08 outubro 2014

Feminismo ou outra coisa

Numa televisão muda de um espaço público passavam imagens da intervenção de Ema Watson na ONU, muito mediatizada, em defesa dos direitos das mulheres. Ao pensar no contexto e na premência do assunto, dei por mim a concluir existirem realidades muito distintas, pedindo estratégias diferenciadas. Em países como, por exemplo, a Arábia Saudita ou o Paquistão há evidentemente muito, muitíssimo a fazer. Só que nesses locais o problema dos direitos das mulheres é apenas um fruto, grande é certo, de um mal mais amplo. Se supostamente essa parte fosse resolvida, outras limitações da dignidade humana em geral permaneceriam, sendo aliás muito improvável que uma evolução parcial dessas pudesse acontecer. Aí, o combate não é simplesmente pelos direitos das mulheres, deve ser dirigido à raiz do mal.

Doutro lado, nesta nossa sociedade, haverá ainda muita gente que acredite honestamente que a mulher não deva ter os mesmos direitos e oportunidades que o homem? Não muita. Muitos mais serão aqueles que exploram as especificidades do sexo feminino em proveito próprio, não por convicção, antes por oportunismo. Sem teorizar em demasia, todos temos mais apetência para umas coisas e mais dificuldades noutras. Será sempre melhor uma pessoa de 2,2 m de altura jogar basquetebol e uma de 1,70 m jogar hóquei em patins do que vice-versa. No entanto, se os negros dominam a maratona, isso não deve impedir os brancos de praticarem atletismo, tentarem a sua sorte em pé de igualdade e serem avaliados pelos resultados objectivos.

A discriminação ser feita por convicção ou por oportunismo tem uma diferença grande e exige uma abordagem diferente. Aliás, aqueles que aproveitam qualquer pretexto para abusar de um ser humano e da sua dignidade, não são selectivos. Não é inédito mulheres com poder discriminarem negativamente outras mulheres. O simples “heforshe” pode parecer poético mas nos tempos actuais é até algo redutor. Em resumo, feminismo parece-me ser uma palavra curta.

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