30 abril 2007

Atracção fatal ?





Do domingo 29 de Abril, vinte e quatro pessoas ficaram feridas, duas com gravidade, no parque de atracções Bal Parc, no norte de França. Por motivos ainda não explicados, o "Páraquedas" caiu sem amortecimento uma dezena de metros.

Confesso que me arrepio quando cá vejo algumas dessas atracções de feira, como esta das fotografias, cada vez mais arrojadas e assentes não em pés de barro, mas sim em pilhas de tabuínhas. Uma vez perguntei no local se havia alguma inspecção técnica e, segundo entendi, haveria apenas inspecção económica, ou seja, garantir que a licença foi paga.

Atendendo às dinâmicas envolvidas, um simples problema mecânico pode atirar com um monte de pessoas que estão no ar contra um monte de pessoas que estão no chão. Um controlo técnico rigoroso do equipamento e da sua instalação é mais do que justificado. No entanto, o improviso como eles são nivelados com as famosas tabuínhas não augura nada de bom. Ver a maravilha da última fotografia!

Um dia haverá um acidente e será apenas um “azar imprevisível", que nunca ninguém imaginou que pudesse ocorrer...


28 abril 2007

O mau exemplo



Pode até José Sócrates não ter tido um tratamento preferencial na Universidade Independente, nem esta ter beneficiado de um eventual facilitar da sua licenciatura.

Pode ter sido apenas um caso igual a tantos outros como o do seu colega de partido Ascêncio Simões que, depois de vários anos sem "atar nem desatar" na universidade pública, foi para uma universidade privada onde se licenciou em “três tempos”.

Pode não ter existido nada de imoral nem de ilegal, mas, indiscutivelmente, não é um bom exemplo nem de planeamento pessoal nem de exigência e rigor.

Não é um bom exemplo ter-se distraído nas “andanças políticas” deixando a sua formação arrastar-se e encalhar... Não é um bom exemplo que, quando decidiu ter o canudo para a "fotografia", tenha escolhido uma forma fácil de o fazer.

(Já estou a imaginar o anúncio: “Este é o José Sócrates que trocou a política pelos estudos...”. )

Eu acredito que um político a sério não deveria ter este percurso de dedicação exclusiva ao aparelho partidário desde a mais tenra idade. Acredito que deveria ter tido um percurso mais consistente e com alguma experiência de “vida real”. Sendo Sócrates um bom primeiro ministro, vem destruir esta minha teoria. Pode ser apenas excepção, mas..... dá um péssimo exemplo!
Nota: A fotografia não é minha. Foi retirada do portal do Governo

26 abril 2007

Notícias da província

No dia 25 de Abril o telejornal da RTP foi para o ar trazendo-nos logo de entrada, e com grande, destaque a abertura do distinto, capital e famosíssimo túnel do Marquês. Não sei como foi nos outros canais porque só tenho RTPi, mas não estranharia nada que tenha sido idêntico. Em Viana, em Faro, em Bragança e até mesmo em Argel vimos interessadíssimos e quase emocionados os populares a correrem pelo túnel dentro e a serem entrevistados para comentarem doutamente as condições de segurança do mesmo, vimos o presidente da câmara a correr a fugir do buraco e os automobilistas a fazerem fila para o “experimentarem” em primeira mão. E a abertura ao trânsito foi assim transmitida em directo para os lares de todos os portugueses e para todo o mundo.

Provinciano será sempre provinciano. E Eça continuará sempre, sempre, actual....

25 abril 2007

É difícil haver outra revolução assim...



Não é muito meu estilo marcar as efemérides, mas esta em particular é bastante especial. Já escrevi em anos anteriores o que significa/significou para mim o 25 de Abril e, nesta fase, isso não muda de forma relevante cada ano que passa. Não vale a pena, por isso, estar a repeti-lo sem haver nada de especial a acrescentar.

Hoje, apeteceu-me somente evocar uma imagem, do filme de Maria de Medeiros, “Capitães de Abril”. A do tanque que, num cruzamento, pára no sinal vermelho. Estava a fazer a revolução mas com cuidado para não provocar um acidente e não magoar ninguém.

Já li, não me recordo onde, que está baseado num episódio real. Mesmo que não o seja, é representativo do espírito do dia.

