26 dezembro 2012

O desafio da mudança

Para lá das diversas teorias da gestão empresarial sobre segmentação de negócios, eu acredito que há uma segmentação fundamental inicial e que divide as empresas em dois grupos: aquelas que no fim da cadeia de valor têm um consumidor e as outras que no final têm directa ou indirectamente um contribuinte. As primeiras têm por prioridade a competência, a excelência e a inovação, que as façam distinguir e sobreviver na selva de concorrência. As segundas têm a chave do sucesso no relacionamento, nas fidelidades e na, chamemos-lhe, gestão da informação.

Com a travagem brutal do investimento público em Portugal, a muitas empresas coloca-se um desafio duplo. Necessitam de encontrar novos negócios e, no caso provável de esse novo negócio ter um sistema de valores diferente, terão que se reestruturar em organização e em cultura para terem sucesso nesse novo contexto. Em muitos casos será muito mais difícil do que simplesmente obter encomendas.

20 dezembro 2012

Não há almoços grátis

Anda a comunidade fotográfica on-line em polvorosa com a alteração aos termos de utilização anunciados pela Instagram, site de partilha de fotografias, adquirido pela Facebook recentemente. Confesso que nem o conhecia. Uso apenas de vez em quando o Picasa que está agarrado ao Google, herdado do tempo em que era o habitual para “subir” fotos para o Blogger. Não o uso como rede social, apenas para partilhar álbuns com quem me apetecer. Ora bem, o Instagram acho que diz, se ainda não o desdisse, que a partir do momento em que um utilizador sobre para lá uma foto, adeus. Eles podem fazer o que quiserem com ela, incluindo usá-la para fins comerciais, que é como quem diz, vendê-la. Não entendo muito bem como isto funciona na prática, por exemplo em duas situações: quando alguém sobe uma foto que não é original sua e o Instagram a vende de seguida? Quem fica responsável – o utilizador? Quando um utilizador sobe a mesma foto em dois sites que as vendem em paralelo? Como estes senhores não dormem, provavelmente devem ter escrito em qualquer lado que ao subir uma foto, o utilizador acorda que é sua e despede-se legalmente dela.

Portanto, cada vez que pomos um clique naqueles quadradinhos obrigatórios de “li e aceito as condições de serviço”, se calhar nem sempre sabemos bem com o que estamos a concordar e todas as suas consequências. A não esquecer, claro, que como não há almoços grátis, alguém dalguma forma tem que pagar o serviço. E aí, por detrás duma aparente facilidade, está uma máquina terrível de gerir informação. Por exemplo nas “sugestões de amigos” que me aparecem, se nalguns casos entendo claramente onde foram buscar a relação, noutros aparecem-me pessoas que conheço mas completamente fora do contexto e fico a pensar se não há alguma exploração indevida dos meus históricos.

Se calhar era melhor pagar qualquer coisa para ter um álbum de fotos na nuvem, mas com condições de utilizações simples, claras e sem armadilhas, não?

PS: Tenho quase a certeza de que ao colocar aqui o bonequinho deles, estou a infringir qualquer coisa.

18 dezembro 2012

O operário e o seu automóvel

Quando Henry Ford revolucionou o fabrico do automóvel com o famoso modelo T, tinha como objectivo a redução do custo do produto, de modo a poder ser comprado pelo operário que o produzia. Muito ambicioso na altura, mas a indústria automóvel evolui de forma a esse objectivo ser alcançado. Quando há 20 anos atrás eu via no parque de estacionamento do pessoal da Ford Colónia veículos asiáticos questionava-me: na perspectiva do consumidor pode ser uma opção racional, mas não estarão estes operários a pôr em causa o seu próprio posto de trabalho? Isto era na altura da construção da Auto Europa e em que a indústria automóvel europeia ainda crescia. Hoje leio o anúncio do encerramento da Opel de Bochum, que não fica muito longe e a própria Ford Colónia foi poupada em detrimento da Ford Genk, na Bélgica, numa opção algo discutível. Se ambas as fábricas estivessem na Alemanha seria provavelmente a de Colónia a encerrar.

Ou seja, o operário passou a comprar o carro que ele fazia, depois passou a comprar carros que ele não fazia e agora, que não tem carros para fazer, fica sem trabalho. No fim ficará sem poder comprar carro de todo. O fim de um ciclo? O que se seguirá?

E não vale a pena pensar e falar em políticas voluntariosas de “prioridade ao crescimento económico” e “vontade de criar emprego” – o que a Europa precisa é de continuar a construir automóveis e afins.

14 dezembro 2012

Venham mais “I”s, mas dos bons!

Ouço nos átrios mediáticos da comentarite que há uma ideia nova. Em vez de insistir em carregar no IRS, no IRC e noutros impostos tradicionais, dever-se-ia passar a buscar receita a outras coisas como, por exemplo, impostos ambientais. E como é habitual, alguém atira uma ideia debilmente especificada, sem estar minimamente detalhada e toda a gente fala logo a seguir. Correndo eu o risco de estar fazer o mesmo, peço desculpa, mas no fim, no fim, quem vai pagar esses impostos ambientais “modernos” em substituição dos outros” I”s tradicionais? Não serão os mesmos contribuintes individuais e colectivos? Ou seja, trata-se apenas de uma redistribuição da carga fiscal pelos mesmos. No limite se a “classificação ambiental” for mais ou menos equitativa, vamos continuar a pagar o mesmo, apenas com o outro nome! Senão, haverá uns que aliviam e outros que sobrecarregam. É isto uma solução milagrosa para os nossos problemas orçamentais? Por favor !!!

Se a redução da despesa, selectiva e eficaz que não é cortar 20% a tudo, mas 100% ao que está a mais, não chega, vão buscar impostos mas a quem ainda não paga….!

11 dezembro 2012

O homem das botas

Que não é doutor, já sabíamos, que não parece ser ministro também é um facto. Ouvi-o na televisão comentando que António Costa não tem a reeleição garantida, que terá que gastar muita sola em campanha e aconselha-o a verificar urgentemente o estado das mesmas. Sinceramente… nem a um treinador de futebol fica bem esta cantiga, quanto mais a um ministro! 

A seguir ouço o anúncio de mais outro “modelo” de privatização da RTP e que, parece, será de vender 49% e entregar a gestão ao investidor privado. Se me permitem, quando alguém guarda 51% é para manter o controlo. Antigamente o Estado tinha as “golden shares” em que tinha mais poder do que a participação no capital. Agora terá uma dummy ?? share em que com a maioria do capital deixa de gerir. Depois de ter ouvido tantos anúncios de tantos modelos, um canal, ou o outro, a concessão e privatização parcial… não há dúvida que o homem sabe do que fala, muita sola deve ter gasto em tantas andanças. E, ainda por cima, esta última versão das misturas público-privadas é uma coisa da qual a gente aprendeu a desconfiar.

09 dezembro 2012

Reflexão sobre a desgraça

Qual a maior desgraça que se pode sofrer? Fome, miséria, doença, perda de um ente querido…? Não: a pior desgraça é perder a dignidade e não a reencontrar.

Jachinta Saldanha, indiana mas curiosamente com nomes na família como Barboza e Souza, a enfermeira enganada pelo telefonema falso a inquirir sob o estado de menina Kate, suicidou-se, não se sabe exactamente porquê. A casa real diz que não apresentou queixa, a administração do hospital louvou-a, a estação de rádio que fez e divulgou a brincadeira está chocada, mas afirma que não foi crime.

Provavelmente nunca se saberá exactamente qual foi a razão principal do suicídio mas o que parece mais provável é que Jachinta não suportou ser ridicularizada. Não é certamente o mesmo que disparar uma bala à cabeça de alguém, mas roubar a dignidade é seguramente um roubo e grave.

27 novembro 2012

Aliste-se! O país precisa de si!

Estamos de acordo que: a democracia é o pior sistema com excepção de todos os outros; a democracia não existe sem partidos; os partidos actuais estão moribundos de ideias, de capacidade e de vitalidade, um pouco como as casas reais ficavam atrofiadas pela consanguinidade. A solução é criar novos partidos? Como não há boas experiências nesse campo, a minha sugestão é: vamos tomar de assalto os partidos existentes. Isso mesmo. Cada cidadão que ache que tem algo a dar ao país e entenda que estamos numa situação crítica em que isso é necessário, inscreve-se num partido. Eu sei que muita gente acha que são todos maus, mas escolham lá aquele menos mau, aquele com o qual se identificam mais. Podem as portas estarem fechadas a esta invasão de cristãos-novos, ou estarem abertas mas com uma janela aberta logo em frente, pode não dar nada, mas o estado do país justifica o esforço. Vamos a isto?!

