31 agosto 2023

Bricando


Os BRIC(S) posicionaram-se desde o início como uma alternativa ao mundo chamado ocidental. Aqueles que, seja no hemisfério norte ou no ul, julgam que a esfera ocidentalizada é maligna e a causa de muita desgraça no mundo, acham naturalmente salutar ser estruturado este contrapeso.

Dentro dos pesos e contrapesos dos membros atuais, e atendendo à quebra material e moral recente da Rússia, há obviamente a China e os outros. Recentemente o grupo foi enriquecido com seis novos membros a saber: Argentina, Egito, Etiópia, Irão, Arábia Saudita e Emirados Árabes. Há aqui alguma riqueza, de petrodólares (perdão petrobrics!), mas que trazem eles de riqueza básica, em termos de coisas e exemplos que possam ensinar ao resto do mundo?

Mesmo dando de barato e ignorando a barbaridade assassina promovida pela Rússia, que contributos positivos para a humanidade traz esta companhia com estes sócios? Em quantos deles existe liberdade de expressão, tolerância religiosa, democracia a sério, proteção social, direito generalizado à educação, proteção e valorização da mulher e a lista não acaba.

Ok, ok, os maus da fita para muitos são e serão sempres os ianques imperialistas e respetivos lacaios, mas poucos devem ser os que aceitariam deixar o seu atual inferno e irem viver para a maioria destes países.

25 agosto 2023

Habitação é construção

Para muita boa gente está difícil arrendar casa, os preços estão excessivamente elevados. Pelas regras básicas do mercado o motivo será haver mais procura do que oferta. Para corrigir é necessário aumentar a oferta, quer por novas construções quer por colocação no mercado de arrendamento das que existem. Quem pode fazer isso com dimensão que se veja, são promotores/proprietários que sintam segurança para investir e ter retorno.  

Ao Estado compete-lhe criar condições que motivem e deem confiança aos investidores. Não parece, no entanto, ser esse o caminho escolhido. Atacar o alojamento local e os proprietários de edifícios devolutos é atuar e assustar mexendo em trocos existente em vez de proporcionar a promoção do muito que falta. Das tentativas de regulamentação administrativa deste tipo de mercado como limitações ao valor e atualização das rendas também já conhecemos os resultados…

Não são decretos coercivos que potenciam o investimento, pelo contrário, assustam-no.

 

24 agosto 2023

E agora, sem líder?


Considerando que na Rússia as certezas são sempre relativas, mas considerando que Prigozhin morreu mesmo na queda do avião, isso constitui uma mui tradicional putinesca consequência do desafio que ele fez com a insurreição de há uns meses e, ainda pior, depois disso, com passear-se pela Rússia tranquilamente.

O que virá a seguir a esta decapitação do grupo Wagner?

Para lá de todas as barbaridades das quais o homem foi responsável, Prigozhin era um líder com carisma e eficácia sem paralelo nas estruturas das forças armadas russas. Globalmente, sem Wagner, a Rússia perde capacidade militar.

Mais importante, que irão fazer todos os mercenários agora desenquadrados? Tem o grupo estrutura que possa manter um mínimo de operacionalidade e de fluxos financeiros que os conserve ocupados e satisfeitos? Irão migrar para o exército regular? Irão, pelo menos alguns, ter espírito de corpo e solidariedade com o líder desaparecido e passarem a lutar contra a Rússia? Irão simplesmente “fazer pela vida” por conta própria com as armas que têm nas mãos?

Certo que para um mercenário, o que conta é ser pago, mas não é óbvio que todos aqueles homens armados sejam simples frios profissionais da guerra sem emoções nem lealdades.

Não sei o que esta gente toda irá fazer, mas não gostaria de os ter como vizinhos!

23 agosto 2023

Pequenas lagostas


Os 139 mil euros dos chamados almoços de trabalho realizados pelo presidente e ajudantes da Câmara de Oeiras durante alguns anos são pouco mais de que uma gota de água no orçamento anual de 245 milhões de euros da autarquia. Não é por aí certamente que vem o grande défice e a falência.