E é difícil haver outra revolução assim... !

23 abril 2007

Baelo Claudia




E ainda os Romanos...
Depois do registo anterior sobre o legado romano, era quase inevitável para mim esta referência a Baelo Claudia.

A chamada “Costa da Luz” entre Cadiz e Tarifa é um das poucas zonas de Espanha em que o mar ainda toca a terra sem encontrar grande fulgor urbanístico. O vento forte e a existência de largas zonas militares ajudam a explicar o fenómeno. Tão tranquilo que chegou mesmo a servir de refúgio para alguns alemães no pós 1945.

Zona de caça ao atum, dos descendentes dos náufragos da batalha do cabo Trafalgar e de povoações deslumbrantes como Vejer de la Frontera, mas já chega de divulgação turística.

Lá para baixo, próximo de Tarifa, quase no extremo sul da Península, está um dos sítios mais bonitos que jamais visitei. A praia de Bolónia com a língua da sua enorme duna, bem identificável mesmo de um avião em altitude de cruzeiro, e as ruínas de Baelo Claudia. Tudo isto num quadro de, chamemo-lhe, paisagem protegida. Tudo isto com tanta luz, ou não fosse esse o nome da costa, que não consegui apanhar a duna brilhante sem queimar a imagem.

O meu amigo PC, natural de Tarifa, contava que tinha herdado uns terrenos ali mas que era proibido construir o que quer que seja. Animava-o dizendo que sentar-se lá numa cadeirinha a ver as ruínas, as praias e, com bom tempo, Tanger do outro lado valia muito, muito dinheiro.

Líndissimo e ponto final! (e esta do ponto de exclamação a seguir ao “ponto final” é uma figura de estilo...)


21 abril 2007

Romanos, antes e depois




Ao contar a história de Portugal a quem não conhece, costumo dizer que a “civilização” chegou a Portugal com os romanos. Tendo eles organizado o território, construindo pontes e traçando estradas, desenvolvido as cidades e deixado a língua e o direito, deixaram-nos uma boa parte do que é “a civilização”.

Talvez venha daí aquela emoção de visitar o Fórum de Roma, sentindo que estamos a pisar as nossas raízes. Talvez por isso a visita de sítios romanos, em geral, seja sempre especial. Há os vestígios romanos e há os outros...! Os romanos são diferentes, mais estruturados, mais expressivos, mais “civilizados”.

Aqui, por estes lados, já tinha visitado, mais do que uma vez, Tipaza, que me encantou. Ontem decidi avançar um pouco mais até o próximo local na costa, Cherchell. A antiga Caesarea foi um dos mais importantes locais romanos do Mediterrâneo. É também curioso que tendo sido, pelas suas condições naturais, um local em que ao longo da história passaram todas as civilizações dominantes do Mediterrâneo, seja referida como “antigo local romano”. Sem dúvida que a marca por eles deixada é suficiente forte para suplantar todas as outras referências!

Ao contrário de Tipaza em que, por acaso ou deferência, a povoação se desenvolveu fora da cidade romana, em Cherchell cresceu em cima. É, aliás, curioso pensar na quantidade de locais em que os habitantes posteriores veneravelmente se afastaram do local romano inicial, portanto rigorosamente bem escolhido e planeado. Seria por respeito? Ou para guardarem a referência que sabiam não conseguir igualar?

Deixo duas fotos “roubadas” com a máquina encostada à barriga e a assobiar para o lado. Uma do museu interessantíssimo em que era proibido fotografar e que não tinha publicações para vender. A outra do recinto das termas em que o movimento circundante não parecia ligar bem com a exibição de uma máquina fotográfica. Compare-se...!

Parece que terá outras coisas interessantes para visitar mas precisarei de ganhar coragem para lá voltar.

19 abril 2007

O mar no feminino




Nasci à beira-mar e o mar sempre me arrebatou. Nasci no Mediterrâneo onde a terra é obscura e o Sol cega. Ele está lá, massa de água azul verde, violeta, por vezes lamacenta do cinzento das profundezas, mas sempre luminosa de desejo. Sem ele os humanos seriam nus e rijos como ossos abandonados numa duna. Ele, o Sol, apenas produz calor e poeira; é o mar que o amansa e lhe confere o seu duplo feminino, é ele que transforma o seu deslumbramento em claridade, em dedo de luz, num reflexo de água. O sol lavra a terra da Argélia mas é o mar que a semeia. E a salva.

