28 dezembro 2022

Jackpot


Se já estávamos habituados a todo o tipo de casos de falta de ética, princípios e até legalidade em torno do atual governo, o caso de Alexandra Reis é um verdadeiro jackpot que, pela acumulação de particularidades, será difícil de bater.

A começar, se ela sai da administração da TAP por renúncia, sua iniciativa, a que propósito a empresa deve indemnizá-la? A seguir, o valor parece absurdo e levantando sérias dúvidas sobre o enquadramento. Na etapa seguinte é nomeada para presidente da NAV. Para alguém que, de uma forma ou de outra, não serviu na TAP e foi tão cara de dispensar, vai o Estado assumir novo compromisso? E não faria sentido que uma tão rápida recuperação de rendimentos implicasse devolução parcial da indeminização, atendendo a que o “patrão” é o mesmo? Um patrão normal tê-la-ia certamente imposto.

Alexandra Reis era administradora e os administradores são nomeados e substituídos pelos acionistas, neste caso o Estado. Vamos acreditar que para esta empresa e este contexto os ministros da tutela não foram informados e validaram a operação, como agora presumem ter ocorrido ao solicitarem à TAP detalhes? Dormiam na forma ou fazem de conta?

Ainda, isto não se passa numa empresa qualquer, é numa empresa que representa um custo brutal para todos os contribuintes e assim deveria ser objeto de escrutínio e rigor adicionais neste e noutros campos.

Bom, não era tudo, ainda falta o fato de no final ser nomeada como secretária de Estado… e supostamente com tutela sobre a capitalização da TAP pelo Estado. Constitui um recorde difícil de bater, sem dúvida!

27 dezembro 2022

Entre Deus e os Homens (III)

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Na conquistada Albi, uma das principais cidades de influência cátara, que até deu nome à cruzada, será construído um palácio episcopal, bem fortificado, não fosse o diabo tecê-las, e uma catedral majestosa e imponente, também bastante bem defensável. Hoje visitámos no palácio uma coleção Toulouse-Lautrec, com muito pouco cheiro dos processos inquisitoriais que por aquelas terras decorreram. O interior da catedral é impressionante, para não deslizar deslumbrante… e algo subjugador. Julgo não existirem muitas com a mesma densidade de expressões artísticas como esta. Não há praticamente um centímetro quadrado cru. Na capela-mor, uma das imagens, abaixo reproduzida, mostra e ensina que entre Adão e Deus, estão os doutores da igreja. Do outro lado, a mesma mensagem para Eva, sendo que continuam os doutores, não há doutoras.

Um dos aspetos comuns nestas heresias, e o mais perturbador para as instituições religiosas estabelecidas, é precisamente a rejeição de um clero, frequentemente rico e corrompido, na relação do ser humano com o divino. Um clero que, no seu projeto de poder, não vai hesitar em chamar as espadas e atear as fogueiras, com muito poucos escrúpulos e respeito pelos seus próprios valores.

Pelos lados da Galécia romana, noroeste ibérico, tinha antes nascido e passado um movimento herético no século IV, o Priscilianismo, onde se podem encontrar alguns pontos comuns com os cátaros, ou “Bons homens”, como eles próprios se designavam. O saudoso João Aguiar, dedicou-lhe um dos seus brilhantes romances históricos: O Trono e o Altíssimo. Recomendo.

Cerca de duzentos kms a sul de Albi podemos sentir as ruínas de Montsegur, o último bastião onde em 1244 os “últimos” 224 hereges foram queimados vivos, depois da rendição, por recusarem a conversão. Sem terra nem refúgio seguro, os “perfeitos” e “perfeitas” ainda cruzaram aquelas terras durante algumas décadas, até irem paulatinamente caindo nas malhas inquisitoriais. Aquele que é considerado o último perfeito do Languedoc, Guillaume Bélibaste, foi queimado em 1321.

Não há dúvidas sobre quem ganhou e hoje podemos ver e admirar inúmeras e impressionantes realizações que a igreja tutelada e hierarquizada nos deixou.  Entre a espetacularidade das pedras que a liderança centralizada e autoritária deixou e a espiritualidade que aquela e outras rebeldias do livre-arbítrio alimentaram… assim é a nossa herança.



 

23 dezembro 2022

Os outros nas nossas botas


Há uma expressão “calçar os sapatos dos outros”, ou colocar-se na sua pele, que apela a experimentar ver um problema pelo lado do outro, eventualmente um adversário, e assim procurar entender o seu raciocínio, o seu ponto de vista e compreender melhor as suas ações.

Existe algo um pouco complementar que é o tentar colocar os outros no nosso lugar. Desconhecendo os fundamentos das suas motivações, trata-se de imaginá-las à luz dos nossos valores e princípios. É um jogo potencialmente perigoso.

Aqueles que apelam ao diálogo e à diplomacia face aos autoritarismos e agressões, das quais a situação na Ucrânia é o atual exemplo mais agudo, acham que como “connosco”, “com os outros” a lógica será a mesma. Obviamente que para Putin, tal como Hitler em 1938, há um sistema de valores que não é o “nosso”. Não é o diálogo, nem a argumentação que os convencem. É a força, militar, económica ou outra.

O sistema de valores que defendemos necessita de ser forte para resistir, sem hesitações nem meias-medidas. As botas de Putin são muito diferentes das nossas. Não serve de nada imaginá-lo a calçar as nossas, não há calçadeira que tal consiga.

22 dezembro 2022

Entre Deus e os Homens (II)


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Terminados os cercos, batalhas e rendições, a heresia não desapareceu. O fio da espada, as grandes fogueiras coletivas das cruzadas, a violência da guerra e as conquistas com sucessivas mudanças na senhoria das povoações não eliminaram os fundamentos daquela fé, nem a erradicaram.

Nestes fenómenos heréticos, tanto ou talvez até mais curioso do que o detalhe das bases teológicas e princípios teóricos está a forma como a sociedade os adota e com eles se identifica, ou não. Domingos de Gusmão cria em Prouilhe, no coração do território herético, o embrião da futura ordem dos dominicanos, que tenta entender e aproximar-se da sensibilidade espiritual da região, afastando-se e renegando o fausto do clero da época. Juntamente com os franciscanos, serão os frades mendicantes.

Da mesma forma como os senhores locais não tinham sido “de confiança” para combater convictamente o catarismo, obrigando à chamada de reforços do Norte, também o clero de proximidade não era suficiente afastado da heresia para levar até o fim a sua irradicação, após as vitórias militares. Foi necessário criar uma instituição com origem e hierarquia externa, dependendo diretamente do papa, para levar a bom porto a limpeza. Chamou-se-lhe Inquisição e a sua liderança será assumida pelos dominicanos. Apesar de figuras de relevo meritório, como Frei Bartolomeu de Las Casas, extremamente crítico das brutalidades coloniais espanholas na América Latina, esta ordem vai-nos presentear com um tal Tomás de Torquemada, cujo nome é um símbolo, e o massacre de Lisboa de 1503 é obra da incitação destes monges, de tolerância algo limitada.

