29 dezembro 2008

Vidas Novas

O ano de 2009 irá começar com a palavra crise a ornamentar todas as notícias. Basicamente isto aconteceu porque do outro lado do Atlântico uns espertos acharam que se pode gastar mais do que o que se ganha, bastando encontrar sempre crentes prontos para comprar promessas. Também não ajudou muito que outros grandes espertos tenham gerido empresas pensando exclusivamente nos objectivos do próximo trimestre. Há coisas importantes que pedem mais tempo, e, como exemplo, compare-se a Toyota com a General Motors.

Ao entrar em 2009, gostaria de referir algo que é do futuro, mas não exclusivo de um horizonte de 12 meses: a formação e o ensino. Anda o governo muito contente com os exclusivos Magalhães e a melhoria das estatísticas; andam os sindicatos muito contentes por terem nas mãos uma bela luta mediática e andam os professores muito confusos a ver o seu mundo a mudar e sem perceberem muito bem como e para onde.

E, depois, há os alunos. Que já descobriram que não precisam de se esforçarem para procurar aprender porque tudo será feito para lhes facilitar a vida e evitar traumas psíquicos e estatísticas vergonhosas. Imediatistas da famosa frase: “Para que é que isto serve?!?”, usada e abusada para tudo o que não é de utilidade óbvia dentro das próximas 24 horas. E há alguns pais que acham que a escola está lá para trabalhar e para “resolver” tudo. E há também uns idealistas igualitaristas que consideram igualdade de oportunidades sinónimo de uniformidade de curricula e de exigências, forçosamente nivelados por baixo.

E, um dia, esta geração entrará no mercado do trabalho, não necessariamente em 2009. E será necessário saberem muitas coisas que não pareciam obviamente de utilidade imediata quando as deviam ter aprendido. E pior do que, por exemplo, não terem aprendido a escrever decentemente, será não saberem aprender. Não terem o hábito do esforço e do sacrifício. E quando descobrirem que já não basta escrever o próprio nome correctamente para já ficarem perto dos mínimos; quando descobrirem que o mundo lhes pedirá impiedosamente exigência e rigor, concluirão não estarem preparados. E quando virem os horizontes curtos caindo-lhe em cima dos pés, revoltar-se-ão por lhes terem mudado as regras do jogo. E quando isso acontecer será feio e os responsáveis somos nós hoje.

24 dezembro 2008

Solstício de Natalidade



A história de Natal foi colocada neste solstício. Em que os dias começam a crescer (e que me desculpe o hemisfério Sul).
Marca de nova gente e de novo caminho a percorrer.

17 dezembro 2008

E se não fosse apenas uma questão de mais gastar?

O mundo chamado ocidental habituou-se a gastar. Os economistas acham bem porque o consumo é motor do desenvolvimento económico. Agora, se os produtos a consumir têm maioritariamente matéria-prima directa e indirecta (como a energia) e produção externas, consumir começa a resumir-se a comprar o que chega dentro de contentores marítimos e pagar a respectiva factura! Depois dos plásticos, da metalomecânica, do têxtil e vestuário, dos electrodomésticos, da informática e, agora também, da própria indústria automóvel passarem para o outro lado, onde vamos gerar valor para pagar a dita factura do consumo? Apenas aos serviços e à “engenharia” financeiros?!? Não chega, é necessário pedir emprestado.

A “engenharia” da valorização em espiral dos imóveis ajudou os consumidores a pedirem emprestado e a gastar. Os bancos acreditaram/promoveram e cavalgaram a espiral. E a economia foi “crescendo” até à espiral parar. Depois dos consumidores falidos, dos bancos falidos/à beira da falência, vêm os estados ajudar a economia, endividando-se, para injectar dinheiro para investimento e, subentende-se, para o consumidor recuperar a confiança e voltar a gastar. Depois de esgotada a dívida das famílias a salvação virá do endividamento público.

Bom, governar é certamente intervir fortemente quando é necessário. Agora, o que me parece é que se o Ocidente não revir fortemente a sua posição na cadeia de valor da economia real (a única sustentável), e continuar nesta de consumo por dívida, vamos voltar a estourar e de cada vez com maior intensidade. Proteccionismo em legítima defesa, mais ou menos disfarçado, quando está em causa a sobrevivência económica e a coesão social não será certamente uma hipótese a excluir. Alguém está a ver a produção automóvel a sair de França, Alemanha ou mesmo Itália? Vai uma aposta? E porquê apenas o automóvel e apenas nesses países?

14 dezembro 2008

E a Grécia aqui tão perto


Geograficamente a Grécia não está muito perto de Portugal mas o fundo dos acontecimentos lá em curso, terríveis pelo seu significado, pode estar mais próximo do que se imagina. Uma geração descrente no seu futuro, na justiça e na seriedade que quem a governa, descola do “sistema” e vem agressiva para a rua protestar e quebrar o que lhe apetece.

