26 dezembro 2010

Notas de Dezembro

1. Wikileaks
Formalmente, um grande desastre. Na prática nada de imprevisível ou de surpreendente. Até agora apenas o escrito e a evidência do que era mais do que provável. No final os EUA até nem ficam muito mal. Não há notícias nem evidências de grandes conspirações ou corrupções. Fico à espera que um dia saiam os wl da Rússia ou da China. Presumo que muito mais interessantes e fatalmente mais perigosos para os divulgadores.
2. Contas pública portuguesas
Afinal o défice baixou algo em Novembro, não por a despesa ter reduzido mas por a receita (impostos) ter aumentado. Mesmo com com tanta pressão o Estado continua a gastar mais. Se acrescentarmos as inúmeras situações em que, em vez de realmente se reduzir, apenas se suspendem pagamentos, empurrando para a frente com a barriga, poderemos esperar um 2011 muito mau. Estamos a caminho de ver os nossos governantes proibidos de assinarem cheques; i.e. serem os alemães ou o FMI a tomarem conta das contas. Não é bonito, mas não parece haver alternativa no panorama actual.
3. A responsabilidade e a autonomia
Se dúvidas existissem sobre o conceito de autonomia e de utilização dos dinheiros públicos, o caso dos Açores esclarecem-nas cabalmente. Não vou entrar em considerações sobre se é justo, constitucional ou imoral. Apenas pasmar como é possível dizer que pagar aquela remuneração extra, não afecta o défice nem o orçamento. O dinheiro já cá estava para gastar e é só dar outro destino. Exemplar definição do conceito de gestão destes gestores públicos, adoram ter autonomia para gastar como bem entenderem. Quando falta, “ai Jesus!” que é um atentado à nossa soberania !
4. Os dividendos antecipados
Algumas empresas, anteciparam o pagamento de dividendos de 2011 para 2010 para os seus accionistas serem menos penalizados fiscalmente. Pode não ser ilegal mas é absolutamente imoral. Se a minha empresa propusesse antecipar uma parte da minha remuneração de 2011 para 2010, será que o fisco veria isso de forma resignada? Por uma vez dá-se razão a Jerónimo de Sousa, o que é bastante raro.

14 dezembro 2010

Não morri



Não morri e o "difuso" na foto não é problema de focagem nem de sujidade. É neve.
Apesar dos -14º C a máquina continuou a funcionar bem.

Da cidade onde nasceu a tradição do pinheiro de Natal (pode sempre sair no "Quem quer ser milionário").

26 novembro 2010

Oportunismo ?

Ontem, 25 de Novembro, assisti à primeira sessão da segunda série dos “Encontros com a Ciência”, organizados pela Universidade do Porto, sob o tema “Sociedade e Valores”, com dois eminentes convidados, Dom José Policarpo e António Barreto.

O cardeal-patriarca fez uma comunicação brilhante e incisiva, que não quero nem consigo resumir. Um dos pontos referidos foi a relação/interdependência/ identificação do individuo com a comunidade através dos valores, e, por muito que se diga e conteste, a Igreja tem uma marca fortíssima nesse capítulo.

No período das interpelações resolvi questioná-lo sobre a forma como a igreja encarava e assumia a influência dos seus valores, sob a comunidade em geral, não crente. Apontei concretamente o Natal aí a chegar, que constitui uma marca social fortíssima, e como a Igreja via e assumia essa universalidade versus aquelas posturas de restringir o Natal à sua componente religiosa básica e criticar todas visões mais abertas do acontecimento. Como introdução referi que eu próprio me definia simplesmente como agnóstico até ter uma experiência de vida noutra cultura, após a qual me passei a considerar agnóstico de matriz cultural cristã.

O microfone funcionava mal e o cardeal também não estava a ouvir muito bem. Não me pediu para repetir o que tinha perguntado. Apenas pegou no “agnóstico de matriz cultural cristã” para dizer que:
  • Eu era um dos muitos que sem esforço e sem compromisso se aproveitavam do trabalho de poucos
  • Se eu sabia o que era ser agnóstico que, ao contrário do ateu que nega, não se manifesta declaradamente num sentido ou noutro e ...
  • Com o tempo o agnóstico, indeciso, tende a “cair” para um lado ou para outro
De facto, não respondeu directamente à questão colocada, mas acabei por ter a resposta de forma indirecta. Curiosamente surpreendeu-me o seu esforço de considerar um agnóstico um “ser menor”, incompleto, indefinido. Como se um crente aceitasse mais facilmente um “crente negativo” e lidasse mal com quem não ache importante tomar partido. Nunca tive grande simpatia por aquelas posturas anarco-carbonárias-sindicalistas que rosnam às sotainas mas ontem mudei um pouco essa leitura. Creio que Jesus Cristo tal como foi descrito veria as coisas doutra forma.

25 novembro 2010

Redundâncias

Um evento recente, Congresso das Comunicações, contou com a distinta presença dos respectivos secretário de estado na abertura e ministro no encerramento. O curioso é que das 23 páginas do discurso inicial o ministro repetiu 18. Inquirido sobre o assunto, declarou achar normal, só provava a existência de alinhamento e sintonia dentro do ministério. A mim, a palavra que me ocorre não é bem sintonia, é mais redundância. Se um deles não tivesse participado não se perderia muito, Aliás quando olho para alguns ministros actuais sou assaltado pelo mesmo sentimento: se aquele/ se aquela não existisse naquela função, notar-se-ia muito a sua falta?

Recentemente tive a oportunidade de ouvir ao vivo um discurso de um secretário de estado e pela postura, pela mensagem, pela forma e pelo conteúdo, não consegui pensar noutra coisa que não fosse: este indivíduo é supérfluo !

Em conclusão, penso que podemos dispensar uma boa parte dos ministros e secretários de estado e não se notaria muito a sua falta. Se as contas públicas melhorariam com isso, já não estou tão seguro. Os ministros dispensados passariam a administradores de empresas públicas e até a ganhar mais; os secretários de estado passariam a assessores de qualquer coisa, como aquele jovem ex- funcionário do PS de Lisboa que ao mesmo tempo que vigarizava o Instituto de Emprego, tinha um belo vencimento, 3000 e tal euros, como assessor de uma vereadora da Câmara de Lisboa que assegura tratar-se de um cargo de confiança política ! Por coincidência, ou não, é a mesma autarquia que ainda não parece saber ao certo o tamanho do seu buraco financeiro, nem como fazer para o controlar e sanear...

17 novembro 2010

Os Outonos do nosso descontentamento

Acto 1 – Outono de 2008. Por irresponsabilidade na gestão corrente da sua actividade, uma grande parte da banca europeia e ocidental ameaça entrar em colapso. É grave. Não pode acontecer. Seria catastrófico para toda a economia e os governos lá saem em socorro com empréstimos, garantias e até mesmo nacionalizações para tapar buracos. Nota: Em Portugal é diferente. A banca portuguesa é bastante mais conservadora e os BPN e BPP são simplesmente complexos casos de polícia. Aliás, ainda não entendi porque os depositantes de um foram protegidos e os do outro não.

Acto 2 – Outono de 2009 – A crise bancária/financeira, respectiva confusão e incerteza contaminam toda a actividade económica. Os governos, fortes do sucesso da sua missão anterior de salvamento da banca, acham que a solução passa por eles, chamando investir a tudo o que seja gastar e, pior, gastando o que não têm.

Acto 3 – Outono de 2010 – Na ressaca da overdose de “investimento” e com o alarme disparado por uma Grécia especialmente indisciplinada e de contas assaz opacas, os governos descobrem que há limites para o endividamento. Os “mercados” geridos pelos mesmos génios que provocaram a crise de 2008 aproveitam o mole da Grécia e começam a apalpar e a carregar aqui e acolá, com sucesso. A imagem actual é a de um predador correndo atrás de um rebanho em fuga, agarrando-os um a um, começando pelos mais fracos. Os mesmos governos que há dois anos eram os salvadores e há um ano acreditavam ter ascendência sobre as finanças mundiais, passaram humildemente a simples coelhos assustados, em fuga.

Este histórico parece-me uma farsa com uma enorme ignorância, ou distracção ou incompetência dos governos. Não é possível nacionalizar esse capital que anda por aí à espera de e criando as melhores oportunidades, mas a Europa no seu todo deveria ter força e coesão suficiente para não se limitar ao salve-se quem puder. Faz sentido que eu pague menos juros pelo empréstimo da minha casa do que o governo português paga pela sua divida soberana!?

O FMI foi criado para estabilizar, emprestando a países em dificuldades, mas mais importante do que o valor emprestado, é ficarem com o controlo do livro de cheques público e assim credibilizaram o cliente para os outros credores. Tipicamente para economias muito frágeis, mal geridas, em resumo, para um terceiro-mundo formal ou informal. Que vem este FMI fazer a um país europeu integrado no euro: tomar conta do livro de cheques? É preciso chamar o lobo mau para se gastar apenas o que se pode ?!

A Europa parece ignorar que pode ter política monetária. O Euro descer não é necessariamente mau, se calhar deve mesmo descer e a sério para permitir uma rectificação rápida e sã. Os EUA não têm a mínima dúvida nem hesitação quanto a esse cenário quando se trata da sua moeda. Tentar aguentar o insustentável nunca dá bom resultado. As presas que correm mais lá à frente estão preocupadas apenas em acalmar a fera, entregando-lhe os mais fracos. Esquecem-se de que por definição, enquanto tiver força, este predador nunca se sacia. Como pequena anedota, muita gente que invectiva veementemente os mercados financeiros na praça pública parece ignorar que são os seus PPR’s que estão lá a dar músculo ao animal maldito.

