30 outubro 2013

Prece a um santinho digital

Tu que conheces e podes controlar algo dos insondáveis desígnios dos teus representantes na Terra, que fazem e desfazem programas e aplicações, que nós temos que usar e sofrer, peço-te uma coisa, apenas uma e apenas uma vez para exemplo. Que exista uma, pelo menos uma, daquelas actualizações que nós temos que fazer em que, simultaneamente:

- não seja obrigatória – se preferirmos a versão anterior, que a possamos continuar a utilizar simplesmente e sem problemas

- tenha uma melhoria significativa das funcionalidades e do desempenho e não simplesmente uma mudança estética, mudando as coisas de sítio, para nos entretermos a descobrir de novo, ou inundando-nos com fotografias dos interlocutores e outras funções sociais

- que utilize menos recursos do que a anterior – gaste menos espaço e não degrade a velocidade de utilização da nossa máquina.

Eu sei que estou a pedir muito. Especialmente a última condição parece-me ser absolutamente inalcançável, mas, pronto, fica o pedido feito, em jeito de desabafo.

PS: Na ressaca da instalação do Office 2010. Quanto ao Windows 8, é uma coisa na qual nem quero pensar… !

28 outubro 2013

Que raio de “cracia”!

Chegou-me a mensagem de um contacto antigo. Participava num concurso, sério, onde estava em causa mérito e desempenho dos participantes. Não era uma coisa do bebé mais bonito, nem do maior português de todos os tempos. O prémio em disputa seria atribuído a partir de votação numa rede social famosa. Assim, ele informava e convidava os seus amigos e contactos a participarem.

Como considero não ter a mínima competência para o julgamento em causa e como discordo profundamente deste tipo de “democracia digital ad-hoc” não votei, sentindo alguma deslealdade para com a pessoa em causa, que me merece todo o respeito e consideração. Aparentemente é habitual e moda fazerem-se as coisas desta forma, mas não deveria ser assim. Uma avaliação séria deve ser feita a partir de um universo de avaliação competente, baseado em critérios objectivos e nunca dependente da capacidade de mobilização digital de cada um.

São votações que valem o que valem… já colocaram Salazar num belo pedestal e levaram os “Homens da Luta” à Eurovisão. No entanto, estas são anedotas muito visíveis e facilmente denunciáveis. Mais grave é haver outros casos menos mediáticos, em que se está a julgar trabalho, competência e desempenho, e que ficam à mercê de uma qualquer fábrica de “likes”, informal ou até mesmo formal, como já existem, onde se encomendam e pagam cliques ao milhar.

Se o valor reconhecido tende a ser função da dimensão do “universo de amizades” e da facilidade com que se mobilizam cliques imediatistas, por simpatia ou por outro argumento paralelo qualquer, estamos a criar um sistema de valores muito pouco justo. E quando a justiça falha para algo tão fundamental como o reconhecimento do mérito, o prejuízo é enorme.

26 outubro 2013

Medir sim, mas o quê?

Aqui atrás, eu falava da problemática e das implicações de ter ou não ter um GPS. Ainda não o comprei e não sei se comprarei. No entanto, como agora tenho um iCoiso, coloquei lá uma coisa que regista os percursos que faço. Já não é mau. Fico a saber as distâncias, as velocidades e os desníveis. Não a uso como guia mas apenas como gravador. De vez em quando, na dúvida, lá tiro o coiso do saco para saber mais ou menos onde estou, com maior ou menor precisão conforme a cobertura no local e a representação dos caminhos que percorro nos mapas básicos que lá estão.

No entanto há uma diferença. Embora não esteja a olhar para ele, sei que aquela coisa está lá atrás no saco a medir continuamente os minutos e os segundos. Cada vez que paro para entrar ou sair água, colocar ou tirar uma camisola não me esqueço disso. Suspendo a contagem do tempo do coiso, ou não? A paragem é feita com algum stress, que antes não existia.