A Inquisição vai instaurar processos, mais ou menos arbitrários e expeditos, com confissões de várias formas “motivadas”, conforme o estilo e a autonomia do inquisidor em funções. Não haverá mortes em massa, mas terá uma ação destruidora mais eficaz e perene, através da instauração do medo e da desconfiança, da promoção da delação, da asfixia da reflexão e o silenciar de diálogos e argumentações. A Inquisição matou fisicamente, direta ou indiretamente, chegou a desenterrar heréticos mortos para os fazer passar pelo fogo, e também destruiu a liberdade de pensar e de acreditar.

A riqueza humana está intimamente ligada à capacidade de o ser humano pensar, refletir, assumir e discutir as suas interrogações e convicções. Quando essas faculdades são castradas e é destruída a tolerância entre diferentes credos e conceções, o mundo empobrece e entristece. Podemos especular sobre se, caso não houvesse esta heresia e com esta intensidade, teria ou não nascido esta Inquisição, se teria chegado mais tarde, idêntica ou com outra forma. Indiscutivelmente os cruzados de Inocêncio III e sucessores foram um brutal travão ao desabrochar da luz na Europa, sendo que a península Ibérica vai herdar e suportar esta mordaça longamente.  

A emancipação espiritual do Languedoc foi demasiado grande para ser travada pelos meios existentes, nomeadamente simples bulas papais, excomunhões, interdições e outras ameaças, mas também demasiado pequena para resistir ao sufoco que o resto da atual França e a Santa Sé lhe aplicaram.

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Imagem acima: lápide em Montsegur

21 dezembro 2022

Entre Deus e os Homens (I)


No início do século XIII estava firmemente instalada no sudoeste francês, Terras de Oc, principalmente num losango entre Toulouse, Beziers, Carcassone e Albi, uma heresia cristã, que se designou por cátaros. Possuíam uma organização própria, uma interpretação específica do Evangelhos e, sobretudo, refutavam completamente o papel do clero rico e elitista na sua espiritualidade. 

Tinham uma visão da organização social muito menos estratificada do que a sociedade feudal da época, com valorização da necessidade do trabalho manual, chegando mesmo os seus perfeitos a serem genericamente apelidados tecedores. O espaço e a função das mulheres, se bem que não completamente ao mesmo nível dos homens, eram muito mais equilibrados do que na igreja romana. Esta, naturalmente, não aceitava esta dissidência e o Papa Inocêncio III, não a conseguindo anular por decreto, decidiu apelar a uma cruzada contra estes infiéis. Andava a pregar por ali e a tentar resgatar almas um tal Domingos de Gusmão, nascido no reino de Castela.

O Rei de França e os senhores do Norte, primeiro estes, o soberano depois, viram nesse desafio papal uma excelente oportunidade para alargarem o seu poder e domínio e lançaram-se na empreitada. Era também um destino mais próximo e acessível do que a longínqua Palestina para realizar uma “peregrinação”, travar algumas batalhas e atingir a absolvição dos pecados. Contrariamente a outras geografias onde os hereges, não tendo apoio temporal nem as suas ideias encontrando muito eco na sociedade, eram facilmente capturados e aniquilados, o contexto social e político do Languedoc proporcionava um apoio significativo por parte das comunidades e dos senhores locais.

As lutas que duraram 35 anos acabarem por ser em muito uma disputa de poder entre esses senhores locais e os “cruzados” vindos do Norte. Desde a tomada de Beziers em 1209, onde o líder espiritual da cruzada, Arnoldo de Amaury, ao ser inquirido sobre como distinguir os hereges dos bons fiéis terá respondido – “Matem-nos a todos, Deus saberá reconhecer os seus” – (frase talvez não rigorosa na forma, mas correta no conteúdo), até à capitulação e massacre dos últimos resistentes no castelo de Montsegur em 1244, não faltou violência e brutalidade.

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Acima: Montsegur
Abaixo: Dois livros interessantes sobre o tema, um mais interpretativo, outro mais descritivo




19 dezembro 2022

De vergonha em tristeza

Começo a sentir vergonha alheia pelo meu país e por quem o dirige. Em escassos dias o nosso Primeiro-ministro conseguiu a habilidade de deixar duas tristes e vergonhosas marcas para a sua e nossa posteridade.

Uma delas foi queixar-se de Carlos Moedas não lhe ter ligado por causa da inundação na sua garagem. Efetivamente, naquele contexto catastrófico, não é o Governo que deve aparecer, ser solidário e cooperar com as necessárias ações a tomar; é o Presidente da Câmara que tem obrigação de transmitir as suas condolências aos cidadãos “alfa” da cidade. Triste modelo, no mínimo anacrónico – se ao menos o PS fosse um partido monárquico…

A segunda foi a referência aos “queques a guinchar”, em entrevista formal. Concorde-se ou não a IL apresenta propostas concretas, em discursos corretos e mesmo que fossem uns excitados histriónicos, um PM não pode usar aquela linguagem, ponto! Nas recorrentes evocações e comparações com o Chega, inevitavelmente referido na mesma passagem, o PS brinca com o fogo. Promover uma oposição desqualificável pode parecer boa tática a curto prazo, mas não é por aí que virá uma evolução séria para o país e para o próprio PS. A qualidade de um projeto é, mais tarde ou mais cedo, reflexo da qualidade de quem o questiona. Está o PS pouco preocupado com a sua qualidade a prazo… e a do país? 

16 dezembro 2022

O lugar da justiça e os deveres da política


Após a revelação do escândalo do Qatargate assistimos a uma firme e pronta reação da Comissão Europeia e do Parlamento Europeu. Certo que ainda ninguém foi condenado, que a presunção de inocência continua de aplicação num Estado de Direito, mas o cheiro a esturro é tão forte, que forçou a uma tomada de posição e natural preocupação pela perda de confiança nas instituições europeias que tal situação gera.

Ainda não ouvi ninguém por lá proclamar “à justiça o que é da justiça (e esperemos que transite em julgado)”, como por estes lados se tornou tradicional, por mais escandalosos e inaceitáveis que sejam os fatos tornados públicos.

Certo que formalmente só é ladrão quem for apanhado a roubar, houver provas validadas, não anuladas por um incidente processual qualquer, o julgamento concluído, todos os recursos esgotados, tudo antes da prescrição e e e…

A um responsável político que gere causa pública ou a um eleito que recebeu uma procuração para representar cidadãos, exige-se mais do que simplesmente conseguir inocentar-se (… safar-se!) em tribunal. Ética. Podem perceber e tentar aprender?

15 dezembro 2022

O Titanic e o MSC World Europa

Cheira-me que se o MSC World Europa, o último grito dos navios de cruzeiro, ultramoderno e sofisticado, chocasse com um incontornável e imprevisto iceberg, a “culpa” seria certamente atribuída às alterações climáticas.

O Titanic, que teve esse azar há 110 anos, por azar simples, aselhice, incompetência ou outra coisa qualquer, não teve essa sorte. A ser hoje, seria certamente e apenas mais uma vítima da desregulação climática que está a libertar icebergues no Atlântico…

Não, claramente que temos problemas de sustentabilidade neste planeta, mas atribuir tudo e todos os “azares” às alterações climáticas… é simplificar a coisa.