15 novembro 2010

E não se pode isolá-los mesmo ?

Ainda não começou o evento e também ainda não temos completa a lista dos custos, complicações e incomodidades gerados pela próxima cimeira da Nato em Lisboa,.

Para lá dos custos directos como o do enorme aparelho de segurança montado, não serão menores os indirectos devidos às restrições no aeroportos, na circulação em Lisboa e até mesmo da tolerância de ponto, que é mesmo aquilo de que precisamos no momento actual do país. Vamos ainda esperar para ver que confusões e estragos as manifestações tradicionais irão provocar.

Questão: se a segurança dessas pessoas é mesmo crítica, a ponto de elas terem que andar escondidos e afastados de toda a gente, qual o sentido de realizar uma cimeira no centro de uma grande cidade, gerando tantos constrangimentos ? Ou será que é assim tão importante e valorizador que B. Obama tenha passado por Lisboa ? Porque não realizar o encontro num local mais pequeno e mais controlável, como uma base militar ou até mesmo uma ilha ? Eu sei que nas Lages houve uma vez uma de má memória, mas acho que estaríamos todos muito melhor se mantivessem essa opção (até porque para uma organização que se nomeia do Atlântico Norte, não há melhor localização possível).

11 novembro 2010

Privatizar pode não ser bom

No afã de discutir princípios, por vezes esquecemo-nos que a diferença entre o certo e o errado pode estar não no princípio em si mas na respectiva aplicação. Agora discute-se a possível privatização de algumas linhas da CP e lá temos as previsíveis e infinitas opiniões e argumentações. Como referência, o Reino Unido deve ter praticamente toda e rede privatizada e parece ser uma experiência positiva, apesar de alguns problemas inicias.

Privatizar uma fábrica de cervejas não exige precauções especiais. É só vender os activos, de preferência bem vendidos, e o mercado se encarregará do resto. Privatizar ou concessionar um serviço que não é possível, ou socialmente justo, ser regulado pelo mercado livre obriga a contratos bem feitos e bem acompanhados. Exige competência e seriedade.

Não será necessariamente o caso de algumas das nossas PPP’s (parcerias – público – privadas) em com a tinta do contrato ainda fresca e o investimento inicial sem sequer arrancar, já estão a serem renegociadas em beneficio de quem ganhou o “concurso”. Veja-se os casos recentes das estradas.
Uma coisa é certa. Privatizar pode não ser bom para um sucateiro que pede a um ministro que substitua o presidente da empresa pública que o anda a incomodar, ministro esse que, ao que parece, até passa o recado à secretária de estado da tutela.

06 novembro 2010

O pior verbo

Não gosto de superlativos. Nunca sabemos o suficiente para poder afirmar que algo é o melhor ou o pior absoluto. Mesmo dentro de um universo restrito, o factor tempo pode facilmente pôr em causa os máximos e os mínimos.

Costumo dizer que “tudo”, “nada”, “sempre” e “nunca” são palavras a usar com muita parcimónia e, a bem do rigor, a tentar evitar de todo.

Um destes dias passou-me à frente um verbo a que me apeteceu chamar-lhe “o pior” de todos : o verbo safar!

Safar é apagar algo realizado, é livrar-se de algum problema ou ameaça, mas às escondidas, pela calada, jogando na distracção dos demais. Na sua criativa e expressiva particularização da língua os brasileiros não hesitaram em chamar safado e safadeza ao malandro e à malandreza impune e esquiva .

Os erros devem ser assumidos e corrigidos; os problemas devem ser enfrentados e resolvidos. Safar, não gosto...!

28 outubro 2010

Aviões, politicas e crocodilos

No passado os aviões eram variados. Asa alta ou asa baixa; motores sob as asas, na cauda ou até mesmo inseridos na fuselagem; 2 motores, 3 ou 4; lemes da cauda em cruz ou em “T”, etc. Hoje, fruto do amadurecimento do seu desenvolvimento e respectiva optimização, são praticamente todos iguais. Entre um Airbus e um Boeing do mesmo segmento a diferença mais assinalável que encontro é no recorte da janela do cockpit.

Com os governos no nosso ocidental mundo estamos parecidos. No fundo, a politica é a mesma. Aliás, qualquer alternativa que proponha alterar radicalmente o nosso modelo de governo e de sociedade não passa. O poder fica unicamente entre os partidos que seguem o modelo consagrado. Sendo as máquinas idênticas, a diferença fica apenas na tripulação: em competência, seriedade e até, ou por vezes mesmo somente, em imagem.

Com todas as facilidades do modo habitual de piloto automático, nem é preciso pedir muita competência. Apenas quando se entra em zona de turbulência e com algum disfuncionamento na máquina, é que é necessário saber mesmo pilotar, é aí a coisa pode complicar-se. A imagem não chega.

Tudo isto para dizer que o desacordo sobre o orçamento entre o PS e o PSD não é, nem pode ter sido, por questões “Políticas” com “P” maiúsculo. Foi por politiquice e cálculo táctico, em função das próximas eleições. Penso que alguém anda a brincar e com coisas demasiado sérias.

No passado dia 25/8 despenhou-se um avião na RD do Congo, pouco antes de aterrar, matando 19 pessoas. Inicialmente parecia tratar-se de falta de combustível, mas posteriormente fez-se luz. Havia um clandestino a bordo. Um passageiro trazia dentro de um saco um crocodilo vivo. Pouco antes da aterragem, o animal libertou-se gerando o pânico, com toda a gente a procurar refúgio no cockpit. Na confusão e com o avião desequilibrado, este despenhou-se matando quase toda a gente. Após a queda apenas sobreviveram dois humanos. Mais resistente foi a outra espécie que teve uma taxa de sobrevivência de 100%. Não é por acaso que eles andam por aí há tanto tempo. São uns sobreviventes natos.

17 outubro 2010

Não pode, não pode e não pode!

Em geral e em particular neste momento da vida do país, mais do que números e acções, o fundamental são os princípios. E, neste campo, o recente caso do PS Coimbra é assustador. Diz Vitor Batista que o chefe de gabinete do secretário-geral do PS lhe ofereceu um lugar no conselho de administração da Refer, Metro ou CP, em troca da desistência da sua candidatura à presidência da Federação do PS de Coimbra.

O Primeiro-Ministro e secretário-geral do PS diz que não comenta questões internas das federações e que aconselha todos os militantes do PS a saberem ganhar e a saberem perder. Senhor Primeiro-Ministro, não é assim tão simples: não se trata de um assunto interno de federações. O cenário de o seu partido pôr e dispor dos conselhos de administração das empresas públicas em função dos seus interesses internos, é gravíssimo. Ou é verdade e alguém tem que ir preso, ou é mentira e quem o afirma tem que ser penalizado. Não pode ficar em branco.

Eu, e muitos mais creio, não aceitamos que um cêntimo dos nosso impostos, que por sinal até estão a aumentar, sirvam para estes fretes. Se o PS se quer mostrar sério tem que limpar a casa. Porque se não o fizer por iniciativa própria, corre o risco de alguém entrar à força e fazer uma limpeza pela porta ou até mesmo pela janela. E isso é grave !

12 outubro 2010

Grande Máquina!

Ao avaliar a configuração possível para um novo PC da família apareceu uma opção nova a considerar. “Disco” em memória estática. Custa mais, é claro, mas tem como vantagens, entre outras, menor consumo e maior fiabilidade..! Por principio, sendo estático, terá que ser realmente mais fiável do que o tradicional disco mecânico em que temos as cabeças a deslizarem a um pêlo de distancia dos suportes em rotação. No princípio sim, mas qual a fiabilidade efectiva dos discos rígidos? A mim, lidando com eles há vários anos, principalmente em portáteis, nunca nenhum me deixou ficar mal. Os dedos de uma mão chegam-me para os casos próximos que conheci em que um dito cujo asneou. Mesmo incluindo os infelizes e tresmalhados discos externos que por aí andam aos tombos. De facto, até nos criam um sentimento de segurança perigoso que relaxa o hábito de fazer cópias de segurança regularmente, E, só para assustar, se “ele” agora avariasse e perdendo-se irreversivelmente os nossos dados que lá estão?

Pensando no trabalho verdadeiramente esforçado e abnegado que eles realizam, horas e horas a fio, a rodar nas 6 – 7 mil rotações por minuto com as cabeças a saltitarem precisas em fracções de milímetro, pensando na quantidade de informação que anda ali para trás e para a frente, subir e a descer, pensando no espantoso aumento de capacidade e de performance ... e na fiabilidade... enfim, só há uma coisa a dizer: são máquinas fantásticas.

No youtube encontrei o filme aqui apontado. Quem não sabe pode ficar com uma ideia do que acontece lá dentro quando a luzinha irrequieta acende e apaga e de como esta máquina infernal trabalha !

09 outubro 2010

Acabou a Paz na China

A atribuição de um Prémio Nobel e em especial o da Paz tem várias dimensões. Uma será premiar uma personalidade pelo trabalho realizado em promoção da paz, outra, dado o seu prestigio, é o que a atribuição em si pode fazer pela paz.

