimentos, a que pode nem ser estranho o facto de nós próprios termos dificuldade em a gerir friamente. Há pouco tempo li “O Império dos Pardais” de João Paulo Oliveira, um excelente romance histórico passado no tempo de D. Manuel I. Colocar aquele enredo riquíssimo ao lado do que serve de base à famosa série “Os Tudor” sobre Henrique VIII não tem comparação possível. E enquanto meio mundo terá visto interessadíssimo a evolução dos problemas hormonais desse soberano e demais tricas cortesãs, poucos em Portugal conhecerão a real dimensão dessa época manuelina.

    Hoje comemoramos o 25 de Abril que começa a ficar para a nossa democracia, como os Descobrimentos estão para a história de Portugal. Temos que passar à 3ª fase: depois da celebração eufórica e depois do desencanto com o resultado objectivo; deixemo-lo na história como um momento belíssimo e olhemos para a frente de forma construtiva e descomplexada.

    O título do livro “Império dos Pardais” evocava o facto de o pequeno pardal Portugal conseguir manter um império mundial só e apenas enquanto os pássaros grandes se entretinham nas duas disputas e querelas. Quando estes parassem e olhassem para o mundo, nós rapidamente seríamos retirados de cena. Na prática foi isso que aconteceu mas não lhe atribuo uma causa de fatalidade incontornável tão clara. De qualquer forma, se temos que ser sempre pardais, que o sejamos, mas sapientes e dignos.