14 dezembro 2022

Dois mais dois


O livro de Luciano Amaral, “Economia Portuguesa – As últimas décadas” é uma excelente síntese que permite ver por onde temos andado e de como aqui chegamos. O grosso dos factos elencados não traz muitas novidades, mas a sua colocação em sequência e perspetiva ajuda a entender a dinâmica.

De um Estado sem direitos, antes de 74, mas com a economia a crescer, passamos a um Estado com todos os direitos, mas de economia estagnada e a endividar-se de forma insustentável. Certo que a transição inicial durante a crise dos 70s não ocorreu no melhor contexto; certo terem existido alguns períodos de animação económica, mas não consolidaram; certo que, depois da fixação do cambio e posterior entrada no Euro, deixamos de poder compensar com a desvalorização da divisa os desajustes criados, mas… 20 anos após a chegada do Euro, ainda estarmos estruturalmente a derrapar e a não progredir, é sinal de alguns equívocos persistentes e/ou incompetência. Se ilustração faltasse, a Roménia a ligar o pisca para nos ultrapassar é um bom exemplo, depois de tantos outros já o terem feito.

Dois mais dois é quatro, dois menos três é negativo e a vida depois do défice permanente é a falência ou a mendicância. O interesse principal deste livro é colocar-nos face a uma decorrente e persistente incapacidade de gerar riqueza para pagar os compromissos que não paramos de assumir. Nas notícias do dia vemos muitas das “pequenas” coisas que nos agarram à cepa torta. Uma reflexão séria sobre o resultado, para lá da espuma dos dias, impõe-se. Isto se pretendemos efetivamente mudar de vida e deixar de ser falidos e/ou pedintes

09 dezembro 2022

Energia grátis

Não deixamos de ouvir falar e de sentir os aumentos no custo de energia elétrica e os impactos ambientais da sua produção. Sabemos também que o caminho não passa por apenas esperar novos grandes projetos, mas muito pela mudança de hábitos e contributos individuais.

Dentro da contribuição possível de cada um inclui-se a instalação de painéis fotovoltaicos domésticos, sendo que a motivação ambiental sobrepõe-se muitas vezes à avaliação financeira pura do investimento.

Feito o investimento, há desde logo a questão de desalinhamento entre o pico da produção, durante o pleno sol quando a casa está vazia (sobra energia que vai para a rede) e o consumo quando a casa está ocupada e já não sol há (falta energia que vem da rede).

Pareceria ser lógico e justo que o operador nos cobrasse o diferencial entre a energia que forneceu e a que recebeu, só que este balanço é feito e fechado em intervalos de apenas 15 minutos. Significa que o grosso da energia excedentária não é deduzida/contabilizada.

Teoricamente pode ser vendida, mas após um largo conjunto de procedimentos, como se essa venda fosse um desígnio relevante do processo, e mendigando junto dos operadores quem dá qualquer coisinha pelos kwh que nos sobram.

Não é muito motivador. O excedente deveria ser diretamente deduzido do consumo, eventualmente com ajuste regulamentado de tarifa. Esta burocracia e discricionariedade não ajudam à causa. 

Atualizado a 11/12 com a publicação no "Público"




06 dezembro 2022

Faz sentido?

A União Europeia decidiu proibir a comercialização dos veículos a combustão a partir de 2035. Ainda não sabemos como vai evoluir todo o contexto até lá, nomeadamente quanto à rede de carregamento, a disponibilidade de energia elétrica e o custo/ciclo de vida das baterias.

Não sabemos também como vai evoluir a relação de propriedade/utilização do automóvel. Da mesma forma como já muitos não compram CDs e DVDs físicos, apenas pagam para ter acesso temporário aos conteúdos, será que vamos deixar de ser proprietários “permanentes”?

Certo é que já neste momento, para um segundo veículo e utilização em contexto urbano, o elétrico serve perfeitamente e até é energicamente oportuno, sobretudo se carregar durante a noite, quando há frequentemente excedente de produção de eletricidade renovável.

A Citroen apresentou recentemente este protótipo de um possível veículo elétrico básico e irreverente, o Oli. Sendo ainda apenas um protótipo, pode-se questionar se esta abordagem faz sentido. Parece-me que sim. Para a tal utilização urbana não necessitamos de um produto com todas as opções e sofisticações tecnológicas. Baste que ande e seja barato na aquisição e na utilização. Se tiver um design irreverente, isso compensa um pouco o minimalismo.

O fato é que a migração para a mobilidade elétrica não passa por apenas trocar depósito, injeção e pistões por bateria, conversor e bobinas de cobre. Há mais coisas que mudam, potencialmente…


30 novembro 2022

Falta de escrutínio


 Miguel Alves já se demitiu, a respetiva cabeça já rolou na guilhotina mediática, mas obviamente o assunto não está encerrado. Ainda não sabemos para onde foram nem por onde andam os famosos 300 mil euros, há dois anos transferidos da esfera pública para singelas mãos privadas, para uma empresa de um homem só, criada na hora, sem histórico nem atividade, entregues sem garantia ou contrapartida. Onde estão? Tresmalharam-se?

Na caricata entrevista que o protagonista fez para se defender, muito na base do ou é burro, ou nos toma todos por burros, havia uma verdade. Se ele não tivesse sido nomeado Secretário de Estado, provavelmente o assunto não se teria mediatizado com a mesma amplitude. Que o diga também o recente Secretário de Estado, J. Maria Costa, que vê agora saírem noticias sobre alguns negócios feitos durante os seus largos anos à frente da Camara Municipal do Viana do Castelo.

É perfeitamente natural que a acrescida exposição e maiores responsabilidades políticas aumentem o nível de escrutínio e consequente ressonância mediática dos casos. Isso não é mau. O que é mau é todos os outros negócios e euros que se tresmalham de norte a sul, por pequenos reinos e expeditos reizinhos.

Os melhor habilitados e mais interessados em denunciar são os mais diretamente afetados, os munícipes, sendo também verdade que muitos desses reinos são algo asfixiantes na reação ao questionamento do seu poder (quase) absoluto. Mais democracia e escrutínio, precisa-se!

27 novembro 2022

Serão mesmo universais?

A polémica com o Mundial do Qatar e o (não) respeito dos direitos humanos é uma boa oportunidade para refletir sobre a respetiva universalidade. No rescaldo da II Guerra Mundial, com a vitória das democracias sobre os totalitarismos, a recém-criada Organização da Nações Unidas proclamava uma Declaração Universal dos Direitos Humanas, que pretendia ser uma referência e um guia para uma nova era, de democracia e de liberdade.

Nesse baralho havia já algumas cartas atravessadas. Entre os vencedores não estavam apenas democracias. A União Soviética e os seus satélites abster-se-iam na votação da referida carta. Dentro da ONU sempre houve membros que formalmente apoiando, ou não, na prática não praticavam. Para lá do bloco de Leste, Portugal de Salazar e a Espanha de Franco são exemplos.

Prevaleceu o pragmatismo de ser preferível integrar membros não perfeitos e assim de alguma forma os condicionar do que os deixar pairando como párias. É também verdade que, só como exemplo, se para os combustíveis fosseis restringíssemos o seu aprovisionamento aos países respeitadores… sobrariam muito poucos. De todas as formas, sempre existiu o reconhecimento de que por princípio havia direitos humanos universais.