O ano passado foi um exagero. Premiou-se uma pessoa unicamente porque que se pensava que ela iria promover a paz, ficando assim com o prémio condicionada e mais comprometida. Na minha opinião a escolha de Obama foi um erro, não se premeia o futuro com um cheque em branco.

Neste ano, a sensação é de que foi na mouche! A China é uma grande potência económica e acha que tem direito a ocupar um lugar correspondente à sua dimensão no concerto das nações. Por outras palavras, quer ir nadar para a piscina dos grandes. Pode ter o direito de o exigir, só que essa exigência implica abrengência, ou joga o jogo completo ou não pode ser. Não pode pretender um lugar permanente no conselho de segurança da ONU e, ao mesmo tempo, considerar que a declaração universal dos direitos do homem é um regionalismo ocidental que não se aplica à sua cultura. Não pode ameaçar com retaliações a Noruega pelo seu comité Nobel ter distinguido alguém que para eles é um “criminoso”, quando criminoso é fazer essas ameaças.

Este prémio foi um soco no estômago brutal que coloca a China numa encruzilhada tremenda. Ou não muda e perde autoridade moral para ser Grande com maiúscula, ou muda, mas aí, ao mudar o seu sistema, está a mudar os alicerces que lhe permitiram crescer até onde chegou. Grande imbróglio!

08 outubro 2010

Um 5 de Outubro diferente

Esta última comemoração do 5 de Outubro foi declaradamente diferente do habitual e não apenas pelo número redondo do centenário. Até há pouco tempo o 5 de Outubro era um feriado quase a cair na banalidade, como tantos outros, sendo que as suas comemorações até levantavam um certo cheiro a bolor. A República, já na sua terceira fase, era um conceito consolidado, sendo claro que havendo percurso a fazer, nunca estaria em causa recuar ao pré-1910.

Ser monárquico há 20 anos era coisa rara. Era ser ou muito chique ou muito exótico, porque dificilmente uma abordagem racional consegue justificar uma casta hereditária, que a história até provou ser necessário de tempos a tempos enxertar com novo ADN e nem sempre da forma mais elegante. Parece que agora temos mais gente chique e mais gente exótica.

Estamos em crise, é verdade, mas, pelo menos mediaticamente, se nos últimos 20 anos não temos uma crise crónica, pouco menos. O que muda agora? Uma crise mais intensa? Penso não ser isso o fundamental. O fundamental é a falta de seriedade que torna mais difícil suportar a dita crise. Falta de seriedade no governo, na oposição, nos sindicatos e na comunicação social. É exasperante!

É necessário cortar despesa pública e esse corte, mais do que cego como agora se anuncia, deveria ser selectivo. O problema principal não está em 3,5% ou 10% para toda a gente. O problema está nas estruturas redundantes em que se pode reduzir 50%. Mas, reconheço que será muito difícil que um polvo consiga arrancar a si próprio metade dos seus tentáculos... A solução é matar o polvo por inteiro? Perigoso !

É sempre assustador encontrar semelhanças negativas com o passado distante, mas sejamos objectivos. Em 1910 houve uma ruptura da qual se tiram dois elementos fundamentais: no fundo um novo regime socialmente mais justo, aberto ao desenvolvimento e liberto do anacronismo da dinastia real, por sinal decadente; na prática dos primeiros tempos uma governação catastrófica e irrealista, assim como se o Bloco de Esquerda tivesse hoje maioria absoluta (refira-se que neste capítulo a Revolução Francesa também não foi melhor).

Actualmente não vejo nenhuma possibilidade de ruptura de regime positiva. Não quero pagar uma família real decorativa e também não ficamos a ganhar nada se tivermos um Bloco de Esquerda ou um de Direita a “inventar” uma nova política autoritária e iluminada por lâmpadas fundidas.

28 setembro 2010

Descubra as diferenças


Em ambas as imagens desfilam os participantes nas conversações de paz para o Médio Oriente que decorrem nos EUA.

Na fotografia de cima, atrás de Barack Obama, o anfitrião, vêm Benjamin Netanyahou, Mahmoud Abbas, o Rei Abdallah II da Jordânia e, arrastando-se lá atrás à esquerda, o presidente egípcio Hosni Moubarak. Aliás as especulações sobre o seu estado de saúde colocam-na na ordem do dia uma grande polémica sobre a sua sucessão. Sucessão no sentido literal e dinástico da palavra em que se procura que seja o seu filho Gamal o herdeiro.

A segunda imagem foi publica num jornal Egípcio onde se vê Moubarak em grande forma a marcar o ritmo à frente do próprio Obama. Motivo para orgulho, naturalmente.
Imagem extraída do “Le Jeune Afrique”

27 setembro 2010

O que aí vem.. ?!


Todos concordamos que com a deterioração da situação económica, poderá existir uma degradação das condições de seguranças e outras complicações. Agora, nunca imaginei que existissem riscos potenciais que justifiquem a produção do papelzinho que me caiu à porta e do qual reproduzo acima um extracto. Ter uma reserva de água em casa parece-me razoável. Agora uma mochila para cada membro da família para dois ou três dias de autonomia e guardadas no fresco até serem necessárias ?!?

Este pessoal não terá ficado excessivamente impressionado e até mesmo avariado depois de ver a “Guerra dos Mundos”? Ou os mísseis do Irão já têm alcance suficiente para chegar aqui ao nosso jardim ?

Ou será uma forma de relativizar a crise, como quem diz: “Não julguem que isto está assim tão mau porque pode piorar muito mais! Quando tiverem que sair das vossas casas a palmilhar, à procura de abrigo, com a mochila às costas, vão sentir saudades dos tempos actuais...”

Se calhar é uma solução para a crise. Manda-se o pessoal de mochila às costas para França, o Sarkosy tenta chutar para a Roménia e o nosso governo magnânimo, humanista e solidário mostra-se disposto a recolher-nos. Fica toda a gente bem na fotografia e cá entram uns euritos. Pelos menos pode ser que dêem para pagar a criação, a produção e a distribuição de tão estranho panfleto.

25 setembro 2010

Existe um comandante a bordo ?

Não será apenas em Portugal, é por quase toda a Europa. Com maior ou menor agudez, conforme os equilíbrios dentro das coligações formais ou informais e entre estas e as respectivas oposições, o poder democrático está a entrar em coma. É necessário tomar medidas que doem e essas medidas podem fazer perder o poder no país. Por outro lado, o Estado parece não conseguir mesmo reduzir a sua despesa. Se calhar não consegue porque se assim o fizesse os líderes partidários perderiam o poder dentro do seu partido. Não se tomando essas medidas por medo de perder o poder ou simples impotência, é o regime democrático que vai cair, quando se concluir pela sua inviabilidade.

A rua vai protestar contra as medidas de austeridade, naquelas “jornadas de luta” para as quais já não há pachorra. Se a colheita reduziu, de que serve insistir em manter repartição de quando a colheita era mais rica? Isso já fizemos durante algum tempo, enquanto fomos pedido emprestado e os emprestadores estavam distraídos. Agora não estão.

E, a propósito de quem empresta, que pensarão estes do facto de que neste momento neste país se gastem energias na discussão de uma urgentíssima revisão constitucional? Para lá do estrambólico conceito constitucional do legalmente atendível e da extraordinária importância de ser introduzida a menção de censura construtiva, não haverá coisas mais importantes para fazer? Eu gostaria que o dinheiro dos meus impostos fosse usado para outra coisa. Sim, porque directa ou indirectamente, palpita-me que são os meus impostos que estão a pagar esses grupos de trabalho. Mais valia irem vender “Magalhães” ou outra coisa qualquer com algum valor acrescentado nacional por esse mundo fora, acho eu.

Que dizer de uma comunicação social que faz eco cego do mais pequeno arroto do primeiro transeunte que passa em frente da câmara nos seus imprescindíveis “directos” e que, à falta de melhor, até é capaz de fazer título de destaque de uma lâmpada fundida numa escola? Não poderiam ser um pouco mais sérios na sua missão de informar em vez de venderem patacoadas à toa?

Tempos difíceis exigem sacrifícios que, espectáculos à parte, o comum dos cidadãos até entende e será capaz de os realizar desde que a sua definição, comunicação e realização se pautem por um princípio: seriedade.

Quando chega a tempestade, o comandante não age por medo e a tripulação insiste em manter as rotinas da calmaria, está de bom de ver qual o resultado? Ou o navio afundo ou se muda o regime de comando. O cenário de ter que ser o FMI a vir cá para se conseguir credibilizar a nossa política orçamental é uma prova de menoridade e de incapacidade nacional que eu nunca julgaria possível. Maior vergonha do que essa não estou a ver.

14 setembro 2010

Agora foi o Rooney

Li, na diagonal, que o W. Rooney está a cair em desgraça por uma questão de “meninas”. E logo vem a comparação com Tiger Woods, outro que se desgraçou pelo mesmo assunto. Eu sei que é assaz delicado desenvolver algum tipo de argumentação em torno deste tema, mas vamos tentar.

Nestes casos há obviamente um comportamento social reprovável, uma falta familiar grave, mas, apesar de a mais velha profissão do mundo não estar legalizada, não é necessariamente um crime público a justificar a queda em desgraça que os média alegremente anunciam e promovem.

E isso parece-me sobretudo injusto quando compararmos com algumas figuras públicas que por aí andam alegremente, algumas de charuto na boca, que são ladrões, vigaristas, corruptos, que nunca confessam, que têm uma enorme cara de pau, que conseguem evitar as condenações formais em tribunal e que se mantêm populares com belos tempos de antena... (e alguns até ganham eleições!).