No entanto, há na atitude um défice enorme. A que propósito um “almoço de trabalho” de eleitos e quadros da câmara pode integrar lagostas, champanhe e outros afins, ainda por cima com a frequência apresentada? Que falta de respeito pelos fundos públicos, que cultura e princípios de cidadania são estas de quem se presume merecedor de iguarias “públicas” sem limite? Cada um desses euros não lhes pertence, para serem gastos como lhes der na gana. O seu propósito é serem utilizados em benefício público.

Quem acha merecer todo o marisco ao almoço, que critérios terá nas restantes despesas e adjudicações? Pode Isaltino Morais garantir que está “tudo certo”, as faturas terão eventualmente o número fiscal correto e o IVA bem calculado, mas moralmente são absolutamente inaceitáveis. Quem não entende isso, não merece gerir coisa pública.

21 agosto 2023

Boa vontade e escrutínio

É indiscutível o enorme esforço e dedicação que abnegada e voluntariamente muitos bombeiros dedicam a causas humanitárias e solidárias. Merecem, sem dúvida, o nosso respeito, reconhecimento e agradecimento.

No entanto, os bombeiros e respetivas associações não são certamente um corpo único e homogéneo. Como em todos os setores haverá pessoas com diferentes valores e princípios. Os elementos e corporações sãos terão todo o interesse em ver separado o trigo do eventual joio. Por isso custa a entender as reações generalizadoras de “virgem ofendida”, cada vez que é evocado algo que potencialmente pode não estar correto no meio.

O seu mérito não invalida o poder/dever questionar a forma como são financiados e como gerem os seus fundos. O fato de serem dedicados e voluntários não deve constituir blindagem ao escrutínio.

O problema recorrente que temos com os incêndios florestais, deve fazer questionarmos se estamos a fazer tudo corretamente em termos de formação, utilização de meios, estratégias de prevenção, etc

Quem não deve, não teme; quem tem espírito aberto ouve e aprende… e de virgens ofendidas está o inferno cheio.

     

16 agosto 2023

O Estado paga?


Dentro das polémicas e contestações que se desenvolveram em torno das JMJ e da intervenção do Estado nas mesmas, existe questionamento sobre se este deve pagar infraestruturas ou serviços associados a um evento que não é dirigido a toda a população.

É uma discussão que teria bastante sentido se este evento fosse algo de recorrente e onde, ainda por cima, os seus participantes tivessem predisposição a criar confusão e a precisar de dispositivos de segurança reforçados. Não sendo o caso, nem pela frequência do evento, nem pela atitude dos participantes, parece-me algo despropositado inventar mais uma polémica com o caso.

Isto evoca-me, no entanto, uma outra situação, esta sim recorrente e com muitos participantes de comportamento pouco civilizado. Falo, naturalmente, do futebol profissional, um negócio pouco transparente. que de desporto já tem pouco e cujo contributo para a construção de uma cidadania responsável está próximo de nulo, para não dizer negativo.

Os dispositivos de segurança necessários para conter as hordas de vândalos que semana após semana buscam semear confusão por onde passam deveriam ser pagos por eles e por quem os fomenta, não pelo inocente contribuinte, certo?

Carlos JF Sampaio

Esposende

13 agosto 2023

Não há pachorra..

 

Tiago Oliveira, reconhecido como técnico competente e não comissário político, presidente da AGIF (Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais) disse no Parlamento que “os corpos de bombeiros receberem em função da área ardida”, constituiu um “objetivo perverso”.

É verdade ou não? Se for mentira ele deve retratar-se. Sendo verdade, é evidente que há algo de perverso no esquema, sem isso significar que os bombeiros deixem arder para faturar.

É óbvio que os incentivos e os investimentos devem estar na prevenção, em gerar dinâmicas económicas “positivas” e não pagar os estragos ao metro.

