31 dezembro 2007

2008 - Ligue-se!


É tradição desejar um Bom Ano Novo. Um pouco naquela linha do "oxalá corra bem".
Acho isso passivo demais. Em vez de desejar, prefiro pedir:
Que cada qual e todos ajam de forma a que o 2008 possa ser um excelente ano!
Vamos lá ligar os interruptores que estão aí à mão para trazer luz e energia ao mundo!

29 dezembro 2007

Folhetim BCP – Histórias Laterais

Os últimos episódios do folhetim BCP proporcionam umas boas reflexões paralelas.
O CV de Santos Ferreira é o de um gestor claradamente “político” e não parece à medida de um BCP. Se os accionistas privados do banco o aceitam com tanta unanimidade será por desespero e necessidade absoluta de credibilidade ou pelos méritos intrínsecos do mesmo?
Se a nomeação de Armando Vara para a CGD já pareceu um pouquito forçada, como se entende agora o seu lugar no BCP? Será mesmo pelo mérito? Afinal os critérios das nomeações para as administrações das empresas públicas não são fundamentalmente partidários?? Que grande confusão!!!

O que vale e ajudou a esclarecer foi Filipe Menezes ter vindo ingenuamente dizer alto aquilo que é habitual ser dito baixinho. Exigir que para a Caixa entrasse alguém do PSD. E a resposta pública à verdade subterrânea foi tesa, estava mesmo a ver-se! Quem o mandou ser inocente?

A seguir, tivemos ainda direito ao regresso do famoso “cromo” Rui Gomes da Silva. Para começar, a anedota: Ao zurzir em Silva Pereira teve a inspiração brilhante de invocar que ele era “tão afoito a recolher dinheiro para que o senhor primeiro-ministro possa passar férias no estrangeiro que blá, blá, blá...” Um verdadeiro diamante de retórica à espera de ser talhado para ser entendido!

Menos anedótico e mais grave é invocar uma “tradição nacional” segundo a qual a presidência da CGD ou do Banco de Portugal deveria ser do PS com o PSD no governo e vice-versa. Não entendi completamente o mecanismo mas percebi claramente uma coisa: quem não for “próximo” do PS ou do PSD nunca pode ser presidente da Caixa nem do BdP nem de muitas outras coisas. Obrigado Dr Filipe Menezes por ter ajudado a tornar pública e clarificada esta bela tradição.

25 dezembro 2007

Postal de Natal

Olha, olha, e se fosse verdade ? Se ele tivesse nascido realmente em Belém, num estábulo. Olha, e se fosse verdade? Se os reis magos tivessem realmente vindo de longe, de muito longe, para lhe trazer o ouro, a mirra e o incenso?



Olha, e se fosse verdade? Se fosse verdade tudo o que escreveu Lucas, Mateus e os outros dois? Olha, e se fosse verdade? Se fosse verdade a história das bodas de Canã e a história de Lázaro?


Olha, e se fosse verdade? E se fosse verdade o que eles contam às crianças à noite antes de dormirem, quando eles dizem Pai Nosso, quando eles dizem Nossa Senhora? Se fosse verdade tudo isso? Eu diria sim, seguramente eu diria sim, porque é tão belo tudo isso quando se acredita que é verdadeiro.

Jacques Brel, “Dites, si c’était vrai” em tradução livre. Transpira das palavras que ele próprio não sabe se acredita, um certo distanciamento racional, mas rendendo-se à beleza da história, mesmo em ficção. Dá vontade de dizer: é pena os desvios da instituição que a herdou, a opulência, a arrogância e as outras coisas más que a mancharam ao longo dos séculos. Porque, realmente, é uma bela história!

23 dezembro 2007

História de Natal, ricos e pobres

Há cerca de 25 anos atrás, no âmbito de uma actividade de “militância cultural de raiz tradicional” (grande expressão esta, não é?), organizávamos uma grande festa de Natal. Poucos do grupo eram frequentadores de missas e nenhum de sacristias, mas achávamos que valia pena celebrar o Natal colectivamente para as crianças da freguesia. Uma particularidade assinalável era o evento ter orçamento zero:
  • As escolas primárias da freguesia eram convidadas para seleccionar um ou dois dos números das suas festinhas para a festa grande;
  • Três do grupo com jeito ensaiavam um número de palhaços na cave da casa dos meus pais;
  • Outro com jeito fazia umas imitações (O "Estebes" que quando não sabia o que dizer, se atirava com a cadeira para o chão...);
  • Alguém com jeito tocava viola e cantava umas cantigas;
  • Outro com jeito desenhava e pintava o cenário;
  • O homem a quem alugávamos a aparelhagem de som para os espectáculos grandes, dava um jeito e colocava gratuitamente à nossa disposição, naquela dia, uns micros, uma mesa e uma colunas;
  • O estaleiro da Cerci e do Piaget emprestava-nos um pavilhão por acabar mais as tábuas, cavaletes e tijolos que serviam para construirmos o palco e os banquinhos;
  • Para a prenda aos participantes um merceeiro oferecia uns quilos de rebuçados. Outra mercearia oferecia uns balões de encher e emprestava a máquina de fechar sacos. Num fim de semana anterior eram cheios saquinhos plásticos transparentes com uma meia dúzia de rebuçados e três balões.
  • Depois de uma noite sem dormir nos preparativos, porque a compatibilização da nossa festa com missas e cataqueses (assunto sensível) a tinha atirado para um sábado de manhã, lá começavam a convergir para o local os “rebanhos” de participantes/assistentes, previamente agrupados nas suas escolas primárias. Uma grande percentagem participava activamente e, se não eram eles próprios que subiam ao palco, eram os seus colegas. A festa decorria com uma dinâmica e um entusiasmo impressionantes. Era um sucesso!

    No final, depois de distribuirmos os pobres saquinhos por uma mole de miúdos eufóricos, comentávamos entre nós que seguramente seria muito melhor se houvesse algum apoio financeiro...
    Uns anos mais tarde fui com os meus filhos a uma festa de Natal organizado e patrocinada pela Junta de Freguesia “como deve ser”. Contrataram um pequeno circo que apresentou um espectáculo honesto. Ficámos sentados a assistir passivamente do princípio ao fim. No final os meus filhos receberam uma prenda bastante melhor do que o famoso saquinho plástico. Tudo “como deve ser”, mas com a certeza de que os que tinham assistido/participado na festa de orçamento zero a acharam seguramente muito mais rica.

    20 dezembro 2007

    1914 – 2007

    O que é cumprir a vida?

    Numa perspectiva interior?
    • Ter vivido com dignidade e proporcionando dignidade aos próximos;
    • Ter feito todo o possível para, à saída, deixar o mundo melhor do que estava quando chegamos.

    Ou, numa perspectiva externa, complementar da anterior e mais exigente:

    • Que os outros que ficam, nos identifiquem, reconheçam e que consigámos continuar a dar algum contributo para esse mundo melhor, mesmo depois de...

    15 dezembro 2007

    A leste das vespas e suas picadas (II)

    Continua de

    Naquele dia tudo se conjugava para ser um dia bravo, cheio de vespas assanhadas. Afonso, Cláudio e Xavier olhavam esse caminho em silêncio. Logicamente foi Xavier o primeiro a partir. Era por ali que devia ir e tinha que ser. Afonso questionou-o sobre as razões dessa necessidade mas Xavier não respondeu. Ou não quis dizer ou, às tantas, era só mesmo o desafio de querer querer o que é difícil fazer. Partiu.

    Afonso teve um ataque de nostalgia do perdido. Recordou-se de todo o caminho inócuo que tinha feito na vida e no que com isso tinha ignorado. Nunca ter sido picado era uma prova de pobreza. De repente odiou-se e insultou-se revoltado. Em vez de, mais uma vez, partir contornando o perigo, fechou o rosto e partiu directamente no caminho do vespeiro. Cláudio lamentou-se e foi atrás. Ia ser mau mas tinha que ser. Era a sina dele.

    E foi mau, foi mesmo mau.

    Cláudio regressou em primeiro lugar e jurou que nunca mais se meteria em tais andanças. Sabia de sobra sobre o assunto para poder avançar daí para a frente evitando todo o risco de vespeiros. Passou a chamar-se António.

    Afonso regressou transfigurado. Revoltado, zangado e fascinado pela dor. Nunca mais se afastou do vespeiro. A sua pele virgem rapidamente passou a martirizada. Ele cada vez gostava menos de si e passou a chamar-se Cristiano.

    E Xavier não voltou, nunca mais foi visto. Para António Cláudio era absolutamente indiferente. Cristiano Afonso dizia, triste por si próprio, tê-lo ouvido dizer que seguia, que seguia. Que seguiria para onde teria que ir e que esse lugar estava a leste daquilo tudo. A leste dos Afonsos, Cláudios e das suas metamorfoses e m......

    13 dezembro 2007

    A leste das vespas e suas picadas (I)

    Afonso tinha-se por sábio e bem informado. Conseguia prever com grande segurança onde estavam os riscos e contorná-los. Ao longo de todo o seu caminho nunca uma vespa o tinha apoquentado. Comprazia-se em ver a sua pele virgem de picadas, prova da sua clarividência. É certo que muitos desvios tinha feito no seu rumo, mas a satisfação de se saber sem sofrimento desnecessário, justificava bem esse pequeno esforço adicional.

    Cláudio não tinha rumo nem prudência. Limitava-se a divagar e a parar onde calhasse. Evidentemente que se passavam mais coisas nos sítios com vespas do que nos outros. E tornou-se um visitante regular. As marcas das picadas que o pejavam eram a sua certidão de alguma coisa vivida. As assinaturas das vespas atestavam a sua carga de sofrimento e alimentavam a sua autocomiseração. Cláudio tinha motivos claros para ser infeliz e isso dava-lhe consistência. Pouco faltava para agradecer inconscientemente às vespas pelos sofrimentos que, nalguma coisa, o realizavam.