Tiger Woods casou em Outubro de 2004 com uma modelo sueca muito bonita. Tinha um acordo pré-nupcial para limitar eventuais estragos futuros. Cinco anos depois, em Novembro de 2009, rebenta o escândalo. Na tentativa de salvar o casamento ele aceita “renegociar” o acordo. Agora divorciaram-se e até parece que ela foi generosa em não querer ficar estritamente com metade do património dele. Contentou-se com 750 milhões de dólares, cerca de 600 milhões de euros. Por muito inocente e magoada que estivesse, receber 120 milhões de euros por cada ano de casamento, em que a participação dela para o capital acumulado foi provavelmente “negativa” (terá gasto mais do que ganhou) parece-me imoral. Por muito valioso que fosse o coração partido, 600 milhões de euros por um coração destroçado... nem do ouro mais puro. É claro que isto não pode ser analisado numa perspectiva economicista, mas mesmo assim...

E que dizer das meninas que receberam para fazer e que depois receberam para não contar nada e que até, às tantas, também receberam, neste caso de outra fonte, para contar o que tinham feito ? O óbvio, claro!

09 setembro 2010

Respeito

Há uma centena de malucos lá nos States que quer no próximo dia 11/9 queimar duas centenas de exemplares do Corão. É estúpido, é de mau gosto, é uma provocação inútil e disso não temos a menor dúvida.

Agora, será assunto suficiente para estar meio mundo a falar dele e a própria Secretária de Estado dos ditos States se sentir na obrigação de vir pronunciar-se publicamente sobre o assunto? Não poderia ser simplesmente ignorado?

Mal estaria o mundo se em todos os países, por cada maluqueira imaginada por uma dúzia dos seus cidadãos, tivesse que vir o governo pedir tempo de antena para dizer “Por favor, não liguem ao que eles estão a dizer!”. Isto cheira-me a receio, para não dizer medo.

Imaginemos a França tão pródiga em filósofos, especuladores, radicais e provocadores de todos os estilos e latitudes. Se por cada provocação e/ou estupidez originada por um francês, viesse o seu Presidente demarcar-se formalmente da dita cuja, não fazia outra coisa na vida.

E, cada vez que um português solta publicamente aquela do “De Espanha nem bom vento, nem bom casamento”, será que J. Sócrates se sente obrigado a telefonar ao J.L. Zapatero para dizer “Ó pá, não ligues porque essa não é a posição oficial do nosso país”?

Respeito é uma coisa, medo é outra.

06 setembro 2010

Os ciganos e os outros

Segundo entendi a França está a propor o retorno de ciganos ao seu país de origem, contra um prémio monetário e, ao mesmo tempo, a expulsar os imigrantes ilegais. É feio realizar uma acção selectiva dirigida a um grupo étnico mas comparar isso com as tristes e sinistras perseguições do passado é ignorância ou estupidez ou as duas coisas misturadas.

Pagar para saírem voluntariamente não é expulsar e ilegal é por definição ilegítimo e inaceitável. Ou devemos aplicar uma discriminação positiva, segundo a qual os ciganos e outras minorias étnicas podem permanecer ilegais e outros não?

A nossa sociedade tem um modelo que é aquele em que eu quero viver e tem regras que têm que ser cumpridas por quem cá chega. A defesa desse nosso “modus-vivendi” não passa por perseguir e banir os diferentes mas também não também é compatível com tolerar desvios que o violam. Não me incomoda nada ver um cigano na rua, ou um africano, ou um árabe ou um esquimó, mas não quero ter um acampamento de ciganos no jardim público em frente à minha casa nem quero ver a minha rua igual a uma de um bairro popular africano. E presumo até que muitos dos manifestantes solidários não se sentiriam muito confortáveis num cenário desses.

Os políticos e os “fazedores de opinião” que no alto das suas torres, entre duas cachimbadas, fazem pueris discursos sobre a defesa da diversidade ignorando os efeitos intrusivos que o “excesso de diversidade” pode trazer, estão ao lado da história. Ou conseguem descer à rua e entender, ou os extremistas, esses sim xenófobos e perigosos, irão capitalizar o fenómeno e será feio.

03 setembro 2010

Afinal havia outra ...



Há uns tempos atrás eu queixava-me do anacronismo do espelho nas máquinas fotográficas de qualidade e dos preconceitos quanto ao mesmo por parte dos “profissionais”. Na altura, depois de algumas peripécias, acabei por comprar em saldo uma Olympus E3, que dizem ser profissional e, apesar de algumas nítidas melhorias e muitos mais botões, não me fez esquecer a velhinha Sony R1 e a sua Zeiss impecável.

Depois, quando vi o anúncio das Nex 3 e Nex 5, achei que a Sony tinha ouvido as minhas preces, mas enganei-me. Quando analisei melhor, entendi que essas Nex’s afinal são a outra coisa que também ainda não existia. Câmaras em tamanho pequeno com sensor de qualidade, tamanho grande (APS-C).

As reais sucessoras da R1, saíram agora. São as a Alpha 33 e 55 e sem compromissos. Têm tudo o que de vantagem tem uma “bridge” séria e até garantem aquilo que seria a “última” vantagem das reflex – a focagem por detecção de fase. Neste momento não há mais dúvidas. A Sony lidera e quem achar que o traque-traque do espelho móvel continua a ser fundamental, com todas as limitações que acarreta, está a trocar o racional pelo emotivo.

E uma reflexão: se a Sony lançou a R1 há 5 anos e demorou tanto a dar esta sequência, chegando somente agora que o assunto está na berra, porque será? Um palpite: a aquisição da Minolta e aquilo que em parte foi uma grande herança tecnológica terá sido ao mesmo tempo um banho de conservadorismo de que só agora se libertaram.

E a Canon e a Nikon que se cuidem.

E, se alguém quiser uma E3 + obj 12-60 de excelente qualidade a bom preço, o email está no perfil.

Nota: Foto extraída do site da Sony

01 setembro 2010

Escoural



Dizem que vale a pena visitar e tentámos. De acordo com um folheto da câmara de Montemor-o-Novo, o espólio principal estaria no museu de Arqueologia da cidade. Chegamos lá um pouco antes da hora oficial para almoço e estava fechado. Voltamos meia hora depois da hora oficial de reabertura e estava fechado. Um papel na porta mandava tocar a sineta. Tocámos, esperámos e tocámos de novo e nada. Procurámos outras portas e outras sinetas e nada. Resolvemos ir directamente ao local, deixando uma pequena nota sobreposta no dito aviso.

No Escoural as placas mandam seguir até à gruta que fica a cerca de 4 km da localidade. Quando lá chegámos verificámos que estava fechado para obras. Uma placa sugeria, em alternativa, visitar o centro de interpretação na povoação e lá voltámos para trás os 4 km. Nesse último local um anúncio diz que, adivinhem...., estava fechado, por baixa da funcionária. Tudo isto aconteceu no dia 27/8, em plena época turística. Tudo muito consistente e a tirar a vontade de voltar a tentar. E é pena, não é ?

31 agosto 2010

Notícias da estação tonta






Chamam-lhe tonta, não sei porquê. Poderia ser apenas diferente como “diferente” foi o facto de o Glosa Crua ter ido de férias sem avisar. Não se faz!

Mas, que temos a realçar nestes tempos?


1. Os incêndios
De que se fala quando ardem, em nauseantes excesso de “informação”, forçosamente angustiantes e ainda mais quando se conhecem os locais. Nesta altura todos têm ideias e propostas. Uma sugestão: guardem-nas para as apresentarem e serem discutidas no Inverno. É mais útil.

2. Os apoios psicológicos
Cada vez mais parece que esta nossa espécie é incapaz de enfrentar a menor contrariedade sem “apoio especializado”. Qualquer contratempo gera stress a pedir “tratamento”. Até para o fim das férias. Se não são capazes de encerrarem as férias dignamente, então não deveriam sequer começar. De qualquer forma não gostaria que os meus impostos servissem para pagar as eventuais baixas de quem tem dificuldade em deixar a boa vida.

3. A falta de férias
Houve cá a Marsans e, que me recorde, mais uma em Inglaterra. Encerramento de agências de viagens/operadores turísticos. É mau pagar e no final não gozar as férias, mas o “drama” não pode ser assim tão grande que justifique até a intervenção diligente de ministro. Face a todas as desgraças reais e potenciais, ficar um ano sem férias não deveria ter esse importância.

4. E a selecção ?
É habitual em regimes “especiais” não publicitarem nem julgar de imediato os culpados no momento dos factos. Estes são guardados discretamente e mais tarde em caso de necessidade são usados para fazer uma outra “justiça” qualquer. É o caso da nossa selecção. Se tivéssemos saído da África do Sul com uma classificação mais conforme com o potencial e a expectativa, alguém se lembraria do episódio da Covilhã? Parece-me que não. A Federação quer despedir o homem, sem ter que cumprir o contrato que assinou. Para isso vasculha nas gavetas. Talvez achem que estão a ser muito “espertos”, mas eu acho que estão a fazer uma triste figura.

