29 agosto 2006

Falando em “Nortês”



Achava eu que trocar os “vês” pelos “bês” era um erro crasso e inadmissível em bom português. Também achava que o Mirandês era um dialecto quase exótico e muito específico. Mudei de opinião recentemente depois de um breve contacto com esta segunda língua nacional.

Vejamos um exemplo, um pouco ao acaso: Selvagem em Mirandês é “Selbaige”. Façamos uma experiência. Peguemos numa amostra de população a norte do Mondego, excluindo a faixa litoral entre Aveiro e Coimbra, e registemos a percentagem de pessoas que trocam o “v” pelo “b” e que ignoram a nasalação final. Será provavelmente superior ao número das que pronunciam a palavra em bom português. Então, se alguém disser “selbaige” na Régua, está a cometer uma deturpação grosseira da língua. No entanto, se for em Miranda do Douro, trata-se de uma manifestação de riqueza cultural!

Há uma diferença. Em Miranda, provavelmente pelo isolamento, a especificidade manteve coerência e consistência. No entanto, no fundo, algo de comum tem que existir e de muito forte para tanta gente trocar os “vês” pelos “bês”.

Vivemos numa época em que caminhamos para a pulverização das línguas e de ressurgimento das línguas “minoritárias”, objecto no passado de uma tentativa centralizadora de aniquilação. E não são só os peso-pesados do Flamengo na Bélgica e do Catalão em Espanha. Por exemplo, o Galego e o próprio Mirandês têm uma visibilidade incomparavelmente superior à que tinham há uma dúzia de anos. A variedade de idiomas será provavelmente um dos mais complicados problemas administrativos da União Europeia e só tende a aumentar. Anedótica foi a “indispensável” versão em Valenciano do projecto de Constituição Europeia que afinal se confundia com a Catalã.

Porquê esta “necessidade” de realçar estas diferenças? Mudar a toponímia gravada nas pedras de Miranda ou de Santiago é assim tão relevante? Será porque tudo o resto está a ficar igual? Porque é que Valência tenta “desesperadamente” afirmar uma língua com diferenças ínfimas do Catalão? Será por recusar pertencer à órbita cultural de Barcelona? E tem que ser a língua a marca cultural diferenciadora? Caminhamos para uma nova Torre de Babel?

Não sei. Não sei se por cá necessitamos de definir um “Nortês”. “Num ixtou a ber a bantaige!!!” Mas estou menos preocupado com os meus “vês”.

27 agosto 2006

A falsa “Ligacaos”

Chamar “Ligacaos” ao imbróglio que vai pelo campeonato nacional de futebol, evocando o paralelo com o "Calciocaos" italiano, só mesmo para os distraídos ou para distrair. O fundo da questão são amendoins, ou mesmo apenas um único amendoim, e tudo anda à volta dos formalismos e da falta deles, tão caros nos nossos processos de toda a ordem.

“Ligacaos” seria sim o nosso “Apito Dourado” se houvesse coragem e capacidade de o levar até ao fim. Nesse caso sim, seria legítimo invocar a analogia. Mas, como eu profeticamente (desculpem a presunção) adivinhei em Maio, o desenlace dos dois casos é radicalmente diferente. Só me enganei no nome com que o caso Italiano ficou conhecido. Em vez de “Pés Limpos” foi o “Calciocaos”.

Para quando uma verdadeira “Ligacaos” por cá?

24 agosto 2006

Salvamentos bem catitas




Eu acho que a moda veio da série “Marés Vivas”. Aquelas “pick-up” 4x4 catitas com tripulantes catitas a correrem pelos areais extensos, em missões de salvamento bem catitas. Pelos vistos essa moda catita foi importada duma forma um pouco desenquadrada. Ainda hoje vi em frente à praia da Granja um desses veículos “kitados”, pleno de acessórios e de patrocínios. Não vi por onde ele pudesse entrar no areal. Se entrasse, não poderia circular mais de 200 metros. Nesses 200 metros atropelaria, no mínimo, uma dúzia de banhistas…
Não sei para que serve, mas que era catita, era sim!

E também acho que, mais ou menos indirectamente, estou a pagar para isto!


Nota: Foto retirada do site do ISN

21 agosto 2006

De como a infelicidade suprema afinal é banal

Por isso, vos aconselho a que vos distraiais, convidai cada passageiro a contar a sua história; mas se se encontrar um só que nunca tenha amaldiçoado a sua vida e que nunca tenha dito para si mesmo que era o mais infeliz dos homens, deitem-no ao mar de cabeça para baixo.

In "Candido" de Voltaire.

18 agosto 2006

Correr...

Desta vez acompanhei um pouco os Campeonatos Europeus de Atletismo. E descobri que acho mais belo ver correr do que ver dançar! Porquê? Talvez porque:

Aprendi a correr. Não o correr atabalhoado da fuga, não o correr acometido do predador. O correr sustentado do desacompanhado. Aquele em que cada passo é dado com o fim de haver sempre um passo seguinte. Em que o cansaço se agrava ao descontinuar e em que se recupera ao não parar.

