30 setembro 2022

O que falhou?


Quando um produtor ou distribuidor sofre um aumento significativo nos seus custos, tentará repercuti-lo a jusante nos seus clientes, com maior ou menor dificuldade, conforme a natureza dos seus contratos e a dinâmica do negócio. Poderá passá-lo completamente, parcialmente, se o mercado não aceitar, ou com amplificação se houver margem para “espertezas”.

Num mercado aberto a concorrência encarrega-se de encontrar novo ponto de equilíbrio, mas há situações em que a natureza do produto/serviço e a limitação no número ou na facilidade de mudar de fornecedor, obriga a alguma regulamentação e supervisão. Uma coisa é mudar o local onde se toma o café matinal, outra coisa é o fornecedor de energia.

Os aumentos recentes no custo do petróleo e o do gás, deveriam estar a colocar pressão nos distribuidores, desde que corretamente enquadrados contratualmente e supervisionados. A montante, os produtores beneficiam certamente, mas aqui falamos de estruturas multinacionais e de contabilidade não facilmente escrutinável pelo fisco de cada país.

Assim, estes aumentos de custos de energia “excessivos” e excitação com taxar lucros “extraordinários” traduzem algo que falhou. A disparidade na evolução/aumento dos custos para os diferentes cenários contratuais, também é inexplicável. O preço do petróleo tem um longo e amplo histórico de ioió, mas nunca vimos tamanha disparidade e volatilidade no preço dos combustíveis.

Em vez de se discutir o “castigo”, de taxar, sendo que os Estados já estão a beneficiar de aumentos extraordinários da sua receita fiscal, era importante entender o que falhou no enquadramento e supervisão dos mercados de energia. Há algo aqui que não bate certo e os consumidores certamente preferirão pagar menos do que gerarem mais base para impostos

07 setembro 2022

Quem vem e atravessa o rio


 “Vê um velho casario que se estende até ao mar”. Assim contava a bela canção sobre o Porto, sentido. Quem atravessava o rio, na Arrábida, não junto à serra do Pilar, via de um lado o casario e do outro a bela foz do rio.

Hoje essa vista está conspurcada por uma construção que vem de lá de abaixo até uma altura pornográfica. Que é isto, que mais parece um pesadelo, é real? E não se pode demoli-la?

03 setembro 2022

A transição a chegar mesmo


Lembram-se dos tempos em que os grandes líderes mundiais viajavam em jatos privados para se reunirem e discutirem as ações a tomar para salvar o planeta? Ou quando ambientalistas iam de Lisboa a Madrid para manifestarem pela sua causa? Lembram-se do tempo em que era consensual a necessidade de travar a utilização dos recursos do planeta, mas poucos efetivamente alteravam os seus hábitos e confortos?

A guerra na Ucrânia e o que por aí se adivinha como consequências, talvez venha a ter mais impacto real do que todas as cimeiras e manifestações organizadas até hoje. É que quando não há, não há mesmo. E se aplicássemos os mesmos princípios sancionatórios à Arábia Saudita pelo que têm feito no Iémen e não só…

Somando-se a esta crise energética a seca e a escassez de água, frugalidade deveria ser a palavra-chave e a ter em conta ao antes de acionar um interruptor, abrir uma torneira, avaliar um saldo ou promoção, carregar no acelerador ou planear as próximas férias. Em França. E. Macron, dramatizou anunciando o “fim da abundância”. Na teoria já sabíamos que vivamos de forma insustentável, mas as renúncias voluntarias são limitadas.

A ser concretizada esta travagem, para lá dos efeitos nas comodidades de cada um, haverá repercussões sérias em muitas fileiras de atividade. Se se deixar de gastar, vai sobrar capacidade produtiva, da qual muita gente depende. Esse será um grande problema a gerir, muito maior do que a perda dos confortos consumistas.