29 maio 2013

Onde começa e onde acaba

A fotografia vencedora do prémio World Press deste ano é espectacular. Apetece quase dizer que se o autor a tivesse realizado em estúdio com iluminação preparada não sairia muito melhor! Donde que: fantástico e parabéns!


Só que havia mesmo algo de estranho na perfeição da fotografia. De uma primeira acusação de ser uma fusão de várias, afinal parece que foi “só” ajuste de contraste e de tons… ajustes que supostamente não são manipulação. Será? É uma pergunta sem resposta clara. Mas se formos ao limite, como por exemplo nas fotos abaixo, em que eu realmente não desloquei um pixel que fosse, apenas me limitei a mexer grosseiramente nuns parâmetros de cor na da direita, podemos dizer que esta continua a ser uma “fotografia” genuína? Tenho sérias dúvidas…




28 maio 2013

Primavera ou isso

Quando o processo começou na Tunísia, todos assobiaram para o lado assumindo que com mais ou menos esforço Ben Ali colocaria ordem na casa. E Ben Ali caiu. Quando começou no Egipto as reacções já foram mais ambivalentes: é importante a democracia, é importante a legitimidade… E o regime caiu. Quando começou na Líbia, já ninguém teve dúvidas Khadafi vai pelo mesmo caminho e vamo-nos colocar do lado certo do vento da história. Enganaram-se de novo. Khadafi só caiu pela preciosa ajuda dos que quiserem activamente estar do lado “certo”.

Temos agora a Síria. Há quem ache que está em causa a simples luta entre um mau ditador e uns bons rebeldes, mas devido à má experiência da Líbia, tem havido muito mais prudência na entrada/ajuda ao conflito. No entanto, e acrescentados os ingredientes da situação geopolítica actual na zona, não é difícil concluir que o que está em confronto na Síria não é certamente a democracia contra a ditadura. É muito simplesmente uma nova declinação do histórico conflito entre sunitas e shiitas que tem quase tanto tempo quanto a religião muçulmana.

Qual o propósito de o Ocidente apoiar declaradamente uma das partes quando o registo das acções e barbaridades cometidas parece ser relativamente bem distribuído? Porque é que quando se fala do eventual uso de gás sarin pelo governo sírio é um escândalo que justifica sair a terreiro e quando parece que é antes/também usado pelos rebeldes, se assobia para o lado? Se o popular canal de televisão Al-Jazira (Qatar – Sunita) trata de uma forma diferenciada os conflitos nos diferentes países conforme o seu alinhamento com a península arábica, sede do sunismo, porque é que temos que os acompanhar nessa discriminação?

Enfim haverá interesses e razões que justificam tudo isto, como também há gente inocente que sofre e que morre, mas por favor não pintem o cenário com as cores da liberdade e da democracia. Estas merecem muito mais respeito.

23 maio 2013

Em Despedida ao Autor


De tantas vezes ter dormido
Com a minha solidão
Ficamos quase amigos
Uma doce habituação
Ela não me abandona nunca
Fiel como uma sombra
Segue-me aqui e acolá
Pelos quatros cantos do mundo

Não, eu nunca estou só
Tenho a minha solidão

Quando está no fundo da minha cama
Ela ocupa todo o espaço
E passamos largas noites
Só os dois face a face
Não sei mesmo até onde
Irá esta cúmplice
Deverei tomar-lhe o gosto
Ou reagir ?

Não, eu nunca estou só
Tenho a minha solidão

Com ela, aprendi tanto
Que até verti lágrimas
E se por vezes a repudio
Ela nunca desarma
E se prefiro o amor
Duma outra cortesã
Ela será no meu último dia
A derradeira companheira

Não, eu nunca estou só
Tenho a minha solidão

Georges Moustaki em tradução livre

19 maio 2013

As duas Europas


Neste processo em curso de clivagem entre a Europa do norte, pretensamente rica, e a do Sul, perdulária e falida, já se chegou ao ponto de identificar a linha de separação com a fronteira religiosa: de um lado o austero calvinista, do outro o católico faustoso. Nesta lógica confirma-se que a ortodoxa Grécia, ortodoxa apenas no significado religioso da palavra, é certamente um caso à parte e que a França, neste como em muitos outros campos, será uma coisa central indecisa e imprecisa. Seria interessante analisar até que ponto é a influência religiosa que determina o comportamento ou se existe algo de outra natureza que se reflecte na religião dominante; por outras palavras, qual a causa e qual o efeito.

Devo acrescentar ainda que tenho algumas dúvidas sobre essa suposta superioridade moral do norte. O sistema é menos tolerante e um sancionador mais severo, mas não me parece que ter um “ADN” moral assim tão distinto. Alemães e italianos a fazerem negócios por esse mundo fora (sejam submarinos ou sejam helicópteros) não são muito diferentes.

Para lá dessa questão espiritual e/ou moral, o que é certo e certíssimo que é há duas Europas gastronómicas: a que cozinha com azeite e bebe vinho e a outra que cozinha com manteiga e bebe cerveja. E, quem fala em gastronomia, fala em saber viver. Há uns anos quando sob um céu de chumbo eu atravessava o deprimente vale do Ruhr, com aquelas escórias das minas e tenebrosos restos de indústria pesada, eu dizia a mim próprio que preferia atravessar o Alto Douro de Fiat, do que estar ali, nem que fosse de Mercedes. Desculpando a referência explícita às marcas, o problema é por cá termos trocado os Fiats por Mercedes e não os conseguirmos pagar. Resumindo e tentando concluir com um pouquinho de exagero: deixemo-los lá então com as suas cervejas e carros de luxo em ambientes deprimentes e reaprendamos a viver conforme podemos pagar, mas com o saber que temos, e veremos no fim quem é o invejoso.

16 maio 2013

Questão de segurança

Para quem não saiba ....

Tomar um duche pode molhar o chão da banheira

a menos que já haja lavagem a seco.