31 agosto 2022

DesTAPando o aeroporto


Na discussão sobre a necessidade e as alternativas possíveis para o novo aeroporto de Lisboa, onde uma opção a Sul do Tejo tem implicações e um investimento em infraestruturas enorme, há uma variável que não se costuma colocar na equação e já sem referir o impacto que a limitação das emissões de CO2 e a utilização de combustíveis fosseis terá nos hábitos de mobilidade.

Uma boa parte do tráfego em Lisboa é consequência da existência da TAP e do seu “hub” estar aí baseado. Se a companhia desaparecer essa intermediação entre vários destinos irá desaparecer e o movimento reduzirá de forma significativa.

É certo existirem uns fundamentalistas que juram e prometem que nunca a “nossa” companhia irá desaparecer, que haverá sempre uns milhares de milhões, desviados de outras necessidades, para a manter no ar…

Para mim não é de forma nenhuma garantido que uma companhia desta dimensão e com este histórico e cultura tenha viabilidade a prazo. Nesta eventualidade, as premissas para o novo aeroporto mudam bastante. Será descabido equacioná-lo neste momento?

30 agosto 2022

Paulo de Oliveira


Corria o ano de 1989, mais coisa menos coisa, e eu, por acaso, passei na Covilhã. Para quem vivia no concelho de VN Gaia e trabalhava no de Matosinhos, era um acaso um pouco forçado passar por aqueles lados, mas o argumento do acaso foi desculpa boa para forçar uma reunião com o Sr. Paulo de Oliveira.

Ele estava prestes a decidir um investimento industrial e nós não estávamos bem colocados, donde que fui lá, “por acaso”, tentar salvar a dama. Recebeu-me com cortesia e frontalidade. Impressionou-me a sua omnipresença na empresa. Discutiu comigo detalhes do projeto, expressou a sua opinião quanto à marca dos componentes de automação, enquanto era interrompido por uma encarregada da fábrica que lhe reportava um problema algures na tinturaria e queria a sua opinião sobre a opção a tomar para a solução. Dinâmica e capacidade de decisão não lhe faltavam.

A missão teve sucesso e foi o nosso primeiro projeto na área têxtil, que tinha, com ou sem razão, o hábito de comprar equipamentos fora do país. Dizia-me que o seu carro era um BMW e não um Fiat e tinha as suas razões para isso. Eu, que por acaso até lá tinha ido de Fiat, expliquei que ele tinha razão nesse campo, pelas diferenças constatáveis, mas não era o caso entre o equipamento alemão e o nosso.

Depois dessa fase, acompanhei a evolução da empresa, de longe. Foi um lutador e um resistente. Se ainda existe indústria de lanifícios e especialmente naquele interior do país, em boa parte, se não em toda, deve-se a Paulo de Oliveira, que hoje partiu. O país é devedor a personalidades como esta.

Imagem do jornal "O Interior"

27 agosto 2022

Podia ser pior


Partiu um braço? Poderia ter sido os dois! Foram os dois? Poderia ter sido também as pernas! Foram também as pernas? Poderia ter ficado paraplégico! É sempre possível face a algo que corre mal imaginar um ainda pior e assim conseguir fraco consolo.

Relativamente à calamidade habitual dos incêndios, ficamos a saber, segundo uma secretária de Estado, que podia ter sido pior. E não se baseou em palpites ou sentimentos, mas num mui científico algoritmo. E quem governa, apenas mede os resultados nos algoritmos ou procura antecipadamente melhorar? E este tomará em consideração a competência, a organização e os meios? E se, por exemplo, em vez de gastarmos milhares de milhões a manter os Airbus da TAP no ar, houvesse mais Canadair a voar e a apagar incêndios? Aposto que esta o algoritmo não apanha!

Por outro lado, depois de ter ardido 1/4 do Parque Natural da Serra da Estrela, a ministra vem dizer que vai ser realizado um plano de recuperação e revitalização que deixará o Parque melhor do que o que estava. É pena então não ter ardido todo! Portanto, vamos lá ao Gerês, Sintra, S. Mamede, Montesinho, etc, toca a passar as chamas para no final ficarem melhor do que o que estão! A ministra saberá o que é uma floresta?! Já agora, o ardido pinhal de Leiria, cinco anos depois, como vai em termos de recuperação?

23 agosto 2022

Inês é morta


 A comunicação emitida pelo Governo, não deve ficar apenas de boas novas. Se há algo que está a correr mal, é um dever divulgar essa informação, explicar as causas e apresentar as ações corretivas em curso ou planeadas.

Um dos temas onde existe uma forte carência nesse campo é o excesso de mortalidade. As informações são extraídas a “saca-rolhas” e o Governo anuncia um “estudo aprofundado” (!), com resultados a serem conhecidos em 2024!?

Vamos ser sérios. É óbvio que a prioridade Covid no SNS terá tido algum impacto nas restantes doenças. Até que ponto teve, é uma questão fundamental. Parece óbvio que quem governa pensando e antecipando deveria ter montado um sistema de acompanhamento que permitisse termos hoje dados concretos sobre o impacto dessas carências no tratamento e acompanhamento dos doentes não Covid.

Mesmo que nada tivesse sido feito e alguém tivesse acordado agora, com Inês já morta, esperar por 2024 é surrealista. Vamos continuar assim, que não estamos bem, e esperar por 2024 para termos informação que permita entender e atuar? Brincamos com coisas muito sérias, não?