5. A Casa Pia
Dizem que está a chegar ao fim. Ouço estupefacto que a gravidez de uma juíza provocou que durante meses se realizasse apenas uma sessão pró-forma por mês, para cumprir os mínimos. Tinha que ser assim? Já sabemos que a Justiça tem sempre todas as razões e justificações para poder desfrutar de “todo o tempo do mundo”

6. A Praia vazia é crime
A promoção de Guimarães 2012 – Capital Europeia da Cultura apresentou um cartaz mostrando uma praia deserta em Agosto de 2012, sugerindo que nessa altura “tudo acontece” em Guimarães. Os inefáveis corporativos defensores dessa região turística sentiram-se ofendidos e insultados, exigem desculpas e até ameaçam com processo judicial de pedido de indemnizações. Não têm mais com que se preocupar? Um cartaz assim assusta tanto? Não poderiam responder pela promoção positiva, em vez deste ataque de impotência negativa? E aqui está o objecto do crime retirado do sitio do Público:



15 agosto 2010

Com pinças

Há um projecto para ser construído um centro islâmico, incluindo mesquita, ali ao lado do local onde estavam as torres do WTC que ruíram em 11/9/2001. Não há forma pacífica de abordar este assunto que parece um autêntico lança-chamas na polémica do Islão – islamofobia – terrorismo – tolerância – abertura – etc.

É fácil afirmar emotivamente que se trata de uma provocação inútil e de gosto duvidoso como também é fácil dizer que o respeito pela liberdade de culto e a igualdade de direitos, tão caras nos states, pelo menos no princípio, não deveriam permitir uma descriminação destas.

Obama manifestou-se e optou pela segunda hipótese, a única possível oficialmente. Ficando assim pelo plano dos princípios apetece acrescentar duas coisas:
  • Pelo princípio da justiça – os promotores, apoiantes e futuros frequentadores muçulmanos do referido espaço deveriam clara, inequívoca e publicamente repudiar os atentados do 11/9, condenar as execuções de reféns que ainda hoje ocorrem e não assobiar para o lado.
  • Pelo princípio da reciprocidade – esperamos para ver um dia ser anunciada a construção de uma igreja no centro de Riad.

12 agosto 2010

Sem sal

Dizem os especialistas que em Portugal se exagera no sal e se calhar é verdade. Aliás, insosso é adjectivo com conotação negativa do que não tem sabor, personalidade ou marca. Claro que ter gosto não é equivalente a ter sal – há outros temperos, há o sabor natural das coisas e o tempero excessivo sobrepõe-se e anula o sabor do que é temperado. Mas, por exemplo, não imagino presunto sem sal.

Posso estar de acordo quanto à necessidade de alterar esse hábito. Está em causa a saúde pública e o orçamento do sistema de saúde – que todos nós pagamos. No entanto, aplicar carácter de lei ao teor de sal no pão parece-me absurdo. É passar um atestado de menoridade e de incapacidade de aprender à população em geral. Já que vocês não se ajustam voluntariamente, vamos impor. Se não vai a bem, vai a mal.

Penso que, por outro lado, é perigoso pela desresponsabilização. Há no mercado muitos produtos cuja combinação ou ponderação representam riscos e que nunca se poderão anular. O cidadão que um dia faça uma combinação ou uma ponderação de risco, sendo esse cidadão declarado e assumido de discernimento menor pelo sistema, que o tenta proteger a todo o custo, poderá colocar uma acção judicial contra o estado ou contra o vendedor? Um obeso poderá um dia processar o talhante por lhe ter vendido carne com gordura sem avisar ?

Como pouco pão e pouca manteiga. Mas quando o como, quero que seja salgado. No global até poderei estar a ingerir menos sal do que um consumidor quotidiano que funciona dentro da media legal. Mas, não posso fazê-lo legitimamente? Não será absurdo ? Já agora não se esqueçam, ao estabelecer os parâmetros, que o calor do sul pede mais tempero do que o frio do norte. Lá para cima eles suportam melhor o insosso.

01 agosto 2010

Desafecto pela Afición

O Parlamento Catalão votou e aprovou a proibição das touradas na região a partir de 2012. Mais um tema quente para aquecer o quente sangue que os espanhóis demonstram nestas coisas.

O inefável Mariano Rajoy lá veio dizer que proibir as touradas era como proibir a caça ou a pesca ou as corridas motorizadas e isso não podia ser regional. Não se entende porquê, como muitas outras coisas que ele diz. Acrescenta que vai pedir à Unesco a classificação da tourada como património cultural da humanidade. Será uma boa ideia para a Sudão, a Somália e outros pediram também respeito pela especificidade cultural de algumas das suas tradições, como, por exemplo, a excisão feminina. Aliás que posição tomará Marian Rajoy e outros quando saltar para o público a polémica sobre a forma de abate dos animais de acordo com os preceitos islâmicos em que são degolados a sangue frio e morrem esvaídos em sangue? Defenderá a especificidade cultural ?

Pode haver uma grande carga emotiva nesta discussão da parte de quem nasceu sentindo e vivendo touros e as touradas, mas uma coisa é certa: na perspectiva histórica evolutiva não há dúvidas sobre para que lado sopra o vento. Nos seus moldes actuais com ferros e sangue a tourada é inaceitável à luz do mínimo respeito pelos animais. A Catalunha está do lado certo.

28 julho 2010

Enquanto o navio afunda


Conta-se que a orquestra do Titanic continuou a tocar enquanto o navio afundava. Se calhar até poderia fazer algum sentido para não agravar o pânico. Não sei. O que sei é que essa imagem ficou associada ao “The show must go on” e à insensatez e insensibilidade do primado do prazer, independentemente das condições, dos contratempos e até mesmo da proximidade de uma tragédia.

Vem isto a propósito do recente acidente no “Love Parade” em Duisburg na Alemanha, em que apesar da tragédia e do terror que se terá vivido, não houve coragem, nem respeito pelos mortos e feridos, nem sensibilidade para dizer: “Meninos e meninas, não deve e não vai haver show!” Justificações são a coisa mais fácil de arranjar. Podemos sempre justificar um sim e ao mesmo tempo o correspondente não. A dificuldade está em ponderar as razões e decidir qual a que vale mais em função da respectiva escala, sempre algo subjectiva.

Alguém acredita que cancelar o espectáculo poderia provocar ainda mais tumultos ? O que me cheira é que da mesma forma como a autorização para o espectáculo foi tardia porque havia muitas dúvidas... quanto à segurança.. mas foi dada porque tinha que ser, se entendeu que tinha que continuar e que há coisas que não podem ser postas em causa, nomeadamente a expectativa de festa criada.

Como se sentirá um participante que tenha andado lá entretido a “bombar” (é assim que se diz?) ao saber que alguém como ele morreu ali estupidamente e que o sangue está ainda fresco no chão a uns metros de distancia? É possível alguém saber e dizer alegremente “Que se lixe!” ? É ético esconder o facto da multidão, somente para não estragar a festa?

Apesar dos tempos notórios e inquestionáveis de crise, há algo que parece ter uma precedência indiscutível na escala de valores: a festa. Creio mesmo haver quem aceite subalimentar-se ou privar-se de cuidados de saúde, apenas para não deixar de poder ir às festas.

Quando a festa é um valor primário sobrepondo-se a tudo, inclusive ao respeito pela vida humana, não hesitando em ser feita saltando sobre a memória dos mortos frescos, temos realmente uma grande crise e muito pior do que a crise económica.
Nota: Fota extraída do Jornal Público

18 julho 2010

Amor com amor se paga

Presidenciais 2006

O candidato oficial do PS, Mário Soares, não faz o pleno do eleitorado do partido, nem do chamado flutuante (a que eu prefiro chamar eleitorado crítico). É ultrapassado e humilhado por um independente, Manuel Alegre. Há uma franja do eleitorado que não se revê nem em Alegre nem em Soares e dá a vitória na primeira volta a Cavaco Silva, tornando-se este o primeiro Presidente da República eleito depois do 25 de Abril apoiado oficialmente apenas pela direita.

Presidenciais 2011
O Presidente em exercício, que parece ainda não ter entendido bem a sua função e o que se espera dele, esbraceja quase desesperado para não ter a humilhação de ser também o primeiro a não ser reeleito para o segundo mandato. Bastaria ao PS ter apresentado alguém como Jorge Sampaio, António Guterres ou Jaime Gama para Cavaco já ter as malas feitas. Mas não. O anterior independente, Manuel Alegre, é agora o oficial do PS mas, por motivos diversos, também não fará o pleno. Mário Soares ainda não digeriu a humilhação e não o apoia. Parece mesmo é desejar um “Manuel Alegre” para o Manuel Alegre actual.

Se Fernando Nobre não fazia sombra suficiente, surge agora Defensor Moura que anuncia só querer encher a actual terra de ninguém à direita de Alegre e assim impedir nova vitória de Cavaco Silva à primeira volta. A história não se repete porque da segunda vez é a farsa.

Resumindo e concluindo: vamos ter umas presidências bastante pobrezinhas...

17 julho 2010

A Guiné dos ricos

Nem de propósito! A seguir ao meu anterior post sobre os números negros em África, em que apesar da liderança no rendimento per capita, a Guiné Equatorial não sai muito bem na qualidade de vida dos seus cidadãos, estamos com a polémica sobre o seu pedido de adesão à CPLP.

Se a pátria da CPLP é a língua portuguesa, então será difícil ela entrar, a menos que se considere o espanhol uma variante do português ou que ela adopte o português como língua oficial em pró-forma.

