30 agosto 2014

Mãos que voam


Studio 8 Faculty of Public Health Disponegro Univerty - Indonésia, em Viana do Castelo

28 agosto 2014

Ideias com graça


A minha segunda participação na coluna do Centro Cultural do Alto Minho publicada na "A Aurora do Lima", Viana do Castelo.

25 agosto 2014

A Festa


Chamam-lhe também “A Romaria das Romarias”, mas eu não acho essa etiqueta, de cola rápida, muito feliz. Caeiro dizia que “o Tejo não é mais belo do que o rio que corre pela minha aldeia, porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia”. As festas, como os rios, não valem por comparação ou relação com os seus pares, mas pela forma como são sentidas e vividas pelos seus. A romaria da Srª da Agonia, de Viana do Castelo, é sentida de forma única, intensa e empenhada, por quem a vive e muito especialmente pelos seus. Também não é métrica revelante as toneladas de ouro que saem à rua no desfile da mordomia. Haverá quem tenha muito gosto em ourar abundantemente o peito, mas não é essa quantidade que torna a festa mais bela.

Na minha opinião, o que há de muito particular nesta festa, e conjuga-se certamente no feminino, é aquele pisar a rua com a cintura apertada entre as mãos, tronco bem direito e cabeça levantada, sorrindo. Gente que no resto do ano passa quase sem se ver, nestes dias transforma-se e afirma-se com a autoridade fatal do sorriso. As ruas são delas e nada a contestar, muito pelo contrário, tudo a agradecer.

20 agosto 2014

Estratégia consistente

Quando um movimento de contestação começou na Síria, uns iluminados acharam que era muito interessante fazer cair o regime shiita de Damasco para isolar o Irão e cortar a ligação deste ao Hezbollah no Líbano. Lembram-se das notícias terríveis sobre o malvado El Hassad que era preciso depor urgentemente? Era preciso ajudar a oposição, “legitimada” por ser oposição à ditadura e o golfo e o ocidente não vacilaram. Só que se via logo que aquilo não era gente boa, mas enfim… o importante era fazer cair o regime.

O regime não caiu e a gente boa foi instalar-se onde queria. O seu nome original Estado Islâmico do Iraque e do Levante era claro quanto a intenções. Face às coisas horrorosas, horrendas e aterradores que aqueles combatentes contra a ditadura da Síria fizeram no Iraque foi preciso repensar estratégia: Síria, Iraque, Kurdos, Irão e EUA juntam-se no esforço de os controlar. É obra!

Hoje o mundo, e especialmente os states, acorda horrorizado, algo mais, pela divulgação do filme da decapitação de um jornalista americano…. Se calhar a camara com que o filmaram até foi oferecida pelos EUA… Que bem que discursas Obama!! (mas os amigos do golfo bem te levam)

Apple e/em China

Num curto espaço de tempo vi passarem à minha frente duas noticias relevantes sobre a Apple e a China.

- A China excluiu Ipad’s e Macbooks da lista de produtos que as entidades públicas do país podem comprar, por questões de segurança. Foi divulgado a 6/8, salvo erro.

- Cerca de uma semana depois, a 15/8, sabe-se que a Apple começou a utilizar servidores instalados na China para guardar a informação de utilizadores locais. Realçam que tomam muito a sério a segurança e a privacidade dos seus utilizadores

Fico a pensar se será mera coincidência …


Imagem googleada sem referencia original

18 agosto 2014

Envelhecer ou morrer ?

O Grande Jacques era um brincalhão. Gostava de trocar as voltas às coisas e ás palavras. No seu último álbum histórico que já referi aí para trás, há um tema chamado “Envelhecer”.

No momento em que ele o escreveu e cantou, já sabia que não morreria de velho, mas sim pelo "apito de árbitro”. No refrão há uma frase forte “Morrer não é nada, mas envelhecer, ó envelhecer”. Lendo, no entanto, com mais atenção… não é bem assim. Ele bem o apito trocaria por morrer de velho, mesmo sendo um mau negócio. Quem não… ?

Aqui está em tradução livre.

