27 abril 2012

Friday Algerian Fever

Eu não devia estar aqui. Estou num hotel em Palm Beach e que não é o que se imagina pelo nome para quem não conhece, nem o que se imagina pela fama para quem conhece. Não é “a kind of Florida” nem um hotel suspeito, mas sim a melhor relação preço qualidade para hotel num raio de várias dezenas de quilómetros em torno de Argel. Tenho resistido ao estilo das crónicas do pitoresco mas desta vez não escapa.

Hoje pelas 12h45 apresentei-me no aeroporto de Argel para apanhar um voo para Madrid às 15h15, da Air Algérie, donde seguiria para Lisboa e a seguir para o Porto, onde deveria ter chegado um pouco tarde mas ainda a tempo de apanhar o meu pessoal para o fim-de-semana. O check-in estava parado e o pessoal de, pelo menos, 4 voos esperava em fila. Bem, não seria bem uma fila, eram umas 5 ou 6 em paralelo que se interpenetravam e sobre as quais nasciam umas arborescências e desaguavam uns caudais secundários. Ao fim de meia hora soube que havia uma espécie de greve dos controladores aéreos que atrasava a saída dos voos e que o check-in estava suspenso para não saturar a zona de embarque. Ao fim de 1h30 abriram um voo e eu continuei a esperar. Ao fim de duas horas e pico anunciaram então que abriam Madrid. Grande alívio mas de pouca dura. 5 minutos depois ouvi uns oficiais comentarem que Madrid estava anulado. Nestas confusões há uma prioridade: ser o primeiro a chegar ao balcão da confusão, o que consegui. O funcionário achava que só me tinha que dar alternativa até Madrid porque o resto era Tap, mas eu protestei e lá me arranjou um programa em que chegarei amanha à noite a Lisboa e apenas no domingo de manhã ao Porto. O hotel era com outro senhor e este outro senhor diz-me que não, que em caso de greve não é responsabilidade da companhia. E foge para o outro lado do aeroporto e eu vou atrás dele armado em chato mas ele insiste para eu desopilar e me desenrascar.

E aqui tinha um truque rápido na manga. Costumo pedir carro alugado à chegada que devolvo à partida. Quando chego, se tiver a sorte de o atraso do avião ser idêntico ao da entrega do carro, está bem. Senão espero os 20 minutos da praxe, minutos que costumam ter bastante mais do que os 120 segundos habituais. Na entrega é mais stressante. Ou telefono 10 vezes para o homem aparecer a tempo, ou deixo o carro no parque e levo a chave para Portugal, ou deixo a chave a uma “fille” do aeroporto – só tenho que saber qual… e de há uns tempos para cá tenho nova técnica: meto a chave na mala, fecho o carro e deixo-o assim. Infelizmente com os carros mais recentes, estes não fecham com a mala aberta e limito-me a deixar a chave debaixo do tapete da mala e o carro fica aberto… (isto é segredo…!!). Donde que saí de gás para ver se o carro ainda lá estaria e perfeito: foi só abrir a mala e tirar a chave debaixo do tapete e arrancar.A seguir soube pela agência em Portugal que não se entende porque não faço Lisboa Porto no sábado. Há 3 voos depois da minha hora de chegada a Lisboa e com lugares que o senhor não detectou. A caminho do hotel (este tal de Palm Beach) apanho um grande engarrafamento de “passeio de tristes” e com o depósito quase vazio. No final o hotel tem quarto disponível e às 17 horas estou a almoçar 4 espetadas e uma Coca-Cola numa espécie de esplanada em frente a uma espécie de praia. Pedi de peru e vieram de vaca, mas àquela hora a diferença era mínima.

Amanhã vou para o aeroporto cedinho esperando que o tal bilhete seja mesmo válido porque me parece que enganei o senhor quando lhe disse que eram eles que tinham que tratar da alternativa completa da viagem. Quando chegar a Lisboa ou altero o voo para sair no próprio dia para o Porto, ou alugo carro , ou arranjo lá hotel. Seja o que um deus quiser… Só espero não ter um Saturday Lisbon Fever. Oxalá…

25 abril 2012

Abril e democracia

Dizem alguns “abrilistas” que não participarão nas comemorações oficiais da revolução porque não se identificam com o regime actual e que inclusivamente, na opinião deles, está até em causa o seu carácter democrático. Questionar um regime na base do “esta não é a minha (demo)cracia” é declaradamente um abuso a que se permitem apenas os autoritários líderes dos países mesmo pseudo-democráticos.

