30 junho 2011

A Maldição da Fama?

Às vezes parece que a comunicação social não sabe bem o que há-de inventar para ter títulos a faiscar. Se um famoso morreu em consequência de um acidente de viação, independentemente das circunstâncias, isso não é bem uma maldição exclusiva de famosos. Em 2010 morreram 747 pessoas nas estradas em Portugal, em média cerca de 2 por dia, 14 por semana e que não sofrerão de nenhuma maldição especialmente diferente da dos famosos… a principal diferença é que não são (tão) objecto da maldição da comunicação social.

Caso diferente será o de Sónia Brazão, que eu nem conhecia, e que, ao que parece, fez explodir a casa com ela lá dentro … e assim voltou a ser capa de revista. Mas… aqueles não famosos que têm um tropeção sério na vida como desemprego, luto ou alguma frustração forte que não conseguem ultrapassar, não têm também tantas vezes comportamentos destrutivos individuais ou colectivos?

As grandezas e misérias da condição humana não têm género, época, grupo social ou segmento mediático específicos.

Balsemão e Pais do Amaral unidos contra a privatização da RTP

E cintando o DE: Francisco Pinto Balsemão e Miguel Pais do Amaral voltaram a alertar para as consequências da privatização da RTP no mercado publicitário. Segundo o presidente da Impresa e fundador do PSD, "não haverá mercado para mais um ‘player' em televisão de sinal aberto".
Ora bem, se o mercado não suporta 3 canais, qual a melhor solução? Fechar o que está a mais ou manter um excedentário à custa do contribuinte? Será assim tão díficil responder à pergunta?

Nota: Para a RTP2 não me importo de contribuir, mas apenas para essa.

29 junho 2011

Revisão dos feriados

Supostamente para aumentar a produtividade por redução das pontes demasiado longas o novo governo pensa em alterar a data efectiva dos feriados. Apetece perguntar se o problema é do coiso ou das calças. As pontes são obrigatórias ou uma fatalidade? Não. As pontes são umas prendinhas que se dão para adoçar os colaboradores ou os funcionários. Se o gestor privado ou público entende que o dia perdido é importante e negativo para os resultados da sua organização, tem uma solução simples: não dar ponte!

Quando muito pode haver algumas actividades em que arrancar na segunda, parar na terça e rearrancar de novo na quarta represente uma perda de produção significativa. Aí sim, pode-se justificar ter menos descontinuidade e deslocar o dia “feriado” de terça para segunda. Nos outros casos e muito especialmente no sector público do Estado, o que precisamos é de uma cultura de responsabilização e não ter de “legislar” desta forma para limitar a generosidade dos “chefes porreiros”.

25 junho 2011

As primaveras árabes em curso

Dizem por ai muitos opinadores e comentadores que a “Democracia” está a chegar ao mundo árabe, que isso é fantástico e acrescentam outras teorias e baboseiras. Ora bem, eu sobre os árabes mesmo lá do Médio Oriente sei pouco, mas sobre o norte de África posso acrescentar algo. Dentro de toda a gente que mexe ou faz mexer actualmente aquela parte do mundo, identifico 4 grupos. Não necessariamente rigidamente estanques e homogéneos, mas dentro da simplificação esta divisão já é suficiente para não concluir assim rapidamente que não há “um” povo a sair à rua.

Grupo 1 – A alternativa. Aqueles que de uma forma ou de outra e com motivações distintas aspiram subir ao poder. Considerando um acesso pela via da democracia, será necessário que cheguem a uma boa camada da população. E aqui surge o primeiro problema: na maior parte desses regimes os partidos do poder podem ser um ou vários mas de nenhuma forma são projectos de mudança. Os outros, que serão mesmo de oposição, quando existem, estão desgastados numa imagem envelhecida de “pregadores do deserto” e sem conseguirem uma afirmação credível que mobilize uma larga fatia do eleitorado. Os únicos que conseguem apresentar um projecto que pode alcançar e convencer uma boa parte da população, são os de base religiosa. Aqui convém confirmar se estes se manterão democratas mesmo após subirem ao poder ou se uma vez lá e como representantes de um poder divino inquestionável trancarão as portas a qualquer outra posterior mudança.

Grupo 2 – Os esclarecidos, que querem viver num país melhor, mais justo, mais desenvolvido, que premeie o mérito, em que o poder preste contas a sério e que acreditam que a democracia é o caminho para lá chegar. Alguns desta base já emigraram e os que ainda lá estão e são mesmo esclarecidos vêm com bastante apreensão o panorama do grupo 1.

Grupo 3 - Os pobres, aqueles que simplesmente querem ter uma vida melhor. Se para viver como na Europa em que há democracia, o caminho é a democracia, eles serão democratas; se os convencerem de que essa melhoria passa pela x_cracia, eles serão x_cratas. Não estão necessariamente preocupados com a justiça na distribuição da riqueza, o mais importante é que o caminho da riqueza passe por eles. Em caso de democracia, mesmo democracia, provavelmente será da escolha deste grupo que sairá o novo poder.

Grupo 4 – Os vândalos que aproveitam a desestabilização para sair à rua e quebrar e queimar, sem uma preocupação construtiva. Destroem por instintos de maus fígados ou/e por vontade de primária de demonstrar que existem e que esta é a sua forma de afirmação.

Do peso de cada um destes grupos e da sua interacção com a realidade sócio, económica, histórico e política de cada país, nascerá uma realidade diferente e perspectivas diversas de mudança. Veremos isso a seguir.

10 junho 2011

A Banda do Chico passa em Barcelos


"A Banda" de Chico Buarque por Nara Leão.
Bonecos de João Ferreria (Oleiro de Barcelos).
Versão com melhor qualidade aqui .

