30 outubro 2012

Armstrong

Gosto de bicicletas. Não sou nenhum especialista nem grande praticante, sobretudo actualmente, mas acho que consigo sentir o que é pedalar. Por isso, é com um olhar algo especial que vejo aquele esforço terrível do ciclismo profissional. 

Lance Armstrong foi condenado por dopagem. As suas 7 Voltas à França nada valem, se calhar nada valeram e há a questão de “e os outros?”. Será que em todo o pelotão haverá/haveria alguém mesmo, mesmo limpo? Mas não é essa a minha reflexão principal de hoje. 

Quem investigou e levou o assunto até ao fim foi a USAD – a agência americana anti-dopagem. Depois do seu relatório arrasador a UCI (União Ciclista Internacional) não teve outra opção que não fosse confirmar a aplicar as sanções máximas possíveis. Pensemos na Europa: França ou Espanha. Em Portugal não directamente porque não temos uma vedeta ciclista com a mesma dimensão, mas podemos fazer um esforço. Alguém está a ver uma agência nacional destes países a levar um assunto destes até ao fim e a destruir o seu herói nacional? Não, não estou a ver. Não sei se iriam a ponto de encobrir, mas que seguramente não teriam uma grande diligência no assunto, disso tenho a certeza. Se fosse em Portugal a prescrição era mais do que certa! 

Apesar dos seus excessos e particularidades, no que toca a justiça, aplicação cega da legislação, os Estados Unidos estão realmente à frente. E o desenvolvimento depende também e muito disso.

24 outubro 2012

A equação impossível

Vamos supor que o Estado até consegue no dia-a-dia equilibrar receitas com despesas. Teríamos o problema do défice resolvido? Não, longe disso, e por três razões. É preciso reembolsar os desvarios e desperdícios de muitos anos de gastar à toa e não é fácil. É preciso pagar juros da dívida e quando as taxas de juro são superiores à riqueza gerada pela dívida contraída, como parece ser o caso, é uma espiral de endividamento. Precisamos ainda de investir em algo para termos mais riqueza amanhã e aqui pior do que o problema da disponibilidade de fundos é a incapacidade dos nossos governantes passados, actuais e potenciais futuros definirem e aplicarem investimento público realmente produtivo. Se a solução não gastar à toa, como no passado, continuar simplesmente a aumentar impostos e a sacar às vítimas mais acessíveis, esperando que um dia a equação feche, é no mínimo irrealista.

18 outubro 2012

Uma nova era

De uma forma geral a Europa não possui recursos naturais significativos. O nível de vida na Europa, desproporcionado face a outros países intrinsecamente mais ricos, foi e é baseado em “saber mais e fazer melhor do que os outros”. Se às vezes sem grande preocupação quanto a padrões éticos, como, por exemplo, na exploração dos recursos minerais africanos ou nos grandes negócios de aviões, fragatas e outras coisas gordas, na maior parte das vezes a vantagem veio mesmo da genuína capacidade de inovar e de valorizar a criatividade. Parece-me, no entanto, estarmos a chegar a um ponto de exaustão nessa “liderança”. O porquê é uma longa história bastante condicionada pelo império do meio, mas agora falo apenas da evidência e sem sequer referir o caso de Portugal que vai de mão estendida a Angola.

Uma grande parte da riqueza mundial nasce no subsolo nos países naturalmente ricos, com largo destaque para petróleo e afins e ia-se lá recuperar algo do que se lhes pagava pelo ouro negro vendendo produtos sofisticados, luxos e às vezes apenas imagem a preço de ouro amarelo. Apareceram entretanto alguns magnatas do ouro preto que não se limitam a passar grossos cheques, são mais finos e têm uma visão empreendedora. O exemplo mais recentemente e de eficácia notável tem sido o Qatar. Para quem não sabe é de referir que muito do que a rua árabe diz e grita é a Al-Jazira que o dita. Deixemos de lado outros sucessos do Qatar e voltemos ao tema.

Ainda no tempo de Sarkosy o Qatar ofereceu à França uns milhões para investir nos subúrbios desfavorecidos das cidades francesas. A campanha e as eleições suspenderam o tema mas agora parece regressar na figura da “parceria” entre estados. Que França venda as suas jóias da coroa económicas (até mesmo parte da indústria de defesa) ou um símbolo desportivo como o PSG não deixa de ser apenas uma venda. Agora, que precise do Qatar para melhorar as condições de venda das suas populações mais desfavorecidas, é incrível como cenário e assustador como potencial consequência! Virá aí mais uma espécie de primavera, desta vez na margem norte do Mediterrâneo? Se conseguem, não sei, mas que alguém gostaria de o tentar fazer, disso não tenho a mais pequena dúvida.

05 outubro 2012

Falta de imaginação e o “I” mais à mão

Depois da mui sapiente e imaginativa proposta de transferência da TSU, a recente comunicação de Vitor Gaspar foi de uma falta de ideias atroz. E é importante chamar as coisas pelo nome: não foi anunciado um programa de austeridade, porque não há real redução de despesa estrutural do estado. Um governo sem ideias e sem coragem continua a sacar onde é mais fácil, sacar a funcionários, pensionistas e contribuintes e vamos ao “I” mais à mão: neste caso ao IRS.

Se a consolidação orçamental é necessária e isso exige sacrifício, tem que haver limites. Quando acaba o saque? Quando formos todos “ricos” e a taxa média do IRS chegar aos 80%? Recuperar os roubos ao contribuinte – e realço a palavra roubo – com BPN’s e PPP’s fica pela declaração de intenções. Taxar as transacções financeiras pode ser possível. Sobre o fundamental que é o corte sério nos gastos supérfluos do Estado, irão reflectir. Espero que pensem e implementem com sucesso antes do contribuinte honesto ficar em pele e osso. Pelo exemplo recente das fundações, as expectativas são baixas. Dizem apenas que vamos pagar mais, muito mais, sem detalharem, quanto, quando e como. É como se o Governo fosse dono e senhor do nosso livro de cheques, previamente assinado em branco.

Se calhar, no fundo, o problema não é falta de imaginação é mesmo falta de capacidade. Se pensarmos no curriculum destes profissionais da política não é de estranhar. Precisamos mesmo de quem saiba governar, mas esses não estão nos partidos que é de onde saem ministros e secretários de Estados.

01 outubro 2012

Recado a António Borges

Para ler e repetir o que está escrito num livro não é preciso muito. Interpretar essa leitura correctamente num contexto específico já pede algo mais. A seguir, definir um plano de acção concreto, é mais um passo. Depois de definir o plano é necessário arrancar com ele e, nem sempre evidente, levá-lo até ao fim. Chegar ao fim com sucesso, é ainda outro desafio. Por isso, quem se limita a repetir livros, por muitos e bons que sejam todos eles, está muito longe de quem planeia e concretiza algo com êxito. António Borges não o deveria ignorar e a sua despropositada e infeliz tirada desprestigiou muitíssimo o seu curso.