Recentemente, com uma certa moda de valorizar diferenças culturais e minorias, associada ao crescimento de regimes autoritários, vemos alguma crítica à suposta colonização cultural ocidental e apelos à necessidade de respeitar especificidades e diferenças…

Ao menos uma coisa seria relevante: questionar livremente os cidadãos desses países sobre se se acham no direito a serem respeitados. Não será tudo, mas um bom princípio, sendo que a pressão migratória para a Europa é já uma forma de votar… com os pés. 

23 novembro 2022

Os cucos das belas causas

Uma particularidade dos cucos é a de colocarem os seus ovos em ninhos alheios, aproveitando o esforço e a dedicação de outras espécies para fazerem vingar as suas crias, expulsando inclusive do ninho os inocentes que a ele tinham direito.

Nos anos 80 fui expulso de uma marcha “pela Paz”, organizada na sequência do anúncio da instalação de misseis americanos na Europa. Aparentemente, os Pershing americanos constituíam uma ameaça à paz, mas os SS-20 soviéticos não. Dizer “Nem a leste, nem a oeste” não era coisa aceitável dentro dos objetivos dos organizadores. Hoje ainda continuamos a ver muitos “pacifistas unilaterais” e algumas posições quanto à tragédia em curso na Ucrânia estão aí, claras.

Outra boa causa atualmente parasitada por “cucos” é a do ambiente. Se é indiscutível a necessidade de mudarmos os nossos hábitos, convém recordar que a eficácia virá de uma abordagem racional e científica e não de um fervor religioso ou emocional. Sobretudo, é inquestionável serem os países ocidentais e “capitalistas” quem mais preocupação e ações concretas tem tomado neste capítulo.

Aproveitar a inquietação dos jovens quanto ao futuro e apropriar-se delas para apelar ao “fim ao capitalismo”, sobretudo quando os modelos alternativos pouco ou nada fizeram pelo dito ambiente, é manipulação desonesta, é uma subversão dos objetivos e um péssimo favor à causa. Cucos… 

20 novembro 2022

Uma vergonha mundial


A próxima suposta festa mundial do futebol, irá desenrolar-se num país que não a merece. O Qatar não respeita minimamente os direitos humanos e quem se sentar naqueles estádios deveria sentir o suor e a dor dos milhares dos quase escravos que os realizaram em condições desumanas, alguns com o preço da própria vida. Há mais tristes detalhes sobre o que se passa nesse país, facilmente acessíveis para quem quiser saber.

Lembram-se da África do Sul do tempo do apartheid e do boicote desportivo a que foi sujeita, por não respeitar os direitos humanos? Nessa altura a comunidade internacional era menos “esqueçamos isso e vamos à bola”, como muito pragmaticamente o nosso PR agora expressou?

O que vai acontecer no Qatar não é nem pode ser uma festa. O respeito pelo sofrimento e dignidade alheia deveria impedir a celebração de qualquer golo ou vitória. Sejamos coerentes e menos hipócritas e/ou básicos (para não usar outra expressão mais bruta).

18 novembro 2022

Governantes e governados


O recente livro de Carlos Costa, “O Governador”, promete tornar-se um caso sério de polémica. Em primeiro lugar, estou muito curioso por conhecer os desenvolvimentos, averiguações e testemunhos, que o anunciado/ameaçado processo de António Costa poderá desencadear.

Depois, muitos dos que clamam por contenção e respeito pelas instituições, não me parecem ser do grupo “não sabe, nem quer saber”, mas sim do grupo que “sabe e não quer que os outros saibam”. Um pouco ao estilo das famílias que guardam cuidadosamente no seu interior os episódios menos edificantes, evitando que cheguem à rua.

A diferença, neste caso, é que os outros, que supostamente não precisariam de saber, não são consumidores de revistas cor-de-rosa. São cidadãos de pleno direito e o “grupo” cioso de discrição não é uma família, nem uma “famiglia”. É a elite que nos governa e que nos deve contas pelo que fazem com a procuração que lhes passamos para governar.

Venham mais livros, sérios, com um mínimo de rigor e objetividade. Queremos conhecer a fundo o detalhe do que por cá se passa e o carater daqueles em que precisamos de confiar.

10 novembro 2022

Concretize, por favor

António Costa foi fazer um bonito à cimeira do clima no Egito. Antes de mais, gostaria de conhecer a pegada de CO2 daquele evento, com todas as deslocações associadas.

Diz brilhantemente o nosso PM que o nosso país antecipa para 2045 a meta da neutralidade energética. E que também não iremos reativar as centrais a carvão como uma cambada de burros e inconscientes estão a fazer pela Europa fora. Não, nós somos tesos e … eventualmente importamos e pagamos energia elétrica, mesmo que produzida a partir do carvão.

Eu sei que quando chegarmos a 2045 ninguém pedirá contas a A. Costa pelo eventual incumprimento e, se pediram, ele arranjará facilmente trinta e um responsáveis alheios, mas, se ele a agora o afirma e assume, que concretize. Certo que os atuais 2/3 de energia elétrica a partir de fontes renováveis são um bom ponto de partida, mas, para a chegada, como vai evoluir o consumo, devidamente acrescentado pela imposta generalização de veículos elétricos, como e onde vai ser feita a geração correspondente? Números, números concretos com datas, por favor. Senão, é apenas cuspir para o ar e não é bonito. 

09 novembro 2022

Quando eu vim para esse mundo…


Uma certa franja de idades saberá completar facilmente a frase em título acima: … eu não atinava em nada. Gabriela, a telenovela que foi “a telenovela”, tinha a beleza e a exuberância da atriz, Sónia Braga, e tinha também o calor e a beleza da voz de Gal Costa.

A sua carreira não fica por aí. Na minha modesta opinião, Gal Costa tinha uma voz e uma interpretação das mais marcantes e expressivas daquela geração de ouro da MPB. Um exemplo

Obrigado por ter passado por este mundo e por cá ficar!

02 novembro 2022

Porque falham as nações


Depois de mais de 500 páginas sobre o tema e com vastos exemplos históricos, entendi claramente a mensagem: o sucesso ou o fracasso de uma nação dependem de esta ter políticas e instituições “inclusivas” ou “extrativas”. Em português mais comum dir-se-ia haver quem governe ou quem se governe.

Nos modelos inclusivos o poder e a influencia no poder envolve uma larga maioria dos interessados, dispondo estes de meios, canais de comunicação e capacidade de reivindicação, garantindo-se que o governo alinha pelo interesse geral e que pode ser facilmente substituído quando se desviar desse objetivo.

A tentação de ficar agarrado ao poder e evitar riscos com reformas ou inovações é também uma caraterística dos “extrativos”, provocando dessa forma o definhamento económico e social.

Mesmo com uma perspetiva histórica alongada, fiquei com a impressão de me estarem a contar um filme a partir do meio. As razões de fundo, porque nalguns países se estabelece e se mantem quem governe e noutros quem se governe, não podem residir apenas nos aleatórios da história.  Porque é a “revolução gloriosa” inglesa de 1688, no fundo uma contestação e limitação do poder real absoluto teve sucesso e se consolidou, permitindo a futura revolução industrial, enquanto, por estes lados, mais tarde, a revolução liberal de 1822 e a correspondente lenta mas concreta evolução para um modelo de limitação de poderes reais, não nos fez sair da cepa torta?