    Xavier tinha-se por determinado e decido. Conseguia planear bem o seu caminho e realizá-lo. Desvios medrosos não faziam parte do seu dicionário. Evidentemente que algumas vespas já o tinham mordido. Comprazia-se em pensar que nem mesmo as vespas o demoviam. As cicatrizes que carregava com orgulho eram prova e tributo da sua robustez. Muitas delas tinha doído a bom doer, mas a satisfação de saber que o seu caminho tinha sido mantido superava de longe o sofrimento.

    Continua para

    10 dezembro 2007

    A segunda descolonização ?

    N. Sarkosy visitou recentemente a Argélia e o tema quente nos meios de comunicação social locais foi uma espécie de exigência: a França deveria apresentar um pedido de desculpas pelo seu passado colonial e pelos crimes cometidos nesse período. O presidende Francês ousou considerar publicamente o processo colonial injusto mas não apresentou desculpas. Em seguida, Khadafi diz em Lisboa que os colonizadores devem pagar pelo mal que fizeram. (Já não bastavam os pedidos de pedido de desculpa pela escravatura...)

    Poder-se-ia procurar fazer um balanço do que a colonização trouxe de positivo e de negativo e da evolução pós-independência, mas acho que não é esse o objectivo. Uma boa parte dos actuais líderes africanos afirmou-se na luta contra os colonizadores. Aliás, muitos deles empoleiraram-se nessa altura e ainda não desceram. Hoje o que se constata, passados 30 ou 40 anos, é a falência do seu projecto e a sua incapacidade para tornarem os seus países minimamente justos e equilibrados. A maioria das belas promessas associadas à autodeterminação estão por cumprir e não se vê jeito de para lá caminhar.

    Por curiosa coincidência, o disparar do preço do petróleo e de outros recursos naturais que abundam em África, tornou financeiramente ricos muitos desses países e esses já não podem argumentar que é a pobreza material que trava o desenvolvimento. Qual a resposta? Recuperar o capital histórico da campanha da autodeterminação e voltar a facturar aos colonizadores a origem de todos os males. Se quando a história se repete da segunda vez é uma farsa, este será seguramente um desses casos.

    As novas gerações esclarecidas nesses países estão muito menos preocupadas com as desculpas do que se passou antes de eles terem nascido do que em exigir aos seus governantes que transformem os seus países em lugares bons para viver, o que é mais difícil do que ficar parado no tempo a olhar para trás e a solicitar pedidos de desculpa.

    07 dezembro 2007

    Reflexões monoteístas

    Após um pouco de leitura e análise, deu-me vontade de alinhar umas notas sobre o processo de expansão das três principais religiões monoteístas:

    Os judeus: Não existe registo de alguma vez terem pegado em armas para converter “infiéis” à sua fé. Apesar de a sua história política não ter mais de 60 anos e da forte carga confessional que presidiu à criação do estado de Israel, este não pode ser considerado uma teocracia em que o líder político se confunde com o líder espiritual e em que o direito civil deriva do religioso. Os territórios ocupados em 67, foram-no numa perspectiva militar e não de expansão religiosa.

    Os cristãos: Nascem e afirmam-se sem nenhuma atracção ou proximidade com o poder temporal. Numa primeira fase são as ideias e os princípios que convertem. Uns séculos mais tarde o poder político abraça a instituição religiosa e temos as cruzadas e a evangelização forçada. Hoje praticamente todo o mundo de raiz “cristã” conseguiu separar o político e o jurídico do religioso.

    Os muçulmanos: Quando visitei o museu do Palácio de Topkape em Istambul fiquei surpreendido com a exibição das armas de Maomé e dos seus companheiros. Agora confirmei que mesmo a expansão inicial pela Península Arábica foi feita com a força e com a conquista simultânea do poder. Desde a primeira hora, desde o próprio Maomé, que os líderes religiosos acumulam essa liderança com a militar e a política. As sucessões foram frequentemente violentas e as cisões geradas por disputa de poder e não por divergências conceptuais ou de interpretação dos princípios da religião.

    03 dezembro 2007

    Casa onde não há pão

    Diz-se que é difícil gerir uma casa onde não há pão porque todos berram e ninguém tem razão. Eu não estou de acordo. Acho que é muito mais difícil gerir bem e com rigor uma casa onde nada falta.

    Falta de pão é sinónimo de sobrevivência ameaçada. E, existindo um mínimo de nível cultural e de coesão, esse ameaça obriga a cerrar fileiras e a concentrar naquilo que é verdadeiramente relevante e essencial. É mais fácil alinhar e mobilizar uma organização que tenha fundamentos sãos nessa situação do que quando todos têm o pão de hoje e dos próximos meses garantido. É mais fácil fazer emergir e confirmar uma liderança forte nessas circunstâncias porque não há alternativas sustentáveis à meritocracia.

    Uma organização rica tem indivíduos preocupados com a sua sobrevivência dentro da organização que está estável e segura. A organização é secundária face ao seu interesse pessoal. Numa organização frágil, ninguém se pode permitir essa luxo. A comunidade rejeitará um comportamento egoísta e individualista.

    Em ambiente de abundância a liderança pode ser definida por decreto e consegue sobreviver deficiente sem ser submetida realmente à prova. Obviamente que a prazo, a abundância transforma-se em escassez porque a consequência de não criar é empobrecer.

    É por isto que muitas empresas familiares não resistem à terceira geração. É por isso que num país é mais fácil implementar medidas de fundo em situação de crise aguda globalmente reconhecida. Churchill conseguiu ser um líder forte durante a guerra e caiu logo a seguir em tempo de paz. E, já agora, podemos ainda acrescentar aquela coisa de que é “difícil a um rico entrar no reino dos céus”?

    Tem seguramente mérito conseguir uma boa liderança e fazer grande obra em situação de crise, mas acho que é muito mais difícil ter uma acção optimizada e eficaz em tempo de prosperidade.... E, assim, temos uma riqueza que mata ou, no limite, provoca uma evolução em ió-ió... Só quando as sirenes de alarme tocam é que o pessoal se mobiliza e trabalha a sério.

    25 novembro 2007

    Jerusalém - Árabes e Judeus




    Coincidindo com o aniversário da morte de Arafat e a preparação de mais uma conferência de paz, vi um filme sobre os primeiros tempos da criação do estado judeu, “O Jerusalém” de Elie Chouraqui, e um documentário da “Arte” muito bem feito, sobre a evolução desse conflito até aos “acordos de Oslo”. É curioso comparar as duas visões: uma histórica com o testemunho dos políticos e com as evoluções militares desenhadas nos mapas e a outra, talvez menos rigorosa, mas com gente que ama e que morre.

    Israel constitui indubitavelmente uma grande espinha espetada na garganta do “Mundo Árabe”. Mas, o que realmente magoa fundo não são as atrocidades cometidas nas zonas ocupadas, nem os excessos no Líbano, nem a intrusão dos colonatos. O que lacera os árabes é Israel ter resistido e, apesar da enorme tensão circundante, ter criado uma sociedade desenvolvida e democrática que, por contraste, constitui uma prova da falência do modelo dos seus vizinhos.

    Se não houvesse Israel, poder-se-ia evocar que se trata de uma zona complexa, uma natureza agreste e toda uma série de argumentos para justificar a pobreza e relativizar o despotismo. No entanto, o facto de existir ali uma democracia, que tornou fértil terras inóspitas, com um nível de desenvolvimento humano e social sem paralelo na região, é uma afronta muito indigesta.

    De notar que se tivesse havido uma solidariedade árabe efectiva e minimamente eficaz nunca Israel teria sobrevivido mais do que escassos meses. O que dói é que, em 1967, quando a grande coligação árabe estava teoricamente pronta a aniquilar Israel, este os tenha despachado em apenas 6 dias. Há uma parte anedótica: a Jordânia avisa o Egipto de que caças israelitas tinham descolado na sua direcção. A mensagem apanha os egípcios confundidos com uma mudança recente do código e quando é desencriptada já os seus Migs estavam todos em pedaços, sem terem praticamente sequer levantado voo.

    Em tempos era moda andar por aí com aqueles lencinhos bem giros dos palestinianos vítimas da opressão sionista, apoiada pelos imperialistas americanos. Muito bem. Para lá do registo histórico dos palestinianos, bastante mais criticável do que o de Israel, que se comprova agora? A sua autonomia traduz-se em incapacidade total entre corrupção e agressões mútuas. Uma parte da diáspora palestina é provocada por eles próprios, mal comportados, que não deram outra solução ao Rei Hussein que não fosse expulsá-los da Jordânia.

    E para acabar uma pergunta fatal: Se o pessoal solidário dos lenços fosse obrigado a optar a viver entre Israel ou num estado governado por palestinianos, que opção fariam ??? Resposta fácil, não?
    Foto Googleada sem referência de origem.

    22 novembro 2007

    Um lugar à janela


    Costumo pedir um lugar à janela. Prefiro viajar com um olho dentro e outro fora, a desfrutar do ilusório espaço de um corredor claustrofóbico. Gosto de acompanhar os rios e cruzar os cumes, de ler as linhas de costa e de adivinhar as cidades. Gosto de sentir as oscilações, mesmo as da tempestade, com uma referência externa e não como dentro dum submarino atingido por um torpedo.

    19 novembro 2007

    E também foi bem feito !


    Finalmente foi confirmado o título de campeão de condutores de F1 deste ano para Raikonen ... e foi mais um “é bem feito”!

    Os ingleses da Mclaren tiveram acesso a informações preciosas roubadas à Ferrari. Numa primeira fase defenderam-se dizendo que sim, que receberam essa informação, mas não a utilizaram. Como se fosse possível um engenheiro tomar conhecimento de conceitos e soluções para um problema que ele tem em mãos e, no fim, esquecer tudo e desenvolver o seu produto como se nada tivesse visto!