23 novembro 2012

A Alemanha do Far West

Não entendi aquela grande raiva aquando da visita da Sr Merkel, como se ela fosse a origem dos nossos males e devesse ser a solução para todos os nossos problemas. Se calhar alguns alemães têm inveja das condições de vida naturais do nosso país, do clima, dos vinhos, da gastronomia, das praias, de um certo saber bem viver que lhes falta e, por isso, não terão grande pena de nós se ficarmos a penar. Mas daí a eles serem a origem dos nossos males, só se for pelo rios de fundos europeus que para cá correram abundantemente durante tantos anos, em boa parte por eles financiados, e aos quais ficamos mal habituados. Serviram para fazer muita coisa, inclusive auto-estradas paralelas separadas por centenas de metros como a A1 e a A29 entre Estarreja e Aveiro. Por outro lado, ao pensar em Auto-europa, Continental e Bosch fico convencido de que os alemães podem certamente ser parte da nossa solução. E se, em vez de insultar a senhora, nos preocupássemos com que estas empresas não partam e mostrássemos que ficaríamos contentes eras se outras mais para cá viessem? Infelizmente a instabilidade fiscal do sobe e desce, avança e recua, sem saber que impostos se vão pagar daqui a 5 anos, nem sequer daqui a 5 meses, não agrada a nenhum investidor.

Quando se dá o exemplo da Alemanha de Leste e se pede um paralelo, não sei se estará claro para todos que a ex-RDA foi anexada e ficou a ser governada pelos outros. É isto que querem para cá: sermos a Alemanha do Far West ? Às tantas, pensando bem e friamente, nem seria má ideia. Pouparíamos o custo do nosso governo e evitaríamos os desgovernos das auto-estradas redundantes e afins. Para que nos serve a soberania se não nos conseguimos governar!

21 novembro 2012

Europa, querida Europa

Quiseram as circunstâncias que me decorresse uma semana por terras da Europa que já não pisava há uns tempos, entre alguma nostalgia, satisfação e estranheza. Vamos por partes. Madrid, porta do Sol – Um SUV da protecção civil passa lentamente entre o povo que circula. A particularidade é a marca e modelo, BMW X3, e apetece dizer: “Não há necessidade…!”. Ao mesmo tempo há vitimas de acções de despejo que se suicidam atirando-se das janelas dos apartamentos que têm de entregar ao banco. Não há protecção civil que as salve, nem mesmo com um X3, por mais rápido que seja.

Paris – Metz – A A4, o nevoeiro, as referências a Verdun, aquelas vinhas de Champanhe tão a norte que não entendo, e a Lorena terra de ninguém da frente Franco-Prussiana.

Metz – Há catedrais fantásticas como esta. Também uma igreja monumental de planta simétrica, curioso, ah pois!, é dos templários! Le Beaujolais nouveau est arrivé! E pronto lá estão eles a vender aquele vinho de S. Martinho a preço forte, a japoneses e afins. É como o nosso Mateus Rosé – apenas para quem não sabe o que é vinho. E na quinta-feira à noite, gente na rua de forma imprevisível para paragens tão setentrionais. Será que a tradição estudantil da festa nesse dia é generalizada?

Beauvais – Se aquilo é “Paris”, então podemos pôr um aeroporto em Cabeceiras de Bastos e chamar-lhe “Porto – Cabeceiras”. Eu sabia que não devia confiar no GPS. Desde o centro até lá, atravessando a horrível periferia norte de Paris foi mais uma hora a somar à hora e tal previstas. Pensava encontrar um restaurante simpático, acolhedor mas não foi assim. Basicamente sítios, poucos, com gente a beber cerveja, já a sentir-se a proximidade flamenga e um certo olhar frio para quem tem cor de pele diferente. Ou será preconceito e trauma meu? Entrei e saí de dois sítios no centro e acabei por trincar qualquer coisa num daqueles restaurantes plásticos ao largo da estrada, iguais em todo o lado.

Europa, querida Europa…

16 novembro 2012

O resultado da democracia

Suponhamos que se instaura um regime democrático numa creche e a ementa da semana vai a votos. A educadora apresenta uma proposta equilibrada alternando carne com peixe e sem esquecer a sopa e a fruta. O Manelinho levanta-se e diz – “Basta! Somos livres de escolher, não temos que estar subjugados a essa tirania da dietética que nos querem impor! A minha proposta é: hambúrgueres e batata frita, todos os dias!!”. Naturalmente arranca uma larga salva de palmas e entusiásticas ovações.

O mais certo é que o Manelinho tenha uma larga vitória e, com plena legitimidade democrática, se passe a comer hambúrgueres e batata frita todos os dias. Quando mais tarde for necessário tratar do colesterol, aí a culpa é da troika, que é como quem diz do médico que prescreve, mal ou bem, o tratamento.

Todos aqueles hoje que hoje barafustam contra a dita troika, onde andavam e que diziam quando o pessoal se empanturrava com os ditos fritos? Quantos deles tiverem a coragem de dizer nessa altura que pelo caminho que levávamos íamos acabar muito mal? Muito poucos. Um número absolutamente residual e largamente inferior ao daqueles que por acção ou omissão alinharam com os Manelinhos. Vociferar agora contra o tratamento a que os sucessivos desgraçados desgovernos nos conduziram é tarde. A democracia falhou. Irá ser necessário suspendê-la?

08 novembro 2012

Um espanto

Vejo nas notícias que há um escândalo em curso por o Centro Hospitalar do Entre Douro e Vouga ter descontado as taxas moderadoras devidas pelos seus funcionários nos seus vencimentos. E o escândalo não é pela dívida em si. O escândalo é pela legalidade da retenção, por algumas terem até já prescrito e por assim o hospital ter poupado uns euros em notificações pelo correio. Realmente é escandaloso e o problema não está em quem deve, está em quem procura cobrar.

E aproveito eu para me servir do exemplo. Todos os meses a minha empresa desconta-me directamente no vencimento o meu consumo na cantina. Acho que sem uma deliberação do tribunal não o deveriam fazer e se calhar, se pensar no que me descontaram em todos estes anos, esquecendo prescrições e juntando os juros, não fico rico, mas quase.

Há certos países em que os pagamentos têm que ser feitos à vista porque compromissos são frouxos e a justiça não funciona. É isso que querem estes fundamentalistas da forma?

07 novembro 2012

Estamos em perigo !

Vejo no telejornal a história do jornalista que foi preso nos Açores por, depois de ter insultado e de ter tentado agredir Miguel Relvas. Aparentemente, a versão do jornalista é diferente: não foram insultos, foi uma provocação em brincadeira e apenas estava a passar no corredor do quarto de hotel do ministro quando foi duramente abordado pelos seguranças.

Se calhar a verdade não está completamente em nenhum desses dois lado, mas ao ver a figura laroca do So Dotor Ministro, fico preocupado. Qualquer pessoa de bem ao ver aquele Sotor, com aquele (so)risinho parvo à sua frente, corre o sério risco de “mandar uma boca”, que seja interpretada como um insulto, e lá vamos dentro.

Da parte que me toca, garanto que me sinto mesmo em perigo. Espero bem não me cruzar com este senhor. Não pode, não pode, não pode ser ministro ! Haja decoro.

06 novembro 2012

Os segredos ...


Vejo numa revista generalista as letras gordas e as legendas de um artigo sobre o funcionamento do cérebro. Está identificado o cantinho do órgão que reage a cada estímulo e onde reside cada funcionalidade. Leio na diagonal e o tom é de que já se sabe tudo, mas acho que a coisa fica pelo conhecimento geográfico. Se pensarmos no processo de desenvolvimento das faculdades mentais, o nevoeiro é absoluto e cerrado. Porque raio há quem não consiga aprender matemática? Qual a influência da televisão e dos ecrãs em geral – net e jogos – no desenvolvimento do cérebro do ser humano?

Aqui, o pau tem dois bicos. Se se soubesse como fazer evoluir o cérebro resolver-se-iam muitos dilemas e angústias do sistema educativo e dos seus actores como pais e professores. Mas, se isso fosse tão claro como o desenvolvimento dos bíceps, iríamos ter “ginásios” para criar sobredotados? E iríamos necessitar de alguma forma de controlo anti-doping para não termos batota, ou se preferirmos, evitar estratégias de alto rendimento a todo o custo que apresentam factura pesada a prazo?

Não, decididamente, o que se sabe continua a ser mais sobre o hardware do que sobre o software. E ainda bem. O cérebro está para o ser humano como uma reserva virgem está para a biodiversidade. Se colocássemos todas as espécies num zoológico, perderíamos algo de fundamental. Se fosse possível condicionar, programar ou formatar o nosso software, acho que deixaríamos de ser nós.

Não obstante estes devaneios saber um pouco mais sobre o que é realmente saudável e nocivo para o desenvolvimento do cérebro não seria mau.

04 novembro 2012

Refundar

Quando não se sabe o que fazer, baralha-se e torna-se a dar. A palavra “refundação” avançada por Passos Coelhos estes dias soa-me a baralhar. A ideia de convocar o PS para discutir ideias e propostas parece-me positiva. Se este diz e repete que há alternativas, não tem mais que fazer do que se sentar à mesa de trabalho e apresentá-las e discuti-las. É muito mais interessante do que simplesmente o anunciar e repetir em jantares de família, para as respectivas ovações da praxe.