A forma e a força como a população tem vontade e poder para travar trajetórias nocivas ao interesse geral, tem, acho eu, uma componente cultural. Certo que, em situações díspares de meio, entre uma fértil e generosa terra ou um árido e inclemente solo, os requisitos para a sobrevivência são diferentes e assim também serão as exigências quanto à governação. Mas, entre Portugal e a Inglaterra as diferenças não serão assim tão grandes.

Essa coisa da cultura não se mede apenas pelo número de pessoas que vão aos museus e teatros… ou também?

30 outubro 2022

Robin do Paço ++


Recapitulando: Tirar aos ricos para dar aos pobres é uma ideia simpática e aparentemente justa, especialmente quando a riqueza é usurpada e a pobreza desmerecida. No entanto, atualmente, já existem vários mecanismos fiscais e de apoio social que fazem uma importante transferência dos mais ricos (pelo menos dos que declaram rendimentos), para os mais necessitados.

A situação a que assistimos quanto à valorização dos combustíveis fosseis é “extraordinária”, mas não inédita. Porque é que desta vez a taxação adicional veio à baila, não sei.

O nosso governo, que até começou por ter uma atitude prudente, entusiasmou-se e agora fala mesmo em taxar a distribuição. Pode ser uma perspetiva excitante para os tradicionais inimigos dos pecaminosos lucros, mas, convém pensar que esses recursos, supostamente em excesso, nos bolsos da distribuição saíram dos bolsos dos consumidores e não foram para os dos produtores.

Qual deveria ser o papel do governo? Criar condições e ter supervisão e fiscalização para o mercado funcionar corretamente e retificar eventuais excessos. Seria muito melhor do que consolidar preços elevados que o consumidor paga e depois o Estado confisca. Seria menos fácil, mas mais justo. E já nem falo em reduzir o IVA em função da inflação para a receita fiscal correspondente não ser acrescida.

Nota final: Discricionariedade na governação não rima com desenvolvimento.

29 outubro 2022

Nordstream Cluedo


Já passou um mês sobre as explosões nos gasodutos que ligavam a Rússia diretamente à Alemanha e para lá de algumas considerações sobre a extensão dos estragos e o seu carater definitivo, muito pouco se sabe sobre o contexto e detalhes das explosões.

Vou especular… quem teria o maior interesse em colocar aquela infraestrutura fora de serviço irreversivelmente? A Rússia, penso que não. Têm mão na torneira, para fechar o fluxo não precisam de explosões e num futuro, um destes dias, teriam sempre interesse em continuar a vender o seu precioso gás por esse canal. Os EUA para forçar isolar a Rússia e forçar a compra do seu? Talvez não

De notar que a Rússia não ficou sem possibilidade de enviar gás para a Europa, não o pode fazer é diretamente para a Alemanha. Tem que atravessar outros países, que, aliás, na altura se mostraram muito incomodados, quando o projeto foi anunciado, por ficarem fora do caminho. Países que hoje até se estarão a sentir ameaçados como possíveis próximas vítimas da loucura de Putin. Países que passaram agora a ter no seu território uma válvula que podem fechar e muito incomodar a Rússia. Que passaram a ter um importante argumento do lado deles caso amanhã a Rússia decidir atacá-los.

Vamos olhar para o mapa e jogar ao Cluedo?

28 outubro 2022

Há, mas é verde


O anúncio do gasoduto “verde” entre Barcelona e Marselha é uma história mal contada e se foi calculada ainda não o vimos. Em primeiro lugar estamos sem saber porque foi abondando o projeto anterior Midcat, para transportar gás natural pelos Pirenéus, sendo certo que as interligações energéticas na Europa são necessárias e que muita água ainda irá passar por pontes e barragens antes de o gás natural ser banido, como muito bem comportadamente já fizemos com as nossas centrais de carvão.

Depois, fazer um investimento desta natureza para algo que ainda não existe em dimensão que se veja, nem em produção, nem em utilização…!? Alguém fez as contas? E qual o papel de Portugal neste negócio? O hidrogénio verde é feito simplesmente a partir da eletrólise da água usando eletricidade de origem renovável. Por alma de quem vamos fazer isso aqui e enviar o hidrogénio a milhares de quilómetros? Não temos excedente de renováveis e a França até tem eletricidade barata a partir do seu parque nuclear. Alguém fez as contas a que custo o gás chegaria ao destino? Será economicamente viável? Ou vamos fazer as contas depois de se gastar uma pipa de massa no gasoduto?

Ou será isto apenas uma forma “esperta” de fazer um investimento em infraestrutura de gás natural, pintado-o de verde, para poder ser mais facilmente aceite e financiado? De qualquer forma, Portugal, seja pelo singelo terminal de Sines, seja pelo hipotético parque de produção de hidrogénio verde, que não existe nem se sabe como nem quando existirá, não tem nada a ganhar com isto. Apenas uma excelente oportunidade para queimar dinheiro.

20 outubro 2022

Neo-histórias de criancinhas ao pequeno-almoço


No tempo da antiga senhora diabolizavam-se os comunistas, insinuando que eles até comeriam criancinhas ao pequeno-almoço. Seria mais eficaz e responsável invocar a realidade do Gulag em vez de absurdas ficções de bicho-papão. Na mesma altura, naturalmente, quem não alinhava com a “situação” era um perigoso comunista, potencial antropófago.

Depois da revolução de abril, todos os que não aderiam ao Processo Revolucionário em Curso foram carimbados como fascistas e reacionários e sem mais discussão. Recentemente esta catalogação evoluiu para neoliberal.

O descrédito dos partidos tradicionais e a popularidade das propostas radicais não começou hoje, mas cresce a cada eleição que passa, prenunciando uma degradação dos princípios que fizeram a prosperidade, justiça social e qualidade de vida neste nosso mundo.

Obviamente que simplesmente apregoar o risco do regresso do fascismo quando há crescimento da extrema-direita é absurdo, redutor e irresponsável. O fascismo é outra coisa e invocá-lo -lo como bicho papão, cuja repulsa seria suficiente para diabolizar e travar popularidades perigosas tem credibilidade idêntica à dos tais pequenos-almoços. Descredibiliza quem o anuncia e, sobretudo, evita um escrutínio sério das origens do problema, no qual esses anunciadores levianos têm muitas responsabilidade e contas a apresentar.


12 outubro 2022

Dura lex…


 É inquestionável que a existência de regras pré-definidas e aplicadas sem arbitrariedade é fundamental para a prosperidade e o sucesso. Já diziam os romanos que a lei, desde que exista, é para respeitar, por mais dura que seja, sem favores ou castigos discricionários. Todas as situações em que as sentenças são ajustadas e aptadas conforme o perfil do réu, são sinónimos de um sistema podre e condenado ao fracasso.

