25 setembro 2018

Andamos para trás?


O senhor reproduzido nesta fotografia, créditos abaixo, é considerado pelos especialistas ter possuído uma das mais fantásticas vozes de sempre. Pela sua imagem e prática foi assumidamente homossexual, com as minhas desculpas para a eventualidade desta expressão não ser atualmente a mais politicamente correta.

Na avaliação e discussão do valor de Freddy Mercury como artista, sinceramente, não me lembro de ver recorrentemente apontada, pela positiva ou pela negativa, a sua homossexualidade. Nos tempos atuais, supostamente mais modernos, isso já não seria possível. Uma crítica seria imediatamente classificada como homofóbica pelos guardiões das minorias, mesmo daquelas que dispensam esse tipo de guardas, e um elogio obviamente imputado ao lóbi dos gays.

Dificilmente será possível vermos hoje uma discussão natural e objetiva sobre os méritos e deméritos de um Fredy Mercury sem uma contaminação inevitável das, chamemos-lhe, suas preferências sexuais. À força de tanta pressão pela “modernidade” e pelo politicamente correto e na sequência das reações que todos fundamentalismos e radicalismos provocam, acabamos por viver muito mais condicionados por preconceitos do que no passado.  

Foto: Redferns, Bob King


22 setembro 2018

Quando não basta ser

A não recondução de Joana Marques Vidal como PGR pode ter muita lógica e muitas justificações. A apresentada pela PR da “homenagem à vitalidade da democracia” é algo patética.

Sem questão de fundo formal a impedir a recondução e sem nenhuma razão objetiva decorrente do desempenho de Joana Marques Vidal, esta decisão do governo foi tomada porque lhes apeteceu.

Pode até estar tudo muito certo e o desempenho da nova PGR continuar na linha da atual, mas no momento em que escaldam tantos processos com gente importante e muito próxima dos atuais inquilinos do poder, este apetite pela mudança parece muito, muito mau.

14 setembro 2018

(Im)Possible restrictions

Eram 3h18 da madrugada quando caiu um sms da companhia aérea nacional, escrito “in English”, avisando-me que devido a “possible restrictions at Lisbon Airport” eu tinha interesse em me despachar, se não queria perder o voo da manhã. É o que se chama começar bem o dia.

É habitual as coisas complicarem-se nos aeroportos no período de férias. Há mais voos, mais gente e uma parte dessa gente menos habituada a circular por aqueles canais. Será também lógico que um aeroporto sature por aquilo que não se incrementa com facilidade, nomeadamente pistas e portas de embarque.

Nessa famosa manhã, em que tomei as recomendadas precauções, o controlo de passaporte tinha as linhas automáticas fechadas e, quando passei, apenas um guichet estava aberto. Quem se apresentou esperando um tempo de passagem “normal” bem stressou… ou seja, as “restrictions” não tinham a ver com coisas físicas, espaço até nem falta naquela zona, mas com o número de inspetores do SEF em serviço. Do outro lado, para quem chegava, a fila de espera era coisa de terceiro mundo.

Se isto faz parte de algum programa para reduzir o número de turistas que nos visitam, está bem, estão no bom caminho. Que seja usado para justificar a saturação do aeroporto, é que já é outra conversa.

12 setembro 2018

O fulano quer


Sei de experiência própria que muito dificilmente há sucesso numa realização feita a partir de ideias avulsas, nascidas em frente ao espelho durante a higiene da manhã. Especialmente se houver dimensão e complexidade é necessário definir e planear um conjunto de ações coordenadas e coerentes e implementá-las com disciplina e organização.

Assim, irritam-me profundamente os títulos, mais frequentes agora com o aproximar das eleições, de “fulano quer…”, sendo o fulano um fulano do poder ou da oposição e irrelevante o quadrante político onde se insere. Já vivi num país onde era possível um ministro visitar uma obra em curso e ali, a quente, dar instruções e decretar alterações. Poupo-me caraterizar o absurdo que tal representa. Não estamos nesse nível, felizmente, mas este concurso de “ideias” tresmalhadas e pontuais que os fulanos se lembram de querer não me é nada querida.

09 setembro 2018

Sigam o líder

Em 2013 a Sony lançou uma coisa nova e revolucionária, uma família de máquinas a sério, de sensor “full frame”, sem espelho: as famosas A7, declinadas em três versões e hoje na terceira geração.