A reação da Liga dos Bombeiros Portugueses de virgem ofendida a exigir a demissão de Tiago Oliveira por estarem “ofendidos e chocados” é muito típica e já que não corro o risco de ser demitido por isto:

- Há necessariamente uma enorme dedicação e boa vontade solidária em milhares de bombeiros voluntários por este país fora

- Esse mérito não invalida o poder/dever questionar a forma como são financiados e como gerem os seus fundos. O fato de serem dedicados e voluntários não deve constituir blindagem ao escrutínio.

- Em termos de prevenção o que fazem neste momento os bombeiros? Divulguem e explicam, porque ouvir não se ouve muito falar

Sejam objetivos e concretizem. De virgens ofendidas está o inferno cheio


11 agosto 2023

Hiroxima, o dia depois (II)


Continua de

Depois do cogumelo subir nos ares de Hiroxima ficou claro que as guerras não voltariam a ser como antes.

Dizem que a II Guerra foi a continuação da primeira, e esta talvez tivesse sido um ajuste de contas pela de 1870 e por aí fora. Dizia-se que a “guerra era a continuação da política por outros meios”.

Qualquer coisinha, ganância ou birra, dava direito a cruzar armas, de forma mais ou menos localizada, tendo nós tido a sorte de ser apanhados nessas “políticas” apenas uma vez, a da ambição napoleónica, que muito mudou isto por cá… e pelo Brasil.

No nosso retângulo nunca tivemos a mesma dinâmica e rotina bélica do centro da Europa. Lutamos contra os muçulmanos na construção do país, lutamos contra os castelhanos /espanhóis nos séculos XIV e XVII na reafirmação do mesmo; lutamos entre nós no parto do liberalismo, mas nunca tivemos guerras permanentes de 30 ou 100 anos como para lá dos Pirenéus.

No século XX as guerras globalizam-se deixaram de ser pontuais conflitos bilaterais. A primeira vai ter a barbaridade das trincheiras e da inacreditável facilidade com que se enviava inutilmente carne para canhão ao tentar furar a linha. Para a segunda a mecanização dá maior mobilidade e a novidade são os “desmoralizadores” bombardeamentos de civis.

Hiroshima é um passo gigantesco na história bélica. A guerra já não é extensão da política onde uma vez ganham uns, outra vez ganham outros. É a potencial destruição do planeta onde todos perdem.

Há a divisão entre países que têm a bomba e a os que não a têm. Nasce o equilíbrio do terror, entre os possuidores da dita, gente supostamente, apesar de tudo, responsável, como a crise dos misseis de Cuba de 1962 demonstrou.

Não voltamos a ver guerras mundiais, apenas vivemos no receio do que uma falsa manobra ou um erro de comunicação possa originar. O genial filme Dr Strange Love de Stanley Kubrick que ilustra esta publicação é um monumento eloquente a esse absurdo.

E a bomba trouxe alguma paz… quem diria.

Continua para …

10 agosto 2023

Porque não aprecio muito o FCP


Nota introdutória: a todos os familiares e amigos, dragões ligeiros ou fervorosos, isto não é uma questão pessoal 😊. É uma reflexão

O nosso clube depende de fatores hereditários ou geográficos. Pela geografia eu devia ter simpatia pelo FCP, mas não tenho…

A culpa começa no Gabriel. Era um colega do 1º ano do ciclo (atual 5ª) que era dragão (? na altura talvez ainda não houvesse a correspondência …) ferrenho e para quem os resultados tinham duas leituras. Ou o Porto ganhara por ser o maior, ou perdera por ter sido roubado. Humildade para reconhecer que cometeu erros ou os outros tinham jogado melhor não havia. Não seria o único nem o único clube, mas era-o muito marcadamente.

Ontem, por acaso, vi 3/4 do jogo e claramente o Benfica (que também não está nas minhas predileções) jogou melhor, ganhou e mereceu ganhar. Ponto. Quando é assim, felicita-se o vitorioso. Não se inventam ombros que chegam ao cotovelo, não se aplaudem jogadores que agridem, nem se felicitam treinadores que se recusam a respeitar as regras vigentes.

Se o desporto é suposto ser uma escola, estes professores são maus exemplos e desculpá-los não é bonito.