    Numa segunda fase, já não conseguiram esconder o tráfico e a utilização descarada da informação, mesmo sobre a estratégia de corrida dos italianos. A equipa perdeu os pontos e os pilotos foram poupados. Sabendo que o campeonato de pilotos tem uma visibilidade muitíssimo superior ao das marcas, ficou um gosto amargo a injustiça face à perspectiva altamente provável de vir a ser campeão alguém da equipa batoteira.

    Só gostava de ver os títulos da imprensa britânica se tivessem sido os italianos, latinos e tradicionais trapaceiros, a copiarem a sua mui séria e fleumática Mclaren...

    Mas a última prova foi corrida no Brasil, terra onde, como se sabe, “Deus é grande!” (e aliás tem quase tantos deuses como a Índia) e, aí, contra todas as previsões o terceiro classificado do campeonato passou a primeiro. Do alto da sua idoneidade moral a Mclaren ainda protestou o resultado, numa coisa complicada que não vale a pena explicar aqui e ... perdeu!
    A Ferrari é e será sempre diferente de tudo o resto. Aquele vermelho incendeia emoções. Terá havido festa duas vezes em Maranello. No fim do GP do Brasil e agora na confirmação.

    15 novembro 2007

    Grande Sarko



    Quando N. Sarkosy foi eleito não faltaram vozes esclarecidas a manifestarem uma profunda preocupação pelo perigo de autoritarismo que tal personalidade prenunciava.

    Não tenho nenhuma simpatia por tiranetes ou déspotas insensíveis, mas devo dizer que não partilhava essas preocupações e a acção posterior do novo presidente francês até me fez ganhar alguma admiração pelo mesmo.

    Ouvindo o que ele diz, sobre a situação de África, sobre Israel ou sobre os Estados Unidos, é difícil não concordar com a generalidade das suas posições. E é de notar que tem a coragem e a frontalidade de o dizer olhos nos olhos. Só por isso, tem mais mérito do que os recentes anteriores presidentes franceses, de esquerda e de direita, infinitamente hipócritas e tortuosos.

    Hoje os ferroviários estão em greve. Porquê? Porque instalados em poltronas confortáveis nos climatizados postos de condução dos TGV’s têm um regime especial de reforma, herdado do tempo em que trabalhavam à boca da fornalha das máquinas a vapor, em condições duras!!! E se esse estatuto ainda se mantém até hoje é porque ninguém teve a coragem (para não usar um termo mais forte) de corrigir o disparate. Quando os ferroviários colocam meio país refém do seu protesto, tentando manter um privilégio absurdo, onde está a faltar “solidariedade social”?

    Não sei quanto tempo Sarkosy se aguentará na postura actual. Não falta quem lhe vaticine uma queda rápida. Uma coisa é certa: tem uma legião de gente de todos os quadrantes incomodada com a sua acção e frontalidade e não beneficiará da menor clemência. Nos corredores do poder um enguia como Miterrand ou Chirac tem obviamente melhores condições de sobrevivência.

    Desejo-lhe boa sorte.

    12 novembro 2007

    Ajudas

    A China colocou à disposição da República Democrática do Congo um pacote de 5 biliões de dólares para desenvolvimento de infra-estruturas. Não é caso único mas em termos percentuais é enorme. Trata-se de um valor da ordem de grandeza do PIB do país! E esta oferta surge no momento em que a RDC tenta arduamente renegociar a sua dívida com o Banco Mundial e com o FMI.

    Como muitos outros países africanos, a RDC necessita desesperadamente de financiamento externo e agora tem duas opções. Ou esta opção chinesa em que muito provavelmente as obras serão realizadas por empresas chinesas e em que, para lá disso, a China ficará com um acesso prioritário aos vastíssimos recursos naturais do país, ou um financiamento ocidental.

    Os financiamentos ocidentais são complicados. Pelas suas normas internas e pela pressão da opinião pública, eles querem mesmo saber como o dinheiro é gasto, interferem e dão palpites, muitas vezes críticos, quanto à governação do país e por aí fora. Parece que com os chineses não há esse tipo de “problemas”.

    Além dessa opção do lado africano, há também uma opção a fazer do lado ocidental. Como jogar este jogo? É verdade que o registo dos negócios ocidentais por aqueles bandas não é assim tão transparente, mas também é verdade que é possível ver altos responsáveis da Total responderem numa barra de tribunal em Paris.

    Ou o Ocidente joga jogo igual, impunemente de preferência, ou deixa o jogo ser jogado por outros, com tudo o que isso implica. Ou, então, escolhe outras armas. A estratégia de produzir bens de equipamento de tecnologia avançada simplesmente onde for mais barato e com eventual transferência de conhecimento para abrir a porta aos negócios deveria ter os seus dias contados. E essa não é uma opção económica, é política. Na dúvida, pode sempre ver-se como os americanos protegerem ciosamente a aplicação da sua tecnologia durante a guerra fria. Outros tempos? Outras ameaças?

    08 novembro 2007

    Uma espécie de assalto

    O nível de delinquência urbana na Argélia é elevado e a possibilidade de ser assaltado é grande, devendo ser sempre encarada como bastante provável. Hoje, cerca de 14 meses depois de cá chegar, fui assaltado pela primeira vez, mas não exactamente como esperaria.

    Por estes lados a condução respeita poucas regras: passadeiras, traços contínuos e indicações de prioridade são pouco mais do que meros elementos decorativos. Há, no entanto, uma coisa para a qual a polícia é implacável: o telemóvel. Não tendo “mãos livres”, costumo falar em alta voz com o aparelho discretamente agarrado numa das mãos.

    Hoje, ao circular assim, ouço uma sirene atrás de mim, nunca imaginando que me fosse dirigida. Para minha surpresa, uma pick-up decrépita atravessa-se à minha frente, como nos filmes, saindo dela um agente tosco que me inquire sobre aquela criminosa utilização do telemóvel ao volante.

    Respondo em tom baixo, como é recomendado, argumentando que sou português, que não conhecia bem as regras locais e peço desculpa, mas com estes a táctica não parece funcionar. Multa e, como é usual em quase qualquer infracção e ao critério da “autoridade” no momento, carta apreendida! E lá me explicam que tenho que ir aos correios pagar a multa de 1500 dinars para me devolverem a carta. Eu continuo com o choradinho que não sei onde há correios, que não sou de lá e blá, blá, blá. Não falei do Figo e do Madjer mas pouco faltou. Sugerem-me então que os siga até aos correios. E lá partimos em procissão, lentamente; ainda aproveitam para parar e barafustar com outro condutor por uma coisa qualquer e acabam por estacionar numa zona muito tranquila sem nenhum posto dos correios próximo.

    Saio e vou à janela do carro deles conferenciar e insistem para eu ir pagar aos “correios”. Sugiro então que, como não sei onde é, lhes dou os 1500 Dinars (Cerca de 15 Euros), eles dão-me a carta e vão lá pagar por mim! Respondem-me prontamente que é proibido e, acto contínuo, dizem para voltar ao meu carro e discretamente embrulhar os 150. Sabendo dos problemas locais com os zeros à direita, preparo 150 num bolso e 2000 no outro, pois não tenho trocado. Ficaram-me com os 2000 e claro que não me deram troco.

    Uma vez em Amsterdão, aí há uns 20 anos, comprei a minha vida por 2,5 contos. Aqui comprei a minha carta de condução por cerca de 20 Euros. Não me deu gozo nenhum o expediente. Senti-me sem pachorra para aturar os atrevidos que, no trânsito denso, constantemente apontam e investem os narizes contra as nossas portas. Pus o belo compasso quaternário da Norah Jones do “Thinking about you” bem alto e rumei a casa, deixando a visita à feira do livro para uma outra vez, ou não.

    07 novembro 2007

    Acidentes acontecem

    Pode-se discutir como minimizar o número de acidentes pela melhoria das infra-estruturas, pelo aumento do policiamento e repressão, pela evolução das atitudes e mentalidades e tudo o mais, mas eles nunca deixarão de ocorrer. O problema é que quando acontece um acidente sério com um autocarro as consequências são quase sempre trágicas. E talvez só não ocorram mais pela prudência que, de uma forma geral, os profissionais que os conduzem manifestam.

    Porque é que os acidentes de autocarro se tornam tão facilmente em tragédias? Pensemos na evolução na segurança passiva e activa nos automóveis ligeiros nos últimos anos, nas almofadas de ar, nas deformações estudadas das estruturas e tudo o que foi feito para proteger os ocupantes, traduzido nas famosas estrelas NCAP que ser tornaram um argumento comercial fundamental. Que se passa com os autocarros? Alguns terão cintos de segurança, mas até que ponto os assentos se mantêm solidários com a estrutura em caso de acidente? A carroçaria em volta dos passageiros é assustadoramente ligeira e frágil. Comparado com os ligeiros, a diferença é abismal e, no entanto, partilham a mesma estrada e os mesmos riscos.

    Pelas dimensões e vocação será difícil aos autocarros atingirem um nível de segurança passiva idêntico ao dos ligeiros, ou não. Enquanto for uma questão fora da agenda pública nunca o saberemos. Questão de custo?

    05 novembro 2007

    Perplexidade

    A história da ONG francesa “Arca de Noé” e do salvamento/rapto de uma centena de órfãos/não órfãos do Chade/Sudão é uma daquelas situações em que a realidade desafia a mais inverosímil ficção e que faz brotar questões em catadupa.

    Sabendo todos os controlos e restrições existentes no espaço Shengen à entrada de cada simples indivíduo, como conseguiriam entrar assim cem de uma vez? Como seria possível legaliza-los nas famílias de adopção? Como pode alguém ter considerado isto viável? Esta ONG padece de ingenuidade ou, pelo contrário, está rendida ao contrabando e do pior que existe?

