27 novembro 2012

Aliste-se! O país precisa de si!

Estamos de acordo que: a democracia é o pior sistema com excepção de todos os outros; a democracia não existe sem partidos; os partidos actuais estão moribundos de ideias, de capacidade e de vitalidade, um pouco como as casas reais ficavam atrofiadas pela consanguinidade. A solução é criar novos partidos? Como não há boas experiências nesse campo, a minha sugestão é: vamos tomar de assalto os partidos existentes. Isso mesmo. Cada cidadão que ache que tem algo a dar ao país e entenda que estamos numa situação crítica em que isso é necessário, inscreve-se num partido. Eu sei que muita gente acha que são todos maus, mas escolham lá aquele menos mau, aquele com o qual se identificam mais. Podem as portas estarem fechadas a esta invasão de cristãos-novos, ou estarem abertas mas com uma janela aberta logo em frente, pode não dar nada, mas o estado do país justifica o esforço. Vamos a isto?!

23 novembro 2012

A Alemanha do Far West

Não entendi aquela grande raiva aquando da visita da Sr Merkel, como se ela fosse a origem dos nossos males e devesse ser a solução para todos os nossos problemas. Se calhar alguns alemães têm inveja das condições de vida naturais do nosso país, do clima, dos vinhos, da gastronomia, das praias, de um certo saber bem viver que lhes falta e, por isso, não terão grande pena de nós se ficarmos a penar. Mas daí a eles serem a origem dos nossos males, só se for pelo rios de fundos europeus que para cá correram abundantemente durante tantos anos, em boa parte por eles financiados, e aos quais ficamos mal habituados. Serviram para fazer muita coisa, inclusive auto-estradas paralelas separadas por centenas de metros como a A1 e a A29 entre Estarreja e Aveiro. Por outro lado, ao pensar em Auto-europa, Continental e Bosch fico convencido de que os alemães podem certamente ser parte da nossa solução. E se, em vez de insultar a senhora, nos preocupássemos com que estas empresas não partam e mostrássemos que ficaríamos contentes eras se outras mais para cá viessem? Infelizmente a instabilidade fiscal do sobe e desce, avança e recua, sem saber que impostos se vão pagar daqui a 5 anos, nem sequer daqui a 5 meses, não agrada a nenhum investidor.

Quando se dá o exemplo da Alemanha de Leste e se pede um paralelo, não sei se estará claro para todos que a ex-RDA foi anexada e ficou a ser governada pelos outros. É isto que querem para cá: sermos a Alemanha do Far West ? Às tantas, pensando bem e friamente, nem seria má ideia. Pouparíamos o custo do nosso governo e evitaríamos os desgovernos das auto-estradas redundantes e afins. Para que nos serve a soberania se não nos conseguimos governar!

21 novembro 2012

Europa, querida Europa

Quiseram as circunstâncias que me decorresse uma semana por terras da Europa que já não pisava há uns tempos, entre alguma nostalgia, satisfação e estranheza. Vamos por partes. Madrid, porta do Sol – Um SUV da protecção civil passa lentamente entre o povo que circula. A particularidade é a marca e modelo, BMW X3, e apetece dizer: “Não há necessidade…!”. Ao mesmo tempo há vitimas de acções de despejo que se suicidam atirando-se das janelas dos apartamentos que têm de entregar ao banco. Não há protecção civil que as salve, nem mesmo com um X3, por mais rápido que seja.

Paris – Metz – A A4, o nevoeiro, as referências a Verdun, aquelas vinhas de Champanhe tão a norte que não entendo, e a Lorena terra de ninguém da frente Franco-Prussiana.

Metz – Há catedrais fantásticas como esta. Também uma igreja monumental de planta simétrica, curioso, ah pois!, é dos templários! Le Beaujolais nouveau est arrivé! E pronto lá estão eles a vender aquele vinho de S. Martinho a preço forte, a japoneses e afins. É como o nosso Mateus Rosé – apenas para quem não sabe o que é vinho. E na quinta-feira à noite, gente na rua de forma imprevisível para paragens tão setentrionais. Será que a tradição estudantil da festa nesse dia é generalizada?

