29 agosto 2020

“Reguengolaniar”


 

O triste relato e retrato dos acontecimentos em Reguengos de Monsaraz tem um significado que ultrapassa o lar de idosos da cidade alentejana e o contexto da atual pandemia. Tanta falha, desleixo, irresponsabilidade e inação são um sinal de um sistema disfuncional. E este problema não é certamente exclusivo de Reguengos. 

 Em quantas direções, administrações, regionais ou municipais e outras que tais estão nomeados/colocados dirigentes/responsáveis desprovidos de cartão partidário, simplesmente pela sua competência? Em quantas cidades e vilas o poder autárquico e autocrático sustenta e controla uma fatia excessiva da sociedade/economia local, asfixiando e condenando toda iniciativa ou critica que o possa questionar e fazer “avançar a terra”? 

 Qual é o contrapeso que trava estes pesos pesados? As eleições e a alternância democrática? Teoricamente sim, mas a prática prova que estes sistemas acabam por se enraizar de tal forma que sobrevivem com facilidade a esse escrutínio, amplificando até a cada mandato a sua pegada sufocadora. 

Falta contrapeso e esse escrutínio e freio são fundamentais ao saudável desenvolvimento do país, especialmente do interior. Depois, não vale a pena chorar… 

Infelizmente este flagelo acaba por ser vertical, atingindo vários níveis do poder, embora em níveis mais elevados a visibilidade seja maior e a vigilância potencial mais elevada. Ou, nem por isso… a nomeação de Vitor Escária como chefe de gabinete do nosso primeiro ministro (que tão bem se portou neste processo) poderia ter sido mais escrutinada.

17 agosto 2020

Isto de cativar…

 

É necessário denunciar Luis de Camões. Então, não é que em vez de condenar a escravatura, resolveu escrever poemas sobra uma bela (?) cativa que supostamente o tinha cativo – rica ironia! Um mau exemplo que perdurou. Mesmo no século XX, reputados esclavagistas como Zeca Afonso e Sérgio Godinho ainda tiveram o desplante de musicar e cantar a “bela cativa”. Obviamente, não podemos nem devemos olvidar que o poeta, despudorado esclavagista, manteve até à sua morte um escravo, Jau, trazido do Oriente. 

Os Lusíadas são pouco mais do que o exaltar de uma campanha miserável que levou a escravatura aos quatro cantos do mundo. Algo que nos deveríamos envergonhar profundamente. “Shame on you!”; queimem os livros; estátuas abaixo e toponímia corrigida! 

E não nos acusem de violência. Num passado não muito longínquo, jovens burgueses revoltados contra o seu próprio meio sociocultural, chegaram a despoletar bombas em estações de caminho de ferro. Aqui não se mata ninguém, apenas uma cultura podre, que indiscutivelmente é podre e nefasta. 

Não, ainda não chegaram ao ponto de derrubar estátuas de Camões e mudar nome de ruas e praças, mas a lógica subjacente está lá, se pensarmos, por exemplo, no Padre António Vieira. 

Sim, está em causa destruir uma cultura, a própria. Sim, é esse o objetivo destas excitações. Com todos os defeitos e virtudes, crimes e maravilhas que balizaram o seu caminho é a nossa história e raiz. O mínimo dos mínimos é construir o futuro lendo justamente o passado. As políticas de terra queimada nunca trouxeram nada de bom, especialmente no domínio cultural. Isto de cativar julgamentos e aprisionar pensamentos é muito mau sinal.


14 agosto 2020

“Hidrogenizar” a energia

 

Quando se fala em descarbonizar a produção de energia, estamos a falar em substituir os combustíveis de origem fóssil, produtores de CO2 por “outra coisa”. Essa outra coisa pode ser energia hídrica, ai os rios e os peixes, as eólicas, ai a paisagem e os pássaros, o nuclear, ai os riscos e os resíduos e por aí fora, entre outras alternativas e ais. 

 O hidrogénio não é nenhuma fonte de energia… usamos energia elétrica para o produzir, vinda de um ai qualquer, ele é armazenado e posteriormente devolve parte da energia elétrica que o produziu. É apenas um acumulador, digamos que uma bateria diferente… 

 Poderá ser um acumulador mais eficaz e interessante do que os existentes e permitir um armazenamento mais vantajoso, mas nada mais do que isso. Convém ainda recordar que a sua utilização ainda está muito na fase protótipo. Não há escala nem experiência consolidada. 

 Quando, neste contexto, vejo tanta excitação com tantos milhões para uma coisa tecnologicamente tão embrionária e com impacto real tão limitado na tal descarbonização, os ais são muitos.