Isto faz-me lembrar da questão de medir até onde e o quê. Há um princípio básico de que não se consegue gerir o que não se consegue medir e é difícil não concordar. A questão está antes em medir o quê e estou cá com um palpite que esta facilidade em medir o imediato, por vezes nos afasta do fundamental. Que também se poderá medir mas não é com/como uma coisa qualquer. Assunto a seguir…

23 outubro 2013

Uma grande incorrecção moral

Ficará certamente para a história o eufemismo de Rui Machete. Ao chamar “incorrecção factual” a uma afirmação que falta à verdade, esta não deixa de ser uma mentira. Cavaco Silva resolveu também dizer que nada tinha tido com o BPN, para lá do depósito de algumas, parcas, poupanças. Ora bem, todos sabemos que teve acções da dona do BPN, que as comprou e revendeu à própria, com um lucro absolutamente injustificado e sem substancia económica que o sustentasse. Uma “esmola” enorme da qual ele, reputado economista, aparentemente, não desconfiou minimamente. Da forma como foram transaccionadas, aquilo não eram acções reflectindo melhor ou pior um valor económico subjacente, eram uns simples vales nos quais o Sr. Oliveira e Costa colocava um valor ao seu livre arbítrio.

Essa prenda oferecida simpaticamente pela SLN/BPN, é uma parcela, pequena em valor mas enorme em significado, do enorme buraco que andamos todos a pagar horrivelmente. Cavaco Silva não demonstra sequer a humildade e o discernimento de assumir: “Aceitei, mas reconheço que algo estava errado no processo!”. Se quisesse ter alguma grandeza, até podia, de alguma forma devolver, esse lucro. Mas não, está tudo correcto e formalmente irrepreensível. E eu fico arrepiado de pensar que se amanhã houver um novo BPN, tudo isto pode acontecer de novo porque não houve nada de errado. Isto é assustador e mau demais para ser verdade!

21 outubro 2013

Uma desgraça,,, !

A minha conta principal de correio electrónico é da Yahoo. Provavelmente muitos torcem o nariz: “Que é isso?!?”. Pois… Não tenho registo do meu registo, mas pelo menos desde 1999 que lá estou, donde que, contas redondas, uma quinzena de anos. E com letra mais grossa, menos grossa, mais ou menos facilidade de criar e manter pastas as pastas, ele não mudou assim tanto. Pelo menos numa coisa importante: a individualidade das mensagens – uma mensagem enviada ou recebida é um registo individual com o respectivo cabeçalho e perfeitamente isolada.

Para minha desgraça, mudou para uma forma mais moderna, em que, suponho, o objectivo é facilitar o acesso à informação. Tem aquela coisa de juntar as mensagens em conversas, de forma mais ou menos empastelada, e em que aparecem uns “eus”, Zés e Antónios, agregados às três pancadas. Hoje queria enviar uma carta para o Público. Habitualmente pego na mensagem anterior idêntica, faço “resposta a todos”, limpo o que tenho a limpar, anexo o texto e lá vai. Desta vez ao abrir o que pensava ser uma simples mensagem, nasce-me uma “conversa” com 90 entradas, lá com os “eus e os outros” a granel… Vá lá que ao longo dos anos mudei qualquer coisa, senão daria mais de 300! Ao tentar criar a nova mensagem, fiquei literalmente sem saber em que sitio dos 90 estava a escrever e se estavam a ir todos agarrados, ou não.... Só depois de 3 rascunhos é que consegui, achei eu, concluir o processo… Quase! Do Público responderam-me a dizer que o texto supostamente em anexo não tinha chegado apesar de nos meus enviados ele estar lá! Enfim… conversas desalinhadas…

Sinceramente, pode ser retrógrado da minha parte mas esta mania das máquinas acharem que adivinham o que nós queremos e nos conduzirem/formatarem irrita-me sobremaneira. Nota para quem entender: eu comecei a minha actividade profissional a colocar programas em hexadecimal em eprom’s virgens, ou seja a controlar tudo!