Morrer, corando, conforme a guerra que há
Devido aos alemães, por causa dos ingleses
Morrer de beijo inteiro entre os seios de uma gorda
Contra os ossos de uma magra, no fundo de um calabouço
Morrer de um arrepio, morrer de se dissolver
Morrer de se sapar, morrer de se dissolver

Ou terminar a corrida na noite dos seus cem anos
Velhote estridente, erguido por algumas mulheres
Pregado à Ursa Maior, cuspindo o seu último dente
Cantado “Amesterdam” !
Morrer, não é nada
Morrer, grande negócio
Mas envelhecer, ó envelhecer

Morrer, morrer de rir, é talvez possível
Aliás a prova é que eles já não ousam muito rir
Morrer fazendo de palhaço, para alegrar o deserto
Morrer face ao cancro por apito de árbitro
Morrer debaixo do cobertor, tão anónimo
Tão incógnito, que morre um sinónimo

Ou terminar a sua corrida na noite dos seus cem anos…

Morrer coberto de honras, num rio de prata
Asfixiado sob as flores, morrer em monumento
Morrer no fim de uma loura, onde nada acontece
Onde o tempo nos ultrapassa, e a cama cai em túmulo
Morrer insignificante, no fundo de um chazinho
Entre um medicamente e um fruto que fenece

Ou terminar a sua corrida na noite dos seus cem anos…

Morrer, não é nada
Morrer, grande negócio
Mas envelhecer, ó envelhecer

16 agosto 2014

Assassinatos em curso

Em cerca de um mês de conflitos entre Israel e o Hamas, morreram cerca de 1900 palestinianos. Meio mundo, ou mais, protesta e com razão contra esta barbaridade. Por uma questão de coerência devia protestar também contra as acções terroristas indiscriminadas do Hamas e da forma como eles envolvem e desprezam a sua própria população civil. Israel tenta atingir alvos relevantes do ponto de vista operacional, com maior ou menor eficácia. O Hamas faz chover rockets em Israel assumidamente em alvos civis e morrerem palestinianos não faz mal. São mais uns mártires no bom espírito da sua cultura.

Num dia apenas, no Iraque, o ISIL, agora chamado IL, pode executar 2000 yasidis e parece que não foi aconteceu nada. São facilmente centenas por dia. As acções destes inqualificáveis contra todas as religiões que não a sua, e mesmo contra outras variantes do Islão, são um crime sem paralelo no presente, nem no passado recente. Porque não há manifestações a favor dos yaris, dos kurdos, dos cristãos ou dos xiitas que são barbaramente assinados em massa??!

É que se o ódio a Israel vem de eles serem apoiados pelos USA, estes filhos da …. também o foram (e por mais uns outros tantos patrocinadores), para levarem a cabo a missão muito humanitária de derrubarem o ditador de Damasco. Como este resistiu, eles foram pescar para águas mais tranquilas e com muito sucesso. De notar que se tivessem tido sucesso, o resultado seria provavelmente idêntico ao que se vê hoje na Líbia. Trocar um bandido que controla tudo por um conjunto de bandidos que ninguém controla…

15 agosto 2014

Rotinas e (des)controlos

No rescaldo do susto contado numa publicação anterior, fiquei a pensar que provavelmente isto se passaria de forma diferente em aeroportos mais controlados, como, por exemplo, Argel. Aí, a sequência de controlo para um embarque tem as seguintes etapas:

1- Controlo de Rx de bagagem na entrada do edifício
2- Controlo do bilhete na entrada da zona de check-in
3- Check-in propriamente dito
4- Controlo de documentos após check-in. Nalguns o casos o funcionário do check-in não tem autoridade para fazer isso e é necessário passar noutro balcão, lá ao fundo, para verificarem cartão de embarque e passaporte... e… carimbo!
5- Controlo de documentos na entrada da sala de controlo de passaporte
6 -Controlo de passaporte / fronteira
7- Controlo de documentos antes do controlo de bagagem
8- Controlo de bagagem de mão por Rx antes de passar à zona de embarque
9- Controlo fiscal na entrada da zona de embarque – este explico a seguir
10- Controlo e registo do embarque na porta de embarque
11- Controlo de documentos na manga pela polícia
12- Controlo de bagagens na manga (ou no chão da pista) – antes abriam-se as bagagens de mão, agora há máquinas de Rx
13- Controlo do cartão de embarque dentro do avião pela tripulação

Não sei se foi claro…

Quanto ao 9, é curioso. Supostamente as divisas devem ser declaradas à chegada e depois cambiadas oficialmente ou trazidas de volta e o saldo controlado aí. A moeda local tem um valor máximo a transportar da ordem dos 30 Euros equivalentes. Como a maior parte do pessoal não se dá ao trabalho de declarar à chegada, nesta fase diz-se ao guarda que não temos nada a declarar. Ele insiste : nem divisas, nem moeda local? E nós insistimos muito sérios: Nada! Como se fosse viável estar a sair de viagem sem um euro no bolso. Se insistir muito dizemos que temos apenas uns trocos para tomar um café. Uma vez inspeccionaram-me a carteira e tive que deixar em depósito a moeda local extra que trazia, mas correu bem, da vez seguinte devolveram-me à chegada.