Mas, da mesma forma como a ideia peregrina de Passos Coelho de fazer uma revisão constitucional não servia para nada, também penso que não temos que refundar nada. Apenas fazer bem o que tem que ser feito. A solução não é cortar 5%, 10% ou 20% a todos os funcionários públicos. O problema é não se cortar 100% naquilo que é realmente redundante e, para isso, não é preciso refundar nenhum estado, basta trabalhar a sério sobre o assunto e ter convicção e coragem. Eu não me importo de pagar impostos para uma sua redistribuição séria pela educação, saúde, justiça, segurança e todas essas coisas que devemos ter independentemente do saldo da conta bancária. Agora, não estou disposto é a pagar coisas que custam o dobro do que deveriam custar, não estou disposto a ver o esse dinheiro que ganhei ir parar à Suíça, pagar o escândalo do BPN, as generosas consultadorias dos grandes concursos públicos e por aí fora. Para isso, insisto, não é necessário refundar o Estado, a menos que ele esteja tão podre que não tenha cura. Neste caso também não seriam os protagonistas actuais os adequados a tal missão e isso era uma conclusão muito perigosa.

02 novembro 2012

Os técnicos do FMI

Em primeiro lugar convém realçar que se o FMI anda em Portugal, não é por vontade e imposição dele, é pelo desgoverno e irresponsabilidade que existiu em Portugal durante largos anos. Agora, quando se fala na ajuda dos técnicos deles, fico preocupado. Passei com alguma frequência pela Argentina, no final da década de 90, quando esta era um bom aluno dos técnicos do FMI. Com o peso indexado ao dólar, tinha uma baixa taxa de inflação, considerado fundamental pelo FMI e prova provada do sucesso da sua acção. O problema é que os juros da dívida pública eram largamente superiores a essa inflação e não é necessário ser nenhum génio em economia para adivinhar que um Estado largamente endividado a pagar juros elevados em moeda forte, não gera riqueza para se sustentar. Foi o que aconteceu com a Argentina que no inicio de 2002 deu um calote aos seus credores. Durante largos anos houve miséria e restrições de todo o tipo e se hoje a Argentina está relativamente bem, convém não esquecer que aproveitou o seu enorme potencial de recursos naturais e o preço forte destes durante os últimos anos em que a economia mundial cresceu fortemente. O eventual paralelo com Portugal teria a primeira parte comum, mas não a segunda.

Até ao último momento os técnicos do FMI continuavam a dizer que se estava no bom caminho. Assim, arrepio-me um pouco quando penso no resultado que a sua “ajuda técnica” pode trazer a Portugal.

30 outubro 2012

Armstrong

Gosto de bicicletas. Não sou nenhum especialista nem grande praticante, sobretudo actualmente, mas acho que consigo sentir o que é pedalar. Por isso, é com um olhar algo especial que vejo aquele esforço terrível do ciclismo profissional. 

Lance Armstrong foi condenado por dopagem. As suas 7 Voltas à França nada valem, se calhar nada valeram e há a questão de “e os outros?”. Será que em todo o pelotão haverá/haveria alguém mesmo, mesmo limpo? Mas não é essa a minha reflexão principal de hoje. 

Quem investigou e levou o assunto até ao fim foi a USAD – a agência americana anti-dopagem. Depois do seu relatório arrasador a UCI (União Ciclista Internacional) não teve outra opção que não fosse confirmar a aplicar as sanções máximas possíveis. Pensemos na Europa: França ou Espanha. Em Portugal não directamente porque não temos uma vedeta ciclista com a mesma dimensão, mas podemos fazer um esforço. Alguém está a ver uma agência nacional destes países a levar um assunto destes até ao fim e a destruir o seu herói nacional? Não, não estou a ver. Não sei se iriam a ponto de encobrir, mas que seguramente não teriam uma grande diligência no assunto, disso tenho a certeza. Se fosse em Portugal a prescrição era mais do que certa! 

Apesar dos seus excessos e particularidades, no que toca a justiça, aplicação cega da legislação, os Estados Unidos estão realmente à frente. E o desenvolvimento depende também e muito disso.

24 outubro 2012

A equação impossível

Vamos supor que o Estado até consegue no dia-a-dia equilibrar receitas com despesas. Teríamos o problema do défice resolvido? Não, longe disso, e por três razões. É preciso reembolsar os desvarios e desperdícios de muitos anos de gastar à toa e não é fácil. É preciso pagar juros da dívida e quando as taxas de juro são superiores à riqueza gerada pela dívida contraída, como parece ser o caso, é uma espiral de endividamento. Precisamos ainda de investir em algo para termos mais riqueza amanhã e aqui pior do que o problema da disponibilidade de fundos é a incapacidade dos nossos governantes passados, actuais e potenciais futuros definirem e aplicarem investimento público realmente produtivo. Se a solução não gastar à toa, como no passado, continuar simplesmente a aumentar impostos e a sacar às vítimas mais acessíveis, esperando que um dia a equação feche, é no mínimo irrealista.

18 outubro 2012

Uma nova era

De uma forma geral a Europa não possui recursos naturais significativos. O nível de vida na Europa, desproporcionado face a outros países intrinsecamente mais ricos, foi e é baseado em “saber mais e fazer melhor do que os outros”. Se às vezes sem grande preocupação quanto a padrões éticos, como, por exemplo, na exploração dos recursos minerais africanos ou nos grandes negócios de aviões, fragatas e outras coisas gordas, na maior parte das vezes a vantagem veio mesmo da genuína capacidade de inovar e de valorizar a criatividade. Parece-me, no entanto, estarmos a chegar a um ponto de exaustão nessa “liderança”. O porquê é uma longa história bastante condicionada pelo império do meio, mas agora falo apenas da evidência e sem sequer referir o caso de Portugal que vai de mão estendida a Angola.

Uma grande parte da riqueza mundial nasce no subsolo nos países naturalmente ricos, com largo destaque para petróleo e afins e ia-se lá recuperar algo do que se lhes pagava pelo ouro negro vendendo produtos sofisticados, luxos e às vezes apenas imagem a preço de ouro amarelo. Apareceram entretanto alguns magnatas do ouro preto que não se limitam a passar grossos cheques, são mais finos e têm uma visão empreendedora. O exemplo mais recentemente e de eficácia notável tem sido o Qatar. Para quem não sabe é de referir que muito do que a rua árabe diz e grita é a Al-Jazira que o dita. Deixemos de lado outros sucessos do Qatar e voltemos ao tema.

Ainda no tempo de Sarkosy o Qatar ofereceu à França uns milhões para investir nos subúrbios desfavorecidos das cidades francesas. A campanha e as eleições suspenderam o tema mas agora parece regressar na figura da “parceria” entre estados. Que França venda as suas jóias da coroa económicas (até mesmo parte da indústria de defesa) ou um símbolo desportivo como o PSG não deixa de ser apenas uma venda. Agora, que precise do Qatar para melhorar as condições de venda das suas populações mais desfavorecidas, é incrível como cenário e assustador como potencial consequência! Virá aí mais uma espécie de primavera, desta vez na margem norte do Mediterrâneo? Se conseguem, não sei, mas que alguém gostaria de o tentar fazer, disso não tenho a mais pequena dúvida.

05 outubro 2012

Falta de imaginação e o “I” mais à mão

Depois da mui sapiente e imaginativa proposta de transferência da TSU, a recente comunicação de Vitor Gaspar foi de uma falta de ideias atroz. E é importante chamar as coisas pelo nome: não foi anunciado um programa de austeridade, porque não há real redução de despesa estrutural do estado. Um governo sem ideias e sem coragem continua a sacar onde é mais fácil, sacar a funcionários, pensionistas e contribuintes e vamos ao “I” mais à mão: neste caso ao IRS.

Se a consolidação orçamental é necessária e isso exige sacrifício, tem que haver limites. Quando acaba o saque? Quando formos todos “ricos” e a taxa média do IRS chegar aos 80%? Recuperar os roubos ao contribuinte – e realço a palavra roubo – com BPN’s e PPP’s fica pela declaração de intenções. Taxar as transacções financeiras pode ser possível. Sobre o fundamental que é o corte sério nos gastos supérfluos do Estado, irão reflectir. Espero que pensem e implementem com sucesso antes do contribuinte honesto ficar em pele e osso. Pelo exemplo recente das fundações, as expectativas são baixas. Dizem apenas que vamos pagar mais, muito mais, sem detalharem, quanto, quando e como. É como se o Governo fosse dono e senhor do nosso livro de cheques, previamente assinado em branco.

Se calhar, no fundo, o problema não é falta de imaginação é mesmo falta de capacidade. Se pensarmos no curriculum destes profissionais da política não é de estranhar. Precisamos mesmo de quem saiba governar, mas esses não estão nos partidos que é de onde saem ministros e secretários de Estados.

01 outubro 2012

Recado a António Borges

Para ler e repetir o que está escrito num livro não é preciso muito. Interpretar essa leitura correctamente num contexto específico já pede algo mais. A seguir, definir um plano de acção concreto, é mais um passo. Depois de definir o plano é necessário arrancar com ele e, nem sempre evidente, levá-lo até ao fim. Chegar ao fim com sucesso, é ainda outro desafio. Por isso, quem se limita a repetir livros, por muitos e bons que sejam todos eles, está muito longe de quem planeia e concretiza algo com êxito. António Borges não o deveria ignorar e a sua despropositada e infeliz tirada desprestigiou muitíssimo o seu curso.

