29 dezembro 2009

Quando eu for grande...


Dentro das redacções típicas que se faziam na primária como o relatório das últimas férias ou do passeio anual, havia aquela do “O que eu quero ser quando for grande”. Podia existir mais ou menos motivação e inspiração para fazer correr a pena sobre a matéria, mas quanto à imaginação essa não tinha dificuldade em divagar sobre o assunto.

Umas décadas passadas continuo com alguma frequência a falar do que quero fazer ou ser “quando for grande”, face ao espanto ou condescendência dos que acham que a utilização dessa expressão por mim terá o prazo de validade já largamente ultrapassado.

À entrada de mais um ano, que em concreto não quer dizer muito mais do que mais um “plim” de contagem de ciclo, que se continue então a divagar sobre o que se há-de ser e fazer quando se for grande, sem deixar, é claro, de realizar algo próprio de quem já é grande. Complicado?

16 dezembro 2009

Carta a quem ainda não vota nem tem sindicato

A todos aqueles que não têm idade para votar nem muito menos para serem sindicalizados quero dizer que quando chegarem a essa altura vocês estarão tramados. Isto porque nós que votamos e temos sindicatos e essas coisas todas andamos alegremente a gastar mais do que ganhamos, pedindo emprestado por conta, conta essa que vos irá chegar um dia mais tarde. É um pouco como a orquestra continuar a tocar enquanto o Titanic se afundava, mas para pior. Se a música não contribuiu para o acidente nem os músicos poderiam ter evitado o naufrágio, aqui está tudo nas nossas mãos.

Dizem por aí que o “défice não é prioritário”. Pode estar bem quando eu me endivido para investir em algo que gera riqueza e essa riqueza reembolsa o empréstimo. Não posso é endividar-me para continuar a ir ao restaurante, quando na carteira não houver dinheiro suficiente. Ou melhor, não devo, porque esse gasto não devolve nada, só atira o problema para frente e somado de juros. Mas a situação actual é ainda pior! Quando alguém se afunda em dívidas, em geral, é o próprio a resolver o problema. Nós somos mais finos. Continuamos a frequentar o restaurante e o problema vai sobrar para vocês!

Por isso, quando ouvirem alguém dizer que não aceita limitações nas promoções nem redução nos direitos adquiridos, quando ouvirem os autarcas queixarem-se das limitações ao seu endividamento, que não os deixa fazer mais rotundas com ou sem a respectiva fonte cibernética, quando ouvirem um ministro dizer que “resolveu um problema” sacando do livro de cheques público, nessas alturas lembrem-se de que isso tem tudo a ver com lutar para não deixar de ir ao restaurante.

Nesta fase nem acrescento o dinheiro mal gasto por incompetência, o gastar a “dar” seguido do gastar a publicitar a “dádiva”, nem as outras coisas de tribunal que também não ajudam nada. Refiro apenas os exemplos do “para já é gastar sem cortar e logo se verá”.

Eu sei que é um fardo demasiado grande pedir-vos para serem assim polícias e críticos de quem tem idade para ter juízo, ainda por cima quando vocês nem sequer têm peso eleitoral, mas não vejo mais a quem recorrer. Desejo-vos boa sorte.

02 dezembro 2009

Minaretes no horizonte

A decisão Suiça de proibir os minaretes é, no mínimo, polémica. Não será de forma nenhuma útil ou positiva como medida para conter ou limitar a expansão do radicalismo islâmico, antes pelo contrário. Penso, no entanto, que uma boa parte dos suíços que votaram contra os minaretes não estão alinhados com a extrema-direita xenófoba, básica e bronca que promoveu o referendo. É muito perigoso simplificar dessa forma e deixar essa gente capitalizar este resultado.

Em primeiro lugar não se trata de uma limitação à prática religiosa, é uma limitação arquitectónica. Se numa aldeia histórica preservada são proibidas as caixilharias de alumínio, não terão os suíços direito a “protegerem a sua paisagem” contra elementos que considerem estranhos à sua cultura?

Por outro lado, e deixando de lado os radicalismos islâmicos e xenófobos, há a ter em conta o problema real da “intrusão”. Muitos muçulmanos não se limitam a professar a sua crença individualmente. Procuram moldar o mundo exterior e impor as suas regras, muito diferentes dos padrões sociais ocidentais actuais. Recentemente vi uma notícia de nos EUA um bar ter tido problemas por estar a uma distância de uma mesquita inferior à “regulamentar”. Fortemente aconselhado a deixar de servir bebidas alcoólicas acabou por colocar cortinas opacas nas janelas....

Ao abordar a questão da abertura e das limitações nas práticas religiosas no mundo, porque não trazer amplitude e maturidade para o fórum? Em muitos países que se indignam com esta limitação, realmente, os campanários não estão proibidos, são os próprios alicerces das igrejas e outros templos que não se fazem. Celebrar o Natal, mesmo em privado, pode ser crime. Porque não serenamente e sem afrontamentos trazer a palavra “reciprocidade” para o palco? Seria seguramente mais inteligente, mais justo e mais eficaz do que deixar correr o jogo dos radicais.

Em resumo, não aplaudo a medida mas de uma coisa estou certo: não gostaria nada, mas mesmo nada, de num fim de tarde de verão me ver impedido de beber uma cerveja numa bela esplanada em frente ao mar por ter sido construída uma mesquita ali ao lado na esquina.