Isto vem a propósito das recentes polémicas com os negócios paralelos e familiares de ministros com o Estado, do qual o mais recente, com Pedro Nuno Santos, não deveria levantar a mais pequena dúvida. Conjuntamente com o pai ele detém mais de 10% da empresa, isso proíbe a celebração de contratos públicos e, segundo a dura lex, o ministro devia ser demitido. Qual é a dúvida? Não são necessários pareceres encomendados ou voluntários, frescos ou ressessos, para lançar uma névoa e acalmar o assunto até as primeiras páginas serem tomadas por novo “caso”. De notar que até já quase nem se fala do marido da ministra, associado de um cidadão chinês, anteriormente condenado por corrupção, a receber fundos comunitários, tutelados pela mulher, com o objetivo fantástico de desenvolver produtos de uso veterinário com água termal. Espírito inovador não falta!

E, sem dúvida, o crescimento dos populismos é um problema!

30 setembro 2022

O que falhou?


Quando um produtor ou distribuidor sofre um aumento significativo nos seus custos, tentará repercuti-lo a jusante nos seus clientes, com maior ou menor dificuldade, conforme a natureza dos seus contratos e a dinâmica do negócio. Poderá passá-lo completamente, parcialmente, se o mercado não aceitar, ou com amplificação se houver margem para “espertezas”.

Num mercado aberto a concorrência encarrega-se de encontrar novo ponto de equilíbrio, mas há situações em que a natureza do produto/serviço e a limitação no número ou na facilidade de mudar de fornecedor, obriga a alguma regulamentação e supervisão. Uma coisa é mudar o local onde se toma o café matinal, outra coisa é o fornecedor de energia.

Os aumentos recentes no custo do petróleo e o do gás, deveriam estar a colocar pressão nos distribuidores, desde que corretamente enquadrados contratualmente e supervisionados. A montante, os produtores beneficiam certamente, mas aqui falamos de estruturas multinacionais e de contabilidade não facilmente escrutinável pelo fisco de cada país.

Assim, estes aumentos de custos de energia “excessivos” e excitação com taxar lucros “extraordinários” traduzem algo que falhou. A disparidade na evolução/aumento dos custos para os diferentes cenários contratuais, também é inexplicável. O preço do petróleo tem um longo e amplo histórico de ioió, mas nunca vimos tamanha disparidade e volatilidade no preço dos combustíveis.

Em vez de se discutir o “castigo”, de taxar, sendo que os Estados já estão a beneficiar de aumentos extraordinários da sua receita fiscal, era importante entender o que falhou no enquadramento e supervisão dos mercados de energia. Há algo aqui que não bate certo e os consumidores certamente preferirão pagar menos do que gerarem mais base para impostos

07 setembro 2022

Quem vem e atravessa o rio


 “Vê um velho casario que se estende até ao mar”. Assim contava a bela canção sobre o Porto, sentido. Quem atravessava o rio, na Arrábida, não junto à serra do Pilar, via de um lado o casario e do outro a bela foz do rio.

Hoje essa vista está conspurcada por uma construção que vem de lá de abaixo até uma altura pornográfica. Que é isto, que mais parece um pesadelo, é real? E não se pode demoli-la?

03 setembro 2022

A transição a chegar mesmo


Lembram-se dos tempos em que os grandes líderes mundiais viajavam em jatos privados para se reunirem e discutirem as ações a tomar para salvar o planeta? Ou quando ambientalistas iam de Lisboa a Madrid para manifestarem pela sua causa? Lembram-se do tempo em que era consensual a necessidade de travar a utilização dos recursos do planeta, mas poucos efetivamente alteravam os seus hábitos e confortos?

A guerra na Ucrânia e o que por aí se adivinha como consequências, talvez venha a ter mais impacto real do que todas as cimeiras e manifestações organizadas até hoje. É que quando não há, não há mesmo. E se aplicássemos os mesmos princípios sancionatórios à Arábia Saudita pelo que têm feito no Iémen e não só…

Somando-se a esta crise energética a seca e a escassez de água, frugalidade deveria ser a palavra-chave e a ter em conta ao antes de acionar um interruptor, abrir uma torneira, avaliar um saldo ou promoção, carregar no acelerador ou planear as próximas férias. Em França. E. Macron, dramatizou anunciando o “fim da abundância”. Na teoria já sabíamos que vivamos de forma insustentável, mas as renúncias voluntarias são limitadas.

A ser concretizada esta travagem, para lá dos efeitos nas comodidades de cada um, haverá repercussões sérias em muitas fileiras de atividade. Se se deixar de gastar, vai sobrar capacidade produtiva, da qual muita gente depende. Esse será um grande problema a gerir, muito maior do que a perda dos confortos consumistas.

31 agosto 2022

DesTAPando o aeroporto


Na discussão sobre a necessidade e as alternativas possíveis para o novo aeroporto de Lisboa, onde uma opção a Sul do Tejo tem implicações e um investimento em infraestruturas enorme, há uma variável que não se costuma colocar na equação e já sem referir o impacto que a limitação das emissões de CO2 e a utilização de combustíveis fosseis terá nos hábitos de mobilidade.

Uma boa parte do tráfego em Lisboa é consequência da existência da TAP e do seu “hub” estar aí baseado. Se a companhia desaparecer essa intermediação entre vários destinos irá desaparecer e o movimento reduzirá de forma significativa.

É certo existirem uns fundamentalistas que juram e prometem que nunca a “nossa” companhia irá desaparecer, que haverá sempre uns milhares de milhões, desviados de outras necessidades, para a manter no ar…

Para mim não é de forma nenhuma garantido que uma companhia desta dimensão e com este histórico e cultura tenha viabilidade a prazo. Nesta eventualidade, as premissas para o novo aeroporto mudam bastante. Será descabido equacioná-lo neste momento?

30 agosto 2022

Paulo de Oliveira


Corria o ano de 1989, mais coisa menos coisa, e eu, por acaso, passei na Covilhã. Para quem vivia no concelho de VN Gaia e trabalhava no de Matosinhos, era um acaso um pouco forçado passar por aqueles lados, mas o argumento do acaso foi desculpa boa para forçar uma reunião com o Sr. Paulo de Oliveira.

Ele estava prestes a decidir um investimento industrial e nós não estávamos bem colocados, donde que fui lá, “por acaso”, tentar salvar a dama. Recebeu-me com cortesia e frontalidade. Impressionou-me a sua omnipresença na empresa. Discutiu comigo detalhes do projeto, expressou a sua opinião quanto à marca dos componentes de automação, enquanto era interrompido por uma encarregada da fábrica que lhe reportava um problema algures na tinturaria e queria a sua opinião sobre a opção a tomar para a solução. Dinâmica e capacidade de decisão não lhe faltavam.

A missão teve sucesso e foi o nosso primeiro projeto na área têxtil, que tinha, com ou sem razão, o hábito de comprar equipamentos fora do país. Dizia-me que o seu carro era um BMW e não um Fiat e tinha as suas razões para isso. Eu, que por acaso até lá tinha ido de Fiat, expliquei que ele tinha razão nesse campo, pelas diferenças constatáveis, mas não era o caso entre o equipamento alemão e o nosso.

Depois dessa fase, acompanhei a evolução da empresa, de longe. Foi um lutador e um resistente. Se ainda existe indústria de lanifícios e especialmente naquele interior do país, em boa parte, se não em toda, deve-se a Paulo de Oliveira, que hoje partiu. O país é devedor a personalidades como esta.