Evidentemente também se pode questionar se tanto controlo é mesmo eficaz. Não sei, nem que pudesse não iria tentar embarcar com um nome que não fosso o meu !

11 agosto 2014

Obrigado Rui


Rui Veloso decidiu fazer uma pausa na sua carreira. É sua opção e direito e só desejo que tudo lhe corra bem e que seja feliz. Neste momento falar de Rui Veloso como o “pai do Rock Português” e o autor do “Chico fininho” é extraordinariamente redutor e até injusto. Se ele e o inseparável e brilhante Carlos T tiveram o condão de fazer parecer bem na língua de Camões ritmos que supostamente lhe estavam vedados, não ficam por aí.


“Mingos e os Samurais” é uma belíssima homenagem aos muitos pequenos grupos dos anos 70, que tanta música deram aos próprios e ao povo; o “Auto da Pimenta” é um marco histórico. Coisas mais recentes como o “Avenidas”, ou o simples “Os velhos do Jardim” são de uma beleza extraordinária e só por si suficientes para lhe deixar um lugar único e próprio na música portuguesa, muito, muito para lá do inicial “Fininho”. E quase me esquecia do muito sentido hino à “Imbicta”, absolutamente sem paralelo. Obrigado.

Diz ele, e com razão, que a qualidade da música que se ouve nos media e especialmente na televisão não presta. E não há dúvidas. Aquilo que se ouve nas tardes de fim-de-semana é uma promoção gratuita de um monte de porcaria. Os concursos são fogos-fátuos dos quais nada fica…

Muito sinceramente, repito que desejo ao Rui Veloso felicidades e se um dia voltar a vontade, que volte. Em todos os casos, que tenha a certeza que Portugal lhe está e ficará grato! Um abraço.


Nota em 14/8/2014: Hoje este texto saiu nas "Cartas" do Público e detectei, para minha enorme vergonha e embaraço que no penúltimo parágrafo está um "houve" de haver em vez de um "ouve" de ouvir, Corrigi aqui, mas lá já não deve ir a tempo.... bolas!

10 agosto 2014

Ébola garantido

O actual surto de ébola começou em Março deste ano na áfrica ocidental. Em Abril já havia mais de 100 mortos e a noção clara de que isto podia ser muito difícil de controlar. Em finais de Julho os mortos ultrapassaram os 900, mas não foi isso que despertou a opinião pública. Foi terem chegado aos EUA e a Espanha cidadãos desses países infectados, para serem aí tratados.

Com uma doença com um período de incubação de até 21 dias, que não tem tratamento específico nem vacinação e com uma taxa de mortalidade acima dos 50% dos casos, é natural o bom povo do lado de cá pensar: "Eh pá… isto está a chegar perto e pode ser perigoso! Mais vale deixar os gajos morrerem lá todos, longe!”. E os media lá vieram dar largo eco às preocupações da malta.

O perigo maior não estará, no entanto, nestas transferências, que são naturalmente rodeadas de todos os cuidados. O perigo é o de toda a gente que sai de lá diariamente antes dos 21 dias de incubação.

Muito mais preocupante, para não dizer anedótico, é as nossas autoridades, a DGS neste caso, vir garantir que os passageiros vindos dos países onde o surto está activo estão a ser controlados pelo do pessoal dos aeroportos e mesmo pelos tripulantes. Gostava de saber exactamente como: quando o pessoal entra no avião e mostra o cartão de embarque aos tripulantes eles conseguem detectar o vírus em incubação no polegar do passageiro!?

Se não nos salvam do risco, ao menos poupem-nos o ridículo!

Nota: Ontem voei de Casablanca, que é um ponto importante de ligaçao com a África Ocidental, para Lisboa e não me pareceu ter sido muito controlado....

08 agosto 2014

Check-in high tech !