    As crianças ou uma parte das crianças não seriam sudanesas nem sequer órfãs. No entanto, quantos pais conscientes na África negra aceitariam de bom grado, com mais ou menos lágrimas nos olhos, e agradeceriam que os seus filhos fossem criados e se desenvolvessem na Europa, certos de que esse futuro lhes seria bem mais favorável do que continuar no seu país de origem?

    Ainda se desconhece o desfecho para os intervenientes que muito provavelmente não será nada simpático. Agora, qual a mancha que este episódio deixará, para o futuro, na imagem de todas as outras ONG sérias e abnegadas que muito fazem para paliar à desgraça quotidiana nessas paragens? Será uma oportunidade para os “G” de governos porem um pouco de ordem nestas ONG’s, em que tantas delas tantas dúvidas levantam?

    Por último: é claro que os estados são soberanos e que a acção em causa tem todos os ingredientes para configurar um crime grave que terá a correspondente condenação e expiação. Agora, quando metade do terceiro mundo se põe em bicos de pés para acusar rotundamente tamanho abuso e ingerência do primeiro mundo, não seria bom que pensassem no trabalho de casa em falta e falassem mais baixinho? Apesar de todas as limitações, será que estão, com a mesma veemência, a fazer tudo o que podem para que as suas crianças não tenham pais que de bom grado as deixam partir? O mais importante neste processo são as crianças e apenas castigar os aventureiros de boa ou má fé, não vai mudar radicalmente nada.

    28 outubro 2007

    Douro



    Um espaço tão confinado de vales cavados e, ao mesmo tempo, tão aberto e tão gigante. Caminhos que se cruzam, desaparecem e renascem. Como se se circulasse preso em torno do leito encantado e, ao mesmo tempo, com liberdade para nos perdermos num recanto que faltava descobrir. Cada cabeço vigia os seus irmãos, onde a proximidade visual tantas vezes esconde uma inesperada e sinuosa lonjura.

    Não haverá outro lugar tão vigorosamente transformado pelo homem, tão rude e tão harmonioso. O Douro é um espaço árido de pó e xisto agreste e magnânimo de frutos doces e olorosos.

    E, por vezes, mais do que no assombro de uns socalcos íngremes ou na vista esmagadora do alto de uma fraga monumento, a emoção está simplesmente numa fila de oliveiras e num tapete de videiras.

    (Podemos ir buscar todo o arsenal de vocabulário que quisermos e pudermos para caracterizar o Alto Douro que nos faltará sempre qualquer coisa...)

    26 outubro 2007

    É bem feito!




    Eu sei que é um pouco feio troçar de quem está na mó de baixo, mas neste caso do BCP a tentação supera o meu pudor. Sempre olhei para este banco com alguma reserva. É que, independentemente dos méritos intrínsecos e inquestionáveis do seu projecto, há uma questão à qual não sabemos responder. Dentro do seu sucesso, qual a parte devida a esse mérito e qual a devida ao seu alinhamento com um bandeira e a sua postura de estandarte de um grupo de pressão? Teria conseguido ganhar dimensão crítica e consolidar-se com tanta rapidez se fosse apenas um bom banco?

    Na nomeação de Paulo Teixeira Pinto transpareceu a impressão de que, nos critérios dessa escolha, mais importante do que a eficácia, carisma e capacidade de liderança, estaria o facto de pertencer ao grupo. Como se o grupo fosse tão forte, um rolo compressor indestrutível e auto-alimentado a quem nada pode afectar negativamente. A OPA ao BPI veio nessa linha do “é tudo nosso/tudo pode ser nosso”. Espalharam-se bem ao comprido e ainda não se levantaram. Ainda, para um guardião de princípios morais austeros e rígidos, os negócios e trapalhadas com o filho do presidente são muito indigestos.

    Independentemente do resultado final, esta proposta de fusão agora avançada pelo BPI é aquele fazer engolir a arrogância altiva que se aprecia. E é bem feito!

    21 outubro 2007

    Um olhar português

    Se é verdade que a raça (pode-se usar esta palavra?) portuguesa é fruto de uma grande miscigenação com grande variedade de cores, cabelos e íris, também é verdade que há qualquer coisa de característico e cúmplice no olhar que muitas vezes nos permite pressentir, em qualquer lugar do mundo, quando estamos face a um patrício.

    À saída do aeroporto de Orly espero pelo táxi que me levará ao hotel nas traseiras do outro aeroporto, Charles de Gaulle. Vou especulando interiormente sobre o tipo de carro e de motorista que me sairá na rifa. Chega a minha vez e há algo no pestanejar do taxista que me faz estar quase certo sobre a sua nacionalidade. Após um telefonema meu dentro do carro que me trai a origem, pergunta-me ele se venho do Porto e que tempo por lá faz.

    Vamos conversando ao longo da longa viagem e conta-me que está em França há 41 anos e que só espera que a esposa atinja também a idade da reforma para ir ocupar a tempo inteiro a sua casa na terra. Está contente por a França não ter passado à final do campeonato do mundo de Rugby. Não teria pachorra para aturar os festejos histéricos que não o deixariam trabalhar. Nota-se que não tem pachorra em geral para aquele país. Conta-me da filha que por aquelas terras gaulesas ficará, que se casou na “mairie” em França mas na igreja foi em Portugal. E vai-me contando ainda pequenas histórias das suas idas a Portugal e outras sobre o mesmo tema que passageiros que transportou lhe foram contando.

    Já na área do aeroporto de Charles de Gaulle, nas suas traseiras, uma raposa lindíssima, tal qual o Dentuça da Disney, na placa interior de uma rotunda, fita espantada os faróis que a iluminam. Acha o meu motorista que ela não terá problemas de sobrevivência ali porque é uma zona com muitos coelhos. Efectivamente, 200 metros à frente, 3 orelhudos estão perdidos na berma da estrada. Ninguém diria que estamos na periferia de um dos mais movimentados aeroportos da Europa.

    Chegados ao meu hotel, despeço-me desejando-lhe um bom retorno definitivo a Portugal. Ela suspende o movimento em curso de me retirar a bagagem da mala e com os olhos pisqueiros diz-me: “Sabe.. aqui, quando chega o frio, às vezes, dá assim uma vontade de um bacalhau, de umas favas...!”

    19 outubro 2007

    A história repete-se...?



    Se dúvidas houvesse sobre a evolução futura do PSD após a eleição de Menezes, a ressurreição precoce de Santana Lopes para líder da bancada parlamentar do partido, desfá-las. A que propósito é que o PSD traz de novo para a primeira linha a figura mais destrutiva de toda a sua história? Para fazer oposição retórica e incisiva no Parlamento? Já não estamos fartos de tribunos grandiloquentes e implacáveis e em particular deste “picareta”?!? Eu não o consigo ouvir sem uma reacção de rejeição epidérmica e consequente mudança imediata de canal.

    Se é verdade que muitas vezes a memória é curta, este caso parece mais configurar uma amnésia patológica e autista. Suponhamos que, improvavelmente na minha opinião, Menezes até se torna primeiro ministro e que por alguma razão pessoal é obrigado a resignar após dois anos de governo? Já estão a ver quem é o número dois pronto a herdar o posto??? Onde é que eu já vi isto?!?

    A história repete-se e na segunda vez é uma farsa...

    16 outubro 2007

    Cantar com lágrimas



    Não sou grande apologista de efemérides que nos tocam à campainha para nos recordarem coisas importantes. Acho que não necessitamos de andorinhas para nos lembrarmos da Primavera. Há alguns casos, porém, em que a efeméride nos cai bem, como quem diz “ainda bem que nos lembram disto!”.

    Um desses casos gratos é a evocação dos 25 anos da morte de Adriano Correia de Oliveira. Apesar de não ter perdido o hábito de, de vez em quando, ouvir a “Canção com Lágrimas” e companhia, sabe bem parar por um momento e pensar na beleza da obra e na dimensão cultural deste cantante.

    Fica, no entanto, algo de amargo na boca ao ouvir tanta unanimidade elogiosa de tantos amigos de Adriano. Tanta evocação da sua grandeza de alma e generosidade cai mal. E cai mal porque Adriano morreu amargurado e destruído, e com tal intensidade que o corpo seguiu rapidamente a morte do espírito, com apenas 40 anos de idade.

    Ao falar hoje de Adriano, seria útil e didáctico não ficar só pelas consensuais, grandiloquentes e panegíricas afirmações politicamente correctas. Deveria ser também referido o lado “B” da história em que, na ressaca do 25 de Abril, um nobre de espírito dedicado a uma causa, vê-a ruir e vê-se ser excluído. Aqueles “amigos e companheiros de estrada” que lhe voltaram as costas e o viram partir pária para o buraco donde não regressou, deviam humildemente tomar a palavra e dizer qualquer coisa sobre isso. Indubitavelmente que ele o merece.

    13 outubro 2007

    Milagre, precisa-se!



    Diz a comunicação social que estão a faltar um ou dois milagres, provados, para os dois pastorinhos de Fátima avançarem no seu processo de canonização. Todos os crentes de Fátima são convidados a fazerem um esforço adicional de fé para ultrapassar este contratempo.

    Aqui, como noutras coisas, os nossos vizinhos irmãos são, e serão, muito mais expeditos e eficazes. Acredito que quando chegar a vez do Sr. Escrivá de Balaguer, haverá rapidamente uma boa dúzia de valencianas que irão cegar ao ver um casal homossexual beijando-se na rua e que somente recuperarão a vista após intervenção milagrosa do dito beato (que aliás foi também beatificado em tempo recorde!).

    Ironias à parte, este processo de destacar as pessoas não pelo mérito das suas acções em vida mas pela influência/sugestão que posteriormente exercerão sobre um Toino uma Jaquina não me parece muito prestigiante para a igreja católica.