E se o correio da Yahoo quer ficar igual ao Gmail, quem fica a ganhar é este!

14 outubro 2013

Do que se foram lembrar…

A ideia que o Governo teve de arredondar para cima a famosa contribuição audiovisual para o pessoal dar uma ajuda suplementar à RTP, sem passar pelo orçamento de Estado, nem foi má de todo. Veio-nos recordar que essa taxa ainda existe. Do eventual desalinhamento entre pagadores e utilizadores nem vale a pena falar. O importante será falar sobre o princípio. Eu não me importo de contribuir para um canal próximo da actual RTP2, independentemente do enquadramento dessa contribuição. Agora, a RTP1 actual, não a distingo dos outros canais puramente comerciais. Recordo um estudo de mercado recente que recomendava à RTP ter menos informação e mais entretenimento, ao que esta concordou, tendo manifestado a intenção de passar a ter uma “grelha mais divertida”. Aproveito para sugerir um programa, divertido e basta-me sugerir com o título: “Famosos em cuecas!”. Sucesso garantido e como nem cobro direitos, acredito ser possível poupar os impostos dos contribuintes nessa produção e sem ser necessário criar uma outra taxa no gás ou nos telemóveis.

Um detalhe muito curioso é a dita taxa, que não corresponde a um produto ou serviço de consumo, ser objecto de IVA. Eu não sou fiscalista, mas cheira-me, e muito forte, que é abusivo aplicar este imposto a esta taxa. Eu sei que se não fosse por aqui, sacariam de outra forma e, se calhar, em termos líquidos, o resultado final seria o mesmo. No entanto, é importante que os conceitos e os princípios não sejam manipulados tão descaradamente. E, já agora, espero bem que esta minha reflexão não dê ideias de aplicar o dito cujo IVA a outras taxas e impostos, porque, aí sim, daria para RTP’s e muito mais!

08 outubro 2013

Imigração, misérias e responsabilidades

A recente tragédia nas costas de Lampedusa, foi isso mesmo: uma tragédia. Daí a pretender que estes acontecimentos deveriam fazer a Europa repensar a sua política de imigração, é estabelecer uma relação causa-efeito que me ultrapassa. A larga maioria dos africanos que tentam entrar ilegalmente na Europa, não são refugiados em busca de liberdade. São imigrantes económicos que desistiram dos seus países. E, como é evidente, a Europa não consegue evitar que, algures no norte de África, 500 pessoas se atirem para dentro uma embarcação precária, nem pode abrir as portas sistematicamente a esses 500, 5 mil ou 5 milhões.

Repito e insisto: o que se passou em Lampedusa foi uma tragédia que impressiona pela concentração, por ter ocorrido num acontecimento único. Muitos outros 400 já faleceram e de infelizmente muitos outros se seguirão. Outros milhares morreram e morrerão nos seus países de origem. Isto é um problema da humanidade, não é de hoje nem de ontem e não tem solução feita à pressão sob a emoção da visão dos cadáveres alinhados.

Dizer ou argumentar que neste naufrágio há uma falha da Europa é uma postura típica de uma certa Europa paternalista, mas é preciso ser claro: a responsabilidade básica por esta tragédia é dos traficantes que embarcam os africanos nestas condições, ajudados pela ignorância/ingenuidade de quem assim é enganado.

Em complemento, há também responsabilidades claras dos (des)governos nos países de origem, que potencia o fenómeno, Ainda, e do ponto de vista geo-político, podemos dizer que a Europa se calhar não fez tudo o que podia para os estabilizar, mas não está sozinha nesse campo. Junte-se, pelo menos, os EUA, a Rússia, o Brasil e a China. Colocar o custo destas tragédias na conta da política de imigração europeia, é que não faz sentido nenhum e é escamotear as reais causas e desresponsabilizar os verdadeiros culpados.