Beauvais – Se aquilo é “Paris”, então podemos pôr um aeroporto em Cabeceiras de Bastos e chamar-lhe “Porto – Cabeceiras”. Eu sabia que não devia confiar no GPS. Desde o centro até lá, atravessando a horrível periferia norte de Paris foi mais uma hora a somar à hora e tal previstas. Pensava encontrar um restaurante simpático, acolhedor mas não foi assim. Basicamente sítios, poucos, com gente a beber cerveja, já a sentir-se a proximidade flamenga e um certo olhar frio para quem tem cor de pele diferente. Ou será preconceito e trauma meu? Entrei e saí de dois sítios no centro e acabei por trincar qualquer coisa num daqueles restaurantes plásticos ao largo da estrada, iguais em todo o lado.

Europa, querida Europa…

16 novembro 2012

O resultado da democracia

Suponhamos que se instaura um regime democrático numa creche e a ementa da semana vai a votos. A educadora apresenta uma proposta equilibrada alternando carne com peixe e sem esquecer a sopa e a fruta. O Manelinho levanta-se e diz – “Basta! Somos livres de escolher, não temos que estar subjugados a essa tirania da dietética que nos querem impor! A minha proposta é: hambúrgueres e batata frita, todos os dias!!”. Naturalmente arranca uma larga salva de palmas e entusiásticas ovações.

O mais certo é que o Manelinho tenha uma larga vitória e, com plena legitimidade democrática, se passe a comer hambúrgueres e batata frita todos os dias. Quando mais tarde for necessário tratar do colesterol, aí a culpa é da troika, que é como quem diz do médico que prescreve, mal ou bem, o tratamento.

Todos aqueles hoje que hoje barafustam contra a dita troika, onde andavam e que diziam quando o pessoal se empanturrava com os ditos fritos? Quantos deles tiverem a coragem de dizer nessa altura que pelo caminho que levávamos íamos acabar muito mal? Muito poucos. Um número absolutamente residual e largamente inferior ao daqueles que por acção ou omissão alinharam com os Manelinhos. Vociferar agora contra o tratamento a que os sucessivos desgraçados desgovernos nos conduziram é tarde. A democracia falhou. Irá ser necessário suspendê-la?

08 novembro 2012

Um espanto

Vejo nas notícias que há um escândalo em curso por o Centro Hospitalar do Entre Douro e Vouga ter descontado as taxas moderadoras devidas pelos seus funcionários nos seus vencimentos. E o escândalo não é pela dívida em si. O escândalo é pela legalidade da retenção, por algumas terem até já prescrito e por assim o hospital ter poupado uns euros em notificações pelo correio. Realmente é escandaloso e o problema não está em quem deve, está em quem procura cobrar.

E aproveito eu para me servir do exemplo. Todos os meses a minha empresa desconta-me directamente no vencimento o meu consumo na cantina. Acho que sem uma deliberação do tribunal não o deveriam fazer e se calhar, se pensar no que me descontaram em todos estes anos, esquecendo prescrições e juntando os juros, não fico rico, mas quase.

Há certos países em que os pagamentos têm que ser feitos à vista porque compromissos são frouxos e a justiça não funciona. É isso que querem estes fundamentalistas da forma?

07 novembro 2012

Estamos em perigo !

Vejo no telejornal a história do jornalista que foi preso nos Açores por, depois de ter insultado e de ter tentado agredir Miguel Relvas. Aparentemente, a versão do jornalista é diferente: não foram insultos, foi uma provocação em brincadeira e apenas estava a passar no corredor do quarto de hotel do ministro quando foi duramente abordado pelos seguranças.

Se calhar a verdade não está completamente em nenhum desses dois lado, mas ao ver a figura laroca do So Dotor Ministro, fico preocupado. Qualquer pessoa de bem ao ver aquele Sotor, com aquele (so)risinho parvo à sua frente, corre o sério risco de “mandar uma boca”, que seja interpretada como um insulto, e lá vamos dentro.

Da parte que me toca, garanto que me sinto mesmo em perigo. Espero bem não me cruzar com este senhor. Não pode, não pode, não pode ser ministro ! Haja decoro.

06 novembro 2012

Os segredos ...


Vejo numa revista generalista as letras gordas e as legendas de um artigo sobre o funcionamento do cérebro. Está identificado o cantinho do órgão que reage a cada estímulo e onde reside cada funcionalidade. Leio na diagonal e o tom é de que já se sabe tudo, mas acho que a coisa fica pelo conhecimento geográfico. Se pensarmos no processo de desenvolvimento das faculdades mentais, o nevoeiro é absoluto e cerrado. Porque raio há quem não consiga aprender matemática? Qual a influência da televisão e dos ecrãs em geral – net e jogos – no desenvolvimento do cérebro do ser humano?