19 agosto 2022

Os Robin do Paço


Tirar aos ricos para dar aos pobres é uma ideia simpática e aparentemente justa, especialmente quando a riqueza é usurpada e a pobreza desmerecida. Atualmente já existem vários mecanismos fiscais e de apoio social que fazem uma importante transferência dos mais ricos (pelo menos dos que declaram rendimento), para os mais necessitados.

Nestes tempos conturbados, vemos inflação, a que já não estavam habituados, e é forçoso de uma certa natureza humana, haver quem aproveite o aumento dos custos, arredondando para cima os preços. Diz-se assim que há empresas a beneficiar de “lucros extraordinários” e que devem ser taxados…

Se estão a ganhar em “demasia”, quem está a pagar são os consumidores e na economia de mercado em que vivemos, a pior com exceção de todas as outras, deverá haver mecanismos intrínsecos de correção. O Governo deve verificar se o acesso ao mercado é livre e para casos mais sensíveis estão aí os reguladores.

Que o governo se queira apropriar desses excessos com mais uma taxa ou taxinha, para fazer sabe-se lá o quê, não alivia os consumidores, pelo contrário consolida os preços altos. Aliás o próprio está também a ter receitas adicionais e poderia dar o exemplo, abrindo mão de algumas taxinhas, ao contrário de procurar novas.

Além de que a relação entre o Estado e as empresas deve ser séria e estável e não estar à mercê de investidas populistas.

15 agosto 2022

Palpites e mais palpites


No passado mês de junho decorreram as eleições legislativas em França. Têm a particularidade de cada lugar ser conquistado individualmente, por maioria, a uma ou duas voltas, como nas nossas presidenciais. Existe uma prática de que um ministro em funções que falhe a eleição no seu círculo deve abandonar o governo, falta-lhe legitimidade. Em Portugal o sistema é diferente e a prática também. Não quiseram eleger Fernando Medina como presidente da câmara de Lisboa? Gramem-no agora como ministro!

Medina acabou de contratar um ponta de lança para a comunicação, um galáctico, com vencimento superior ao do ministro. Enfim, Sérgio Figueiredo pagou a Medina para dar palpites na TVI; agora este paga a Figueiredo para dar palpites no governo. Palpite com palpite se paga.

Para lá deste antecedente, é curioso como o ministério das finanças necessita assim dum craque em comunicação… Medina já demonstrou no passado ter problemas em geri-la, mas não seria preferível que este Governo privilegiasse a realização em detrimento da comunicação? Por exemplo, fazer chegar os fundos do PRR às empresas que deles necessitam, de preferência ainda antes da próxima pandemia?

08 agosto 2022

A fatura e a política


Só quem acredita no Pai Natal pode estar convencido que uma escalada no preço do gás natural não vai acabar por chegar às faturas de eletricidade, mais tarde ou mais cedo, com maior ou menor amplitude. Pode não ser 40% em finais de agosto, como o presidente da Endesa Portugal afirmou, mas eu gostaria de saber se efetivamente poderemos chegar a esse valor e quanto devemos esperar, mantendo-se a tendência atual.

O nosso governo, no seu tom paternalista, veio antes dizer não se alarmem, nós controlamos. Dentro da sua política de controlo, decretou que as faturas ao Estado do fornecedor suspeito iam passar a ser validadas pelo secretário de Estado! Validar uma fatura envolve dois passos. O primeiro garantir que o que está a ser faturado foi efetivamente entregue/realizado. Vai João Galamba pedir as leituras dos contadores todos do Estado, para o verificar? Certamente que não. O segundo passo é confirmar que as condições contratuais estão a ser corretamente aplicadas. Irá João Galamba pedir cópia de todos os contratos e validar as taxas e tarifas? Obviamente que não.

Que faz então um político, e deste nível, no circuito? Assina de cruz ou empata se lhe apetecer ou não tiver tempo? Fazer passar, formal ou informalmente, as cobranças ao Estado por uma etapa destas é coisa que acontece, mas não nestas latitudes nem no modelo de Estado que queremos.  

01 agosto 2022

Não entendem…?


É curioso como, após apenas um ano e meio de um ciclo de 5 anos, já se fala das próximas presidenciais. Ou não há mais tema, ou sendo baixas as expetativas sobre quem lá está, já se suspira pelo próximo.

À primeira vista, é surpreendente a aparente vantagem de Gouveia de Melo, de quem pouco se conhece do pensamento e visão sobre as grandes questões nacionais. É relevante como tanta gente está disposta a depositar a sua confiança num quase estranho, que nos apareceu um destes dias de botas e camuflado, diferente…

Outra curiosidade é como os dois principais partidos não consigam apresentar um senador que inspire a confiança necessária. Nomes como Marques Mendes ou Santos Silva, são quase anedóticos, sendo que a dificuldade do PS neste capítulo não é de hoje.

A grande vantagem do almirante é ser diferente, fora do “sistema político” e este não conseguir gerar figuras de peso e respeito. Consultar na página do governo os CVs dos ministros, é significativo. Quantos fizeram alguma coisa pela vida, fora dos círculos partidários? Que podem apresentar como realização meritória, que a generalidade da população reconheça?

De todas as formas, é preferível a fuga para um austero militar como Gouveia de Melo do que para excitados populistas como Francisco Louçã ou André Ventura.