23 setembro 2019

Ambiente e política, ignorância e hipocrisia



Sobre a necessidade de fazer algo urgentemente sobre a sustentabilidade do planeta, poucos terão dúvidas. Ver nota anterior aqui.

A necessária mudança de hábitos e de modos de vida, uma empreitada tão complexa e gigantesca, obriga a um estudo científico e social detalhado, gerando um plano de ações lógicas, viáveis e eficazes e a serem cumpridas com rigor. Obviamente que de pouco servem as medidas voluntariosas e avulsas do tipo “O ministro quer…”.

O que os políticos querem, no fundo, é ganhar as eleições e tomar o poder. Se, para isso, for necessário assumir que a Terra pode não ser redonda, certamente muitos não hesitarão em fazê-lo, sendo aqui as culpas partilhadas entre o político sem formação e/ou escrúpulos e o eleitor ignorante e/ou estúpido.

Isto vem a propósito do fervor de propostas “pró-ambientais” agora na aproximação das eleições e concretamente o banir a carne da alimentação humana. É fácil estar de acordo que o consumo de carne dever ser reduzido, mas entre fazer uma canja com um frango criado ao ar livre ali na porta ao lado ou consumir peixes originários de uma piscicultura intensiva localizada a uns valentes quilómetros de distância, onde está o impacto ambiental maior…? 


Convém sempre fazer as contas todas e tão ou mais importante do que a natureza do alimento é as voltas que ele dá até nos chegar. Muito mais importante ainda é a quantidade que é ingerida. Frugalidade em cada dose, em cada interruptor e em cada torneira… Assumir uma boa consciência a partir de medidas simplistas que dão belos títulos nas noticias, é ignorância e/ou hipocrisia.

21 setembro 2019

Grande Europa que falha


O grande Airbus A380, o maior avião comercial de passageiros do mundo, doze anos após ter entrado ao serviço, vai deixar de ser fabricado porque não tem encomendas. O conceito comercial não provou. São preferidos aviões mais pequenos para viagens diretas.

Nunca voei em nenhum, apenas visitei a impressionante fábrica do bicho em Toulouse, e é sempre com um certo amargo de boca e tristeza que vemos um esforço brutal como este não ter sucesso. De certa forma análoga, a Europa também já vivera a experiência de um conceito de avião revolucionário que não vingou: o fabuloso Concorde.

Falhar faz parte dos riscos e, deixem-me puxar a brasa para a sardinha deste lado do Atlântico, tem mais mérito arriscar a desenvolver e falhar, do que enxertar de forma mal-amanhada novos motores numa carcaça com mais de 50 anos de conceção, como a Boeing fez com o 737 MAX.

Em 50 anos não encontraram orçamento, nem vontade, nem coragem para refazerem a sério o seu avião mais popular e continuaram a espremer a espremer, até ultrapassar os limites? Sendo relativamente clara a sequência das opções e a ligeireza do caminho tomado (ver aqui), o que mais me interpela agora é: qual o custo que esta poupança da Boeing vai ter? Já nem falo das entregas atrasadas, redução de vendas e de encomendas anuladas. Aqueles aparelhos todos, parados durante meses, sem ainda se saber quando regressam aos céus, geram perdas brutais. Palpita-me que a Boeing irá gastar com advogados muitíssimo mais do que o que poupou com engenheiros (e aqui não há questão de brasas e sardinhas)!

06 setembro 2019

A riqueza da guerra

Para mim e para a maior parte da população europeia, a guerra é uma coisa horrível que vemos nos noticiários, revemos ficcionada em filmes, romances e séries, mas que, sobretudo, apenas imaginamos. Não sabemos o que é mesmo a guerra, o poder morrer estupidamente no segundo seguinte ou ver um próximo cair irreversivelmente ao nosso lado. Podemos tentar imaginar, mas imagino que a imaginação não é suficiente e esperemos que assim continue durante muito tempo.

Os monumentos e as apologias aos bravos que tombaram em combate são uma forma de nos tentar fazer imaginar um sentido, uma glória para algo que não tem nem pode ter glória.

A liderança militar, ou ditatorial, é eficaz. Ninguém imagina um batalhão a realizar um referendo diário para decidir o caminho a seguir. Ou, entre de dois batalhões, um avançar e outro recuar. O seguimento cego e sem contestação das ordens superiores é fundamental para ganhar batalhas. Da não objeção e castração da emancipação de cada um, virá a vitória e o consolo das cerimónias e estátuas.

Há uma economia da guerra. Aquela em que as forças se mobilizam e são dirigidas sem questões nem contestação, maximizando o resultado. A História tem histórias de impérios criados militarmente, eximiamente organizados e extremamente eficazes enquanto na fase da conquista. O problema aparece quando a conquista material deixa de ser suficiente e são necessários outros avanços. Os do conhecimento e os da iniciativa, enraizados em cultura e liberdade.

Tudo isto a propósito de guerra e do declínio da Europa atual? Sim. A ver vamos…