27 setembro 2012

O dia da mudança

Há um princípio básico num processo de mudança de que quando se anuncia formalmente algo não se pode recuar no dia seguinte. É necessário previamente auscultar sensibilidades, confirmar viabilidade e quando se oficializa é para ficar. A partir da altura em que há um recuo, fica como precedente e a reacção à mudança torna-se mais forte, procurará rentabilizar o precedente e descredibilizar o processo no seu todo.

Vem isto a propósito do inevitável recuo do governo quando à transferência da TSU das entidades patronais para os trabalhadores que, nunca é demais realçar, não era fundamentalmente uma medida de redução de défice. Era uma experiência que alguns teóricos externos ou internos acharam curioso implementar e que com uma assustadora ligeireza foi decidida e anunciada.

O recuo era necessário mas deixa uma mancha, o tal precedente, e a imagem de que não se estava/não se estará a fazer as coisas bem. Se até agora, por muito penoso que fosse, ainda havia alguma sensação de que era um remédio amargo mas necessário, agora é diferente. Ninguém olha para estes anúncios de mais do mesmo, mais IRS, mais isto, menos aquilo, sem se interrogar: mas estes tipos sabem mesmo o que é que andam a fazer?!?

Este pessoal que nos governa, que nunca trabalhou duramente, alguns que nem sequer estudaram seriamente, tem competência para gerir o país e para definir e implementar uma Política de desenvolvimento? Se têm, não parece...E o pior não é a crise de hoje, o pior é que não se vê nada de nada que permita pensar que daqui a uns anos estará melhor, pelo contrário. Por exemplo: investimento estrangeiro, quem pensará instalar-se cá, com esta volatilidade fiscal?

20 setembro 2012

Velhos tempos

Qual a percentagem de utilizadores de Excel ou Word que utilizam realmente estas ferramentas de forma minimamente correcta? Não me refiro aquelas coisas fantásticas de ir buscar referencias aqui, ligar para acolá e por aí fora. Também não me refiro a coisas óbvias de utilização como, por exemplo, ter numa folha de cálculo cada parâmetro numa célula isolada e única, não escondido dentro de várias fórmulas espalhadas pela folha.

Refiro-me simplesmente a utilizar e a tirar partido das ferramentas estruturantes do documento. Estão garantidas coisas simples como fazer um índice automaticamente, reformatar um parágrafo e ser aplicado a uma família completa, inserir um parágrafo e renumerar automaticamente todo o documento?

Recordo-mo de há muitos anos um Word velhinho trazer um “tutorial” que corri em poucas horas e que me fez quase um craque, ficando em estado de choque quando alguém me pegava num documento e mo devolvia com a estrutura corrompida. Depois, deixei de ter necessidade de produzir documentos complexos e para mim passou a ser um mistério qual a regra que definia a formatação de um parágrafo resultante da fusão de dois diferentes. Fui resolvendo esses problemas com a escola do técnico da televisão antiga: duas pancadas de lado e uma por cima, as vezes necessárias até a imagem ficar certa.

Hoje tive um trauma. Queria apenas colocar num rodapé “página n / t” – sendo “n” o nr actual, e “t” o nr total. Este Word tem potencialidades fantásticas: tinha formatos de rodapés a não acabar mais em formato e em cor, mas em nenhum aparecia o meu “t”. Serei eu o raro? Não é frequente indicar o número total de páginas do documento? Na falta do tal “tutorial” fantástico chamei o “help” e… gritei por socorro! Aquela coisa em vez de me abrir um ambiente uniforme estruturado, que a Microsoft deveria ter tido a decência de preparar, saltava para a net e dou por mim num daqueles fóruns em que se colocam perguntas idiotas seguidas de várias respostas/palpites e patetices que cada qual livremente cuspia lá para dentro.

Pragmaticamente confesso que encontrei a resposta mas se isto é “profissional”, por favor!! Ou serei eu o raro…?!

17 setembro 2012

Pode-se falar?

A “Inocência dos Muçulmanos” é um filme provocador, talvez ao nível das “Je vous salue Marie” de Godard, que, apesar da enorme polémica, não deu mortos.

Será uma iniciativa infeliz e em cuja realização e divulgação há zonas de sombra que talvez um dia se clarifiquem, quando a poeira assentar. Pode ser difícil controlar a exaltação de muitos muçulmanos quanto ao assunto, mas quando partidos com responsabilidade governativa apelam a manifestações “contra os americanos” , estão a deduzir e a induzir que o facto de um ou vários americanos terem realizado o filme, torna responsável todo o país.

Por outro lado, esses e outros, pedem para não se generalizar e não se classificar todos os muçulmanos como terroristas apenas porque há alguns terroristas muçulmanos. Não haverá aqui alguma incoerência?

É que não estou mesmo a imaginar B. Obama a discursar ao país e a condenar todo o Afeganistão por causa dos talibãs que lá há, que até são muitos e que fazem muito pior do que simples filmes.

15 setembro 2012

Teremos sempre Setembro


"Setembro é o meu mês. Gosto de Setembro e do início do Outono, muito mais do que da Primavera das flores em botão, passarinhos e de todas as outras delicadezas que despertam e secam, sacudindo bolores, à saída do Inverno.

Não temos os campos pintalgados de papoilas e infestados de pólens, mas temos o pastel das cores ocres e o cheiro forte das vinhas e das figueiras. É muito mais intenso e muito mais premente.

Se a Primavera é a esperança ingénua, o Outono é o momento dos balanços e da maturidade. Em Abril aguardamos o fruto da floração. Em Setembro os frutos estão maduros e serão colhidos ou perdidos e, oxalá, haverão de retornar. Em frente da Primavera está a simplicidade de um desenvolvimento linear; à frente do Outono está a realidade complexa do como renovar.

A Primavera solicita-me e cansa-me nos seus dias crescentes; o Outono aconselha-me. Anuncia o encerrar de um ciclo que nos confronta com a nossa finitude e com a necessidade de renascer e recomeçar.

Não há fins de tarde mais belos do que os do fim do Verão. Não há mês mais belo do que o mês de Setembro."

Eu sei que é repetido, sim, mas apateceu-me. E com informação adicional sobre o local da fotografia: Rio Coa junto ao local onde a Ribeira de Piscos o encontra.

11 setembro 2012

Experiência em curso

Eu, e creio que muitos mais, estamos de acordo com o princípio de fazer os sacrifícios necessários, desde que justos, claros e bem explicados. E, neste campo, a última declaração do nosso primeiro-ministro não ajuda nada. Em primeiro lugar, a famosa questão da igualdade exigida pelo TC não está satisfeita – é necessário que seja “permitido” a instituições públicas terem salários em atraso, fazerem despedimentos colectivos e até mesmo falirem!

Depois, o malabarismo do sobe e desce das contribuições para a Segurança Social entre trabalhadores e empregadores fundamentalmente não é uma medida de redução de défice público. Uns pagam mais 7%, outros menos 5,75%, e o saldo é apenas de 1,25%. Porque é que não se fez um simples aumento de 1,25% em vez desta redistribuição brutal? Para que serve este alívio da contribuição para as empresas: para dar viabilidade a empresas em desespero, para aumentar competitividade e exportações, para remunerar melhor os accionistas, para comprar um Mercedes novo ou para atrair investimento estrangeiro? O assunto é demasiado sério e o impacto dos 7% nos trabalhadores, quando tantos já estão individual ou familiarmente com pouca folga, é demasiado importante para se justificar com uma vaga declaração de boas intenções.

Atendendo ao contexto e ao histórico deste tema, eu encontro uma justificação: é o FMI que quer ver os efeitos na economia de um país que a redução da contribuição patronal representa e nós podemos ser um bom caso de teste. E como dependemos deles para mais tempo e/ou mais dinheiro, aceitamos ser cobaias. Eu sei que é uma especulação, mas é plausível e enquanto não me explicarem a real razão, considero-a a mais provável. E é um jogo muito perigoso, não para o FMI, é claro.

09 setembro 2012

Imposto não é saque

Leio que actualmente o Estado saca cerca de 37% da riqueza produzida em Portugal em impostos. Dentro da discussão do remédio para o famoso défice, que, recordando, é gastar mais do que o que se recebe, de novo vem a questão de onde sacar mais. E, obviamente, é simpático e popular dizer que “os ricos que paguem a crise” e até vi gente com bastante responsabilidade defender a ideia de taxar ainda mais excepcionalmente os altos rendimentos, supostamente imorais e privilegiados.

Acredito que se possam considerar excessivos alguns vencimentos mas quando se trata de uma esfera estritamente privada, de organizações que equilibram as suas contas sem direitos especiais de saque a terceiros, a que propósito o Estado tem que intervir/corrigir o assunto? Justiça fiscal? Mas, se os rendimentos mais altos já têm uma taxa mais elevada, o valor absoluto cobrado já é muitíssimo superior à média. Onde se atinge essa justiça fiscal? Quando o valor cobrado por impostos seja de tal progressivo que o rendimento líquido passe a ser comunitariamente igual para todos?! Acho que nem Mao Tse Tung se lembraria desta.