A oposição grega, se começou por manifestar alguma compreensão, na expectativa de lhes sobrarem alguns créditos, já deverá estar arrependida. E arrependida porque obviamente este descalabro é destruidor do sistema e, para os contestatários, a oposição não é mais do que um espelho do governo. Infelizmente a corrupção não tem cor, é apolítica.

Nas mãos de um ocasional vizinho de viagem um “Liberation”, muito “comprometido” (para não dizer “engagé”) com estas lutas”, fazia dos jovens gregos quase uns heróis. Questiono-me sempre se estes “solidários” continuariam assim tão solidários se um dia vissem o seu automóvel incendiado ou a sua loja saqueada por esses heróis.

Quando a situação económica contrai e a descrença no amanhã se planta funda e larga, a irracionalidade cresce. “Se está destruído para mim, que fique destruído para todos”. Se nesses “todos” estiverem oportunistas e desonestos em vida farta e negociatas impunes, o desesperado sentir-se-á adicionalmente roubado e terá um argumento “racional” de suporte para os seus actos.

Em Portugal estamos a encolher e com uma percepção pública do facto como não existe paralelo há muito. Que pensarão os potenciais “demitidos do sistema”, frustrados e defraudados sobre, por exemplo, o caso BPN? E que pensarão quando o outro lado do espelho aproveita para tentar capitalizar, ignorando os seus telhados de vidro? O BPN e demais derivas, independentemente da cor das mesmas, são um problema de justiça. Se a justiça não funcionar, transformar-se-ão num problema de sistema e, com os demais ingredientes presentes, num possível descalabro social.

PS: E vamos fazer de conta que não ouvimos aquela do Dr Almeida Santos sobre os deputados, suas faltas e justificações? É que, se ouvimos e ele pensou no que disse, estão mesmo, mesmo a pedi-las porque. Dificilmente poderia ser pior!!!
Imagem googleada de info.rsr.ch

12 dezembro 2008

24 horas em Teerão (II)



A zona industrial a oeste de Teerão impressiona pela dimensão e por uma imprevista indústria automóvel. Não sei que rentabilidade terá mas entre Peugeots mesmo Peugeots e outras marcas ?Saipas? Khodros de aparência estranha e que me contaram terem muito de francês por dentro, o parque parece ser mesmo de origem local. Ao fim e ao cabo foi um avião de Air France que trouxe o íman Khomeny do exílio para aqui para despoletar a grande revolução. Esse agora repousa num impressionante mausoléu bem visível para os visitantes que vão do novo aeroporto para a cidade.

Nota dissonante para a escassez de postos de abastecimento, com filas a estenderem-se por vários quarteirões. Uma hora de espera é normal para encher o depósito.

Passo ao lado os detalhes profissionais da visita, que não cabem aqui, para saltar directamente para o jantar em restaurante típico com música ao vivo. De um lado um grupo a celebrar um noivado. Gente dos 20 aos 60 todos impecavelmente produzidos. Elas naturalmente mais do que eles. Uns penteados alto estilo anos 60 (tipo Sofia Loren?), com o lenço obrigatório, mas assim do alto da cabeça apenas para trás, deixando ver o cuidado penteado. Por vezes escorregavam para a nuca ao abanar a cabeça com a música mas sem perder nunca a postura. Desta vez uma singela cerveja sem álcool e sem gosto a limão e a perplexidade de como pode esta gente ter os líderes que se conhecem.

Regresso ao aeroporto atrasado porque a chuva tinha empoçado as estradas e provocado um acidente a quem nos vinha buscar. Só tivemos que esperar que ele próprio arranjasse o carro e lá seguimos apenas com um farol e o lado direito à frente bastante amassado. A viagem é feita entre o chuveiro de cima da chuva, de baixo da água das poças pisada e do lado, dos camiões ultrapassados. Somente uma vez um deles resolveu fazer uma inversão de marcha na praça da portagem, criando alguma emoção. No final a minha mochila na mala também tinha tido chuveiro. Até à vista Persas.

08 dezembro 2008

24 horas em Teerão (I)

Uma estadia desde as 3 da manhã de um dia até à mesma hora do dia seguinte é muito curto para avançar com juízos sobre um país que se visita pela primeira vez, para lá daquelas peripécias que quando se vivem num local pela primeira vez têm sempre mais impacto. Tentemos...

Até agora conhecia dois tipos de vistos de entrada num país: os personalizados que são emitidos previamente no país de origem e os simples selos comprados à chegada. No Irão são personalizados e feitos à chegada. Levanta impresso, preenche impresso, paga impresso e …”espere que eu o chame!!!”. Tivemos sorte pois fomos os segundos de um grupo de 20 e só esperámos pouco mais de uma hora.

