29 novembro 2019

Sexta-feira negra e o mar amarelo


O Mar de Aral na Ásia central, em tempos o quarto maior lago do planeta, praticamente desapareceu. Para além da redução da água, há contaminações de várias naturezas como pesticidas, fertilizantes e salinidade elevada que, associadas à redução do volume de água, atingem níveis de concentração brutais.

Para lá dos erros, desperdícios e disparates que podem ter aumentado a dimensão da catástrofe, a origem do problema tem um nome: algodão e a sua plantação intensiva.

O mesmo algodão “simpático” para os consumidores, provavelmente presente em muitas peças de roupa que serão compradas nesta 6º feira negra a preços simpáticos, em várias cores. Ou provavelmente a preferência irá para as fibras sintéticas extraídas do petróleo e que talvez um outro dia, não sendo biodegradáveis, acabarão na barriga de uma baleia… ou nos nossos intestinos.

Para lá da origem e da sustentabilidade das fibras usados no têxtil, e aqui mais não digo porque necessitaria de acrescentar uma declaração de interesse, será que não compramos roupa a mais… e o fim de vida do vestuário não está a necessitar gritantemente de ficar um pouco mais circular? Sim, claro, para um futuro menos negro.

McKinsey - Style that’s sustainable: A new fast fashion formula (2016) – Três em cada cinco peças de vestuário deixam de ser usadas ao final de um ano.

Ellen MacArthur Foundation 2018 – Menos de 1% do vestuário é reciclado – Um camião de vestuário é queimado, despejado em aterro ou no oceano, em cada segundo.




28 novembro 2019

Crónica de uma crise anunciada



A TAP é um bom exemplo de uma empresa historicamente cara para os contribuintes e tanto mais cara, quanto mais estatizada for a sua gestão. A TAP é estrategicamente necessária para o país? No tempo das companhias de bandeira, talvez. Hoje, com toda a oferta existente, se ela desaparecer não haverá drama de maior.

Em 2015 foi, mal ou bem ou assim-assim, encontrada uma saída para acabar a prazo com as faturas ao contribuinte, através da sua privatização. Aí muita gente começou a rasgar as vestes pela importância estratégica da empresa, em parte aterrorizada pela possível redução de voos diretos a partir de Lisboa, tão cómodos, especialmente se o contribuinte para isso contribuir.

Em 2016, no âmbito da maré reversiva, o Estado inverte o curso do processo, voltando a ser o maior acionista. Confesso que até hoje ainda não entendi qual foi contrapartida que motivou realmente o sócio privado a aceitar essa redução de participação e de poder.

Hoje, a TAP volta a ser notícia pelos maus resultados, não muito surpreendente dado a histórica correlação dos mesmos com a influência do Estado na empresa e, pior ainda, pela instabilidade acionista. Obviamente que se fosse apenas entre privados, lá se entenderiam com maiores ou menores estragos. Com o peso pesado do Estado no meio, vai uma aposta em como veremos uma solução CCPoC (Com Custos Para o Contribuinte)?

25 novembro 2019

Deveria ser consensual



O 25 de novembro é uma data importante na história recente do país, como muitas outras. Quem quiser ver de perto o que se passou no verão desse ano de 1975, não tem dificuldade em concluir que o caminho em curso era o da não liberdade, da não democracia, do não respeito pelos direitos humanos. Era o caminho para uma tirania, cujos exemplos e experiências, terminaram sistematicamente em várias formas de miséria.

Pela lógica seria, portanto, uma data pacífica e consensual. Não deveria servir de arma de arremesso, ou, se tal fosse tentado, o projétil nada atingiria, sendo disparado no vazio. Surpreende-me e preocupa-me que em 2019 essa data possa ser ainda polémica e que ainda haja projeteis e feridos. Sinceramente, alguém defender o que supostamente se perdeu com o 25 de novembro é muito preocupante. Pelo mais básico respeito pela liberdade e pela legitimidade democrática, deveria ser consensual.

19 novembro 2019

Ser Cultura



Talvez, para alguns, seja maior referência o “Mudam-se os tempos…”, ou o “Cantigas de Maio”, ou “Os Sobreviventes”. Para mim é o “Ser Solidário” e um concerto no Coliseu a acabar mais tarde do que o do último comboio “decente”. E a primeira vez em que vi uma ponte para um fado, decente. E, mais tarde, o reencontro nos “Três Cantos”.

Hoje, certamente, o “FMI” teria uma escuta diferente, não por simpatia pela dita cuja instituição, mas porque … ainda bem que o mês de novembro aconteceu, pela liberdade.

Mas a altura não é para essas considerações. É para recordar e homenagear uma grande figura da cultura portuguesa. E essa coisa da cultura é maior do que o resto.