Amava-me ao ver o mundo deslizar pelos dois lados de mim. Ao sentir a minha velocidade como minha. Criada, mantida e gozada. Sob o calor que me destilava e expurgava; sob o vento que me desafiava, sob a chuva risonha que me fecundava.

Amava-me principalmente quando ressuscitava, quando de uma reserva interna de dimensão desconhecida ia descobrir energia nascida só da vontade e de um ânimo incansável.


Já não consigo bem correr mas gosto muito de ver correr!

16 agosto 2006

Os fiéis amigos

Dizem que os cães são os melhores amigos do homem, mas à imagem dos últimos haverá seguramente muitos e variados tipos dos primeiros.

Serão uns fiéis guardadores do território do dono, é verdade, mas é pena que os donos não lhes ensinem que a via pública em frente à casa não faz parte da propriedade a defender. Não me chegam os dedos das mãos e dos pés juntos para contar o número de vezes que fui acossado na via pública por esses sentinelas, especialmente ao correr ou ao andar de bicicleta.

Isto vem a propósito de recentemente ao caminhar pela praia, ter encarado com um canídeo que não achei nada simpático e que ignorei olhando para o mar. Ele também não gostou de mim e ainda não tinham dobrado 3 ondas e já o tinha ladrando e rosnando encostado aos meus calcanhares. Parei e aí levantou-se da toalha a proprietária do dito, uma tia estilo cliente frequente da “Corporación”. Sorriu, chamou pela Lassie e disse-me candidamente o que dizem todos: “Não ligue, ela não faz mal nenhum…!”. Com as narinas da bicha ainda encostadas aos meus tornozelos respondi irritado que não era aceitável ser assim incomodado. Desvaneceu-se o “dermo-estético” sorriso, ficou zangada comigo e por despeito virou a cara para o lado, continuando a chamar pela Lassie que repartia a sua atenção entre os meus pés e a dona que não a encarava.

Lamentei que a cadela não fosse da escala “Space Shuttle” para poder testar na prática a minha teoria. Conhecem aqueles cãezinhos, pequeninos, mimados, rezingões, atrevidos e irritantes? Eu acho que um pontapé bem medido fá-los-ia facilmente entrar em concorrência com o vaivém espacial da NASA.

Enfim… prefiro lobos!

14 agosto 2006

Serra do Soajo

A estrada que vai do Mezio até Lamas de Mouro, pelo Soajo e pela Peneda, é um dos percursos mais deslumbrantes que conheço neste nosso belo país. A mata inicial não é de pinheiros nem de eucaliptos. É variada e densa, como deveriam ser muitas outras.
Ainda há duas semanas a fiz calmamente de moto, completamente deliciado.
Quando ouço falar de uma frente de incêndio desde Adrão até Gavieira, acho que nem quero saber mais nada. Há muito tempo que não me sentia tão incomodado com uma notícia de um incêndio.

13 agosto 2006

Pragas Telefónicas (PT)

Andava a encontrar com alguma frequência o meu telefone fixo com uma luzinha a piscar e indicação de chamada não atendida anónima. Se calhar era alguém que me queira oferecer algo e eu a perder as oportunidades!

Finalmente, sábado, à hora de almoço, lá atendi. Era a Beatriz da PT. Informou-me que a PT estava a procurar baixar os custos das chamadas telefónicas e queria saber quanto é que eu gastava por mês de telefone.

Pensei ser boa ideia a PT baixar o custo do telefone fixo mas perguntarem-me num sábado, à hora de almoço, quanto eu gastava era um absurdo. Deveriam conhecer, até melhor do que eu, o meu volume e perfil e, em função disso, proporem-me a promoção ou o plano tarifário mais interessante!

Despachei a menina com tanta determinação que dei uma valente cabeçada na porta dum armário que tinha deixado aberto ao atender a chamada.

No mesmo dia, umas horas depois ligou-me um “não sei quantos”, não lhe fixei o nome, da PT para me fazer umas perguntas… A minha sorte foi que, desta vez, a porta do armário estava fechada!
Nota: O calor dá nisto...

12 agosto 2006

A Estátua Falida

Cardoso e Cunha faliu. Acho de mau gosto bater no ceguinho ou em quem já está no tapete e também reconheço que ser empresário implica correr riscos, nem sempre corre tudo bem e falhar faz parte das regras do jogo. Do que vi noticiado, dos negócios de Cardoso e Cunha, não se parece tratar de uma grande aposta falhada, mas sim duma série de “aventuras avulsas”. Cito o Público:

"Em Portugal, o ex-ministro desenvolveu interesses nas áreas da agricultura, da pecuária (suinicultura) e do turismo e fez grandes investimentos em unidades industriais em África, nomeadamente na Guiné e em Moçambique (nos sectores das cervejas e do algodão), que correram mal. Na Guiné, os seus investimentos foram objecto de investigações."
Comparar esta falha rotunda com as responsabilidades que lhe foram atribuídas como gestor público dá que pensar. Não teve a estátua supostamente merecida quando saiu da Expo 98 mas o “buraco” teria sido maior ou menor se houvesse alguém com mais jeito do que Cardoso e Cunha à frente do empreendimento?

