29 junho 2009

Limpeza, por favor


Que grande embrulhada! A PT, que ainda é vista como “Estado”, queria comprar uma participação na TVI. A “linha editorial” do canal, para lá de um estilo de noticário que já fez (má) escola, é conhecida por ser bastante crítica ao Governo em funções. Daí:

Acto 1 – O Governo diz que ignora e a oposição grita “escândalo” : O governo quer controlar a “linha editorial” hostil;
Acto 2- O governo veta e a oposição grita “escândalo” : o governo abusa da “golden share” para salvar a cara!

No correr do pano ficaram todos mal, mas se a famosa “linha editorial” é a personificada pela senhora acima (foto do site da TVI), só me resta dizer: desinfecte-se! É que o estilo da mesma é muito mais o de uma sibilina cabeleireira de bairro do que o de uma jornalista.

27 junho 2009

Sim, pá, é mesmo ingerência!


Diz o ayatollah que os problemas que o Irão vive são fruto da ingerência ocidental e tem razão. Só que essa “ingerência” não é de natureza política, diplomática ou de fruto de um trabalho de sapa de serviços secretos. Não, nem é intencional sequer! É uma ingerência cultural. Infelizmente para eles, há muitos persas que querem viver como se vive no Ocidente no século XXI e não na Idade Média. E aí não temos culpa de sermos o que somos. E não iremos pedir desculpa por isso. Pelo menos eu não irei. Nem irei pedir desculpa por viver num país que baniu a pena de morte há mais de um século.

Pois é! Se calhar o problema é mesmo. Podem expulsar todos os jornalistas, podem condenar à morte todos os que entenderem que naturalmente o fundo da questão irá manter-se porque “não há machado que corte” a vontade de viver dignamente e de ser livre.

23 junho 2009

E também somos todos Neda



Há alturas em que o Glosa Crua “entope”. E desta vez foi uma delas. Mortos há muitos, todos os dias, e, como eu dizia, na Pérsia até há relativamente poucos. Mas a distância e a proximidade são relativas e fazem alguma/muita diferença. Se eu não tivesse passado 24 horas, apenas, em Teerão há 6 meses não teria sentido o que escrevi no dia 19.6. E no dia seguinte Neda foi morta na rua. Como dizia o/a comentador/a a jovem de expressão bonita e brilhante da foto que eu usei, poderia ser Neda.
A facilidade de captação e de divulgação de imagens fez com que esses momentos dramáticos ficassem registados e dessem a volta ao mundo num ápice. E todo o mundo viu esvaziar-se o olhar duma jovem de 26 anos, de calças de ganga e sapatilhas, brutalmente assassinada. E, mais uma vez, todos sentimos que “nenhum homem é uma ilha” e “não me perguntes por quem os sinos dobram”.

Um dos sites de homenagem chama-se “We’re all Neda”. Cada vida é única e irrecuperável mas haver gente que nestas circunstâncias acha que vale a pena serenamente morrer é tocante. Pena que seja necessário isso e, oxalá, não seja em vão. “Neda” em farsi sgnifica voz.
Foto extraída do site da CNN

19 junho 2009

Somos todos Persas



Já tinha referido aqui para trás a forte impressão positiva que me causou um breve contacto com a cultura desse país, charneira de meio mundo. De umas poucas coisas que li sobre a história da Pérsia fica a imagem de uma sequência de fases conturbadas. Demasiado importante para ficar imune à influência estrangeira e, ao mesmo tempo, para sua desgraça ou talvez não, demasiado forte para aceitar essa submissão.

Os Persas querem apenas ser eles próprios, o que não sendo pouco também não é fácil. De assinalar que a situação actual, por muito tensa que seja, tem, para já, um balanço de incidentes e de vítimas baixo. E incomparavelmente mais baixo do que o que ocorreria se a Pérsia fosse um país daqueles do terceiro mundo profundo que muitos pensam ser. Esta determinação e a contenção demonstradas são mais uma prova da qualidade civilizacional e da maturidade cultural do país (não estão a ponto de fazerem uma revolução só com cravos, mas perto).