05 outubro 2013

Convicções irrevogáveis

No séc XII desenvolveu-se no sudoeste de França um movimento cristão autónomo – os cátaros, palavra derivada do grego, significando “puros”. Recusavam a obediência a Roma, alguns dos seus princípios e, principalmente, muitas das suas práticas. Naturalmente, por um certo prisma, foram classificados de “hereges”. Chegaram a ter um nível elevado de desenvolvimento, organização e abrangência, o que muito irritou o bispo de Roma da altura. À questão espiritual juntaram-se ambições materiais e conflitos territoriais da época e resultou na organização de uma cruzada, exactamente no mesmo estilo das feitas aos sarracenos, com os correspondentes e brutais saques e massacres. Ficou célebre a resposta do Abade Arnaud Amaury quanto na tomada de Beziers o questionaram sobre como distinguir os hereges dos bons fieis: “Matem-nos a todos, Deus saberá reconhecer os seus…!”

A cruzada foi longa e as forças eram maiores do outro lado. À medida que a pressão subia os cátaros foram-se refugiando nos castelos da região, verdadeiros ninhos de águia. O último foi Montsegur. Da base da colina ao topo são 150 m de desnível íngreme. Após um cerco de 10 meses, o castelo foi finalmente tomado. Aos sobreviventes do assalto final foi proposto renegarem a sua fé. Mais de 200 recusaram-se e foram queimados ali mesmo.

Outros tempos, outro contexto social, cultural, outra escala de valores e não é fácil fazer leituras daqui para lá. No entanto, assumindo a diferença nos tempos e o facto de que também já nem sequer haver fogueiras, quantos estão dispostos nos dias de hoje, mesmo depois de irremediavelmente derrotados, a prescindirem de algo valioso, para manter um caminho e uma convicção até ao fim, nem que isso represente perder o pouco que lhes resta? E, no entanto, a grandeza da dimensão humana está precisamente nisso!

03 outubro 2013

Este bloco... !

Ao PSD também não lhe correram bem as eleições autárquicas. A direcção do BE exige que o PSD tire as devidas ilações da sua derrota e que se demita do governo! Ora bem, o mesmo BE perdeu a única câmara que tinha e não conseguiu sequer eleger um vereador em Lisboa.

Se o BE acha que uma derrota nas autárquicas é razão para o governo se demitir, então parece lógico que o seu próprio descalabro deveria ter alguma consequência interna, não é Sr Semedo? Para um partido que se considera tão puro, rigoroso e sem mancha de pecado, este “olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço”, não cai nada bem…!

02 outubro 2013

O meu iCoiso

Conforme já disse aí atrás, agora tenho um ICoiso. Depois da actualização, quando olho para ele, parece-me um campo de alfaces. Tenho aplicações, uma boa parte delas do capítulo informativo, mas que me solicitam os óculos mais do que eu gostaria e nem sempre os tenho á mão. A Siri é uma querida. Chamo e ela responde prontamente, questionando o que pode fazer por mim. Falo-lhe em francês porque ela não entendia bem o meu sotaque inglês. Agora ela entende perfeitamente o que eu digo mas nem sempre a acção subsequente faz sentido… pois…

E depois, cada vez que carrego, actualizo ou inicio algo, vem a pergunta fatal: se quero partilhar. Eu sei que se diz e se ensina que é importante saber partilhar e, portanto, será feio eu não querer “partilhar”. Só que, o partilhar que eu entendia é algo de concreto e objectivo. Aqui não sei muito bem o que eles querem dizer com isso: partilhar exactamente o quê e com quem?! Aliás parece-me que a palavra mais adequada não será bem “partilhar” mas sim “cuscar”. Donde que a questão é antes: quer ser “cuscado”? E eu respondo naturalmente: Não!!