O grande Teerão actual foi desenhado previamente em folha de papel. Em 10 x 10 km, dizem, as avenidas, vias rápidas e auto-estradas cruzam-se e descruzam-se sobre 13 milhões de almas, a desorientar qualquer um. O hotel inserido num complexo desportivo de vários hectares tinha, às 4horas da manhã, a bela notícia de ter transformado dois quartos singles num único duplo!

Após uma noite de sono muito curta o transporte chega uma hora atrasado. Se o soubesse previamente, teria dormido mais 25% de tempo! Durante essa espera dá para observar um movimento de chegada de congressistas e, se não sei classificar o estrato social relativo em que se inseriam, uma coisa é certa: de toscos não tinham nada, mas mesmo nada. Um olhar para o mapa e dá para entender. Até Vasco da Gama ter trocado as voltas, este corredor entre o mar Cáspio e o Golfo por eles baptizado foi durante muito tempo o grande cruzamento das rotas entre a Ásia, África e Europa e esse ver passar meio mundo deixa marcas.

O almoço é acompanhado por um espumante local não alcoólico que, prometendo ser o céu, me faz suspirar pelo inferno. A alternativa era uma cerveja sem álcool com sabor a limão que, segundo um colega de viagem, fazia lembrar o Sonasol… (!)

(continua)

04 dezembro 2008

O país do brando clima

Antes do advento das máquinas de fazer neve, dizia-se com ironia que a Serra da Estrela não era opção para praticar desportos de inverno porque na maior parte do tempo não tinha neve suficiente e quando a tinha a estrada de acesso fechava.

Não somos um país que conviva com neve frequentemente, obrigando a uma organização eficaz nesse campo, mas, nas vezes em que ela aparece, demonstramos uma deficiência deplorável.

Um caso concreto. No passado sábado dia 29/11 houve gente bloqueada no IP4 entre Amarante e Vila Real por mais de 7 horas. Os nevões são relativamente previsíveis. Para um eixo da importância do IP4 deveria ter sido realizada uma acção preventiva espalhando sal. Sem isso, ao começar a nevar com intensidade, sem a estrada estar preparada, deveria ter sido imediatamente cortada e não somente apenas após ficar repleta de veículos encravados.

Durante essas 7 (sete) horas, ninguém de GNR, Protecção Civil ou Bombeiros deu o mínimo apoio aos bloqueados: têm combustível suficiente para manter o motor em funcionamento e o veículo aquecido? Têm que beber? Têm que comer? Nada! 7 horas é muito tempo e este abandono dos cidadãos à sua sorte nestas condições é coisa de terceiro mundo.

No final, os bombeiros aproveitam para referir a sua crónica falta de meios. Sem questionar a abnegação e o esforço desses homens, interrogo sim o planeamento das suas aquisições. Quando se vê quartéis tão recheados, por vezes tão próximos e até em ligeira “concorrência”, fica a dúvida se existe alguma coordenação. E o exemplo de não possuírem aparelhos GPS parece muito mais um problema de gestão do que de disponibilidade de recursos.

02 dezembro 2008

Bibliotheca Alexandrina

Alexandria é um daqueles nomes “clássicos” que ecoa muito forte: o meridiano centro do mundo, dividindo a Europa da Ásia, o farol e juntando a palavra biblioteca fica a magia completa.

Uma recente viagem para aqueles lados deu direito a uma breve passagem pela nova “Bibliotheca Alexandrina”, pelo simples preço de adiar o almoço das 16 para as 17 horas. O edifício é simplesmente fabuloso. Aliás, um pouco à imagem do Guggenheim de Bilbao, corre-se o risco de se gastar a atenção toda na construção e esquecer o conteúdo.

Bom, no que diz respeito ao conteúdo recomendo um passeio por http://www.bibalex.org/, uma vez que eles apostam fortemente no conteúdo electrónico e na disponibilização on-line.

Uma nota … de sei lá o quê… Numa das zonas de PC’s algumas manchas negras, aparentemente jovens, daquelas que nem sequer a pele das mãos pode ser vista, tudo devidamente coberto por pano preto, consultavam afincadamente o que o visor lhes contava e tomavam nota num papel branco contrastando com as luvas negras. Que buscavam? Que saber? Poderiam buscar todo o saber que quisessem? Poderiam interrogar o mundo em toda a sua latitude? E, se o pudessem, continuariam por sua vontade sendo “manchas negras? Uma figura daquelas circulando limitadamente pela rua, bem guardada pelo marido e envolvida na creche própria é “normal”. Ali, na Biblioteca Alexandrina, afincadamente procurando sei lá o quê, parece estranho. Talvez por isso de todas as fotos que intimidado tirei, nenhuma teve a serenidade para obter uma imagem clara. Todas ficaram pouco nítidas!