Não me choca que em situação excepcional haja impostos excepcionais, particularmente sobre o consumo de luxo, embora, como se sabe, a partir de um nível inibem o consumo e reduzem a receita absoluta. Mas, de uma vez por todas, o Estado que equilibre naturalmente as suas contas, gastando menos, como qualquer cidadão/organização responsável e acabe com o desplante desta postura de “Robin dos Bosques” em proveito próprio. Até que, por este andar, estamos a ver a definição de “rico” a alargar perigosamente, sempre, naturalmente, dentro do grupo dos que não conseguem brincar com sua declaração de rendimentos.

04 setembro 2012

De Matamouros a enérgico jardineiro

O culto de Santiago está muito associado à Reconquista Cristã e tem uma função motivadora bélica bem evidente na designação de Matamouros e na cruz transfigurada em espada. Na Catedral de Santiago de Compostela há uma estátua do dito a cavalo, com a dita cruz/espada em riste, fazendo jus ao cognome e dizimando alguns infiéis que caem a seus pés sem piedade.

Ora bem, hoje a estátua já não se lê assim. Agora apenas se vê o santo a cavalo e a sua espada investe violentamente mas contra umas pobres flores que escondem os sarracenos aos pés do cavalo. Questão de não ferir susceptibilidades? Por favor, haja respeito pela história e maioridade para lidar com ela, seja polémica ou não, “errada ou certa”.

Recordo-me de uma vez, ao circular na rotunda da Boavista com dois franceses, estes me questionarem sobre o significado do leão a dominar a águia lá no alto da coluna. Tive algum embaraço pelo politicamente incorrecto de ter que lhes explicar que aquele monumento glorificava a derrota e a humilhação do seu país. Comecei com um contexto histórico e apelando a uma certa compreensão. Eles interromperam-me prontamente para dizer com descontracção: “Não se preocupe! Nós somos bretões!!” .

Como nem todos os franceses são bretões, na dúvida é melhor retirar todas as referencias às derrotas napoleónicas, não vá o Sr Hollande zangar-se, idem para a nossa participação na Grande Guerra, pouco gloriosa é certo, mas não vá a Sra Merkel embirrar... e por ai fora!

26 agosto 2012

Não importa se são ou não arte


Os graffiti são certamente uma forma de expressão. Se artística ou não será discutível, sobretudo nalguns casos, mas isso não altera em nada o facto de serem aceitáveis ou não. Não o são. Ninguém tem o direito de intervir no que não é seu. Não posso ir a casa do meu vizinho arrancar-lhe as roseiras e plantar lá batatas, só porque a minha forma de expressão é semear batatais em todo o lado.

Tenho alguma curiosidade em saber qual seria a reacção daqueles que contemporizam, toleram e até conseguem justificar os graffiti se um dia vissem o seu automóvel decorado com uns profusos tags, vidros incluídos. Será que considerariam que o seu carro faria parte de uma nova estética urbana e até se sentiriam uns privilegiados por passarem a deslocar-me num objecto artístico, diferente de todos os outros automóveis banais; ou será que soltariam uma meia dúzia de palavrões seguidos de “isto não pode ser!!!”

24 agosto 2012

A renegociação das PPP’s

Todos temos presente a galeria de horrores que foi a revelação dos detalhes das negociações das PPP’s rodoviárias, das revisões dessas negociações e das conclusões arrasadores do próprio Tribunal de Contas. O interesse da Nação e o menor sentido de justiça obrigava a fazer algum tipo de revisão. Nestes últimos dias temos visto algumas notícias sobre o resultado dessa revisão que o governo está a fazer, apresentando muitos milhões recuperados para o Estado! Eu, respeitosamente, gostaria de pedir a quem divulga esses elementos que fossem um pouco mais generosos na informação transmitida e que não a resumissem a um número, por mais impressionante que esse número possa parecer. Especificando, nomeadamente, em que horizonte temporal se concretiza a redução, que valor percentual do contrato representa e qual é a natureza. Se se trata da eliminação de condições contratuais abusivas, se é uma redução de volume de trabalhos, ou outra coisa qualquer. Se é redução do volume de trabalhos como foi valorizada – não é a história do presunto e do porco, pois não?

Isto é importante porque uma coisa é certa, os parceiros privados não estão aí para facilmente abrirem mão de uns milhões sem contrapartidas, apenas para dar uns títulos de notícias simpáticos ao povo. Recordo, por exemplo, o caso das portagens de Agosto com a Lusoponte em que foram necessários largos meses para repor uma situação tão óbvia. Por isso, insisto: expliquem melhor o que são esses milhões “recuperados”, pode ser?

21 agosto 2012

Nem tudo é mau


Comecemos pelo mau. A atleta acima à esquerda, Habiba Ghribi, é Tunisina e foi a primeira mulher do país a ganhar uma medalha olímpica, neste caso a prata nos 3000m obstáculos. Grande polémica no país, nomeadamente por mostrar o umbigo. Acho muito bem que protestem, que o digam e que o assumam para se ficar a saber quem são e o que são. Na Tunísia livre e democrática está a ser preparada uma nova constituição que dá à mulher um estatuto de “complementaridade” face ao homem. O ditador Bourguiga deve andar às voltas no túmulo. No mesmo país umas “brigadas” salafistas resolveram ser polícias, e violentos, dos ataques ao sagrado, perante alguma moleza das autoridades. Atacar e destruir obras de arte de uma exposição “moderna”, como aconteceu em Cartago em Junho passado, em que algumas tinham algum carácter provocador, é muito condenável mas mais ou menos previsível. Mais recentemente impediram a actuação de um grupo musical iraniano, por considerarem um “atentado ao sagrado” eles serem muçulmanos…. mas chiitas !! Fica claro quem está a alimentar este fogo.

Passemos ao bom. No norte do Mali controlado por islamitas, onde um casal foi morto por apedrejamento por terem filhos sem estarem casados, estava previsto o decepar em público a mão de um ladrão. Não aconteceu porque a população se mobilizou e o impediu. Podem tê-la cortado em privado mas o facto de a execução pública da sentença ter sido anulada é fantástico de significado. Em cima à esquerda está Rita Jahanforuz, provavelmente a cantora israelita actualmente mais popular e que … nasceu no Irão. No seu trabalho não renega as raízes e inclusive canta versões de temas tradicionais persas, como este. É adorada pelas pessoas dos dois países que se odeiam.

18 agosto 2012

Escrita em sicronização lenta

Na sequência da publicação anterior, lembrei-me de um belo texto de uma grande autor: “Ne me quittes pas” de Jacques Brel. Para lá da beleza, delicadeza, emoção e força tremendas, que fazem a obra de Brel uma espécie de património cultural da humanidade, pode-se discutir se faz sentido um homem (ou uma mulher) reduzir-se assim por amor, para não perder um amor, a ser uma sombra da sombra, sombra da mão, sombra do cão. Mas essa leitura na qual há um interlocutor concreto, de quem só falta referir o nome próprio, é a simples e imediata, a da fase do flash.

Se deixarmos o obturador aberto um pouco mais, pode-se ver outra coisa, na minha opinião. Jacques Brel pode não estar a falar a um amor mas sim ao amor. A quem ele pede para não o abandonar não será uma Mathilde, Marieke ou Isabelle concretas. Pode estar a referir-se à capacidade de se emocionar, de se apaixonar, de se recriar e de, amanhã, encontrar uma Mathilde, Marieke ou Isabelle. De umas entrevistas suas que vi, com a visão dele sobre o amor e amantes, não me parece nada improvável que isso estivesse presente quando o escreveu. Como leitor tenho toda a liberdade de o ler desta forma e é também isso que distingue as boas histórias dos relatos. E, sendo assim, aceita-se melhor aquela história de fazer tudo, mesmo tudo, até passar a ser sombra da sombra, não será?

15 agosto 2012

A dinâmica da escrita



Complemento:

Não, o trocadilho dos livros e dinâmica não fica por aquela imagem. Antes de mais, ela foi feita com flash em sincronização lenta, o que quer dizer durante o tempo de exposição há um momento em que o flash dispara, apanhado o que está ali ao seu alcance, e depois mais um tempinho em que se regista algo mais, já sem flash. A aplicação típica é fotografar algo em primeiro plano pouco iluminado e juntar um fundo. Neste caso aqui, desloquei propositadamente a câmara após o flash disparar e, portanto, há uma imagem mais ou menos clara da fase flash e um correr difuso da segunda fase.

O que tem isto a ver com escrita? Muito. O bem contar uma história tem a parte factual, com iluminação franca e directa e depois o que se descobre e se advinha subtilmente….

14 agosto 2012

69º lugar

Foi esta a posição final de Portugal no ranking das medalhas das Olimpíadas de 2012 (e por pouco, uma remada mal dada, teríamos era ficado a seco, em último). Por comparação, no recente mundial de futebol chegamos às meias-finais e no ranking da Fifa estamos em 5º lugar. Efectivamente há aqui uma grande diferença entre “futebol” e a restante paisagem desportiva. Não será simples acaso e quem de direito deverá tirar as relativas conclusões e, se possível, tomar a necessárias acções. Não me parece que esteja em causa o esforço, e sacrifícios, que muitíssimos atletas terão aplicado na preparação como também não me parece que seja uma questão de falta de apoios directos a estes atletas… a raiz do problema está mais funda.