Por tudo isto, só resta desejar “Boa sorte, Persas!”. E insisto na palavra "persa" porque é com ela que eles se identificam, tendo um significado que vai muito para lá dos tempos do Shá.
E que pessoas como as que a foto documenta, pescada ao acaso e sem saber mesmo que facção está a apoiar, possam assim sorrir e manter o sorriso que se vê.

15 junho 2009

Preciosa

De passagem pela Argentina. Para o supervisor do projecto estavam a expirar os 3 meses de estadia contínua permitida e necessitava de sair e reeentrar no país para ter carimbo fresco no passaporte. Não é muito lógico, mas funcionava. O mais prático era atravessar o estuário do Rio de La Plata de Buenos Aires para a povoação uruguaia em face. Resolvo acompanhá-lo mas não consigo convencer mais ninguém a acordar cedo ao domingo. Assim saímos da nossa base na cidade de La Plata para Buenos Aires pela fresca, sem trânsito e sem necessidade daquelas manobras e utrapassagens especiais que nos chocam no primeiro dia mas que ao fim de uma semana de estadia já cumprimos escrupulosamente (ou, melhor dizendo, sem escrúpulos).

Disseram-nos que a cidade do outro lado, escondida atrás de cerca de 50 km de águas barrentas, era “preciosa”. Atendendo a outras recomendações anteriores, podia não significar muito. Quando acrescentaram que era património mundial da Unesco, aí, a ser verdade, já prometia algo mais. E numa manhã calma, num rápido e grande catamaran, lá atravessámos o final do longo curso do Paraná dispostos a ver o que quer que houvesse para ver.

Buenos Aires é uma metrópole frenética. Na altura estava a poucos passos da catástrofe anunciada de 1999 mas ainda era “antes”. Largas avenidas perigosas de atravessar e muita gente empurrando-nos para todos os lados. Tirando um final de dia numa esplanada do recuperado e caro “Puerto Madero” ou um domingo de manhã no bairro antigo de S. Telmo onde se pode encontrar um casal numa praça a dançar o tango com uma expressividade e uma sensualidade de mais nenhum lugar do mundo, Buenos Aires não é acolhadora nem humana.

À aproximação do fim da viagem lá aparece a pequena povoação em península debruçada sobre a água e rodeada por muralha antiga. Duas torres de igreja brancas sobre as copas das árvores. Vou comentando com o meu companheiro de viagem que parece simpática. O desembarque e o primeiro contacto com os uruguaios, incomparavelmente mais abertos e assumidos do que os vizinhos argentinos. À entrada da cidade velha um brasão português, as ruas, as telhas o ambiente... tudo cheirava a português. No outro lado do mundo e a menos de uma hora da buliçosa B. Aires, estávamos numa simpática e pacata aldeia portuguesa!
E foi assim que descobri existir uma jóia realmente preciosa chamada “Colónia del Sacramento”.



Foto googleada - na altura ainda não estava banalizado o fotografa tudo a toda a hora e em todos os lugares.

12 junho 2009

Quem pode, pode



Não faço a mínima ideia se os 160 milhões que o Real Madrid gastou em 4 dias são investimento recuperável ou não. Não entendo nada desse tipo de negócios nem estou muito interessado em aprender. Agora, pondo de lado a vertente comercial e desportiva, por muito polémicas que possam ser de "per si", acho surpreendente do ponto de vista financeiro que isso seja feito por um presidente que tomou posse há menos de duas semanas.

E, aqui, das duas uma. A “uma” é que numa semana ele conseguiu identificar capacidade financeira e de endividamento intrínsecas ao clube para realizar estes investimentos. Mesmo considerando a indiscutível capacidade que os espanhóis têm para decidir rapidamente e não empatar, não deixa se ser surpreendente.

