Parece-me absolutamente inquestionável que o Estado deve garantir assistência na saúde a todos os cidadãos, sem ser necessário pesquisar previamente a carteira de um doente ou de um ferido para procurar um cartão bancário ou de uma seguradora. Agora, se o SNS se apoia em estabelecimentos apenas públicos ou também recorre a privados é uma discussão de outro nível. Se há quem use o argumento de que o Estado não é por norma bom gestor, as suas contratações com privados também frequentemente deixam muito a desejar.
Acho curiosas as manifestações da corporação médica em defesa do Serviço Nacional de Saúde. Não me recordo de os ter visto no passado assim activos a criticarem ou fazerem algo para impedir a má gestão e a utilização abusiva do sistema. Os médicos que cobram a consulta em casa e arranjam os examos no hospital, por exemplo? Pode-se dizer que hoje é muito menos do que no passado. Sim, mas se algo mudou não foi certamente com o apoio da corporação, muito pelo contrário. A norma é estarem sempre contra. O que fez a corporação proactivamente para moralizar e disciplinar tanta coisa errada que se vive no sistema público de saúde? Qual o histórico da sua reação quanto ao escândalo dos prémios à receita?
Quero realçar que não estou a referir-me “aos médicos” na globalidade. Estou a referir-me à sua representação corporativa, à sua enorme falta de humildade e ao desplante de agora se proclamarem defensores do SNS, quando ao longo de todos estes anos a sua inacção foi um dos piores inimigos.
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