30 setembro 2008

Jogos nos jogos, revisitado

Quando lá para trás falei da questão da falta de qualquer coisa que estes jogos olímpicos teriam, apesar de todos os esforços das autoridades para que fossem uma marca de afirmação da modernidade e desenvolvimento do seu país, nem imaginava quão certo estava.

Naquele momento e nos meses que os precederam milhares (milhões?) de bebés chineses tomavam leite adulterado com melamina. Não foi divulgado provavelmente porque isso ensombraria o brilho da festa. Assim sendo, os inocentes indefesos continuaram a tomar o veneno, contando-se por dezenas de milhares o número dos que sofrem de pedra no rim, a bem da imagem de modernidade da China. Parece que só morreram 4 e também parece que esse contador bloqueou rapidamente.

No fundo, não importa se são dezenas ou milhões. As autoridades de um país que expõe de tal forma a sua população não são modernas nem sequer decentes, são simplesmente bárbaras e não será a alta tecnologia nem o arrojo arquitectónico que trarão a civilização. Há alicerces mais importantes e mais fundos.

25 setembro 2008

Is Life Random ?

Não, não é hábito por aqui descambar para os palavrões anglo-saxónicos (que raio de maneira de não dizer simplesmente “ingleses”), mas uma vez não são vezes. E um “será a vida aleatória?”, apesar de mais longo, não vai tão longe.

Existe em ambientes de programação uma função “Random/Randomize”, que recorrendo a um algoritmo, incluindo seguramente a data, gera um número supostamente aleatório. Bom, no fundo, no fundo nunca será completamente aleatório porque nenhum computador sabe devolver um “número qualquer”, verdadeiramente aleatório. Terá sempre alguns dados de entrada, só que trabalhados e baralhados de tal forma que o resultado parece mesmo, mesmo aleatório.

Este tipo de função seria indispensável, por exemplo, para criar uma “slot machine digital” minimamente credível. Eu, no entanto, não me lembro de a ter utilizado alguma vez. Quando é necessário um valor para uma variável qualquer, por pouco importante que seja, parece-me sempre preferível adoptar um critério qualquer, por muito secundário que seja. Se parece ser indiferente ir pela direita ou pela esquerda, há-de sempre existir um critério de desempate, quanto mais não seja memorizar que da última vez se foi pela esquerda para da próxima se ir pela direita.

Por isso e outras coisas, sempre achei estranha a função de reprodução de música em sequência aleatória. Um álbum tem uma sequência bem definida e choca-me ouvi-lo de forma diferente.

Isto mudou quando me rendi recentemente ao meu leitor de MP3. Inicialmente limitava-me a ouvir “álbum” a “álbum”, um pouco como quem coloca CD’s no leitor e os troca após a reprodução. Agora tenho usado a reprodução aleatória e curiosamente tem um resultado interessante. É um pouco estranho ter assim um Carlos do Carmo entre Génesis e um Leo Ferre, depois do Chico Buarque chegarem os Pink Floyd, ou o Jorge Palma ligar com o Astor Piazolla e seguir para Moody Blues. Uma coisa é certa: cria uma surpresa agradável. Olhando melhor notei que chamam ao modo “reprodução aleatória inteligente”. Como nunca sei o que quer dizer inteligente nestes contextos, fico sem saber se é mesmo, mesmo aleatório.

20 setembro 2008

O efeito cortesão

Há um princípio básico em qualquer julgamento que consiste em ouvir sempre as duas partes. Este “ouvir” deveria ser feito de forma equitativa porque quando uma parte é ouvida dez vezes mais do que a outra, há um risco sério de avaliação tendenciosa. Lógico, não?

O que isto tem a ver com cortes e cortesãos? Tem a ver com o facto de que o cortesão que vive na corte tem naturalmente muito mais oportunidades de ser ouvido do que quem se encontra fisicamente afastado. Sem querer e sem cuidado, o cortesão fica extraordinariamente beneficiado.

Aqui, é importante o perfil da organização. Se está consciente desse perigo, procura distanciamento e formalismos que o minimizem. Se não estiver e for uma daquelas em que a “informação” se propaga muito informalmente ao longo dos corredores, forçosamente sem contraditório… então será uma organização em que todos querem ser cortesãos porque estes sãos os “bons” e acabará por sofrer uma importante asfixia de tamanha pressão sobre os seus corredores.