A “duas” é que os recursos para o investimento tenham declaradamente base externa trazida pelo novo presidente, sendo o clube apenas um veículo. Neste caso questiona-se então que “jogo” é este. Obviamente que quando alguém com o perfil, a fortuna e a intensa actividade empresarial de Florentino Perez resolve dedicar-se à presidência do Real, isso é também uma interrogação sem resposta pública clara e assumida.

Bom... veremos se chegarmos a ver. Por agora o orgulho castelhano está nos píncaros e quem critica é só por inveja!

11 junho 2009

Chorar em Português


Numa reportagem de Sandra Felgueiras que passou na RTP1 antes da “eleição” das 7 maravilhas de origem portuguesa, falava-se do desaparecimento da língua portuguesa na Índia e da persistência e resistência da cultura portuguesa aí e em Malaca. Se nas praças indianas passaram apenas 50 anos, em Malaca são quase 4 séculos. E, como após este tempo ainda há gente que se identifica com a herança portuguesa, mesmo sem nunca terem posto os pés em Portugal, isso sim, é muito mais relevante do que qualquer ruína de convento ou pano de muralha.

Pessoas que diziam querer saber mais e que gostariam de falar português correctamente. Mas não havia professor. A responsável do Insituto Camões oportunamente entrevistada foge ao cerne da questão e fala dos cursos por internet... para que serve esse instituto, afinal? Qual a sua missão e o espírito de missão de quem lá anda?

O espectáculo seguinte, o da atribuição solene dos prémios, de que só vi a parte final, foi bacoco. Sem brilho, sem profundidade, sem sentido. Aqueles “trajes” variados a evoluir gesticulando no palco ao som de um ritmo qualquer foi absolutamente deprimente. Também o facto de estas coisas serem nomeadas por voto popular só prova que a “democracia” nem sempre é ideal. Por mim Colónia de Sacramento não poderia ter faltado, mas isso é outra história.

Ainda, voltando à reportagem, num momento que me emocionou, alguém dizia que via a RTPi e às vezes, dava aquela coisa “como se diz?” – chorar? – Vontade de chorar. Não fixei literalmente mas o espírito era que lá pelos confins alguém chorava em Português. Face a esta grandeza, o evento social e pretensiosamente cosmopolita foi estupidamente pobre. Não, decididamente estamos mesmo muito longe do tempo de D. João II e de Afonso de Albuquerque. A dimensão e a profundidade da herança portuguesa no mundo mereciam e pediam muito mais e muito melhor!

08 junho 2009

O tempo dos recolectores

Há muito, muito, tempo éramos recolectores. Vivíamos do que caçávamos e colhíamos na natureza. Pode-se imaginar numa dada fase de organização a existência de um gestor do pomar, preocupado com a sustentabilidade, que limitasse quantas maçãs cada um podia colher por dia.
Hoje não vivemos nesse tempo, as maçãs vêm de macieiras que têm que ser plantadas, regadas e tratadas. E não é novidade nenhuma que a produção actual até está nitidamente abaixo do habitual. Infelizmente a “esquerda pura” pensa que a culpa é do gestor do pomar que não lhes está a dar as maçãs a que têm direito e toca a vir protestar para a rua. Há gente especialmente sensível a este assunto. Por exemplo aqueles que não “progridem na carreira”, uma coisa má e só muito ligeiramente melhor do que aquela que sentem os que vêem a carreira não parada mas sim destruída e as expectativas próximas de zero, num contexto e numa idade em que não é nada fácil recomeçar.

Por isso, protestar a pedir as maçãs em vez de protestar contra os desperdícios e discutir a manutenção dos direitos em vez de se falar na melhoria da plantação, tratamento e rega das macieiras é... ir na direcção do desastre.