Terça-feira passada fui a Lisboa apanhar um voo para Casablanca. Cheguei relativamente cedo, ao fazer o check-in mostrei o meu passaporte e cartão de passageiro frequente da “Royal Air Maroc”, lá disse a minha preferência de lugar e a menina sorridente deu-me o cartão de embarque, anunciando-me que eu não era passageiro frequente de nível básico, já era “silver” e podia utilizar a fila prioritária. Fiquei contente!

Entrei, passei os controlos todos, para as quais a pachorra começa a faltar. Agora até os meus sapatos são suspeitos e devo atravessar o pórtico de segurança em peúgas. Sentei-me para almoçar e fiquei a trabalhar durante o tempo de espera. Apareceu no painel informação de 30 minutos de atraso e quando está quase na nova hora de embarcar, olho para o meu cartão de embarque “silver” e noto que o nome que está lá não é o meu. Também era Carlos, mas o resto não correspondia.

Lá fui a correr para a porta, receando que o voo já estivesse fechado, onde outra menina, depois de me franzir o sobrolho, lá me fez o check-in certo. Como a impressora não funcionava preencheu-o à mão. Como se enganou no lugar, preencheu segunda vez…

No final, o único prejuízo mesmo, foi, ao sair a correr, ter deixado o carregador do PC na tomada junto à mesa onde tinha estado a trabalhar… podia ser pior!

06 agosto 2014

Quem sabe, sabe

Na mesma altura em que Pedro Santana Lopes é reconduzido à frente da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, sob elogios públicos do Governo, o conselho de auditoria da instituição vem dizer que em 2013 ela passou a perder dinheiro, 60% das encomendas são feitas com consulta a um único fornecedor, o prejuízo registado é também em muito devido ao aumento dos custos com pessoal, que não se entende cabalmente, e questiona a sustentabilidade da entidade a continuar nestes moldes.

Sobre isto, o Provedor reconduzido só tem a dizer: “A SCML tem uma história de 516 anos de respeito pela lei e pela moral. Publica as suas contas, que são escrutinadas e aprovadas pela tutela. É uma pessoa colectiva de direito privado e actua como tal”. Um gestor questionado defender-se nesta formalidade do “desde que aprovado pela tutela, está tudo bem”, diz muito sobre os seus princípios. Também diz que certamente durantes esses 516 anos a instituição não foi gerida no seu estilo, senão, provavelmente, já não existiria.

Fico ainda algo confuso com estas contas privadas em tutela pública e também surpreendido pelo facto de quem escrutinou e aprovou as contas ter louvado o “muito relevante trabalho” realizado.

Santana Lopes é potencial candidato à Presidência da República e mais não comento (ficaria excessivamente nervoso…).

05 agosto 2014

Duas sem três

O escândalo do BPN provocou muita estupefacção e pedia uma certeza: deveria ser impossível voltar a ocorrer algo idêntico.

O caso do BES tem semelhanças e diferenças e levanta muitas interrogações. Como é possível um banco e até de dimensão superior, voltar a cair desta forma, quando supostamente toda a gente estava atenta e avisada? O que falta fazer para não haver um terceiro? Há escassas semanas havia “garantias” de que o banco estava protegido dos negócios do grupo e de que também não haveria utilização de dinheiros públicos. Hoje sabe-se que afinal os 2 mil milhões não chegaram e que vai ocorrer uma importante participação pública, se bem que em empréstimo, à partida reembolsável. Actualmente, “garante-se” que a prazo o Estado sai sem custos, mas … que se dizia no dia a seguir à nacionalização do BPN?

Algumas questões ainda. Os 2 mil milhões não chegaram porque havia mais 1,5 mil de esqueletos nos armários. No entanto, os fundos mobilizados para resolver esse problema não são esses 1,5 mil de diferença, mas quase 5 mil milhões! Que parcela me falta nesta minha conta? Depois, aparentemente, esses novos cadáveres estavam fresquinhos nos armários; tinham sido para lá levados recentemente, quando tal se encontrava já formalmente proibido pelo Banco de Portugal. Para lá do que isso representa como qualificação dos responsáveis, não são reversíveis? Não configura uma espécie de falência fraudulenta em que os movimentos da véspera podem ser anulados?

Só me resta esperar que a tal separação no detalhe entre banco bom e mau, seja suficientemente rigorosa e corajosa. Quanto aos investidores que perderem, de recordar que ganhar na Bolsa não é garantido. Se foram vigarizados só têm que processar os vigaristas. Mal estaríamos se todos os contos do vigário fossem objecto de apelo ao erário público.