Depois, para que servem estes jogos? Sinceramente parece-me festa e promoção a mais e espírito desportivo a menos. A começar e a acabar nos espectáculos de abertura e encerramento, o Reino Unido organizou os jogos para se promover descaradamente, sendo o desporto um simples veículo e embrulho. Aqueles espectáculos podiam ter servido para qualquer actividade…

E, ainda, se é fantástico o que o corpo humano pode realizar, e a foto acima da atleta que ganhou o ouro no salto em altura feminino diz tudo, quantos não haverá em que a dedicação mais que exclusiva e até a própria formação/deformação do corpo condicionam negativamente a vida para lá dos jogos? Sinceramente, não me parece que o espírito esteja certo.

PS: O golfe vai passar a ser desporto olímpico e o hóquei em patins não …!

11 agosto 2012

A Europa afoga-se e… ?

Por motivos vários, que não é viável aqui enumerar, a Europa está a empobrecer. Como se o nível da água estivesse a subir ou o chão a afundar-se. Os mais baixos são os primeiros a serem atingidos, mas se nada mudar os que estão mais acima irão ter o mesmo problema, é uma questão de tempo.

Qual a reacção nesta Europa? Os mais baixos (pobres) querem pôr-se às cavalitas dos mais altos (ricos). Estes acham que o problema não é com eles e recusam-se a trazer carga adicional aos ombros. Todos têm razão, no curto prazo … e todos falham. Pôr meia Europa nas costas da Alemanha não resolve nada, mesmo que estes o aceitassem, e também não podemos condená-los assim com tanta veemência por o recusarem.

A resolução do problema passa por entender a razão de fundo da inundação e ajustar a criação de riqueza e a posição da Europa no mundo. Não será fácil, mas se os actores não entendem o contexto muito mais difícil será definir e implementar com sucesso uma solução. Esta gritaria actual de andarem os pequenitos a pedir colo aos grandes e estes a responderam que cresçam e apareçam e, enquanto isso, o nível da água não pára de subir, é suicídio colectivo.

10 agosto 2012

As "Bonds"

Não, não são as “girls” do James… Já toda a gente deve ter ouvido falar de Eurobonds e quem gosta de fugir aos palavrões chama-lhes “mutualização da dívida”. O princípio é, em vez de cada qual pedir o que precisa e ficar responsável por isso, põe-se tudo num bolo comum e a responsabilidade é de todos. Logicamente, este misturar das coisas só interessa quando há desequilíbrios e é pedido pela parte que fica beneficiada, é lógico…

Como é óbvio nem toda a gente está disposta a ser fiadora de dívida alheia. Aqui a nossa vizinha Espanha quer Eurobonds e os alemães, mauzinhos, dizem que não vão nessa cantiga do “eu recebo e nós ficamos responsáveis”. Se precisam de fundos e não conseguem, peçam um “programa de ajuda” em que ficam aí de trela curta. O curioso é que dentro da própria Espanha há algo de análogo. As comunidades autónomas estão desesperadas sem crédito e pedem “Espanobonds”. E o governo central que é apologista da mutualização da dívida europeia e se “recusa” a ser resgatado responde: “Peçam resgate!” Poderá ser lógico no interesse, mas não é coerente no princípio… e depois os mauzinhos são os alemães e a Sra Bruxa Merkel.

09 agosto 2012

Um convite...

Sim, pois, eu não gosto de andar atrás das efemérides, eu sei. Por isso não devia estar aqui a referir Hermann Hess que faleceu faz hoje 50 anos – ainda por cima, é a morte !

A homenagem já está para aí atrás, é só procurar pela etiqueta do autor. Esta está actualizada.

Fica portanto o convite: comecem pelo “Siddharta” como aperitivo, passem para o “Lobo das Estepes” para ganhar lanço e terminem no “Jogo das Contas de Vidro”, uma das coisas mais impressionantes que já li. Depois, se calhar, fica vontade de ler mais, mas essa parte será opcional.

08 agosto 2012

Qual canal... ?!

O anúncio da decisão do governo de privatizar a RTP2 soou-me a erro de digitação. Alguém queria dizer RTP1 e trocou o número. Vejamos: a RTP1 é um canal comercial perfeitamente alinhado com os outros dois concorrentes a quem disputa audiências e contra os quais desenha grelhas em “taco-a-taco”. Se existe aí algum tipo de serviço público, não me recordo de o ver. Não encontro, por isso, nenhuma boa razão “racional” para ser um canal público. 

Situação diferente é a da RTP2 que sem a pressão imediata dos “shares” consegue apresentar uma programação com qualidade e indubitavelmente com vocação de serviço público. Para ela eu não me importo de contribuir. Agora, se a RTP2 for privatizada, e comercialmente até deve valer pouco, os seus novos donos fatalmente terão que a gerir numa perspectiva empresarial pura (a menos que seja comprada por uma fundação, das a sério…). Além da perda efectiva da programação diferente e de qualidade da RTP2, passaria a haver em Portugal 4 canais comerciais a disputarem audiências e mercado de publicidade. Há espaço para isso? Penso que não.

Então… alguém me explica esta lógica?!? Não me vão dizer que é porque o poder quer manter a “tutela” num canal de grande audiência, pois não? É que esse argumento não vale, ou, pelo menos, não devia vale
r.

06 agosto 2012

"Acabei em sofrimento..."

Foram as últimas palavras de Dulce Félix ao comentar a sua participação na Maratona Olímpica, terminada em 21º lugar e que a imagem picada na net ilustra eloquentemente. Não tivemos medalha, mas 3 atletas nos primeiros 21 lugares não é de forma nenhuma um mau desempenho.

Há algo curioso aqui. O panorama dos países participantes em atletismo de fundo é completamente diferente, por exemplo, da natação. Aparecem poucos países ricos, proporcionalmente muito poucos. Nesta maratona, nos 25 primeiros lugares há :

Com 3 atletas: Quénia e Portugal;

Com 2 atletas: Etiópia, Rússia, China, USA, e Japão;

Com 1 atleta: Ucrânia, Itália, Namíbia, Alemanha, Austrália, Nova Zelândia Suécia, Holanda e Peru.

E com algumas “importações” … a Alemã nasceu no Cazaquistão, a Sueca e a Holandesa nasceram no Quénia. Porque será que nestas modalidades, que não são de forma alguma “menores” em termos de importância e significado, há poucos “ricos”? Porque os meios necessários, um par de sapatilhas e espaço, são de mais fácil acesso do que uma piscina? Isso explicaria a fraca representatividade de países “pobres” na natação, mas não a ausência dos ricos no atletismo de fundo. Porque os pobres têm mais capacidade para aguentar o sofrimento prolongadamente? E será que falta alguma coisa aos “pobres”, para lá das piscinas, para serem campeões de natação? Não sei, mas alguma coisa há-de haver…

05 agosto 2012

Finalmente as fundações

Eu imaginava que uma fundação era um organismo em que alguém com posses, como Calouste Gulbenkian ou Bill Gates, colocava uns activos significativos em vida ou em testamento, para serem usados em actividades sociais, culturais, científicas, etc. Isto é: para o bem da comunidade. Assim sendo justificariam algum tipo de privilégio público como isenções fiscais. No entanto o principal contributo viria sempre de quem criava a fundação e o Estado apenas contribuiria complementarmente e não necessariamente em espécie!

Surpreendido fiquei quando há uns tempos encontrei uma lista enorme de fundações cá do país, tanta gente endinheirada que por cá haveria e a colocar os seus bens em projectos filantrópicos.

Agora parece que, finalmente, se descobre que há instituições destas que funcionam principalmente, e algumas até exclusivamente, com financiamento público, em espécie, e que ainda por cima alimentando generosamente os seus quadros. Está explicado: é uma espécie de auto-filantropia! E pago eu.

01 agosto 2012

Mais uma estação...

Quando começou na Tunísia, toda a gente assobiou para o lado, é um acesso de febre que passará rapidamente. Enganaram-se todos e, imodéstia à parte, até eu… e Ben Ali caiu mesmo. Apesar da generosa exposição mediática proporcionada pela Al-Jazira, a causa principal foi mesmo a pressão popular interna.

Quando começou no Egipto, todos foram mais prudentes e, face à incerteza sobre o desfecho, apareceram os discursos públicos ambivalentes. E Moubarak caiu.

Quando começou na Líbia, já ninguém teve dúvidas, Khadafi iria seguir o mesmo caminho. No entanto a mobilização popular não foi suficiente para levar o processo até ao fim, mesmo com a fortíssima pressão mediática da Al Jazira, do Qatar. E então, Onus, Natos, States, Franças e Qataris tiveram mão pesada, teoricamente a proteger civis e na prática a garantir que Khadafi caía mesmo.