Aqui, o pau tem dois bicos. Se se soubesse como fazer evoluir o cérebro resolver-se-iam muitos dilemas e angústias do sistema educativo e dos seus actores como pais e professores. Mas, se isso fosse tão claro como o desenvolvimento dos bíceps, iríamos ter “ginásios” para criar sobredotados? E iríamos necessitar de alguma forma de controlo anti-doping para não termos batota, ou se preferirmos, evitar estratégias de alto rendimento a todo o custo que apresentam factura pesada a prazo?

Não, decididamente, o que se sabe continua a ser mais sobre o hardware do que sobre o software. E ainda bem. O cérebro está para o ser humano como uma reserva virgem está para a biodiversidade. Se colocássemos todas as espécies num zoológico, perderíamos algo de fundamental. Se fosse possível condicionar, programar ou formatar o nosso software, acho que deixaríamos de ser nós.

Não obstante estes devaneios saber um pouco mais sobre o que é realmente saudável e nocivo para o desenvolvimento do cérebro não seria mau.

04 novembro 2012

Refundar

Quando não se sabe o que fazer, baralha-se e torna-se a dar. A palavra “refundação” avançada por Passos Coelhos estes dias soa-me a baralhar. A ideia de convocar o PS para discutir ideias e propostas parece-me positiva. Se este diz e repete que há alternativas, não tem mais que fazer do que se sentar à mesa de trabalho e apresentá-las e discuti-las. É muito mais interessante do que simplesmente o anunciar e repetir em jantares de família, para as respectivas ovações da praxe.

Mas, da mesma forma como a ideia peregrina de Passos Coelho de fazer uma revisão constitucional não servia para nada, também penso que não temos que refundar nada. Apenas fazer bem o que tem que ser feito. A solução não é cortar 5%, 10% ou 20% a todos os funcionários públicos. O problema é não se cortar 100% naquilo que é realmente redundante e, para isso, não é preciso refundar nenhum estado, basta trabalhar a sério sobre o assunto e ter convicção e coragem. Eu não me importo de pagar impostos para uma sua redistribuição séria pela educação, saúde, justiça, segurança e todas essas coisas que devemos ter independentemente do saldo da conta bancária. Agora, não estou disposto é a pagar coisas que custam o dobro do que deveriam custar, não estou disposto a ver o esse dinheiro que ganhei ir parar à Suíça, pagar o escândalo do BPN, as generosas consultadorias dos grandes concursos públicos e por aí fora. Para isso, insisto, não é necessário refundar o Estado, a menos que ele esteja tão podre que não tenha cura. Neste caso também não seriam os protagonistas actuais os adequados a tal missão e isso era uma conclusão muito perigosa.

02 novembro 2012

Os técnicos do FMI

Em primeiro lugar convém realçar que se o FMI anda em Portugal, não é por vontade e imposição dele, é pelo desgoverno e irresponsabilidade que existiu em Portugal durante largos anos. Agora, quando se fala na ajuda dos técnicos deles, fico preocupado. Passei com alguma frequência pela Argentina, no final da década de 90, quando esta era um bom aluno dos técnicos do FMI. Com o peso indexado ao dólar, tinha uma baixa taxa de inflação, considerado fundamental pelo FMI e prova provada do sucesso da sua acção. O problema é que os juros da dívida pública eram largamente superiores a essa inflação e não é necessário ser nenhum génio em economia para adivinhar que um Estado largamente endividado a pagar juros elevados em moeda forte, não gera riqueza para se sustentar. Foi o que aconteceu com a Argentina que no inicio de 2002 deu um calote aos seus credores. Durante largos anos houve miséria e restrições de todo o tipo e se hoje a Argentina está relativamente bem, convém não esquecer que aproveitou o seu enorme potencial de recursos naturais e o preço forte destes durante os últimos anos em que a economia mundial cresceu fortemente. O eventual paralelo com Portugal teria a primeira parte comum, mas não a segunda.

Até ao último momento os técnicos do FMI continuavam a dizer que se estava no bom caminho. Assim, arrepio-me um pouco quando penso no resultado que a sua “ajuda técnica” pode trazer a Portugal.