E, para quem quiser ver algo relacionado, há um jovenzinho a cantar isto aqui.

08 junho 2011

Governar o próprio ou mandar no alheio

Como todos sabemos temos perdido ao longo dos últimos tempos parte da nossa soberania. Perdemos com a adesão à UE, perdemos com a adesão ao Euro e agora mais recente e mais dramaticamente perdemos com o plano de resgate. Será mau? Será preferível o “orgulhosamente sós”? A mim, não me choca pensar em ter um ministro das finanças alemão, um ministro do interior inglês, da cultura italiano, do ensino finlandês e por aí fora. Não me importo com uma condição: que quem quer seja que mande cá, se sinta identificado connosco e membro da mesma comunidade.

A senhora Merkel e respectiva equipa podem entender que precisam de mandar na Europa, arranjando a companhia da França só para não parecer demasiado mal o estar a Alemanha isolada nessa campanha. E isso até pode ser bom, mas desde que seja de Europa para Europa. Se a Alemanha entende que “nós mandamos nos outros”, já começa a ser uma espécie de colonização. Sendo assim, sem a tal identificação comunitária, vai dar mal resultado como deram as colonizações. Porque, por muito esclarecido que seja um governante, a sua autoridade nunca será sustentável se não for percebido como “ um dos nossos”.

PS: É claro que os alemães saberem do fantástico recorde de existirem mais de 9 mil gregos com mais de 100 anos de idade “vivos” e a receberem pensões não deve ajudar muito a essa identificação…

06 junho 2011

Pós - reflexão

Afinal o eleitorado não estava assim tão perdido quanto as sondagens pareciam manifestar. A diferença real entre o PSD e o PS é a normal e a expectável para as circunstâncias. Penso que as ameaças de empate das sondagens tiverem uma explicação: o eleitorado crítico e que define o resultado (há quem lhes chame flutuante, mas enfim, o que flutua são as rolhas, estes estão ancorados numa análise não clubista da capacidade de governação dos candidatos) demorou demasiado tempo a definir a sua tendência e, apesar de todas as dúvidas, acabou por dar o seu voto ao PSD. Está claro.

Duas notas negativas. Contra toda a expectativa, a incapacidade de o CDS subir francamente como parecia previsível - talvez uma lição para Paulo Portas pensar em reduzir a taxa de utilização da sua caixinha de alfinetes com que gosta de presentear os seus adversários e até mesmo potencial parceiros. Na sua ânsia de marcar pontos ao PSD ele exagerou, ver o infeliz debate com Passos Coelho, e acabou por criar desconfiança aos potenciais eleitores migrantes de todos os quadrantes. Depois o Bloco: aquela coisa chique tão cheia de nada terá finalmente começado o caminho de regresso à sua dimensão nuclear? Um Acácio Barreiros ou um Major Tomé que lá estão no Parlamento para apresentar de vez em quando uns discursos politicamente incorrectos e necessários, mas que obviamente não conseguem credibilidade alguma para um trabalho de governação construtivo?

E do PC/CDU nada a acrescentar, como sempre.

04 junho 2011

Dia de reflexão

Dia de reflexão para uns eleitores desesperados

- Então como é? Em quem votamos?
- Naquele que nos engana ou naquele que se engana?
- Queres dizer: no aldrabão ou no nabo?
- Nem tanto assim, mas pronto: em qual deles?
- E quem te garante que o nabo não é também aldrabão?
- Pois… mas o Sócrates, especialmente “pós-troika” tornou-se verdadeiramente impossível de aturar de tanta falta de humildade...
- Pois… e então em quem votamos?
- E o Passos Coelho não tem cara de quem consegue definir e manter um rumo. Flutua demasiado.
- Pois… e então em quem votamos?
- Venha o diabo e escolha!
- O diabo… votamos no Garcia Pereira ?
- Se calhar vamos votar no nabo…
- E daqui a seis meses, estaremos arrependidos…
- Seis meses? Optimista!

    02 junho 2011

    Campanha para quê ?

    Se há uma campanha que merecia e devia ter sido diferente, seria esta, por vários motivos e destacando especialmente o facto de estarmos em pré-falência e metade do programa de governo estar já feito e aprovado no tal documento da troika. O que é que vimos? Aqueles que disputam a vitória fazerem um verdadeiro concurso de caneladas, a ver quem pisa a canela do outro com mais intensidade; aquele que sente que de uma forma ou outra vai chegar ao poder não consegue disfarçar o seu contentamento, não importa que chapéu, boné ou boina tenha enfiado; aqueles que sabem e/ou não querem correr o risco de ter mesmo que governar lá vão debitando e ideias e utopias, como, por exemplo, o falido falar grosso ao banco, mesmo antes de este lhe ter aprovado o empréstimo que o salvará da falência.

    Para que servem os comícios, almoços, jantares, arruadas e beijinhos em feiras e em tascas? Para cada qual, no seu partido, fazer a festa e mobilizar o seu aparelho e animar os seus simpatizantes? Ainda por cima gasta-se dinheiro causando algum stress nas finanças dos partidos com soluções muitas vezes no limite… Se é pela festa basta uma anual no verão! Para o eleitorado em geral este carnaval acrescenta muito pouco.

    Em resumo, em geral e muito especialmente nesta vez, uma campanha destas não serve para nada. Coloquem os líderes dos partidos, assessorados da forma que entenderem, em fóruns públicos com especialistas que os questionem abertamente e os forcem a responder às questões fulcrais: de que forma realmente pensam governar e abordar e resolver (ou tentar resolver) os gravíssimos problemas que temos pela frente. Seria muito mais útil, esclarecedor e até barato do que este carnaval fora de tempo.