Hoje a Síria parece ir pelo mesmo caminho da Líbia e já se fala na necessidade de “proteger os civis”. Independentemente de todo mal que se pode dizer e constatar sobre o regime de El Assad, o que se passa na Síria não é certamente uma luta de “bons rebeldes” pela democracia e pela liberdade do povo. É a continuação da luta que dura há séculos entre os sunitas da península arábica e os xiitas que actualmente gravitam em torno do Irão. Se o Ocidente acha que o enfraquecimento do Irão é um efeito colateral positivo e desejável desta guerra, eu não estou assim tão convencido.

Que o Qatar e Arábia Saudita sejam uns paladinos e uns patrocinadores da liberdade e da democracia é, no mínimo, irónico. Que busquem aumentar a sua influência e a islamização sunita do Médio Oriente e Magreb, está na lógica das coisas. No entanto, não lhe chamem democratização nem presumam assim tão rapidamente que esses povos irão viver melhor no novo regime.

No norte do Mali, onde foi implantado uma espécie de estado islâmico radical graças às armas que sobraram do dilúvio que caiu na Líbia para “proteger os civis”, foi esta semana morto por delapidação (isto é: à pedrada mesmo) um casal, acusados e condenados pelo crime de viverem juntos e terem filhos sem serem casados.

31 julho 2012

Álvaro Mineiro

Como eu disse aí atrás a propósito do encerramento das minas de carvão em Espanha
"Minas são sempre uma riqueza temporária e insustentável. É tirar enquanto houver e for viável, o que quer dizer até o dia em que o custo de retirar for superior ao preço do mercado do minério e se perder a rentabilidade económica."
O nosso Álvaro parece não saber isso. Vejo-o todo contente no telejornal a anunciar que os nossos recursos mineiros valem 1 a 2 duas vezes o PIB nacional, como se fosse uma coisa fantástica. Não sei como o calculou e entre 1 e 2 vai uma diferença grande, mas enfim... Saberá ele que é um recurso não renovável? Ou seja, grosso modo, o nosso sub-solo permite-nos vivermos dele um ou dois anos... apenas... olha que grande coisa!!

29 julho 2012

Manifestações e ridícularias

Uma parte do PSD ficou muito contente com a fraca adesão às manifestações “anti-Relvas” e entendeu isso quase como um branqueamento do problema. Eu não estive nessas manifestações mas acho que ele devia sair, como muita gente acha, como ele próprio deveria achar. E, se lhes chamam ridículas, seguramente mais ridículo é chamar “Doutor” a Miguel Relvas.

Quem acha que a dimensão do problema é proporcional à dimensão das manifestações está a ser conivente com esta enorme desfaçatez e a correr um risco. Pensemos nos reformados que após terem trabalhado a sério e descontado para a segurança social durante mais de 40 anos, não conseguem pagar os seus cuidados de saúde e vêm gente que após meia dúzia de meses num cargo público meramente representativo recebem, só por isso, uma pensão 2 ou 3 vezes superior à sua; pensemos em quem não consegue pagar propinas, alojamento e custos do estudo dos seus filhos e vê estes licenciados-expresso a sorrirem cinicamente na televisão afirmando que não cometeram ilegalidade nenhuma; pensemos em gente que entrega a sua casa/lar ao banco por não poder pagar as prestações e lê as notícias dos milhões tresmalhados que por aí andam perdidos de BPN’s e submarinos.

O risco é que um dias essas pessoas não irão pedir a exclusão do fruto podre de um sistema que querem e acreditam poder ser são. Um dia essas pessoas perderão o respeito por todo o sistema com consequências imprevisíveis. Se o PSD e o “sistema” no seu todo continuam a apostar no cinismo destas “inocências formais” iremos chegar a um abismo. Pode ser ingenuidade da minha parte presumir que possa ser diferente, mas que vamos para o abismo, vamos.

26 julho 2012

Estou de acordo !

Ouço no telejornal Vale e Azevedo dizer que se sente injustiçado...
Não posso estar mais de acordo, realmente justiça não tem sido feita!

25 julho 2012

Comunicação excessiva ?

Poderia começar por recordar tempos antigos em que, em viagem, se parava de vez em quando para ligar de uma cabina pública para a base ou em que à chegada ao hotel se perguntava se havia algum fax para nós. Não vale a pena ir lá longe e fazer comparações. Em causa está apenas uma constatação de como se “vive e trabalha” nestes tempos do on-line permanente.

Ver alguém entrar numa área de serviço de auto-estrada, caminhando com um ipad na mão a ler e a responder emails levanta uma reflexão. É fantástico que dessa forma não se perca a “pitada” do que está a acontecer e se possa reagir rapidamente sem um ponta de atraso, mas… que acontece nas vezes em que é conveniente e necessário haver “atraso”? Quando se vive num verdadeiro dilúvio de emails, consegue-se parar e criar distância para reflectir, analisar e decidir aquilo que necessita de concentração e tempo de maturação? Infelizmente penso que não. Estamos a caminhar para uma situação de ficarmos viciados em pingue-pongue de emails, quase nervosos e ansiosos se não tivermos uma mensagem a chegar “naquele” ritmo. Se nos retirarem a internet/email durante um dia inteiro, o nervosismo e o “desespero” serão apenas por estarmos a perder informação e capacidade de trabalho ou estaremos antes a fazer figura de fumador compulsivo em voo transatlântico?

Por muito úteis e fantásticas que sejam todas as invenções têm um lado negativo/risco conforme a sua utilização e esta facilidade de comunicação permanente não foge à regra. Solução: regras? Criar cotas para quantidade de mensagens produzidas por dia, da mesma forma como um fumador tenta gerir a duração do seu maço de tabaco? Parece ridículo mas que estamos a ficar formatados de uma forma que me incomoda disso não tenho dúvidas…

23 julho 2012

Um amor não correspondido

O senhor que aparece nesta foto de 2004, todo contentinho a sorrir para a objectiva, deliciado por se apanhado em tão distinta companhia teria certamente uma grande paixão pela comunicação social. E tão grande, que até esquece que está numa missa, neste caso em memória de Sá Carneiro, e aquela expressão sorridente e quase cúmplice, não sendo certamente ilegal, não é nada apropriada à circunstância. Por isso não é de estranhar que ele fique bravo quando a comunicação social não lhe corresponde à paixão ou o apanhe em pose menos fotogénica. Os amores não correspondidos são danados, até podem cegar!

17 julho 2012

A Europa acabou ?

Apesar de o Euro ter sido concebido com regras apenas para os dias de Sol, tem manifestado uma capacidade de resistência formidável nestes dias de tormenta. Com tanta trapalhada e diz/desdiz, faz/desfaz dos líderes europeus, é impressionante como a sua cotação permanece em alta. Apenas estão mal os níveis dos juros que se cobram aos elos mais fracos de cada momento. A resposta da Europa tem sido não pelo “princípio”, mas sim pela natureza, dimensão e capacidade reivindicativa daquele que em cada momento está nesse papel de elo mais fraco.

Quando no dia 9 de Junho Rajoy anunciou uma “muita vantajosa linha de crédito” para os seus bancos problemáticos, frisando que não era um resgate e evidenciando uma diferença de tratamento inaceitável para o problema tão idêntico ao da Irlanda, eu pensei que a Europa estava mesmo a acabar. Depois os Eurocratas vieram dizer que não senhor, que a garantia do empréstimo passava pelo Estado Espanhol, ficando célebre a ironia do: “Tu (Rajoy) dizes tomate, eu digo resgate”. Com o resultado futuro dessa operação, apenas anunciada, a colocar o défice público espanhol em níveis pouco saudáveis, os mercados carregaram e os juros da dívida pública de Madrid subiram para valores insustentáveis. Aí os Eurocratas inventaram que afinal poderia sim, ser uma ajuda directa à banca espanhola, sem penalizar as contas públicas do país. No mínimo estranho: por alma de quem, quem põe o dinheiro lá, de que forma e com que garantias? Mais uma coisa “dita e inventada” na última hora de uma cimeira sem se saber como se implementa. De realçar que sendo o objectivo tapar buraco existente, um estrago já feito, estes fundos não irão facilmente gerar valor para o respectivo reembolso. Como resultado, os “mercados” não acalmaram e os juros continuam lá em cima… e agora, que se inventará mais?

Diz-se que a génese do problema da banca espanhola está no rebentar da bolha de especulação imobiliária, daí o paralelo com a Irlanda. Mas não é bem assim. Os bancos espanhóis geridos seriamente como o Santander e o BBVA não estão a arder. O buraco principal está nas “caixas” que “geridas” politicamente à toa com negócios, negociatas, por amigos e afilhados torraram milhões e milhões. Ou seja, é um cenário algo próximo do nosso famigerado BPN, que o povo português está e continuará a pagar estoicamente. Não seria óptimo que o buraco do BPN fosse tapado directamente por fundos europeus de forma indolor para o Estado e o contribuinte português? Entretanto o povo espanhol tem mostrado nos últimos dias que não aceita passar a ser mais pobre. Têm todo o direito de protestar e pelos vistos têm uma capacidade reivindicativa fantástica, mas eu não pago o orgulho deles e se calhar os alemães também não. Com tomate ou com resgate estes espanhóis estão a fazer mais mal à Europa do que os gregos!