Agora, não venham com o argumento de que não deve entrar por ser uma ditadura. Para não ferir susceptibilidades, não falemos dos restantes membros da CPLP. Vamos por um caminho menos sensível e mais abrangente. Se a ONU fosse a recusar o estatuto de membro a todos os países que não respeitam os direitos humanos, quem ganharia com isso? Isolados, sem enquadramento e sem pressão internacional institucional, os párias ficariam ainda mais párias e a ONU mais fraca. É obviamente um equilíbrio delicado entre o pragmatismo e o limite da hipocrisia, mas globalmente é melhor estarem dentro do que fora.

Que a Guiné Equatorial queira ser “meia portuguesa” não pode ser muito mau. Acredito até que provocará alguma inveja noutras comunidades. Provavelmente que se fosse o pobre Burundi a pedir a adesão, levantar-se-ia a nobre solidariedade, independentemente do fraco nível democrático do país. Como se trata da rica Guiné Equatorial, há uma maior exigência, que por acaso até interessa às comunidades preteridas.

Ingénuos...

15 julho 2010

04 julho 2010

Números negros

Na mesma altura em que leio um título “No futuro o ser humano poderá viver mil anos, defende cientista britânico”, que parece ser mais uma frase destinada a servir de título que nem sei nem quero avaliar, consulto o último relatório do Banco Mundial sobre os indicadores de desenvolvimento em África. Aliás nem sei se gostaria de viver 1000 anos, mesmo que fisiologicamente viável. O referido relatório do BM são cerca de 200 páginas de análise e de muitos quadros. Um resumo na página 37 já diz bastante. Há indicadores que se entendem mais ou menos bem, para os quais se tem maior ou menor sensibilidade e há outros que são claros: esperança de vida à nascença e taxa de mortalidade abaixo dos cinco anos. Alguns exemplos

Esperança de vida em Moçambique: 42,1 anos – Faz pensar, não faz? É um país pobre. Se olharmos para Angola em que o rendimento per capita é quase o dobro, teremos como esperança de vida em Angola : 47,3 anos.

Olhando para os extremos:
País com maior rendimento per capita – Guine Equatorial = 8692 USD
País com menor rendimento per capita – Burundi = 111 USD,
Média no continente = 879 USD
Se compararmos , respectivamente, esperança de vida e mortalidade infantil teremos:
Guiné Equatorial -- 50,5 -- 20,6 %
Burundi -------------- 50,6 -- 18,0 %
Média África -------- 54,8 --- 13,4%

Apesar de ter um rendimento quase 80 (oitenta) vezes superior, a Guiné Equatorial praticamente empata com o Burundi nesses dois indicadiroes e até está pior na mortalidade infantil. Pode-se argumentar que é uma riqueza recente (do ouro negro, é claro) e que ainda não teve tempo para surtir os seus efeitos na global da população. Esperemos...

Os bons exemplos e o bom exemplo dentro dos bons

Seychelles --------73,2 ----1,3% ---- 8 267
Maurícias ---------72,4---- 1,5 % ---- 4 929
Cabo Verde ------ 71,2 --- 3,2 % ---- 1 632
(Esperança de vida - Mortalidade infantil - PIB/capita)

02 julho 2010

Eu sabia...

Quando escrevia há poucos dias atrás acerca do folhetim político da introdução de portagens nas scuts e previa que antes de as novas portagens entrarem em vigor ainda iriam chegar mais novas “ideias”, acertei.

Agora o identificador deixou de ser obrigatório. A identificação pode ser feita fotografando a matrícula. Até já lhe chamaram uma solução de bom-senso. Calcularam os custos totais de processar a transacção dessa forma? Os senhores sabem que esse processo não é 100% fiável? E lá vem um efeito colateral: quem tiver via verde pagará de certeza, quem não tiver fica à mercê da fiabilidade do outro sistema que pode falhar até 10% das leituras, dependendo de factores como intensidade da circulação, condições atmosféricas e da quantidade de “lixo”, involuntário ou não, que estiver na matrícula. Não me parece justo e acho que alguém ainda vai exigir que o identificador da Via Verde passe a ter um botão de desligar para poder desactiva-la ao passar nas ex-scuts e poder ficar em igualdade de circunstâncias com os demais. Ou então, para compensar, e como é feito nalgumas aplicações deste sistema, o custo de passagem com leitura óptica deveria ser mais elevado... ! É só mais uma “ideia”...

E, em termos de protecção de privacidade, qual a diferença entre uma leitura electrónica de um identificador e uma leitura óptica automática de uma matrícula? E, já agora, com uma percentagem grande de veículos sem identificador a probabilidade de eu ser fotografado colateralmente é elevada. Isso será constitucional ?

Porquê esta nova trapalhada? Porque, para encravar o processo, em vez de se ir ao fundo da questão achou-se melhor lançar uma gincana jurídica em torno da obrigatoriedade do identificador. É um exemplo típico dos habituais malabarismos legais em que por hábil manipulação do acessório, se desperdiçam recursos e se impede o bom funcionamento da justiça e das instituições em geral.

Pior do que pagar é a cobrança ser feita por uma máquina ineficaz, pouco fiável e não equitativa. Esperemos pelas próximas ideias e gincanas...

30 junho 2010

Os putos e os homens

Não sei de futebol o suficiente para concorrer com os largos milhares, ou até mesmo milhões, de comentadores que opinam hoje sobre a derrota de ontem contra a Espanha. Mas posso falar de atitudes.

E lembrei-me do jogo contra a Inglaterra no Europeu de 2000. Era o nosso primeiro jogo e aos 18 minutos já estávamos a perder por 0-2. Parecia que o fado estava feito. Mas não foi assim. Pelo impulso de uma locomotiva de energia física e anímica chamada Luís Figo, a equipa não aceitou o resultado e acabou por dar a volta ao jogo e ganhámos por 3-2.

Esse dia marcou para mim uma diferença em maturidade nestas andanças pela forma de reagir à adversidade, pela perseverança e, de uma forma mais simples, por não deixar de acreditar e não perder o discernimento.

Ontem não vi nada disso. Após o golo espanhol, nunca mais a equipa acertou e o menino Ronaldo, a vedeta, o capitão, o líder, que até aí pouco tinha feito não cresceu. Desapareceu e quando apareceu, desatinou.

29 junho 2010

Política com custos

Parece que as scut’s foram previstas sem custos para o utilizador pelo argumento de que induziriam desenvolvimento, gerador de riqueza, que as pagaria indirectamente. Não sei como foram feitos os cálculos mas o planeamento não foi brilhante. Como é possível ter duas auto-estradas paralelas do Porto a Aveiro, separadas em média por meia dúzia de quilómetros, sendo uma paga e a outra Scut ? È possível entender esta lógica?

Depois, com a “crise” decide-se que deixarão ser gratuitas, não por política planeada mas por necessidade orçamental e a confusão e as interrogações disparam.

É lógico que uma scut seja construída em cima de uma estrada nacional e, mais tarde, se pague portagem nesse troço? Ainda hoje, por exemplo, o prolongamento da A4 está a ser feito parcialmente sobre o IP4. Se no futuro eu quiser atravessar o Marão sem pagar, terei que usar a N15, como há 20 anos atrás?? É lógico que uma circular urbana que pode ser utilizada inúmeras vezes por dia seja paga? É lógico que a cobrança seja feita pontualmente nos pórticos, mais ou menos bem distribuídos e não por km’s realmente realizados? Já imaginaram/previram as assimetrias no fluxo que isso originará?

É lógico que o Algarve seja diferente do Minho? A N125 é melhor ou pior do que a N13? Estão em causa os turistas? Os turistas apenas merecem “consideração” no Algarve? O critério de vir ou não ao Algarve será pelo custo de alguns euros de portagens na via do Infante?

Melhor exemplo da falta de planeamento é o processo de cobrança e os respectivos identificadores. Escassas semanas antes da suposta entrada em vigor, ainda não estavam disponíveis e nem sequer tinham sido divulgados. E os pórticos já lá estão feitos, e certamente pagos, há largos meses.

Na última hora o PSD acha que devem pagar todos. Aparentemente tem alguma lógica. Para não ficar sem a última palavra o PS concorda e lembra-se de isentar os locais. O critério será pela residência ou pelo local de trabalho? Palpita-me que vamos entrar agora numa grande discussão sobre o conceito de ser local. E quase aposto que antes de começarem efectivamente a caírem os euros das novas portagens alguém ainda vai ter mais uma “ideia” nova...

A questão fundamental e cuja resposta não pode ser fruto de ideias avulsas é: O Estado tem ou não obrigação de disponibilizar uma rede de viária de qualidade mínima e sem custo de passagem? Eu acho que sim. Acho que não será bom termos auto-estradas por todo o lado e não se poder sair de casa sem ser portajado (novo verbo) em cada cruzamento. Só que com estes avanços, recuos e improvisos ficou uma grande confusão. Primeiro melhorou-se a rede mínima, muito bem! Agora, essa rede passou a ser considerada de luxo e, por isso, paga. Como nos contextos subdesenvolvidos, ficaremos apenas com os dois extremos: o miserável e o luxuoso.

27 junho 2010

Seixo dos Corvos




Eu pensava que já tinha passado por todos os cantos do Alto Douro, margem Norte e margem Sul. Todos, mesmo todos, não, sobraria um canto aqui e outro acolá, mas nada de dimensão significativa.

Errado. A sul de Carrzeda de Ansiães, numa estrada sem saída, sem sinalização de por onde se entra e, pior, onde se deve parar está o Seixo dos Corvos. E... que coisa!