Que o país que temos hoje não é o que eles gostariam, acredito. Não é aquele que eu nem certamente uma larga maioria dos portugueses gostaríamos de ter. Mas, quase 40 anos depois de Abril, vivermos ou não em democracia? Temos partidos, temos eleições livres e temos alternância do poder. Chegará? O recente episódio das nomeações para o Tribunal Constitucional demonstra claramente que vivemos em “partidocracia”. Não existe poder para lá do que emana dos partidos e num sistema em que as lealdades são mais importantes do que as competências. O poder está cada vez mais centrado em partidaristas de carreira, cujo objectivo principal é ganhar e manter o poder dentro dos seus partidos, o que pode estar muito, muito, longe do interesse último do país e do respectivo povo (“demo”).

O problema de regime que temos está aqui. Aqueles que agora protestam contra os cortes e medidas de austeridade, teriam muito mais autoridade moral para o fazer se na altura em que se gastou desregradamente e mal, se tivessem insurgido contra esse desperdício. Mas não me recordo de o ver e é feio fazer este aproveitamento político e mediático por quem no passado, por acção ou omissão, ajudou a chegarmos ao que chegamos.

22 abril 2012

Méritos e outros

Não foi ontem nem sequer esta semana. Mais uma vez, num correr de canais antes de desligar a televisão, manobra arriscada, vejo em duas estações diferentes dois supostos concursos em que os candidatos eram supostamente avaliados pela sua capacidade de cantar.

Num deles, os candidatos eram supostamente figuras públicas tentado demonstrar uma valência desconhecida. Nem todos, porque alguns eram mesmo da profissão – concorrência desleal! Lembro-me de uma socialite, a caminhar para tia, desgraçadamente aos saltos a fazer que cantava, mas mal, muito mal, apesar de todo o suporte instrumental e coros. O suposto júri inevitavelmente lá correspondia com os elogios e um consumo desregrado do adjectivo “fantástico” (e telefonem lá para o numerozinho para votarem e a gente facturar).

No canal vizinho era gente desconhecida que pensava ter ali uma oportunidade de encontrar um lugar ao sol das estrelas. Deve ser feito sem nenhuma triagem prévia porque aparecia gente que cantava quase tão mal como eu. O respectivo júri, muito mais selectivo do que o anterior, não se limitava a julgar. O “show” de que o povo gosta, e que permite a tal audiência e facturação associada, pede sangue na arena. E esse sangue é humilhar o concorrente desajeitado de forma arrogante, sarcástica, quase um concurso de cuspidela, ver quem consegue cuspir mais longe e mais grosso. Deselegante, mal-educado e feio. Gostaria muitíssimo de ter visto ali a tal socialite fraquinha, disfarçada para ser mesmo uma cara estranha, a cantar à capela e de a ver avaliada naquele contexto… certamente que não teria direito a “fantásticos” mas a uma enorme enxovalhadela …

Canais comerciais precisam de facturação para a respectiva sobrevivência. O que está mal é usarem a capa de um concurso de méritos de forma desajustada. O mérito merece ser tratado com todo o rigor porque é a base de toda a evolução. Quando se perde a noção do que é o mérito e quando a sua avaliação é deturpada estamos perdidos.

16 abril 2012

Grande limão !

Cheirar um limão apanhado da árvore e refrescado em água corrente é saborear uma iguaria. Apesar de não se comer à dentada, excepto algumas excepções, serve para tudo… Desde aromatizar um cocktail a perfumar o detergente da louça, passando por contrastar sabores de um peixe grelhado, um queijo parmesão, uma Corona… e sei lá que mais. Raros ou nulos serão os casos em que ao pensar em juntar limão se possa dizer … “Fica mal!”. 
Essa universalidade tem uma ameaça na figura do “aloé vera”, em que o aumento galopante dos seus campos de aplicação ameaça a universalidade do citrino. Como não tenho aloé, com ou sem vera, no jardim, que possa cheirar depois de apanhar e refrescar com água fresca, continuo a preferir claramente o limão. Até porque uma coisa é saber bem e outra coisa é, supostamente, fazer bem e eu acho mais plausível saber bem contudo do que fazer bem a tudo.

01 abril 2012