20 fevereiro 2024

Outro mundo


Há cerca de dois anos, o mundo ocidental alertava para a concentração de forças armadas russas junto à fronteira ucraniana. Por estes lados um exército de “idiotas úteis” desvalorizava e até ironizava, comparando até a credibilidade dessas fontes de informação sobre a Rússia com as profecias de Nossa Senhora de Fátima de há um século atrás.

Hoje vemos a barbaridade que se passa por ali e penso que só podemos lamentar não ter de imediato e radicalmente cortado todos as compras de combustíveis à Rússia, compras que permitiram financiar a destruição de um país inocente e soberano. Guerra é guerra… e mais vale passar um pouco de frio nas casas e abrandamento na indústria, do que ver os blindados e os misseis a ameaçar.

Por estes dias, soubemos da morte do corajoso Alexei Navalny, cujo “crime” foi questionar, denunciar e afrontar o regime de Putin. Infelizmente é só mais um de uma longa lista de vítimas de uma organização assassina. O regime russo atual não é comunista ortodoxo, de forma nenhuma, mas a sua assinatura é muito semelhante à do estalinismo.

Ao mesmo tempo que a Europa se inquieta, e bem, com a subida dos populismos e xenofobismos da extrema-direita, deveria ser também consensual que o nosso mundo, de liberdade e de democracia, com todos os seus defeitos e fragilidades, é felizmente incompatível com a realidade de Moscovo. O voto contra do PC e do BE no Parlamento Europeu de uma resolução de 2019 que equipara o nazismo ao estalinismo e respetivas justificações são eloquentes. Saberão eles que se forem viver para esse outro mundo, além de muitas outras coisas que lhes faltarão, correm o risco grande de acabarem como Navalny se tiverem a coragem de pensar e de expressar o seu pensamento?

06 fevereiro 2024

Refugiados para sempre?


Na recente polémica com a agência da ONU de apoio aos refugiados palestinianos, a UNRWA, tem-se realçado a importância do trabalho humanitário que ela desenvolve, mas também se pode colocar uma questão. Porque é que ela ainda existe hoje e com tamanha importância?

Refugiado é alguém que perdeu a sua casa e condições de vida onde estava estabelecido, foi forçado a deslocar-se para outro lugar, encontrando-se numa situação de fragilidade. Faz sentido beneficiar de apoio e solidariedade nesse momento, mas a lógica é que seja uma situação transitória. Ou há normalização das condições e ele retorna, ou se instala definitivamente algures. Campos de refugiados com gente em condições precárias durante décadas não fazem sentido.

Aqui, estamos a falar de refugiados na sequência da fundação de Israel em 1948! Quantos dos palestinianos atualmente com esse estatuto eram já vivos nessa altura? Dentro do mesmo processo, os judeus que abandonaram as zonas árabes, instalaram-se algures em Israel e reconstruiram as suas vidas. Algumas décadas antes, centenas de milhares de gregos ortodoxos foram obrigados a abandonar a Turquia, quando esta se constituiu, e atravessaram o mar Egeu, mas não ficaram eternamente a viver em campos de refugiados e a chorar a chave da casa perdida. Inúmeros exemplos análogos podem ser encontrados na História.

Obviamente que para quem quer eternizar os conflitos e manter a pressão, dá jeito existirem ainda e sempre “refugiados”. Ajuda a capitalizar as reivindicações e a manter a causa viva. Estes palestinianos estão de certa forma “aprisionados” e, nisto como noutros pontos, vítimas dos defensores de uma certa causa, não necessariamente a que mais lhes interessa.