Tradução livre de excerto do livro "Il faut abattre la lune" de Jean-Paul Mari.

15 abril 2007

Um café ?



Que costas tão largas pode ter “um café”!

Pode ser a desculpa para simplesmente sair de baixo de um tecto. À falta de convicção para um simples “vou arejar”, o tomar um café é uma boa desculpa, tanto para consumo interno como externo.

Pode ser uma desculpa para ir passear a qualquer lado. Na falta de coragem para dizer “vamos ali porque apetece”, diz-se “vamos ali tomar um café”.

Em vez de convidar uns amigos simplesmente para estar com eles porque se preza a sua companhia, convidam-se para um café.

Quando as pernas estão cansadas de calcorrear uma cidade conhecida ou em descoberta, um café é uma boa desculpa para parar e ficar uns minutos sentado a uma mesa.

Uma chatice é ter o café e não ter onde o tomar !

13 abril 2007

Aproximando a desgraça



Há algo de patológico na forma como se costuma avaliar a probabilidade de um próximo estar envolvido numa tragédia. Um pouco como se tendo eu um amigo na Índia, e sabendo que lá ocorreu um acidente de comboio, presumir que existe uma enorme probabilidade de ele ter sido afectado. Evidentemente que essa probabilidade é maior para ele do que para aquele outro que está sentado à minha frente. Como também será verdade que esse outro tem maior probabilidade de ter um simples acidente de viação ao regressar a casa do que o primeiro estar entre as vítimas do comboio.

Nunca percebi este mecanismo pouco racional, quase mórbido de atracção e vontade de proximidade com a desgraça. Será o mesmo que faz o pessoal parar e ir ver de perto os mortos e feridos de um acidente de viação, para poder bem contar como foi? Não sei. O que sei é que parece haver algum “valor” em contar que se esteve perto, mais perto do que ninguém. E aquelas pessoas que quando começam a falar de acidentes e desgraças não são capazes de parar de desfilar as suas experiências pessoais moendo e remoendo o que aconteceu e o que poderia ter acontecido? Será exorcizar?

Não sei. O que eu sei é que presumir que o “amigo na Índia” tem grande probabilidade de ter sido apanhado no acidente de comboio sem sequer saber onde o desastre ocorreu não é racional.

10 abril 2007

Um canudo

Houve tempos em que ter um “canudo”, era suficiente para, como dizem os franceses, apanhar o “elevador social”. A exibição de um diploma no CV, importando pouco de quê ou donde, era suficiente para garantir o acesso a um nível profissional e social elevado.

Depois, com a destruição dos cursos médios e o salutar aumento da procura das licenciaturas, a coisa complicou-se e a universidade pública não conseguiu dar resposta. Em parte inevitavelmente, mas não só. Alguém entende porque demorou tanto tempo a abrir uma faculdade de direito pública no Porto ou porque não há mais vagas em medicina? Surgiram então as oportunidades de negócios. Primeiro nos colégios de “alto rendimento” em que alunos médios e sofríveis nas escolas públicas conseguiam belos resultados, que muito ajudavam a compor a média para saltar as fasquias dos numerus clausulus. Imoral!

Em seguida apareceu o grande negócio das universidades privadas. Os candidatos na busca de “um canudo” aceitavam um título qualquer. Já alguém estudou quantas “engenharias” nasceram nesse período? Um verdadeiro fenómeno a nível de capacidade de inovação! Fazer negócio pouco escrupuloso com as expectativas em geral e com as dos jovens em particular é um crime tremendo.

Os casos da Moderna e da Independente são a parte visível de um problema muito mais extenso. Para lá da facilidade e da ligeireza com que se faz e desfaz, se ganha e se esbanja, estão milhares de jovens com “canudos” que para pouco servem. Pode-se tirar mais do que um curso superior na vida, é certo, mas não é fácil. Uma licenciatura é um enorme investimento de tempo, financeiro, principalmente nas privadas, e é acreditar. Os jovens “enganados” com cursos de títulos fantasiosos e de consistência duvidosa terão perdido uma parte da sua capacidade de acreditar, o que é um dos maiores capitais incorpóreos de um país.