Enviar mais um ou menos um deputado do BE para o Parlamento Europeu não aquece nem arrefece muita coisa, para lá dos egos e das manobras palacianas nos corredores dos partidos. Espero é que nas legislativas os critérios dos eleitores sejam outros, porque, senão, estes mais de 20% de esquerda pura são muito mau sinal. Um novo gestor do pomar generoso, socialmente sensível, que sossegue quem anda aí pela rua a berrar pelas suas maçãs, desligando-se da produção das macieiras, só tem uma consequência: pedir emprestado por conta das próximas gerações, enquanto houver quem empreste. E o respeito que nos merecem as próximas gerações não nos deveria permitir este “gastar por conta”.

05 junho 2009

Símbolos em mutação

Depois da “very brithish and stylish” Jaguar passar a ser indiana, agora é a “deep truly US” Hummer que passa a ser ... chinesa!

Em primeiro lugar, e antes do mais, não entendo como uma empresa que pede protecção de credores pode na véspera, no dia ou no dia seguinte vender um activo assim. Pensava que não era possível, mas enfim...

Agora, uma coisa é certa: os chineses já não terão o trabalho de copiar o Hummer. Poderão presentear os chefes de Estado africanos que tanto apreciam o gordo 4x4 dos Us’s com uma versão original e de pedigree garantido!

Só que acho que nos parametros culturais do novo proprietário isso não significa muito: ser original ou cópia... E, para os “clientes”, ser US ou chinês, terá o mesmo valor... ? Acho que não.
Esta fim de história triste da GM não é nada de novo e já me referi a ela algumas vezes para trás e particularmente quando comparada com a Toyota.
Em história paralela, os alemães não queriam que a a Fiat (que esteve a uma passo de ser absorvida pela GM há uma meia dúzia de anos) ficasse com a filial europeia da GM, Opel. Preferiam uns canadianos da Magna, apoiados por uns fundos russos.... estranho. Talvez a curto termo mantenham mais empregos alemães do que a Fiat faria, mas quando for para renovar e criar novos modelos não sobreviverão isolados. Ou é estupidez ou manobra para a entregar mais tarde à VW... veremos.
Apesar de tudo, estou contente. A racionalidade impõe-se.

02 junho 2009

E ainda os descobridores...

Como dizia atrás, parece que os australianos têm grande orgulho em o seu continente ter sido descoberto pelo civilizado Cook e não pelos pobres tristes tugas. Lembra-me o Brasil onde muita gente continua a achar que a culpa do seu deficit de desenvolvimento é do Cabral. Se em vez dele tivesse sido um Smith qualquer, hoje eles seriam os USSA – United States of South América, a par e par com os USA, que se veriam aliás obrigados a adoptar uma designação mais específica de USNA!

Se calhar, não é bem assim. Acho que o Brasil se compara melhor com a Austrália. Os EUA estão numa latitude geográfica muito diferente e nestas coisas de desenvolvimento, a temperatura, a fertilidade das terras e o esforço de sobrevivência necessário tem uma grande influência nas mentalidades (e vou estrategicamente esquecer que o Porto tem exactamente a latitude de Nova Iorque… ).

Reconheço que nunca estive na Austrália e conheço muito pouco dela para grandes conclusões mas talvez isso já seja uma pista. O que resultou da construção anglo-saxónica da Austrália, onde uma elite relegou a população indígena ao estatuto de quase “gado”? Será globalmente mais limpinho e organizado do que o Brasil, mas qual a marca cultural que a Austrália tem no mundo (para lá da Nicole, claro!) ? Perguntas que ficam.

O que resultou do Brasil mestiço? Sendo certo que a nossa proximidade nos dá uma posição de espectador privilegiada, não parece haver dúvidas de que o Brasil é muito mais definido, aberto e culturalmente imensamente mais rico do que a Austrália. Eu não sei bem o que preferira mas estou convencido que se pensarem nisto a sério os brasileiros não ficarão assim tanto entusiasmados com o cenário da hipotética troca do Cabral pelo Cook.