Imagem do jornal "O Interior"

27 agosto 2022

Podia ser pior


Partiu um braço? Poderia ter sido os dois! Foram os dois? Poderia ter sido também as pernas! Foram também as pernas? Poderia ter ficado paraplégico! É sempre possível face a algo que corre mal imaginar um ainda pior e assim conseguir fraco consolo.

Relativamente à calamidade habitual dos incêndios, ficamos a saber, segundo uma secretária de Estado, que podia ter sido pior. E não se baseou em palpites ou sentimentos, mas num mui científico algoritmo. E quem governa, apenas mede os resultados nos algoritmos ou procura antecipadamente melhorar? E este tomará em consideração a competência, a organização e os meios? E se, por exemplo, em vez de gastarmos milhares de milhões a manter os Airbus da TAP no ar, houvesse mais Canadair a voar e a apagar incêndios? Aposto que esta o algoritmo não apanha!

Por outro lado, depois de ter ardido 1/4 do Parque Natural da Serra da Estrela, a ministra vem dizer que vai ser realizado um plano de recuperação e revitalização que deixará o Parque melhor do que o que estava. É pena então não ter ardido todo! Portanto, vamos lá ao Gerês, Sintra, S. Mamede, Montesinho, etc, toca a passar as chamas para no final ficarem melhor do que o que estão! A ministra saberá o que é uma floresta?! Já agora, o ardido pinhal de Leiria, cinco anos depois, como vai em termos de recuperação?

23 agosto 2022

Inês é morta


 A comunicação emitida pelo Governo, não deve ficar apenas de boas novas. Se há algo que está a correr mal, é um dever divulgar essa informação, explicar as causas e apresentar as ações corretivas em curso ou planeadas.

Um dos temas onde existe uma forte carência nesse campo é o excesso de mortalidade. As informações são extraídas a “saca-rolhas” e o Governo anuncia um “estudo aprofundado” (!), com resultados a serem conhecidos em 2024!?

Vamos ser sérios. É óbvio que a prioridade Covid no SNS terá tido algum impacto nas restantes doenças. Até que ponto teve, é uma questão fundamental. Parece óbvio que quem governa pensando e antecipando deveria ter montado um sistema de acompanhamento que permitisse termos hoje dados concretos sobre o impacto dessas carências no tratamento e acompanhamento dos doentes não Covid.

Mesmo que nada tivesse sido feito e alguém tivesse acordado agora, com Inês já morta, esperar por 2024 é surrealista. Vamos continuar assim, que não estamos bem, e esperar por 2024 para termos informação que permita entender e atuar? Brincamos com coisas muito sérias, não?

19 agosto 2022

Os Robin do Paço


Tirar aos ricos para dar aos pobres é uma ideia simpática e aparentemente justa, especialmente quando a riqueza é usurpada e a pobreza desmerecida. Atualmente já existem vários mecanismos fiscais e de apoio social que fazem uma importante transferência dos mais ricos (pelo menos dos que declaram rendimento), para os mais necessitados.

Nestes tempos conturbados, vemos inflação, a que já não estavam habituados, e é forçoso de uma certa natureza humana, haver quem aproveite o aumento dos custos, arredondando para cima os preços. Diz-se assim que há empresas a beneficiar de “lucros extraordinários” e que devem ser taxados…

Se estão a ganhar em “demasia”, quem está a pagar são os consumidores e na economia de mercado em que vivemos, a pior com exceção de todas as outras, deverá haver mecanismos intrínsecos de correção. O Governo deve verificar se o acesso ao mercado é livre e para casos mais sensíveis estão aí os reguladores.

Que o governo se queira apropriar desses excessos com mais uma taxa ou taxinha, para fazer sabe-se lá o quê, não alivia os consumidores, pelo contrário consolida os preços altos. Aliás o próprio está também a ter receitas adicionais e poderia dar o exemplo, abrindo mão de algumas taxinhas, ao contrário de procurar novas.

Além de que a relação entre o Estado e as empresas deve ser séria e estável e não estar à mercê de investidas populistas.

15 agosto 2022

Palpites e mais palpites


No passado mês de junho decorreram as eleições legislativas em França. Têm a particularidade de cada lugar ser conquistado individualmente, por maioria, a uma ou duas voltas, como nas nossas presidenciais. Existe uma prática de que um ministro em funções que falhe a eleição no seu círculo deve abandonar o governo, falta-lhe legitimidade. Em Portugal o sistema é diferente e a prática também. Não quiseram eleger Fernando Medina como presidente da câmara de Lisboa? Gramem-no agora como ministro!

Medina acabou de contratar um ponta de lança para a comunicação, um galáctico, com vencimento superior ao do ministro. Enfim, Sérgio Figueiredo pagou a Medina para dar palpites na TVI; agora este paga a Figueiredo para dar palpites no governo. Palpite com palpite se paga.

Para lá deste antecedente, é curioso como o ministério das finanças necessita assim dum craque em comunicação… Medina já demonstrou no passado ter problemas em geri-la, mas não seria preferível que este Governo privilegiasse a realização em detrimento da comunicação? Por exemplo, fazer chegar os fundos do PRR às empresas que deles necessitam, de preferência ainda antes da próxima pandemia?

08 agosto 2022

A fatura e a política


Só quem acredita no Pai Natal pode estar convencido que uma escalada no preço do gás natural não vai acabar por chegar às faturas de eletricidade, mais tarde ou mais cedo, com maior ou menor amplitude. Pode não ser 40% em finais de agosto, como o presidente da Endesa Portugal afirmou, mas eu gostaria de saber se efetivamente poderemos chegar a esse valor e quanto devemos esperar, mantendo-se a tendência atual.

O nosso governo, no seu tom paternalista, veio antes dizer não se alarmem, nós controlamos. Dentro da sua política de controlo, decretou que as faturas ao Estado do fornecedor suspeito iam passar a ser validadas pelo secretário de Estado! Validar uma fatura envolve dois passos. O primeiro garantir que o que está a ser faturado foi efetivamente entregue/realizado. Vai João Galamba pedir as leituras dos contadores todos do Estado, para o verificar? Certamente que não. O segundo passo é confirmar que as condições contratuais estão a ser corretamente aplicadas. Irá João Galamba pedir cópia de todos os contratos e validar as taxas e tarifas? Obviamente que não.

Que faz então um político, e deste nível, no circuito? Assina de cruz ou empata se lhe apetecer ou não tiver tempo? Fazer passar, formal ou informalmente, as cobranças ao Estado por uma etapa destas é coisa que acontece, mas não nestas latitudes nem no modelo de Estado que queremos.  

01 agosto 2022

Não entendem…?


É curioso como, após apenas um ano e meio de um ciclo de 5 anos, já se fala das próximas presidenciais. Ou não há mais tema, ou sendo baixas as expetativas sobre quem lá está, já se suspira pelo próximo.

À primeira vista, é surpreendente a aparente vantagem de Gouveia de Melo, de quem pouco se conhece do pensamento e visão sobre as grandes questões nacionais. É relevante como tanta gente está disposta a depositar a sua confiança num quase estranho, que nos apareceu um destes dias de botas e camuflado, diferente…

Outra curiosidade é como os dois principais partidos não consigam apresentar um senador que inspire a confiança necessária. Nomes como Marques Mendes ou Santos Silva, são quase anedóticos, sendo que a dificuldade do PS neste capítulo não é de hoje.