08 abril 2007

O equinócio que falta

Há algo que me fascina que é a universalidade de alguns símbolos e locais que atravessam credos e fés e, mais ou menos dissimulados, subsistindo ao longo do tempo.

Não me estou a referir a transições políticas do tipo da transformação de locais de culto urbano, como as mesquitas de Córdova ou de Mértola, convertidas ao culto cristão. Refiro-me, por exemplo, a locais cuja beleza e mística natural os fizeram servir um culto dito “pagão” e, depois, receberam a ermida cristã, como a poderosa colina do Endovélico/S. Miguel da Mota no Alandroal.

Mas, enquanto nesses casos, existe quase um apagamento da referência anterior, noutros casos fica algo do culto passado em tónica completamente dissonante, mas tolerada. O que fazem os ovos e os coelhos, símbolos de fertilidade, na festa cristã da Páscoa? Terão a ver com o facto de estarmos no equinócio da Primavera? E a referência seguinte dos chamados santos populares de Junho? Que fazem lá as fogueiras? Alguma vez a cristandade adorou fogueiras? Bom, é apenas o solstício do Verão!

Considerando que o Natal está no solstício da Inverno, fica claro que o calendário cristão é profundamente solar e fica só a faltar a celebração do equinócio do Outono. Serão as nossas senhoras de Setembro??

05 abril 2007

Eu acho que o meu banco me engana









Talvez seja apenas um palpite, mas cada vez mais tenho a sensação que o meu banco me engana. Primeiro comecei por ver os seus anúncios, em letras gordas, oferecendo 0% de “spread” no crédito à habitação. É evidente que sendo, teoricamente, este indicador proporcional à margem bruta e tendo o banco que ganhar dinheiro, aquele “nulo” tem que trazer agarrados outros trocos para ser viável. O “zero” é só para atrair os distraídos. Mas, como no contrato que lá tenho pago bastante mais do que zero, fico com a impressão de que estou a ser mal tratado...

A seguir passei a ver em letras também gordas 10% de remuneração fixa para depósitos a prazo e outras aplicações garantidas. Claro que isto também não é possível. O banco pode estar muito centrado nos clientes mas não a ponto de ter margens negativas. Oferecerão 10% sim, mas para apenas uma parte do valor ou do período. Fazendo as contas globais, é óbvio que resulta muito, muito menos do que 10%. Não poderia ser doutra forma. Mais uma vez, é um anúncio para distraídos.

É indiscutível que neste mundo não dá jeito nenhum estar distraído, mas estas estratégias comerciais dos bancos começam a estar perigosamente próximas das dos vendedores de cobertores das feiras: “não paga um, não paga dois, paga só ....não sabe o que paga! ”

01 abril 2007

Memória de uma viagem



Era primeiro de Abril e não era engano. Pela primeira vez, em muitos anos, tinha o tempo todo à minha frente e não me apeteceu começá-lo parado em casa. Peguei nuns pontos da Portugália, que em circunstâncias normais tinham tendência a expirar por não utilização dentro do prazo de validade, e que também servem para pagar hotéis, nuns contactos dumas pensões alentejanas, embrulhei umas tralhas, pus a bicicleta, a máquina fotográfica e o tripé na mala do carro e parti.

Cruzei calmamente o país até Vila Real de Santo António e regressei. Fui andando e parando, arriscando quelhos e adivinhando caminhos. A cada paragem carreguei a máquina e o tripé, avancei e recuei, acertando o enquadramento sem pressas e, por vezes, esperando mesmo pela luz mais adequada.

Guardo a memória de um Alentejo deslumbrante, até emocionante de tanta cor e tanto espaço vibrante. Bem diferente daquele espaço queimado e cansado que se atravessa a correr no Verão de janelas fechadas e ar condicionado ligado, lembrando de como era duro fazê-lo no tempo em que este luxo ainda não existia.

Guardo a memória das pequenas estradas do Sotavento Algarvio e de palmilhar praias e dunas desertas.

Guardo a memória de uma viagem de sonho bastante barata, mas como nunca até então tinha feito e como provavelmente tão cedo não poderei voltar fazer, pelo menos no mesmo ritmo. E guardo também as 600 fotos.