    10 outubro 2007

    Causas e Messias



    Um dos livros “subversivos” que em tempos idos tive foi o “Diário” de Che Guevara, escrito pelo próprio no último período da sua vida, até poucos dias antes de ser preso e abatido pelo exército boliviano, faz agora 40 anos.

    A imagem mais marcante que me ficou desse livro foi a generosidade. Provavelmente que hoje a minha leitura seria diferente, menos inocente. Mas, mais do que essa questão óbvia, talvez valha a pena perguntar o que seria o “Che” hoje e que leitura faria ele, ou um seu “sucessor”, da Cuba actual, ou da Venezuela, ou da Bolívia. Libertadas, é certo, das ditaduras militares da guerra fria mas governadas por “revolucionários” de esquerda, não necessariamente exemplares em termos de respeito pelas liberdades e direitos do homem.

    Ter-se-ia tornado o Che um homem do “aparelho”? Penso que não. O seu afastamento de Cuba após a vitória da revolução o indicia.

    Seria “Che” um revolucionário em luta contra essas ditaduras populares? E, se o fosse, em nome de quê?

    Ou seria puramente um “velhinho” amargurado, vendo a causa pela qual ela tinha estado disposto a dar vida falida?
    Ou não teria outra alternativa que não fosse ter morrido como morreu?

    Com ingenuidade, claro, nos anos 60 era possível ainda acreditar em causas revolucionárias nobres de alma e ver esta figura quase romântica encarnar como o seu messias.

    Qual a causa nobre dos dias de hoje e pela qual haja gente pronta a morrer?
    Só estou mesmo a ver o islamismo com Bin Laden como o seu messias ...
    Que tempos foleiros estes!

    PS: Foto de Alberto Korda

    07 outubro 2007

    Convicções populares

    As populações estão preocupadas com a proximidade das linhas de alta tensão. E, zelosamente, lá vem a comunicação social fazer eco das ditas inquietações. E lá conta o ti Manel que o Alfredo, cunhado da prima da falecida ti Maria, morreu de cancro e que ele tem a certeza que tal maleita foi fruto das linhas malvadas que ali estão. E a comunicação social lá nos põe a par das ditas convicções populares, e, na maior das vezes, sem um contraditório e sem o mínimo enquadramento científico.

    Ninguém gostará de conviver com tamanhas enormidades ruidosas no seu jardim, mas garanto que muitos Manéis e Marias correm sérios riscos de desenvolver problemas de saúde, quanto mais não seja por sugestão e fruto destas amplamente divulgadas “convicções”.

    Outra questão é o impacto na paisagem. Como já se conclui que não se pode construir em qualquer lugar, um dia, também, se há-de descobrir que o enquadramento destas e doutras volumosas infra-estruturas não é um pormenor de somenos importância. Um dia, ainda voltarei a ver virgem o alto do Vaqueiro no Alvão.

    04 outubro 2007

    O valor do burro sem dono

    Tenho uns “alarmes” no google sobre a Argélia e que me trazem, por vezes, coisas bem curiosas. A última saiu no agência russa de informação Novosti. Diziam que na cidade de Tizzi Ouzou um vendedor e um comprador envolveram-se numa longa discussão de negociação sobre o preço de um burro. Até aqui, não há nada de estranho, é perfeitamente habitual. O problema surge quando o burro, apanhando-os distraídos, atira os dentes a uma saco deixado ali à mão pelo comprador e o mastiga, engolindo o seu conteúdo.

    O que tinha o saco? O dinheiro com que o comprador iria pagar o burro!!! Como a nota de maior valor facial corresponde a, aproximadamenete, 10 Euros, é normal ter que carregar alguns “tijolos” para qualquer transação mais relevante.

    A quem pertence o burro? O vendedor diz que não o vendeu e se o comprador deixou o burro comer as suas notas, não é seu problema. O comprador acha que não é assim e que o anterior dono do burro é responsável. Dois tribunais locais não se conseguiram pronunciar e, segundo a agência, o assunto subiu para o supremo tribunal nacional.

    Aquele burro poderá não valer o seu peso em ouro, mas que parece saber quanto vale, isso sim!

    01 outubro 2007

    A caminho de ?



    Ora bem... Não foi este o partido que se espalhou ao comprido quando resolveu apostar no seu “menino guerreiro”, garantido ganhador de todas as eleições desta e de outras galáxias, ao contrário do que o mínimo bom senso aconselhava? E não foi Menezes um dos mais assumidos e entusiasmados apoiantes do tal líder retórico, incompetente e de sangue quente? E não estava Marques Mendes, apesar de tudo, a procurar fazer regressar alguma credibilidade ao PSD, como, por exemplo, ao decidir pela corajosa exclusão das listas autárquicas de Isaltino Morais e Valentin Loureiro?

    E agora?

    Acredito que Menezes seja/tenha sido um bom autarca. Só quando sair é que se fará o balanço mais apurado. Agora, o PSD voltar a esse registo imediatista e populista do “levanta poeira”, o que se significa? Para o PS representa uma benesse, uma vez que não precisará de se esforçar muito para ganhar as próximas legislativas. Para o país é uma má notícia. É que, sem oposição credível e eficaz, não há bom governo que resista. Já estou mesmo a ver aquelas barrigas cheias de satisfação, de ostentação e de arrogância.

    29 setembro 2007

    A vida dos outros



    Por aqui os filmes são bastante baratos. Cerca de 2,5 Eur por DVD. Palpita-me que não pagarão direitos de autor mas não tenho (muitos) problemas de consciência porque alternativas legais, não há. Também, algumas vezes, não chegam ao fim e, a maior parte das vezes, as línguas e as legendas não correspondem ao anunciado. Como o repertório disponível não está muito alinhado com as minhas preferências, quando, ao cheirar um expositor, encontro algo que me parece mais ou menos aceitável, compro sem me preocupar demasiado com o investimento. Como resultado, vai crescendo na minha sala uma fila de caixas separadas entre os já vistos e os que estão por ver.

    Este fim de semana (local) agarrei num que, à partida, pouco me dizia. Já me tinham falado dele mas não retivera o nome e não o associara: A Vida dos Outros. E uma coisa boa quando é surpresa ainda sabe melhor. Numa palavra: magnífico!

    O percurso do agente da Stasi, de funcionário eficaz e implacável até ao emocionante sorriso final do momento da compra do livro a ele dedicado, é um processo admirável. Não há um clique de vilão reconvertido em herói, que uma bela manhã acorda arrependido e decide “passar a ser bom”. Omnipresente está a sua opção por fazer sempre o que lhe parece mais correcto, com uma evolução gradual e inexorável desse sentido do correcto, desde umas simples dúvidas e interrogações até encobrir descaradamente as actividades de quem vigia. Esse conflito é gerido com uma serenidade extraordinariamente digna e harmoniosa. Para lá do interessante pano de fundo histórico e social, é um belíssima história magistralmente contada.

    Em tempos, a propósito da barbárie nazi, Hannah Arendt causou uma grande polémica ao relativizar e ao falar da “Banalidade do mal”. Este filme é uma homenagem à perenidade e à capacidade de sobrevivência do bem, onde menos se espera.

    Vale a pena comprar, mesmo custando muito mais do que 2,5 Eur.

    26 setembro 2007

    A causa oferecida - O puto sorridente


    Israel achou que a Síria estava a avançar para onde não devia em termos de desenvolvimento nuclear e não teve contemplações. Sem ONU e sem discussões, no passado dia 6 de Setembro, realizou um raid que arrasou o local. Da mesma forma como, em 1981, também destruiu o reactor Tammuz que a França tinha vendido ao Iraque. Este episódio só vem comprovar, como se ainda fosse necessário, que o móbil da invasão do Iraque, as famosas armas de destruição maciça, não estavam lá e que isso era conhecido. Se lá existissem, seguramente se teriam encontrado forma de as neutralizar sem destruir o regime.

    Para lá do atoleiro em que se tornou o Iraque, contrariando a visão dos estrategos da Casa Branca que achavam possível enxertar lá, de um dia para o outro, uma verdadeira democracia (?!) ou, talvez, instaurar uma república de bananas ao estilo latino americano, esta aventura tem um efeito negativo colateral terrível. Deu uma bandeira e uma causa “nobre” ao movimento islamita radical agressivo. É o combustível que alimenta o recrutamento dos dispostos a tudo pela sua fé atacada, na Europa, no Magreb e por aí fora.

    É fácil, e relativamente inconsequente, especular sobre o que seria isto se não tivesse acontecido aquilo. Mas vale a pena colocar a questão. A causa tradicional do islamismo revolucionário, a Palestina, entrou num processo autofágico descredibilizador. Se não houvesse “Iraque”, que bandeira teriam hoje? A que quer que escolhessem, seria relativamente fraca.

    O caso particular da Argélia é emblemático. Depois de uma década negra de terrorismo nos anos 90, as causas internas esmorecem e, quando se julgava que se estava a caminho de acabar com o problema, os resquícios dos movimentos terroristas, afiliam-se à Al Qaeda, entretanto tornada figura pública de primeira linha, recebendo uma lufada de ar fresco a vários níveis.

    Obviamente que haveria terrorismo islâmico mesmo sem “Iraque”, como o 11 de Setembro de 2001 demonstra. No entanto, a dimensão seria muito diferente. O fervor religioso dos jovens é facilmente galvanizado e mobilizado para lutar nessa guerra. Um recente atentado suicida aqui, que causou 30 mortos, foi cometido por um jovem de 15 anos, na foto, com bom aspecto, bom comportamento e... bastante religioso. Um puto sorridente.

    23 setembro 2007

    Chegou a ano 2000!!!!



    A notícia vem atrasada, mas não tanto como pode parecer à primeira vista. O novo milinénio foi celebrado a 12 de Setembro passado na Etiópia que, ao contrário da esmagadora maioria do mundo, ainda segue o calendário juliano.