A grande vantagem do almirante é ser diferente, fora do “sistema político” e este não conseguir gerar figuras de peso e respeito. Consultar na página do governo os CVs dos ministros, é significativo. Quantos fizeram alguma coisa pela vida, fora dos círculos partidários? Que podem apresentar como realização meritória, que a generalidade da população reconheça?

De todas as formas, é preferível a fuga para um austero militar como Gouveia de Melo do que para excitados populistas como Francisco Louçã ou André Ventura.

27 julho 2022

O suicídio da dominação


Por estes dias cumpriram-se 5 meses do início da “operação militar especial” que a Rússia desencadeou na Ucrânia e, independentemente do desfecho e dimensão final da tragédia, ficará para a história o clamoroso erro de avaliação da relação real de forças entre o agressor e o agredido.

Vamos supor que em meados de fevereiro, algum responsável russo, efetivamente responsável, tivesse dito a Putin: “No meu ponto de vista, não temos condições para desencadear e concluir com sucesso essa operação especial assim tão fulminantemente”. Esta posição corajosa teria sido certamente hostilizada pelos incompetentes seguidores incondicionais de Putin e o próprio talvez lhe aplicasse um exemplar corretivo por tamanha heresia e por colocar em causa a capacidade e excelência das forças armadas da pátria.

É assim com os autoritários. À força de imporem a sua vontade e opções e de não aceitarem diferenças, à sua órbita só subsistirão visões subordinadas à sua. Ficam sem contraponto e, a prazo, sem bases para bem discernir. De tanto anularem divergências, afogam-se numa falsa harmonia. O não aceitar contestação tem uma consequência negativa imediata para quem tenta contestar, mas o autocrata irá acabar por cair na sua própria armadilha.

Muitas destas histórias acabam em suicídio involuntário, infelizmente não sem antes muita desgraça provocarem.

22 julho 2022

E quem paga?


O Sri Lanka, antigo Ceilão, vive dias de grande tormenta. Populares invadiram o palácio presidencial e a residência do primeiro-ministro, o presidente fugiu, o poder não está na rua, mas as portas estão escancaradas e as incertezas são muitas.

Para trás fica um período de má governação, incompetente e corrupta, a quem o travão do Covid-19 no turismo deu o golpe de graça. O país não consegue refinanciar a sua dívida nem garantir o mínimo de serviços do Estado. Bancarrota, assim se chama.

Não é situação rara e o passo seguinte habitual é financiamento sob tutela, tipicamente do FMI, forçando uma grande disciplina orçamental e controlo das finanças públicas. A particularidade aqui é que uma boa parte da dívida do país ser com a China, conhecida por financiar projetos de desenvolvimento (e outros) na sua esfera de influência, sem olhar demasiado para a qualidade da governação associada.

Assim sendo, o FMI terá alguma relutância em participar no reembolso desta dívida. A China também não deve estar muito interessada em aceitar algum tipo de restruturação; seria um precedente terrível, dada a sua enorme exposição a situações potencialmente análogas. Irá nascer um “FMI Chinês”?

E, no fim, quem paga? Para já, paga o povo e especialmente os mais desfavorecidos. Nós, por cá, andamos mais preocupados com a legitimidade dos penteados…

18 julho 2022

O gosto de proibir


Neste espírito de só nos lembrarmos de S. Bárbara quando troveja, também só pensamos na floresta e nas matas quando elas ardem e aí lembramo-nos que é necessário fazer alguma coisa. Dentro dessas coisas e meios, que nunca são os suficientes, podemos lembrar-nos do belo negócio dos helicópteros Kamov, há anos inoperacionais e sem atar nem desatar.

É importante regulamentar as atividades nas áreas florestais quando o risco é elevado, mas o proibir eventos que podem ser bem enquadrados e monitorados, parece mais um fazer para dizer que se fez do que uma significativa redução de risco. Quantas ignições foram registadas em tais contextos? Vamos fechar todos os parques de campismo não urbanos?

Se um dos problemas de fundo é o abandono do interior e respetiva inatividade económica, certo que não serão os festivais de verão que os irão revitalizar estruturalmente, mas retirar de lá os palcos e trazê-los em Lisboa é simbólico qb.

Regras são necessárias, mas não precisam de ser proibições cegas. A menos que os confinamentos e outras restrições decretadas nos últimos tempos tenham desenvolvido o gosto pelo proibir. É sempre fácil proibir; se isso é construtivo, é outra questão.

13 julho 2022

Poder – a disputa e o exercício


Uma coisa é disputar o poder e defendê-lo quando ele é precário; outra coisa é exercê-lo quando na respetiva posse. Uma coisa é disputar o leme; outra coisa é navegar.

Há vários exemplos de líderes que se aplicaram com sucesso na conquista e que falharam redondamente depois. Há algum tempo, Cavaco Silva recordou a herança da sua maioria absoluta. É certo que se trata de uma figura pouco empática. Mais rapidamente se perdoa a Soares injuriar um polícia no exercício das suas funções do que a Cavaco por comer bolo-rei atabalhoadamente. Inquestionável é constatar a herança significativa na organização do país deixada por este último.

Penso que estamos atualmente a viver um momento em que, conquistado o poder e anulados os inimigos, o governo está perdido sem saber como o exercer. Que ficará para a história como legado de António Costa, de positivo? Em que aspetos o país no final da corrente legislatura estará estruturalmente melhor do que estava em 2016? Tenho dificuldade em hoje identificar e sérias dúvidas sobre o que possa ainda chegar. Espero estar enganado.

09 julho 2022

Um tiro no porta-aviões


O surreal episódio do despacho de um secretário de Estado sobre o(s) novo(s) aeroporto(s) de Lisboa, assim como a brincadeira de no final ter sido apenas um erro de comunicação e desculpem lá qualquer coisinha, não deixou de abrir, mais uma vez, a polémica e lançar indecisão sobre o assunto.

Se o Montijo não serve a prazo, realço o se, fazê-lo para o desativar uma dúzia de anos depois, como quem aluga um carro uns meses à espera do novo, é um absurdo que nem para ricos. Desenrasquem-se com Beja, Badajoz, outra coisa qualquer, mas um aeroporto é demasiado caro para ser temporário.

Considerando que esta discussão já tem 50 anos, se nessa altura se afirmasse que hoje a Portela continuaria a ser o único aeroporto da capital, tal seria considerado absolutamente impossível. E, no entanto, é. E espaço para aviões pode escassear, mas para inspetores do SEF arranja-se sempre. Será talvez difícil pedir mais dinamismo a uma instituição que está no corredor da morte há demasiado tempo.

O contexto muda e evolui. Há vários sinais que sugerem uma tendência de redução no tráfego aéreo. Os combustíveis não vão ficar mais baratos, as limitações às emissões de CO2 irão limitar as deslocações não essenciais, o turismo e respetiva pressão é algo que não vai continuar a subir exponencialmente, os confinamentos Covid criaram hábitos de reuniões não presenciais que parcialmente consolidarão. Precisamos mesmo de um novo e enorme aeroporto?

Para um investimento desta natureza é importante bem pensar antes de agir, com dados e perspetivas atuais. Voluntarismo nesta escala é irresponsabilidade.