Nota final: a todos os familiares e amigos, dragões ligeiros ou fervorosos, isto não é uma questão pessoal. Pensem um pouco, de novo.

07 agosto 2023

Hiroxima, missão assassina? (I)


Por estes dias, concretamente a 6 e 9 de agosto, registam-se os aniversários dos bombardeamentos atómicos sobre o Japão de 1945, acontecimentos que mudaram para sempre este mundo e as suas guerras.

Uma primeira discussão será de até que ponto isto poderia ter sido evitado e a bomba atómica não ter sido de todo inventada. Parece impossível. A própria Alemanha estava na corrida, imagine-se se tivessem chegado primeiro, e mais tarde ou mais cedo a bomba seria uma realidade. A perseguição aos judeus, incluindo aos físicos que fugiram e atravessaram o Atlântico, foi afinal um "feliz" tiro no pé dos nazis.

A segunda questão é se havia necessidade de a ter utilizado e se este massacre de civis constituiu um ato criminoso. Se bem que com meios diferentes, bombardear cidades para forçar rendições, aconteceu neste final da guerra, mas também logo no início. Quando em maio de 1940, a Alemanha resolveu atacar e França, atravessando o Benelux para contornar a famosa linha Maginot, a Holanda resistiu inicialmente, mas rendeu-se após um brutal bombardeamento que arrasou Roterdão. A Bélgica, na perspetiva de sofrer algo idêntico também não resistiu e estas capitulações relâmpago dos seus vizinhos do Norte, foram muito criticadas pela França, que a isso atribui a sua derrota… relâmpago.

Seguiu-se o massacre de Londres e a “very british” reação de “Keep calm and carry on”. Mais tarde seria a resposta aliada na Alemanha, como, por exemplo, Dresden, Colónia, Hamburgo e Berlin.

Quando Truman decide largar a bomba em Hiroxima, para forçar a capitulação do Japão, não era também a primeira vez que uma cidade nipónica sofria um bombardeamento. O tipo de bomba, escala e efeitos foram diferentes, mas o princípio não foi diferente do que tinha sido corrente naquela guerra.

O segundo bombardeamento de Nagasaki, apenas 3 dias depois, sem ter dado tempo ao Japão de assimilar e reagir ao de Hiroxima, é bastante mais questionável. O fato de a primeira bomba ser de uranio e a segunda de plutónio, faz especular sobre se o interesse “científico” em testar os dois tipos de bomba não se terá sobreposto aos objetivos puramente militares e humanos…

Enfim, com a ligeireza e tranquilidade de quem hoje está a olhar para isto sentado num sofá, a toda esta distância, parece-me que Hiroxima tem desculpa, mas Nagasaki talvez não.

Continua para ...

05 agosto 2023

Deixai-os celebrar


Uma coisa são os venenosos e hipócritas frequentadores de sacristias; outra coisa são as instituições cristãs genuinamente solidárias e humanas.

Uma coisa foram os Torquemadas, outra coisa foi a criação artística e intelectual que a religião promoveu.

Uma coisa foi a mafiosa gestão financeira no Vaticano, outra coisa é o apoio social que em tantos cantos perdidos a igreja proporciona.

Uma coisa é um regime intolerante que impõe uma religião única, a mesma coisa são os que a tentam proibir a sua prática.

A lista pode continuar, mas com tantos duns e doutros, é certamente uma grande ligeireza ficarmos divididos e ter que optar entre os que incensam cada cruz que lhes apareça à frente e os que “pavolvianamente” rosnam a qualquer sotaina que se aproxime.

Passando por uma declaração de interesse, anunciando-me como agnóstico de matriz cultural cristã, não posso deixar de reconhecer que os princípios fundamentais do cristianismo são mais pela tolerância do que pela proibição, mais por promover o coletivo do que destacar o individual, mais pela dignificação do ser humano do que pelo seu aviltamento, mais pela inclusão do que pela exclusão, mais pela primazia da paz do que pela afirmação pela guerra.

