21 agosto 2019

Carências


A 29 de julho deste ano, a humanidade esgotou os recursos naturais disponíveis para uma utilização sustentável do planeta. É um pouco como se no dia 18 de cada mês tivéssemos gasto o vencimento mensal e a partir dessa data, passássemos a viver de emprestado até ao dia 31. Há 40 anos essa data estava no início de novembro e há 20 foi a 29 de setembro. O ano passado ocorreu 3 dias mais tarde. Ou seja, é mau e está a piorar.

No passado dia 12/8 entrarem em greve os motoristas de matérias perigosas, com especial efeito na disponibilização dos combustíveis, um dos recursos do planeta que estamos a consumir largamente acima da sua reposição. A perspetiva de o país ficar a seco foi e é assustadora. Deixando de lado a espuma dos dias, da reação mais ou menos excessivamente musculada do governo e das questões eleitoralistas associadas à “gestão da crise” … pode ser uma boa forma de pensar no que representa o tal dia 29 de julho de 2019.

Está bem que temos e procuramos substituir os combustíveis fósseis e que sustentabilidade e economia circular são algo de que cada vez mais se fala, mas se cada qual pensar na forma como encarou a penúria potencial de combustíveis, dá para concluir que estamos ainda a muitas milhas de interiorizar o que realmente representa este viver a crédito e o quem vier atrás que feche a porta… se ela ainda se aguentar nas dobradiças.

19 agosto 2019

Mínimos e máximos, veraneantes e pacientes

Acabou, ou está suspensa para já, a famosa greve dos camionistas de matérias perigosas. Terá sido das mais noticiadas e seguidas antes, durante, veremos ainda o depois, e, ao mesmo tempo, com uma secundarização enorme do que estava mesmo em causa: quais as reivindicações exatas, qual a parte “justa”, qual a parte abusiva e desproporcional, se o processo de negociação estava bloqueado ou não, etc.

O importante foi até que ponto a greve afetaria as intenções de voto no partido no poder e a vontade de ir à praia do povo em geral. É óbvio que existem uma série de serviços fundamentais a precisarem de serem garantidos, mas a fasquia foi colocada bem acima, para não perder os votos de quem queria ir à praia. Assistimos a um esforço enorme do governo para, na prática, evitar que a greve afetasse efetivamente os eleitores, perdão os cidadãos. Pode-se discutir se faz sentido ou não, se tamanha anulação do seu efeito põe em causa os fundamentos do conceito e o exercício do seu direito ou se há sectores em que não pode haver greves a sério.

Uma coisa que eu teria gostado era de ver esta determinação aplicada às greves cirúrgicas, dado que, ainda por cima no estado de saturação do SNS, adiar intervenções cirúrgicas é bastante mais grave do que o pessoal não ter combustível para ir à praia. Aparentemente haverá mais votantes veraneantes do que pacientes.