    Em entrevista que ouvi a um responsável etíope, dizia este que era importante que a Etiópia fosse notícia por algo de positivo e festivo, ao contrário do que é habitual. Acrescentou ainda que a utilização desse calendário era uma prova de identidade cultural e um factor diferenciador. É que o calendário gregoriano é uma imposição “ocidental e cristã” que eles, civilização com raízes históricas fortes, rejeitam. Bom... eu acho que nessa perspectiva o juliano não estará muito melhor, uma vez que foi uma imposição “romana e imperial”.

    Tudo isto seria muito giro e apenas folclórico, não fosse o facto de um calendário não ser propriamente um elemento simbólico. Para lá da questão do alinhamento com o resto do mundo, um calendário deve estar acertado com o ciclo solar e, nesse aspecto, fundamental realce-se, o gregoriano é mais perfeito do que o juliano. Quando o que a ciência demonstra e a racionalidade aconselha é preterido em benefício da “especificidade cultural”, os resultados estão à vista.
    Foto googleada da página da Globo.

    20 setembro 2007

    Polonices

    A Europa queria instituir um dia europeu contra a pena de morte a 10 de Outubro, durante a presidência portuguesa. A abolição da pena de morte é seguramente um tema caro a Portugal, assunto em que o nosso país é orgulhosamente pioneiro. E, se existem valores europeus indiscutíveis e inquestionáveis, a abolição da pena de morte aí deveria estar inscrita, sem a mínima discussão. Queria a Europa toda, menos a Polónia. Esta, piamente do alto dos seus altares, achou que não “valia a pena” a instituição desse dia senão se não se juntasse no cabaz o aborto e a eutanásia...

    O abortar esta iniciativa por uma birra que dizem ser eleitoralista, é lamentável. Assim como também é condenável este mistura abusiva de causas. Não é de forma nenhuma incoerente lutar pela abolição da pena de morte e, ao mesmo tempo, defender a eutanásia ou o aborto.

    Trata-se da mesma Polónia que se mostra como um dos mais irredutíveis e intransigentes negociadores cada vez que há que tomar uma decisão. Já perdi a conta aos assuntos europeus que estiverem em compasso de espera até se “convencer a Polónia”! Inclusive, tiveram o desplante de invocarem a sua condição de vítimas do nazismo para, 50 anos depois, pedirem mais dinheiro... aos alemães. Já começamos a estar fartos destes coitadinhos. Se houvesse mais “polónias” na Europa, ou se ela tivesse aderido mais cedo, o projecto europeu estaria muitas milhas atrás do que está hoje.

    Este e outros casos vêm confirmar a necessidade da Europa se reformar. Ninguém gosta de ser sócio minoritário sem poder de decisão e ver serem-lhe impostas resoluções relevantes contra a sua vontade, mas ou se acaba com estas “polonices” ou elas acabarão com a Europa.

    17 setembro 2007

    Setembro



    Setembro é o meu mês. Gosto de Setembro e do início do Outono, muito mais do que da Primavera das flores em botão, passarinhos e de todas as outras delicadezas que despertam e secam, sacudindo bolores, à saída do Inverno.

    Não temos os campos pintalgados de papoilas e infestados de pólens, mas temos o pastel das cores ocres e o cheiro forte das vinhas e das figueiras. É muito mais intenso e muito mais premente.

    Se a Primavera é a esperança ingénua, o Outono é o momento dos balanços e da maturidade. Em Abril aguardamos o fruto da floração. Em Setembro os frutos estão maduros e serão colhidos ou perdidos e, oxalá, haverão de retornar. Em frente da Primavera está a simplicidade de um desenvolvimento linear; à frente do Outono está a realidade complexa do como renovar.

    A Primavera solicita-me e cansa-me nos seus dias crescentes; o Outono aconselha-me. Anuncia o encerrar de um ciclo que nos confronta com a nossa finitude e com a necessidade de renascer e recomeçar.

    Não há fins de tarde mais belos do que os do fim do Verão.
    Não há mês mais belo do que o mês de Setembro.

    13 setembro 2007

    Génio



    Está patente na basílica de Koekelberg, em Bruxelas, uma magnifica exposição sobre Leonardo da Vinci. É fácil não ser parco em adjectivos quando se trata de falar sobre este homem. É que, reflectindo um pouco sobre a sua dimensão, conclui-se facilmente que foi uma das mentes mais geniais de toda a história da humanidade.

    Da sua biografia fica um andar daqui para ali, sendo preterido nalguns casos, como nas obras do Vaticano, em benefício de um Miguel Angelo, talvez artisticamente mais exuberante. Não se vislumbra um momento de apoteose ou de reconhecimento largo. Pelo contrário, fica a imagem de alguém que passou ao lado do seu tempo, ou que o seu tempo não identificou nem reconheceu.

    Agora, à distância, o que se vê? Aqueles extraordinários caderninhos, onde se mistura arquitectura, mecânica, biologia, desenho e sei lá que mais, são um combinado e um concentrado de conhecimento, especulação e arte seguramente sem par. Não se pode dizer que se conheçam muitas das suas pinturas, mas entre essas poucas a “Mona Lisa” e a “Última ceia” são dois dos maiores símbolos da história universal da pintura. E é o mesmo homem que concebe conceitos mecânicos fundamentais que hoje estão em todo o lado com o princípio da cremalheira ou do rolamentos de esferas, e só a título de exemplo. As suas figuras andróginas são, e continuarão a ser, enigmáticas e desafiadoras. As maquetas das suas construções mecânicas que, se bem que em geral, não foram concretizadas e muitas não funcionariam sem ajustes, são um hino à imaginação humana e à capacidade de conceber coisas novas e diferentes. É fantástica a combinação rigorosa da geometria e da anatomia com a arte, da qual o homem Vitruviano, outro ícone universal, é provavelmente o expoente máximo.

    Por tudo isto e pelo resto, Leonardo da Vinci é uma figura fabulosa e uma evidencia de que o génio não é compartimentado por especialidades estanques. É possível ser-se brilhante em “mais do que uma coisa....”

    Nota: Foto tirada no museu do Louvre, da multidão em frente da Mona Lisa. Se é verdade que metade dela será devida ao livro de Dan Brown, também é verdade que o livro precisou da aura de Da Vinci...

    11 setembro 2007

    Artilharia pesada

    O assunto da Praia da Luz é daqueles de que todos falam e em que facilmente se fala demais. Recentemente manifestei a minha surpresa pela reacção excessivamente fria e calculista do casal, quando confrontado com a hipótese de serem suspeitos.

    Agora acrescento duas coisas:

    Quando se vê alguém preparar uma defesa recorrendo aos melhores e mais caros advogados, cheira sempre a táctica de poderoso comprometido que recorre à sua grande capacidade de mobilização de meios para procurar inverter o rumo dos acontecimentos. Ingenuamente, talvez, gosto de acreditar que a verdade se consegue impor sem ser necessária grande artilharia.

    Que pensarão os que contribuíram com fundos para a campanha, quando virem que parte desse dinheiro é usado para pagar dois grandes advogados, um deles especialista em extradições, que tem mesmo a “medalha” de ter conseguido defender e evitar a extradição de Pinochet para Espanha há uns anos. Gostarão? Bom... é que se não é esse dinheiro que o paga, ainda será mais nebuloso e confuso.

    Segundo ponto: se fosse um casal português em circunstâncias idênticas em Inglaterra, poderia alegremente regressar assim ao seu país natal e aí se “barricar”? Penso que não. Só não é claro para mim se esta diferença é crédito ou descrédito para Portugal.

    10 setembro 2007

    A noite da dúvida

    Amanhã haverá cá, ao fim da tarde, uma reunião no Ministério dos Assuntos Religiosos, presidida pelo próprio ministro, para observar a lua e decidir se será decretado o início do Ramadão, ou não.

    Quando se consegue prever cientificamente mesmo um eclipse com larga antecedência, ter um país em suspenso, em função deste ritual de observação natural da lua, porque só assim é que será uma decisão “pura”, dá que pensar.

    07 setembro 2007

    O Petróleo Dourado



    Em tempos resolveu chamar-se ao petróleo, ouro negro. Agora, talvez estejamos a caminho de vir a designar o trigo como petróleo dourado, um novo recurso estratégico e escasso. Para a Europa que vê os seus produtores de leite serem ameaçados com multas, caso excedam as suas quotas de produção, parecerá estranho falar em escassez de produtos agro-alimentares de base. No entanto, se olharmos para o resto do mundo, a situação é bem diferente.

    Por falta de meios de produção próprios e devido às alterações climatéricas e a outras deficiências estruturais há em vários países, alguns até mesmo ricos em petróleo, sérias dificuldades em disponibilizar às suas populações com regularidade, e a preços decentes, coisas básicas como leite, cereais e batatas!

    Por outro lado, o aumento do preço do petróleo negro e o apetite económico e político por fontes alternativas de energia, tem puxado pelos bio-combustíveis que, de alguma forma, são desenvolvidos em detrimento das plantações “daquilo que se come”. Veremos se as actuais tensões no mercado de trigo são meramente conjunturais ou mesmo estruturais. É que, se aumentar o custo dos combustíveis é mau, disparar o preço do pão é dramático. Os impactos sociais são muito diferentes!

    Considerando que largas zonas do mundo não são e não se tornarão auto-suficiente a curto prazo e que não é nada pacífico ter uma população mal alimentada, será que não iremos ver barris de petróleo serem trocados por sacos de grãos?

    As ideias de Sarkosy de a Europa aumentar a sua produção agrícola, na minha opinião, inscrevem-se direitinho neste contexto.

    03 setembro 2007

    Ainda e sempre, simplesmente genial

    Não é muito difícil descrever o carácter complexo de intelectuais que podemos analisar e desconstruir; mas apenas um grande artista conseguiria reproduzir um indivíduo simples, sólido, ingénuo e primitivo.

    Herman Hess in "A Casa da Paz"

    01 setembro 2007

    Telemóveis? Não obrigado!