Sendo as comparações nestes capítulos traiçoeiras, sinto-me tentado a dizer que é a mais bela panorâmica do Alto Douro que já vi. Tem uma amplitude fantástica em ângulo e em profundidade, sem deixar de se sentir uma grande proximidade ao rio. E senti também a falta daqueles máquinas fotográficas novas, catitas, em que se carrega no botão, se roda a máquina e esta faz automaticamente a panorâmica.

Esta mísera montagem dá uma vaga ideia apenas. Até porque isto é das coisas que só vendo e vivendo no local mesmo. Lá em baixo à direita no cantinho está a ponte da Ferradosa, onde a linha de caminho de ferro atravessa o rio. Aqui não se vê bem, mas lá é diferente.

25 junho 2010

Pós S. João


Ó meu senhor, meu senhor... dá-me um moedinha para o meu S. João?
Hum...?
O senhor não é português .. !? English ??

Toma lá a moeda mas não estou a ver S. João nenhum ...!

Fica para o S. Pedro, então!! Obrigada!

Ó meu senhor, tira-nos uma fotografia no carrossel, tira?
Mas o carrossel está parado... !
Não faz mal, nós pomo-nos a andar naquelas coisas redondas, está a ver?

23 junho 2010

De novo...

Não sei se devo pedir desculpa pela interrupção.... Mas, pelo menos, vai uma justificação. Os últimos tempos foram ocupados por um “projecto” que me condicionou e, pelos vistos, não consigo escrever em registos diferentes em simultâneo.

Para relançar teria que falar de Saramago. Quase obrigatório.

Conforme já referia aí para trás, Saramago escreveu excelentes e belíssimos livros, principalmente antes do prémio Nobel. Deixa um legado extraordinário e um enorme contributo para a riqueza da literatura e da cultura portuguesa. Penso não existirem dúvidas sobre isso.

Não se perdeu o que ele fez. Perda seria se tivessem desaparecido todos os exemplares de “Todos os Nomes”, por exemplo. Isso sim, seria uma grande perda. Ficaram livros por escrever? Talvez e esses também se perderam.

Mas convém não confundir a obra com o homem. Não reconheço a José Saramago uma grandeza de carácter ao nível da dimensão da sua produção literária. Há muitas afirmações dele descabidas e, no mínimo, indefensáveis. Também não é obrigatório que as pessoas sejam equilibradas. Muitas vezes um génio numa faceta coexiste com insuficiências graves noutra.

Não concordo, por exemplo, que se chame a Saramago um “homem de liberdade”. A sua curta passagem pelo DN em 75 e a expulsão dos 24 jornalistas são exemplo de uma militância intolerante que felizmente foi confinada a um período curto. E felizmente para ele não voltou a ser confrontado com uma função executiva e felizmente para nós os restantes “homens de liberdade” também não estão aos comandos. E, já agora, também devemos dar graças por o Vaticano, SL’s e afins não terem o monopólio editorial.

Mas, sobretudo, não se transfiram as qualidades e os defeitos. A obra de Saramago é admirável e essa excelência não tem que apagar nem afogar as suas deficiências de carácter. Da mesma forma que as suas atitudes e posturas tantas vezes infelizes não devem contaminar a apreciação da obra.

Uma vez o “Contra-informação” caracterizou-o exemplarmente: “Saramago é um grande escritor: o que ele escreve lê-se, mas o que ele diz não se escreve!”.

No balanço global o país e a cultura portuguesa estão-lhe gratos... e deixem todos de brincar ao jogo dos pequeninos.

10 junho 2010

Grande Máquina!


A morte súbita de um telemóvel longe de casa fez-me pedir que me comprassem localmente um básico, do mais barato que houvesse. E lá recebi um magnifico Nokia como o da foto documenta, por cerca de 20 euros. Não tem máquina fotográfica, não mostra imagens a cores, não dá música, obviamente não navega na net e não faz portanto muitas coisas giras desse género.

Mas é uma grande máquina! Serve perfeitamente para telefonar e tem uma coisa espantosa: quase me esqueço de que preciso de o carregar, ao contrário do outro mais catita que tem grande visor colorido mas que não perdoa e cuja bateria me deixa ficar mal com uma facilidade tremenda.

É que ao fim e ao cabo um telemóvel serve para fazer chamadas e a autonomia até é uma característica importante, não é?

08 junho 2010

Coisas úteis


Por estranho que possa parecer há imagens feias, sujas e degradadas que num dado contexto se podem tornar muito agradáveis à vista e tranquilizantes.

E uma recomendação útil. Aquele hábito de ao entrar num restaurante passar primeiro pelo quarto de banho para “lavar as mãos”, no sentido amplo ou restrito da expressão, deve ser evitado e de forma quanto mais premente quanto maior for a distância para o restaurante mais próximo. Acima de 20 km deve ser completamente banido. A referida visita deve ser adiada sempre para o fim da refeição.

Corolário: utilizar num local sujo é exequível; sujo e escuro é que já não.

04 junho 2010

A privacidade, os amigos e a cusquice não solicitada

Tenho visto alguma polémica recente sobre a “privacidade no facebook”, mas não estou muito a par e até nem tenho página na dita rede (será grave... ?).

No entanto, não deixo de achar estranha, por exemplo, a transformação que a Microsoft operou no Hotmail. Cada vez que consulto esse serviço, que por acaso até nem é o meu correio principal, lá fico a saber que fulano disse isto há x tempo, que beltrano ficou amigo de sicrana, que o outro tem uma nova foto e ali está ela em exibição e por aí fora... Provavelmente deve ser possível com algum esforço e teimosia configurar a conta e trancar tudo isso, fazendo com que sirva simplesmente para enviar e receber correio sem essa vertente de cusquice virtual não solicitada.

É também verdade que há quem não quem hesite em descarregar para qualquer site aberto as fotos da família, do cão, do gato e falar lá como se estivesse em família . O cúmulo foi o caso de John Sawers, um alto quadro dos serviços secretos ingleses (MI6), cuja mulher publicou aberto no facebook fotos da família, das férias e dos amigos. Toda a gente pode saber por ali onde moram, onde e com quem passam férias, ou seja, aquilo que oficialmente era e devia ser extremamente sigiloso!

Uma outra rede, mais “profissional”, a linkedin, envia-me regularmente um relatório de “notícias” com os novos amigos dos meus amigos, quem recomenda quem, quem mudou, ou perdeu, o emprego, e por aí fora. Aliás, penso até que a própria palavra “amigo” está a ser alvo de uma mutação de significado. Às vezes aparecem umas meninas com cara de tenista russa que querem ser nossas amigas para a seguir sermos bombardeados com publicidade. O remédio é responder delicadamente à “tenista” antes de aceitar o convite, perguntando de onde nos conhece e o assunto acaba aí.

Voltando à privacidade, nesta última rede, um infeliz deve ter escrito em qualquer local que estava a pensar ir a Paris. E agora, nos relatórios que recebo, lá vem recorrente a novidade de que o “OO planeia uma viagem a Paris”. Não sei se já terá ido ou se terá corrido bem. Só não sei é se ele queria mesmo que toda a gente fosse assim regularmente informada dessa sua intenção. Irra....!!!

03 junho 2010

João Aguiar

Com surpresa e tristeza leio a notícia da morte de João Aguiar. Tendo lido toda a sua obra de ficção, considero-o um dos melhores escritores portugueses contemporâneos, apesar de não ter feito assim tantas capas de revista nem incendiado as polémicas necessárias para a conveniente ribalta. Talvez agora o seu desaparecimento ajude a equacioná-lo e a colocá-lo onde tem direito.

Sabendo que ele não se esgota de forma alguma no registo histórico, será uma oportunidade para questionar o rigor e a forma de tantos romances ditos históricos que por aí pululam. João Aguiar tinha o cuidado de no final, em meia dúzia de páginas, deixar registado bem claro e honestamente o que era comprovado, o que era apenas provável e o que era de sua ficção, sempre dentro do plausível.

Esclarecido, frontal, rigoroso e expressivo. Em resumo, e para quem não o conhece, por favor leiam-no. É pedir pouco mas é tudo.

Nota: Foto Googleada

01 junho 2010

Todos com muito alegria



Por acaso e sem planeamento prévio passei no Sr da Pedra domingo passado, quando chegavam as rusgas e... bom... não as vi todas, mas do que vi gostei muito pouco. Não senti o “espírito” certo no acontecimento.

Se é verdade que há coisas para as quais o simples facto de existirem já é louvável, há também um mínimo de rigor a respeitar sob pena de que o que existe não é o que se suponha existir e a história do mérito da simples existência se esvaziar.

O cúmulo é aproveitarem o evento para, bem alto, engraxarem o sr presidente e demais membros da junta de freguesia.... todos com muito alegria !

28 maio 2010

O Mourinho e os Merdinhos

Pode-se não se apreciar o estilo de José Mourinho, pode-se não se simpatizar nada com o homem, mas criticá-lo destrutivamente só pode ser obra invejosa de um Merdinho qualquer. Um Merdinho divide as pessoas em dois grupos. Há aqueles que quando falham são crucificados e quando fazem bem apenas cumprem a sua obrigação. Depois, há o outro grupo, dos “nossos”, dos que quando falham foi azar nítido e que quando acertam são uns craques. Os primeiros são frontais e assumidos; os segundos são esquivos e espertos. E não vale a pena entrar em considerações e conclusões sobre o efeito que a primazia de um grupo ou do outro traz em termos de resultados.