Também ainda está fresca a sua passagem pela TAP durante o governo de Durão Barroso, em que parece não ter tido outro objectivo para lá de afastar a equipa competente e com provas dadas de Fernando Pinto, para poder implementar o seu estilo de gestão. Não o conseguiu por um pelo e, provavelmente, pela mudança de governo (uma das raras boas decisões do governo de Santana Lopes).

Sem querer tirar conclusões precipitadas ou generalizações abusivas, ficamos a pensar em quanto nos terão custado os comissários políticos que passaram pela TAP, CTT, CP, PT e etc. e etc.

Nota 1: Ainda sobre os CTT, é exemplar a resposta de Carlos Horta e Costa aos gravíssimos indícios tornados públicos : é apenas perseguição pessoal e onde estão os inquéritos às outras grandes empresas públicas?

Nota 2: Ainda sobre desventuras privadas de figuras políticas, ficamos à espera do desenlace previsível para Carlos Melancia.

10 agosto 2006

Virtual x Real

“Virtual” significa susceptível de se exercer ou realizar, potencial ou possível e em oposição ao “real” que existe de verdade, é verdadeiro, efectivo e não imaginário.

Hoje é moda aplicar o adjectivo “virtual” (ainda se diz adjectivo ou já mudou outra vez a terminologia gramatical??) a tudo o que passe por um computador, seja por síntese, seja por simples comunicação, numa generalização abusiva.

Pondo de lado a síntese e a discussão sobre se é correcto ou não chamar virtual ao Rato Mickey, Lara Croft , Roger Rabbit ou aos Simpsons, passemos à comunicação.

Porque é que a comunicação entre pessoas com um computador pelo meio há-de ser virtual? É indiscutível que a comunicação escrita, em qualquer contexto, é sempre diferente da oral e a oral será também diferente conforme seja presencial ou não. Na comunicação oral, junta-se a expressão da voz e na presencial junta-se a linguagem corporal, que é riquíssima.

Não sou especialista no assunto, mas, ao escrever, a maior distância, a dinâmica mais lenta e a menor interactividade tanto podem conduzir a um resultado mais reflectido e ponderado como, pelo contrário, mais tenso e agudizado, conforme o contexto e os intervenientes.

Todos sabemos que a evolução duma crise, de qualquer tipo, pode mudar radicalmente, simplesmente por mudar passar do escrito para o presencial ou vice-versa. Mas isto não tem nada a ver com computadores. Qual a diferença entre uma mensagem escrita a tinta permanente enviada em papel por correio tradicional e uma mensagem enviada por correio electrónico? A segunda é mais rápida, proporciona maior interactividade, e, por isso, estará até mais próxima da comunicação oral não presencial. Não vejo nenhuma razão para chamar à primeira real e à segunda virtual.

O que me parece realmente bem virtual é a solidariedade electrónica. Quando chega uma mensagem desesperada à procura de um tipo de sangue ou de medula, ela é muito solidariamente reenviada para todos os contactos. Seria interessnte conhecer a percentagem de elementos dessas fantásticas cadeias solidárias que realmente se deslocam a um banco de sangue ou de medula.
Nota: Este texto saiu menos objectivo e incisivo do que eu quereria. A culpa deve ser do calor…

05 agosto 2006

O homem é um animal de hábitos

O homem é um animal de hábitos. E eu luto contra os hábitos, troco as voltas ao querer e a todo o desejo a nascer. Não é bem ao nascer, é depois antes de crescer. As árvores enquanto jovens são mais fáceis de arrancar. Entretenho-me assim, a ver coisas a criar e a, atento, remover antes do fruto vingar.

Neste mato conturbado de futuros abortados, de esperanças enfiladas, alguma será a última. Não, não me consigo habituar a ganhar o hábito de habitualmente querer uma coisa repetir.

Então parto, tenho o vício de quebrar, tenho a lonjura de esboçar novo nada de além-amar. E nenhum vício, nenhum hábito me deixará ficar a gostar de tranquilamente me deitar e de esperançosamente me enterrar.

02 agosto 2006

" A Ponte"



Pontes há muitas e tantas delas cheias de significado e de histórias.
Só no Portus-Cale já lá estão uma meia dúzia delas.
No entanto, para mim, e para muitos outros creio eu, e não me perguntem porquê, esta é:
“A Ponte”!


Nota: A “agitaçom” não foi da “emuçom”. Foi da “ondulaçom” da “embarcaçom”!