    Conheci um alemão (tinha que ser alemão...!) que, para testar e comprovar que não tinha dependências, uma vez por ano, durante um mês inteiro, não fumava, não bebia café, não comia chocolate nem tomava bebidas alcoólicas. Ignoro se a lista de abstinências continuaria por outros campos mais pessoais, mas não é relevante para este caso aqui.

    Eu acho que seria engraçado haver, não um mês, mas uma semana sem telemóveis. Obviamente que numa base voluntária, como o dia europeu sem carros, nunca funcionaria. Talvez pudesse acontecer, imaginemos, se houvesse uma ameaça importante que obrigasse todas os operadores a desligarem as suas redes por motivos de segurança.

    Antes de sair de casa ou do local de trabalho, será normal pensar “aonde vou”, “que vou fazer”, “que necessito de preparar” e “que devo levar”. Seria normal, mas já não o é. “Não sei que hotel tenho reservado?” – telefono a perguntar! "Não marquei o encontro?” – telefono para marcar; “Não trouxe o relatório?” – telefono a pedir o seu envio por email. Ou seja, as facilidades de comunicação tornam-nos descuidados e desorganizados. Como uns novos ricos que tendo dinheiro para gastar à fartazana, não têm e a mínima preocupação em saber sequer o preço das coisas que compram: “chega sempre para tudo!”.

    Uma semana sem telemóveis? Ia ser giro, ia!!!

    23 agosto 2007

    O trambolhão final!



    Conhecem aqueles adolescentes “espertinhos” que transformam os TPC (trabalho para casa) em TPG (trabalho para o Google) e que copiam longas citações duma página qualquer da internet, pensando que estão a apresentar um grande trabalho e que ninguém dará conta?

    Agora temos um candidato a líder partidário, por inerência candidato a primeiro ministro, que faz o mesmo e não se preocupa em assinar textos da wikipédia sobre o assuntos da actualidade, como se fossem seus. Pode ser só um problema da equipa, mas, para mim, é o fim do homem.

    Foto do site da RTP

    19 agosto 2007

    Portugal, Torga



    E pronto! De repente, Torga salta para as primeiras páginas. E, como não podia deixar de ser, na sufocante dimensão paroquial nacional do “disse que disse”, “esteve que não esteve”, o prato forte é a polémica e, em particular, a ausência do governo nas cerimónias recentemente realizadas.

    Por Torga, deixemos de lado as cerimónias oficiais e a tinta fútil. Se Portugal tem uma identidade bem definida, e eu acredito que tem, ninguém como Torga a encarna. Torga é a solidez do granito e a resistência da erva da montanha. Torga troca tudo por um verso e por nada troca a clareza e a frontalidade.

    A homenagem maior a Torga é simplesmente lê-lo, tal como eram simples as suas singelas edições de autor, desprovidas de artifícios e de tudo o mais que não fossem as suas palavras. E para sugestão, para começar, um livro de referência com tanto de lúcido quanto de apaixonado sobre “esta nesga de terra, debruada de mar”: “Portugal”.

    17 agosto 2007

    Atracção que foi fatal

    No texto Atração fatal? que saíu publicado no Jornal Público de 19.05.2007, referia-me ao perigo potencial que representam as atracçõs de feira, por falta de inspecção e fiscalização técnica. Dizia eu que "perguntei no local se havia alguma inspecção técnica e, segundo entendi, haveria apenas inspecção económica, ou seja, garantir que a licença foi paga." e que "Um dia haverá um acidente e será apenas um azar imprevisível, que nunca ninguém imaginou que pudesse ocorrer..."

    Aconteceu agora um "azar" em Oliveira de Azemeis e, se calhar, até se vai concluir que ninguém teve culpa. A menina é que não devia ter sido "atraída pela atracção"!

    16 agosto 2007

    Ainda e sempre, Hess

    “À nossa volta irrompem discursos, prédicas e discursos sobre a ciência, a cultura, a beleza e a individualidade. Mas parecemos ter esquecido por completo que estas coisas valiosas apenas podem florescer no silêncio e na vigília nocturnas.”


    Conto: “Sobre os tempos antigos”, Hermann Hess 1908

    14 agosto 2007

    Eu, pecador, me confesso



    Depois de tantas considerações anteriores sobre grandes músicas, autores “sagrados” e por aí fora, não é que comprei um disco da Laura Pausini e gosto mesmo de ouvir algumas daquelas musiquinhas?

    E, ainda por cima, sou reincidente. Há uns largos anos, na Bélgica, nas manhãs quase sistemáticas de nevoeiro, nas filas da auto-estrada, no meio de gente com aparência também nublosa, era sempre com prazer que ouvia na rádio o grande sucesso da altura, o “Strani amore”! Era, e é, só uma musiquinha, mas parecia quase uma espécie de raio de sol quente e alegre no meio daquele cinzento frio generalizado.

    A rapariga tem uma voz bonita e expressiva (os restantes dotes, para o caso de CD, não contam!... :) ) e, depois, há língua italiana que, só por ela, já é música e que vale metade, ou mais, da beleza apercebida. É um regalo ouvir aquele dilúvio de vogais abertas , como os “és” os “is”, mais a profusão das longas palavras esdrúxulas, como as deliciosas terminadas em “ono”...

    E, pronto, está a confissão apresentada!

    PS: Foto googleada sem trazer “certificado de origem”

    12 agosto 2007

    Palavras para quê?



    “Palavras para quê? É um artista português e só usa pasta medicinal Couto! “ Dizia um anúncio, daqueles antiguinhos e que ainda ecoam na memória.

    Agora foi o treinador do FC Porto que veio dizer que, para eles, ganhar é como lavar os dentes. Não precisou a marca da pasta. Acho que os profissionais da medicina dentária deveriam apresentar um protesto. É que, tendo o Porto perdido a Supertaça, às tantas, ainda vai acontecer que o pessoal fica todo sem lavar os dentes até ganhar o próximo título! Trata-se de um terrível atentado à saúde dentária dos Portugueses. Puramente em termos de mercado, até nem será mau porque mais cáries, mais factura, perdão mais caixa, porque recibo oficial, nem sempre.

    Pior mesmo só as famosas derrotas sistemáticas do Benfica, em que ainda está para calcular quanto terá custado para o país a depressão contínua de 3 milhões de portugueses.

    E, só para não se dizer que sou faccioso, quanto ao Sporting, falamos em dermatologistas para tratar a pele das mãos?

    10 agosto 2007

    Quem não se sente

    Um dia, esperamos, haveremos de conhecer toda a história da menina inglesa desaparecida no Algarve há 3 meses. Para lá do conhecimento do que se passou nessa noite, espero que também se venha a entender porquê este caso mereceu a atenção mediática que recebeu.

    Talvez uma das razões para essa atenção resida na postura dos pais, estóica e exemplar. Agora, acho que há limites... Está bem que os ingleses são tudo menos mediterrânicos e sabem aguentar, aparentemente impassíveis, enormes dificuldades. Mas, também há limites.
    Numa entrevista, serem confrontados com o facto de serem suspeitos do desaparecimento da filha e:
    • trocarem olhares e responderam de uma forma politicamente correcta,
    • seguramente ensaiada,
    • sem perderem a fleuma,
    • sem um mínimo gesto de indignação,
    • sem sequer uma expressão facial de repulsa,
    sinceramente, já não será modelar em excesso?

    09 agosto 2007

    Inconsistência...

    ... incoerência, incongruência e outras coisas mais começadas pelo “in” de negação, passaram-me pela cabeça um destes dias no regresso a casa.

    Calmamente na auto-estrada cheia de stressados que, ao fim do dia, correm para dar um mergulho na praia nas últimas luzes do dia, sou empurrado por um Golf a pedir para eu lhe sair da frente. Olhei pelo espelho e notei algo de diferente na imagem. Poucos segundos depois, ele estava ao meu lado, ultrapassando pela direita, conduzido por uma acelerada senhora, que adivinharia jovem, estirada para trás de braços tensos e com movimentos rápidos, de olhar fixo no trânsito, querendo tudo ultrapassar a todo o custo.

    O “in” vem da sua vestimenta. Pois é! Com um véu lhe tapava a cabeça e a testa até às sobrancelhas mais aquela espécie de lenço, na cara só tinha visível a faixa dos olhos. E aí estava ela, de pé pesado, em estilo ninja, ziguezagueando e ultrapassando tudo e todos, pela direita, pela esquerda e mesmo pela berma. E lá fiquei a remoer nos “in”s todos que aquela visão me evocava. Por trás de um uniforme fechado e restritivo, uma postura dinâmica e indisciplinada..

    07 agosto 2007

    Concurso dos professores titulares

    Saíram os resultados dos concurso dos professores titulares e, logo a seguir, é a tradicional enxurrada de críticas e de “bota-abaixo”, em tons mais ou menos oficiais, mais ou menos objectivos. Sem conhecer o detalhe do caso concreto, este processo parece-me representativo de uma forma irresponsável de estar em sociedade.

    Em primeiro lugar, os critérios para uma selecção desta natureza, num universo desta dimensão, têm que ser rigorosamente objectivos. E, quando se trata de pessoas, a objectividade exclusiva conduz sempre, sempre, a alguma injustiça. É inevitável. Falando, a título de exemplo e para ser simples, do intervalo temporal de avaliação: se for curto prejudicará aqueles que tiveram um desempenho regular a médio prazo, ultrapassados pelos que se aplicaram mais na ponta final. Se for longo, beneficiará aqueles que investiram no início da carreira e que depois pouco mais fizeram, contra os mais jovens que terão uma boa meia dúzia de anos de um enorme trabalho, mas sem história anterior.