Sim, houve, há e haverá desvios, como em tudo, como sempre.

Por isto tudo, sendo as jornadas mundiais de juventude uma festa bonita, se não gostam, não olhem, não ouçam, mas deixem-nos festejar. O fato de não gostarem não devia implicar raiva e menosprezo por quem lá está. Tolerância, senhores!

Por maiores que sejam as crenças em materialismos, racionalismos e outros ismos, a religião não vai desaparecer da face da terra nem do horizonte espiritual de muitos. E mais vale promover festas assim do que outras coisas…

Acrescentada a 6/8 a versão impressa.



02 agosto 2023

O que há de novo

Depois de uma longa interrupção no blog, se não inédita pouco menos, o recomeço é sempre mais difícil. Sobretudo quando atrás está o Camões.

Nestes quase dois meses passaram-se muitas coisas e certamente teria tido tema para as duas a três publicações semanais da praxe, infelizmente sempre e sempre mais do mesmo. Nada de relevante consigo identificar e isso é um problema.

Vamos falar da (des)qualificação da nossa governação? Das caricatas conclusões da CPI da TAP, do ridículo (não) debate do estado da nação e de outros casos de irresponsabilidade e desrespeito pelo país e pela nossa inteligência, a que gostam de chamar casinhos? No fundo, nada de novo e o mais preocupante é o pouco sobressalto cívico que tudo isto provoca.

A democracia só funciona, mesmo, a qualidade do governo e consequente bem-estar de quem por cá vive com escrutínio e, fatalmente, alternância. Novos rostos, novas ideias, novas atitudes são fundamentais. Tudo coisas que faltam a este governo ressequido. Depois de vermos ministros chegarem diretamente da Camara de Lisboa, irão agora buscá-los às juntas de freguesia da capital? Ou virá alguma jovem estrela brilhante, tipo Miguel Costa Matos? Quem de decente e competente este (des)governo consegue motivar e recrutar?

Neste contexto, o PS deveria estar a ser fortemente penalizado pelo eleitorado. Mesmo que o líder do PSD não seja uma força da natureza, é necessário arejar a casa. O cheiro a podre torna-se insuportável, para quem tenha nariz, e a seguirmos por aqui vai um dia ser bem-vindo um autoritário (como em 1928, há quase 100 anos).

Parece que já não estamos no tempo em que os partidos do arco da governação não tinham (nem assumiam) diferenças fundamentais e o eleitorado flutuante forçava a alternância pelo mérito, por estar farto do inquilino de S Bento e muito pouco pela “ideologia”. Depois de 2015 inventou-se uma clubite, particularmente à esquerda, onde para evitar um governo “inimigo”, fatalmente malvado, se juntam em frente virtuosa socialistas (sociais-democratas) europeus, órfãos de Estaline, admiradores de Maduro, tolerantes de Kim Jong, e tudo o mais que for preciso.

Não é só cá. Veja-se a Espanha aqui ao lado, onde Pedro Sanchez, para reivindicar o direito a governar, se assume líder de um suposto bloco vencedor, indo muito para lá do equivalente da nossa “geringonça”. Acrescenta o Bildu, herdeiros do terrorismo da ETA, pouco arrependidos, e fundamentalistas e racistas catalães (sim, porque o racismo não é apenas o da cor da pele).

Em resumo, o que há de novo é que, pelo menos na Península, democracia já não rima com meritocracia e racionalidade. Instaurou-se uma atitude tribal onde se “é de um lado”, como se “é” do Sporting, Benfica ou FC Porto. Certo que entre os nossos irmãos sempre houve duas Espanhas, com um nível de intolerância mútua elevado e uma brutal guerra civil não há muito tempo. Por cá, a guerra civil foi há mais tempo, na afirmação do liberalismo, mas entre 1910 e 1928 também não faltou intolerância e visões “religiosas” das virtudes “ideológicas”, que demasiados excessos justificaram.

Sim, há algo de novo, face às décadas recentes, mas relativamente à Primeira República o odor é semelhante. Já terá nascido algures numa Santa Comba?