Mourinho aceita ser crucificado quando falha e assume riscos com frontalidade. Por isso quando tem sucesso não há nada a dizer a não ser “bravo!”. Não me consta que use técnicas baixas. Se ganhou foi por mérito próprio, daí que os Merdinhos deveriam discretamente permanecer calados.

Mesmo agora, ele podia ter ficado endeusado no Inter, gozando de um tranquilo estado de graça e com muito mais peso para poder chamar “prostituídos intelectuais” a certos “jornalistas” italianos. Mas não. Parte para o Real onde o mínimo que lhe é exigido é ganhar tudo. Caso contrário será alegremente crucificado por todos os Merdinhos deste mundo. É certo que vai ganhar uma pipa de massa, isso faz parte do jogo, mas nenhum Merdinho alguma vez trocaria uma situação pela outra. Daí as críticas.

27 maio 2010

Refém

Por azar ou desatenção fiquei ontem preso, e pela segunda vez, num “protesto” pela introdução das portagens nas scuts. Se ficar preso num engarrafamento é desesperante, quando se sabe que é voluntariamente provocado, a raiva dispara. Não está em causa o nível de pertinência do protesto. Também não está em análise a sua eficácia. Se bem que imagino que, confortavelmente instalado num gabinete de Lisboa ou num hotel de Nova Iorque, quem tem poder decisão sobre o assunto não terá ficado muito impressionado ou sensibilizado com o espectáculo.

O que está em causa é com que direito num estado de direito, uma iniciativa destas pode fazer refém uma multidão provocando prejuízos de vária ordem. Não seria possível fazer um protesto visível, fundamentado e não primário como este? Aliás, é semelhante às greves de alguns sectores públicos, cuja “força” reside precisamente na capacidade de incomodar vulgares cidadãos.

Não, decididamente não. Um estado de direito não deve funcionar assim. Quem pretender pode protestar da forma como entender mais adequada mas sem tomada de reféns. Isso é próprio de terroristas.

26 maio 2010

Numa cidade perto de si

Ele tinha 33 anos e queria casar com ela. Ela tinha 15 anos e não queria. Então, um dia, sob ameaça de arma branca, ele forçou-a a entrar num prédio abandonado e a subir a um terceiro andar onde a tentou violar.

Ela fugiu precipitadamente pela janela do terceiro andar, partindo vários ossos na queda, mas mantendo-se consciente. Ele aproveitou então para a trazer de novo para cima e para durante várias horas concluir o que se tinha proposto fazer inicialmente.

Quando o estado de saúde dela se complicou ele abandonou-a à porta de um hospital sem sequer avisar os serviços.

Aconteceu numa cidade próxima de si... ou não. Não importa. Para certas coisas não há distâncias.

24 maio 2010

Ouviram as minhas preces!




Aqui há uns meses atrás queixava-me eu das minhas desventuras ao procurar uma sucessora para a minha máquina fotográfica Sony R1 e em como eu achava ser possível e lógico ter uma máquina com sensor actual de tamanho decente, com objectivas intermutáveis (e monitor articulado...) sem precisar do anacronismo do espelho. Não encontrei.

Bom... parece que a Sony me ouviu ou antecipou os meus desejos. Ou então eu não serei assim tão raro. Aí estão fresquinhas acabadas de sair as Sony Nex-5/Nex-3 que parecem ser mesmo, mesmo, aquilo que eu queria: umas dignas sucessoras da minha R1 que sempre foi precursora de qualquer coisa. Talvez tivesse é saído demasiado cedo para os preconceitos culturais do meio fotográfico.

Eu já devia ter imaginado que a Sony não me deixaria ficar mal.

23 maio 2010

Baratas e estilos

Quando se entra num compartimento que pode ter baratas daquelas que se passeiam apenas no escuro e se escondem da luz, há uma opção a tomar entre três atitudes:
  • Ou acender a luz já preparado para atacar rapidamente, antes que elas tenham tempo de fugirem da luz e desaparecerem da vista...
  • Ou acender a luz e olhar para o tecto, assobiando ou não, dando tempo às ditas cujas de se esconderem e quem não vê pode fazer de conta que não sabe...
  • Ou acender a luz e ficar parado na soleira vendo-as fugirem sem ter tempo e oportunidade de as liquidar, ficando a saber que elas lá estão e que quando se apagar a luz regressarão à arena principal.
E, a cada um o seu estilo, naturalmente...

19 maio 2010

Obrigado Grécia

Para quem não sabia ou não imaginava, a crise vem mesmo aí. Até aqui andávamos a brincar com ela, atirando generosamente dinheiro aos problemas, dinheiro esse que por acaso nem era nosso. Agora, graças à Grécia e aos “mercados”, a expressão recém consagrada para designar quem tem para emprestar, descobrimos que se calhar essa não terá sido a melhor opção... e vai doer.

Devemos agradecer à Grécia, apesar de a situação deles ter algumas especificidades não comuns com a nossa, por ter feito disparar o alarme. Se tivéssemos continuado alegremente a cavar o défice por mais um ano, a ressaca seria certamente pior.

Não somos caso único. A Espanha está quase igual e veremos quanto à França que surpresa nos reserva. Para lá deste agradecimento fica o espanto. Os governantes europeus não sabiam que existem “mercados” financeiros sobre os quais não exercem soberania, como exercem, por exemplo, sobre os impostos dos seus súbditos, e que “beber para esquecer a dor de fígado” não é necessariamente uma brilhante ideia?

Se não sabiam é gravíssimo, se sabiam e assobiaram para o lado por populismo é muito mau e deixa-me muito preocupado com a qualidade de quem nos governa e/ou com as regras da sobrevivência democrática que nos levam ao desgoverno.

A Europa é um barco entrado numa tempestade. Quando as ondas começaram a varrer a coberta os seus “funcionários” reagiram com reuniões, declarações e muita credulidade. Agora que descobriram que há perigo real desatam a procurar os baldes e a improvisar. Sem timoneiros capazes de definirem um rumo, de o aplicarem e de sobreviverem politicamente à sua aplicação não naufragaremos necessariamente, mas ficamos com um barco mal remendado que vai ficando para trás na corrida. Ou seja, ficaremos mais pobres.

12 maio 2010

Investir ou gastar?

Faz-me confusão ouvir dizer que os grandes projectos públicos deverão ser/serão cancelados devido à situação financeira actual, por não haver dinheiro. É certo que quem não tem dinheiro deve reduzir os seus gastos. Mas gastar é diferente de investir. Posso não ter dinheiro para gastar mas posso ter um excelente projecto rendível para o qual não terei dificuldades em obter financiamento.

Obviamente que quando o financiamento do projecto é feito em condições de mercado adversas ou frágeis do investidor, a fasquia da rendibilidade tem que ser colocada num nível mais elevado, mas a decisão de investir ou não será sempre função da retorno expectável para o projecto.

Curiosamente em todas as discussões a que assisto sobre a oportunidade ou a falta de oportunidade destes chamados “investimentos” públicos, fala-se de investir como se se falasse de gastar. E isso preocupa-me. Mesmo a referência aos efeitos positivos na dinamização da economia ao nível da realização da empreitada são temporários e nunca podem por si só justificar a despesa. Faz lembrar a política de contratar funcionários públicos para preencher e carimbar formulários apenas com o objectivo de reduzir o desemprego.

Em resumo fica a questão: os “investimentos” públicos são planeados na perspectiva do investimento e seu retorno ou do “gastar” em que, havendo dinheiro, gasta-se, não havendo não se gasta?

PS: Escrevi a palavra “rendível” em vez do consagrado “rentável”, apesar do dicionário do editor não a reconhecer, porque se descobriu agora que em português se diz rendimento e não “rente” como em francês. No entanto, penso que o “renting” anglo-saxónico continua e continuará a ser bem recebido quando se quiser alugar qualquer coisa. Pauvres mecs !

11 maio 2010

Baltazar Garzón no TPI ?

Baltazar Garzón pediu transferência temporária para o Tribunal Penal Internacional...
Já há quem lhe chame o último exilado do franquismo!
Será que leu o meu post anterior?
"Seria engraçado se Baltazar Garzón fosse interditado em Espanha e reabrisse os processos em Haia..."
Promete...

06 maio 2010

Compulsos (14)

Começou em
Bem-vindos! Bem-vindos a este círculo dos compulsivos. Todos temos pulsões e compulsões, apenas a sua natureza e ponderação muda. Se as misturarmos e distribuímos na boa medida, seremos todos normais.
E um dia disseram: E se fossemos ao círculo? Não explicarem porquê. Talvez por nostalgia, curiosidade ou, mais perigoso, desfastio. Foram calorosamente recebidos! Nos rostos lia-se uma genuína satisfação de sentir a família completa de novo, com todas as suas valências e idiossincrasias.

Correu muito bem. Parecia que todos eles tinham algo novo a contar e que só o conseguiam dizer com aqueles dois presentes. Ou porque entendiam que eles diziam de forma diferente ou porque ...

E ela falou de novo. Séria, esticou o tronco e falou de traços, de despejos, de chamadas e de fugas. Ele também voltou ao elogio da imaginação. À saída a mão dela termia e ele imaginava o que diria à Joana se a encontrasse.
-------
Posfácio: E para o que lhe havia de ter dado! Imaginar uma história de um círculo que não existe e com um título que é uma palavra que também não existe, pelo menos neste contexto!
------

E acabou.