15 julho 2012

Hás-de ser Ministro !

E cito do Público:

Duarte Marques, líder da JSD, pediu explicações a Mariano Gago, ex-ministro socialista da Ciência e Educação, sobre a licenciatura na universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias em Ciências Políticas e Relações Internacionais de Miguel Relvas.
Em declarações à TSF, Marques acentuou que é “preciso pedir explicações a quem aprovou esta lei [de equivalências], na altura o ministro Mariano Gago, o ministro mais tempo em funções no nosso país”.
Não vale a pena comentar sequer: está perfeitamente alinhado com os seus antecessores e há-de ser Ministro!!

14 julho 2012

Feiras Medievais

Estão na moda e fazem parte da “agenda cultural” de todos que se prezam de ter uma. Certamente haverá umas melhores e outras piores, com mais ou menos rigor e conteúdo. Eu não tenho grande simpatia por esse período histórico, pobre, sujo e escuro em tantos aspectos. Pronto, há um certo exotismo, alguma curiosidade, mas lembro-me logo de um evento que incluía um jantar medieval e em que no fim muita gente acabou por ir a um restaurante a sério, sem paciência para a javardice de comer com as mãos, e ainda por cima pouca luz.

Recentemente passei por uma onde vi pessoal com trapinhos mais, copinhos, pãezinhos, e algumas mais mezinhas… e a coruja concordava comigo.

12 julho 2012

Olympus XZ-1


A melhor máquina fotográfica é a que está disponível quando se quer tirar uma fotografia.

10 julho 2012

Valores e formação em sentido lato

Uma prece: já nem lhes peço que sejam sérios e exemplares, peço apenas que quando forem apanhados tenham a hombridade de sair de cena com o máximo de dignidade possível para eles e para o país.

É sabido que estava a chegar ao poder uma nova geração de políticos nascidos nas juventudes partidárias e que nunca trabalhara a sério na vida. Agora ficamos a saber que alguns deles, além de nunca terem suado a trabalhar, também nunca suaram a estudar.

Formalmente o problema da estranha licenciatura de Miguel Relevas pode ser imputado a excessiva generosidade ou desorganização da Lusófona, mas isso não deve fazer esfregar as mãos de contentamento com um “a culpa não é minha, eu só aproveitei” a quem tem responsabilidade públicas e exigências de comportamento moral do nível de um ministro. Por muito menos eu enfiava-me num buraco com vergonha de aparecer em público.

Na altura do outro caso, das ameaças à jornalista do Público, no mínimo inaceitáveis, ouvi falar do grande peso político do senhor no governo e esse peso só pode vir da sua capacidade de controlo do partido, que, sendo a actual chave do poder nesta espécie de democracia, devia chamar-se outra coisa que não política. E é que no governo precisamos mesmo de “política” a sério.

Há cerca de um ano, o ministro alemão da Defesa demitiu-se por se ter descoberto que tinha plagiado a sua tese de doutoramento. E se olhássemos para estes exemplos que talvez ajudem a explicar porque eles são ricos e nós não, em vez andarmos de mão estendida, maldizendo e estigmatizando quem tem mais sucesso? E se quando o nosso Primeiro-Ministro for pedir a Angela Merkel mais fundos ou mais tempo ela tiver à sua frente uma notícia sobre este assunto e lhe perguntar: “E o senhor tem a certeza de que estes fundos são aplicados por gente séria e competente?”, o que é que ele responderá? Que é um “não assunto”?

06 julho 2012

Etiquetagem em curso

Conforme referi atrás, resolvi etiquetar o Glosa Crua e não está a ser fácil nem rápido. Vejamos. Primeiro tratei em off cerca de 100 dos 1000 posts e defini as etiquetas, agregando-as em : Pessoas individuais, Pessoas/entidades colectivas, Lugares, Eventos, Doenças (terminadas em “ite” e não só), estados de espírito e, finalmente, qualidades gerais que, infelizmente foi a mais representada. Depois fiz alguma consolidação e homogeneização e arranquei para a actualização no blog desses 100 posts. Terminado, passei aos 100 seguintes procurando minimizar a introdução de etiquetas adicionais. Em seguida suspendi a fase vertical e passei à horizontal, que não quer dizer a dormir.

Para cada etiqueta procurei todos os posts em que a palavra aparecia para verificar se já lá estava e, caso negativo, se faria sentido inclui-la. Para os posts encontrados e não etiquetados ainda, fiz-lhes a etiquetagem completa.  

Quando terminar esta fase horizontal irei correr verticalmente o blog para ver se escapou algum post. Será estranho mas pode acontecer. Depois, há que identificar as etiquetas pouco representadas e tentar consolidá-las. Terei que analisar bem a cobertura dos “estados de espírito”. Por exemplo, criei recentemente um chamado “Grrr” que precisa de ter análise retroactiva e cuja identificação não se encontra por pesquisa directa do texto.

Parece complicado? Não, neste correr das etiquetas vou na letra… B.

05 julho 2012

Não acredito, mas venha a igualdade

Estou a ouvir o telejornal e não acredito. O Tribunal Constitucional chumba a suspensão dos subsídios de férias e Natal para funcionários públicos e pensionistas por uma questão de (des)igualdade, mas afinal para este ano não conta, para não afectar a realização orçamental. Grande treta: a constitucionalidade não deve ser objecto de uma contextualização: está mal, mas este ano passa.

Por outro lado se está em causa a “igualdade” entre a função pública e os demais, fico então à espera que o mesmo Tribunal alinhe toda a legislação laboral e respectivos direitos: para quando o fim da ADSE e os despedimentos colectivos na função pública?

04 julho 2012

Belíssimo


Numa tarde agreste de Março, corre um vento húmido e frio na vertente Sul da Serra das Meadas. É dia de Rally, dos antigos, dos duros, a sério, não dos novos de agora que são uma espécie de voltinha de fim-de-semana em horário de escritório. A classificativa é mais caminho para tractores do que para automóveis. E, realmente, aos Audi de 4 rodas motrizes só lhes falta trazer o arado atrelado, de tal forma eles parecem lavrar aquela terra. Maior contraste não pode haver com o Lancia 037. Branco, elegante e delicado sobre aquele castanho da terra e pedregulhos áridos e brutos. Parece impossível que ele consiga sobreviver a tamanho maltrato, de tal forma ele salta e bate no chão de todas as formas e feitios. Estávamos em 1984, o Lancia era o último tracção atrás e o Audi era o primeiro tracção às quatro rodas, conceito que acabaria por se impor naquela prova e no futuro. O Lancia não quebrou e com as unhas e dentes de um tal Markku Alen terminava em 2ª a 27 segundos do Audi de Mikkola, após mais de 7h30m de tempos cronometrados.

Que tem este Lancia 037 em comum com os Ferrari 250, F40, Testarossa, Enzo e tantos outros, com o Fiat 124 Sport Spider, os Alfa Romeo Spider, GTV, C8 e tantos outros belos automóveis? A casa Pininfarina. Lembrei-me disto a propósito da morte esta semana de Sérgio Pininfarina. Por coincidência a Turbo publicou no último número o resultado de uma escolha entre jornalistas e designers dos 50 mais belos carros do mundo e, contas por alto, acho que a Pininfarina tem uns 7 ou 8, incluindo este 037. Se consideramos que o designer da Mercedes escolheu 4 Mercedes e um Porsche e que muitos avaliaram mais o arrojo e a inovação do design do que propriamente a estética, a percentagem sobe. Se juntarmos a Bertone, a Guigiaro e os gabinetes das próprias marcas, sem dúvida que são os italianos quem sabe desenhar belas máquinas. Apesar de o primeiro lugar ter ido por larga vantagem para o “very british” Jaguar E…


Nota: Foto googleada ilustratativa, o contexto real era bastante mais agressivo.

02 julho 2012

NAV – Digam-me que não é verdade

Estou com sorte. A greve da NAV foi desconvocada o que me permitiu viajar hoje sem os percalços e incertezas a que já me tinha habituado.

Parece que houve um princípio de entendimento entre o Ministro da Economia e o pessoal da NAV para estes não serem abrangidos pelos cortes na função pública, pela sua especificidade. Pelos vistos, eles debitam os seus serviços proporcionalmente aos seus custos e se reduzirem os custos, reduzem as receitas. Sendo uma larga maioria dessas receitas de origem externa, os cortes na NAV conduziriam a uma redução dessa receita, o que seria um prejuízo para o país. Se é mesmo assim, é um modelo de negócio fantástico que eu pensava já não existir: quanto mais gastar, mais recebo. Sendo assim, sugiro que a cada funcionário da NAV se ofereça um Jaguar e umas férias na Polinésia. Resolvemos uma boa parte da nossa crise e sem o mínimo sacrifício! E, por favor procurem, caso haja outros casos similares, é aproveitar.

Obviamente que para quem usa o espaço aéreo português, sejam empresas portuguesas, seja quem quer vir cá ou trazer gente para o que quer seja, esses custos não são um detalhe e afectam a competitividade do país, algo que o Ministro da Economia não deve certamente ignorar!