15 setembro 2008

Ainda Setembro



E um cais e uma ilha e, no meio, a água de uma partida numa data estatisticamente a meio de qualquer coisa bem contada e pouco medida.

11 setembro 2008

Cerimónias fúnebres


Hoje na Catedral de Almuneda em Madrid foi celebrada uma missa em memória das vítimas do acidente da Spanair. Mesmo Zapatero,que, criou polémica ao não participar na missa celebrada em Valência por Bento XVI há dois anos (“nem Fidel Castro se recusou a assistir à missa de João Paulo II!!”), marcou presença.

O evento criou alguma polémica porque algumas das vítimas não eram católicas e as suas famílias não gostaram de ver os seus encomendados assim a um Deus terceiro.

Duas reflexões. A primeira é esta “Espanha Sacristia”, unificada há 5 séculos com o ferro e o fogo da fé, que ainda continua a ter a Igreja a cheirar de perto o poder secular, recusando-se a criar uma distância que já existe de uma forma consolidada na maior parte da Europa Ocidental.

A segunda é que o desaparecimento da igreja do quotidiano tem esse momento resistente. Para muitos, como eu, já não há missa semanal, nem casamento em altar, nem baptistério, mas há um momento resistente à esmagadora maioria dos agnósticos: o funeral.

Passamos por alto todos os outros momentos, mas aquele final continua a precisar de algo mais, continua a requerer um cerimonial que ainda não tem alternativa. Estamos a caminhar para uma situação em que os padres servirão apenas para enterrar pessoas? Questão em aberto…

07 setembro 2008

Um dia...



O vale do Douro entre Gaia e Porto é um cenário de características únicas. Ao mesmo tempo grandioso e de dimensão humana. É natural que em termos de espectacularidade para o "show da Red Bull” seja excelente.

Agora, imaginemos uma avaria num avião ou no coração de um dos pilotos. Que consequências poderá ter? Está bom de ver que muito provavelmente uma tragédia.

Pode proporcionar imagens sensacionais como a de cima, retirada do portal Sapo, mas que há aqui uma análise de risco que não foi feita, isso há. Se um dia acontecer uma desgraça, será um acidente imprevisível.

04 setembro 2008

Psi mais psi

Está na moda o "apoio psicólogico". Qualquer susto ou imprevisto é promovido à categoria de choque traumático. Se é verdade que no passado não se usava psi’s para quase nada, agora por um espirro mais forte lá é necessário o famoso apoio psicológico. Não sei se é por a raça estar a ficar mais fraca, o que será muito mau sinal, ou por a influência (lóbi? lobby?) dos psi’s na sociedade estar a aumentar. Se se fizesse um paralelo com o esforço físico é como se já não fosse normal subir escadas e tivesse que existir elevador por todo o lado…!

Agora temos a crise “pós-férias”. Pois é! Deixar a vida boa e voltar aos horários e à carga de trabalhos, complicações e chatices é uma grande pancada. Mas se o comum dos mortais, sem nada mais de significativo a somar, não consegue sozinho ultrapassar esse choque, então este mundo está mesmo perdido.
Assim sendo, melhor será não ir de férias de todo: evita o choque. Porque isto de dividir o orçamento de férias em dois, metade para gastar nas mesmas e outra metade para pagar ao psi no final….. isso sim, é bem deprimente!!!

02 setembro 2008

Cães e gatos



Há quem seja mais para o cão e há quem seja mais para o gato. Não tem coincidência directa com a cor das íris mas anda perto, ou não?

Eu confesso ser mais para o gato. Cães, só mesmo aqueles a sério, grandes e dignos. Há uns, muitos, que são irritantes e insuportáveis e há ainda os que são apenas “boas pessoas” (leia-se “bons cães”), mas sem por isso me despertarem especial empatia.

Agora, digam-me que outro animal pode ser assim, nem selvagem nem doméstico, confortavelmente estirado sobre um muro quente, de quem nos podemos aproximar e apontar uma objectiva a poucos centímetros, sem ele fugir nem se aproximar, sem reagir nem pestanejar. Sabe bem que estamos lá mas ignora-nos. Aceita que aquele espaço possa ser nosso mas também é naturalmente dele e sem necessitar sequer de o afirmar.

No final, somente um pouco enfastiado de tanta proximidade desloca a cabeça para nos interrogar directamente: “Ainda falta muito??!”

Não, não existe outro animal assim…!