Os Canikon, que já tinham dada pouca importância ao “sem espelho” para sensor intermédio APS-C (a Nikon ignorando-o mesmo de todo), continuaram a promover as vantagens do espelhinho, uma peça móvel, que ocupa espaço, que coloca problemas de calibração de focagem, mas que permite ver o cenário ao vivo, como muito gente não dispensa.

Respeitando gostos e opiniões, com os visores eletrónicos atuais e ultrapassadas algumas questões tecnológicas iniciais, preferir hoje o visor ótico, muito menos flexível e informativo, pela “sensação” de ver, para mim é como defender arrancar o motor de um automóvel com manivela em vez de motor de arranque, porque assim se sente melhor quando ele pega…

Estes dias, com um intervalo apenas de duas semanas, os Canikon apresentaram finalmente as suas famílias “espelholess”, apenas 5 anos depois do líder. Obviamente que as famílias anteriores, com manivela, não desaparecem, até porque é aí que eles têm o seu mercado consolidado e também ainda não se sabe quanto vale mesmo na prática o desempenho das recém-nascidas.

Após tantos a menosprezar e a ignorar a inovação finalmente reconheceram e assumiram que os automóveis já não usam manivela.

05 setembro 2018

Não era futebol


A degradação e o descuido que levaram ao brutal e devastador incêndio que destrui uma boa parte do Museu Nacional no Rio de Janeiro não foi consequência do governo dos últimos dois anos, como alguns tribalistas se apressaram a dizer.

É uma história de longos anos. Consequência de cortes/austeridade e desinvestimento, certamente, mas também de desinteresse geral. Não haver água disponível para combater as chamas quando era necessária será mesmo e apenas questão de orçamento?

Sobre orçamento e cortes, convém recordar que este país organizou um campeonato do mundo de futebol há quatro anos, com tudo o que de enorme investimento perdido estes eventos implicam.

Portanto, se estivesse em causa o futebol e não 200 anos de história e de memória do país e até património único da humanidade, talvez o edifício tivesse tido mais atenção. Apenas por lá ?


Foto: Globo.com

04 setembro 2018

Passos passados

Este era um bom texto para o aniversário do blogue, mas como maio ainda vem hoje e as efemérides são como o Natal, quando um homem quiser, e eu gosto de ter a liberdade de invocar o que me apetece quando me apetece, sai hoje.

O sítio onde estamos é fruto do caminho que fizemos. Cada passo dado, certeiro ou desajustado, foi uma parte desse percurso. Podem ser de louvar ou de lamentar, mas nunca de apagar ou esquecer. Especialmente os passos dados públicos e publicados, porque até por definição, o que é colocado a público não pode ser revertido.

Ao longo de uma dúzia e meia de anos de publicação, acontece-me por vezes cair numa coisa antiga e achá-la atual e bem-feita ou fraca, equivocada e imperfeita. Vejo hoje fotos publicadas há uma dúzia de anos que estão mesmo a precisar de um toquezinho aqui ou acolá… ou de um caixote do lixo. Mas deixo-os estar, por fazerem parte do meu caminho, porque apagá-las ou alterá-las seria apagar ou “retificar” o que eu fui. Dramático? Não, mas importante.

Daí a necessidade de bem refletir antes de tornar algo público. Por definição, não é reversível.

02 setembro 2018

Ai Portugal

As denúncias dos desvios e abusos na utilização das verbas disponibilizadas para as reconstruções de Pedrogão Grande não devem ser tribalizadas. É pouco relevante a cor política dos intervenientes. Creio que, infelizmente, a “chico espertice” do vale tudo para deitar a mão ao que está ali a mão, seja simples dinheiro público de todos nós, seja uma coleta solidária em favor de quem foi vítima de uma desgraça, não tem cor dominante. É caraterística de uma falta de princípios e de vergonha, transversal na horizontal e na vertical. Podem até dizer os beirãos: se os excelentíssimos senhores deputados aldrabam a sua declaração de residência para receberem mais umas massas, porque não o posso fazer eu também para ver o meu palheiro transformado em casa?

Efetivamente, a doença é a mesma e o pior que podemos fazer é relativizá-la pela família política dos protagonistas. Enquanto assim fizermos, continuaremos bons a “discutir futebol”, mas não é por aí que sairemos da cepa torta.