    O trabalho preparatório num assunto destes inclui discutir os vários cenários e avaliar as respectivas consequências, na busca do compromisso mais equilibrado possível, nunca perdendo de vista que o resultado jamais será perfeito e isento de “crítica”. Obviamente que isto só é possível com abertura, diálogo e espírito construtivo, o que não é tradição nas relações entre governo e sindicatos da função pública. Aliás, também não ajuda nada que os jurássicos sindicatos actuais apresentem um preocupante défice de representatividade.

    A irresponsabilidade social que referi acima, manifesta-se em dois aspectos. O primeiro é presumir que não pode haver injustiças. E isso é impossível. O segundo é, em vez de investir na discussão prévia que possa contribuir para optimizar a configuração retida, é esperar pelos resultados e depois gritar “Aqui d’El Rei, que há situações injustas”.. É sempre mais seguro dizer de sua justiça no final do jogo.

    03 agosto 2007

    O fim da Portugália ?


    Recebi uma carta da TAP informando-me que, na sequência da sua compra da Portugália, o programa de fidelidade desta iria ser anulado. O meu cartão seria substituído por um dos seus “Victória” e fiquei a pensar se a “Portugália” (PGA) também iria acabar. Aliás, ainda não entendi porque a TAP mudou o nome do seu programa de “Navigator”, que “dizia algo”, para este “Victória” que só me faz lembrar rebuçados e cromos.

    Durante estes anos, a PGA contribui mais para a imagem de Portugal do que muitas campanhas de promoção oficiais. Não conheço nenhum visitante de Portugal, viajando na Portugália, que não a elogiasse. A PGA conjugou simpatia e eficácia de forma exemplar. São inúmeras as “histórias” da PGA exceder as expectativas e realço uma em que, chegado atrasado a Bilbao, voando noutra companhia e ainda sem registo feito, me levaram directamente pela pista de um avião para o outro e ainda me conseguiram transferir a bagagem!

    Mesmo nesta fase final em que o futuro da empresa se questionava e discutia diariamente na praça pública e os seus Fokkers pediam reforma, nunca deixaram de demonstrar um profissionalismo exemplar.

    As empresas existem para ganhar dinheiro, independentemente de serem ou não simpáticas. Evidentemente que, sendo a TAP dona da PGA, irá fazer o que melhor entender para recuperar o investimento feito e também não pretendo dar conselhos de estratégia empresarial. Agora, gostaria muito que a “Portugália” continuasse a existir e, de preferência, alargada a toda a TAP.

    01 agosto 2007

    Outras formas de aniquilar

    Uma das coisas que mais choca, como atentado à dignidade humana, é o internamento compulsivo num hospital psiquiátrico. Declarar que o indivíduo não tem direito a ter uma vontade respeitada e, pela força imobilizá-lo, ou pela droga silenciá-lo, é de uma violência inaudita. O “Voando sobre um ninho de cucos”, em que se juntam os geniais S. Kubrick e J. Nicholson, mostra isso de forma magistral que não se apaga da memória.

    Tremi, portanto, ao ver uma notícia hoje no Le Monde.

    Larissa Arap uma militante russa pelos direitos do homem tinha sido internada uma vez em 2004 numa clínica psiquiátrica, fragilizada por agressões físicas e diversas ameaças. Foi libertada pela intervenção de um juiz. Escreveu em seguida um artigo muito crítico sobre os tratamentos psiquiátricos, questionando nomeadamente os electro-choques.

    Quando em 6 de Julho passado visitou um médico para obter um certificado com vista à renovação da sua carta de condução, este, após identificá-la como a autora do artigo maldito, chamou a polícia e ela foi internada compulsivamente num hospital psiquiátrico. Desta vez, um juiz afirmou que ela “constituía um perigo para ela própria e para os outros”.

    À filha, que a visitou no hospital, anunciaram que a sua mãe iria ser tratada durante um tempo muito longo e que, provavelmente, não sairia mesmo nunca mais dali!

    De arrepiar...
    PS: Perdão, perdão, perdão!!! O "Voando sobre um ninho de cucos" é do Milos Forman e não de Kubrick!

    31 julho 2007

    Coincidências


    Há anos que se arrastava na Líbia o caso das enfermeiras búlgaras e do médico palestino acusados de terem infectado mais de 400 crianças por utilização de sangue contaminado com o vírus da Sida. O processo começou em 1999 e foram inicialmente condenados à morte em 2004. Tudo parecia uma brincadeira, mas uma brincadeira de mau gosto envolvendo vidas humanas. Um daquelas causas que chocam e mobilizam meio mundo.

    Este mês elas foram repatriados pela Líbia para a Bulgária e libertadas, graças à conjugação de muitas influências, incluindo a intervenção pessoal da primeira dama francesa. Grande festa, muita gente ficou contente e, discretamente, também os líbios.

    É que, logo a seguir, vem a notícia de que a Areva francesa está muito bem colocada para conseguir um contrato de construção de uma central nuclear e para explorar as reservas de urânio do país de Khadafi. A Líbia que ainda muito recentemente era um país amigo dos terroristas, que tem largas reservas de petróleo para uma população reduzida “precisa” de uma central nuclear!?

    Enquanto o mundo inteiro tenta resolver o quebra cabeças dos desenvolvimentos nucleares no Irão e na Coreia do Norte, a França vai “oferecer o direito de ter” à Líbia, recém saída do “eixo do mal”. Oferecer, apenas o direito, claro, porque será naturalmente bem cobrada e um bom negócio para a Areva ou para quem a fornecer. Aquelas cinco enfermeiras e o seu processo fantoche valeram ouro!

    29 julho 2007

    Harry Potter and the Deathly Hallows – A aura continua?



    Acabou a saga. Apetece perguntar quem pegará no testemunho e, daqui para a frente, poderá conseguir a proeza de pôr tantos adolescentes a ler assim. Será que o efeito Harry Potter vai deixar nos seus admiradores o gosto pela leitura de outras coisas ? E lerão apenas “mais do mesmo” ou evoluirão para outros estilos, para lá deste fantástico?

    Será que alguém poderá repetir a façanha de, com apenas "meia dúzia de livros em menos de uma dúzia de anos", entrar na lista dos milinários da Forbes como a 891ª pessoa mais rica do mundo? O perfil desta milionária é único. Ninguém em tão pouco tempo terá conseguido ficar assim rico começando apenas a escrever livros.

    Em tempos, curioso por um entusiasmo próximo, li o primeiro volume. Achei a história sem grande profundidade e com personagens muito superficiais. Seguramente que o apelo para os mais novos viria do universo paralelo, de regras diferentes e de coisas racionalmente impossíveis, mas que ali aconteciam, numa comunidade eleita, restrita e “acima do banal”. O apelo da fantasia e do fantástico.

    Para completar a minha breve impressão sobre primeiro, pedi uma opinião sobre último a quem o leu de um fôlêgo nas 48 horas seguintes ao lançamento:

    Em termos de escrita, não notei grande diferença da do livro anterior (não posso referir mais nenhum pois dos anteriores só li a versão portuguesa), mas isso mostra que a escritora já chegou a uma fase em que tem um estilo de escrita bem definido com pouco ou nada a melhorar e combina magnificamente com a história relatada que, essa sim, melhorou imenso desde o primeiro livro... Compreende-se que o público do primeiro seria um público mais jovem e os livros foram aumentando em complexidade de história à medida que os seus leitores foram crescendo, o que faz que este seja o culminar de tudo o que tem vindo a acontecer...
    Simplesmente um último volume perfeito em que todos os pequenos elementos do puzzle que tinha vindo a aumentar, por fim encontraram o seu devido lugar, para criar a "imagem total" daquilo que é a história que temos vindo a apreciar, desde que o 1º volume foi traduzido para português.
    É óbvio que nem toda a gente pensará o mesmo, mas, para mim, foi mesmo fantástico, sem dúvida o melhor livro da série, sem as partes de Hogwarts que nos anteriores tinham sempre mais do que era necessário, mas neste tem tudo o que é necessário para a história e nada mais que isso. Como o seu antecessor, este tem acontecimentos mais surpreendentes e tocantes, em grande parte devido às mortes que já vinha a prever que iriam acontecer, mas, mesmo sabendo isso, continuam a conseguir tocar os leitores que tinham vindo a adorar as personagens...
    Em relação ao final, simplesmente magnífico, transmite a fabulosa sensação da história ter acabado e que por fim todas as personagens tiveram o seu merecido "final feliz".

    Por Nisa Sampaio

    27 julho 2007

    E depois, não querem ser gozados!


    Yves Leterme, indigitado para formar o próximo governo belga e quase certamente o futuro primeiro ministro, democrata cristão flamengo, teve um admirável desempenho no dia da festa nacional do seu país.

    Para lá de achar aceitável atender o telemóvel durante o “Te Deum”, demonstrou desconhecer o que se celebrava no dia e, quando lhe foi provocadoramente perguntado se conhecia a versão francesa do hino nacional Belga, não hesitou e atacou: “Allons enfants de la patrie, le jour de gloire est arrivé" !!!

    E não foi ironia, foi mesmo engano ! Argumentou que, como trabalhava muito, no bom estilo de formiguinha flamenga de cabeça baixa que só a consegue levantar quando escondida ou quando o adversário está de costas, não tinha tido tempo para aprender todas as versões do hino. Em flamengo sim, conhecia-o bem! Onde quer que esteja, J. Brel estará repetindo, “les larmes aux yeux: ik ben van Luxemburg”, envergonhado por tamanhos espécimes que gerou a sua Flandres.

    Há mesmo países e países! Haverá alguém com um mínimo de responsabilidade em Portugal que desconheça o significado do 10 de Junho ou os primeiros versos da “Portuguesa”? Evidentemente que nem sequer coloco a questão de a confundirem com a “Marcha Real” Espanhola! E até acho que mesmo o Deco deve conhecer pelo menos o princípio do hino do seu novo país!

    E depois acham que são perseguidos pelos fazedores de anedotas.
    Foto extraída do site do "Le Monde"