08 outubro 2010

Um 5 de Outubro diferente

Esta última comemoração do 5 de Outubro foi declaradamente diferente do habitual e não apenas pelo número redondo do centenário. Até há pouco tempo o 5 de Outubro era um feriado quase a cair na banalidade, como tantos outros, sendo que as suas comemorações até levantavam um certo cheiro a bolor. A República, já na sua terceira fase, era um conceito consolidado, sendo claro que havendo percurso a fazer, nunca estaria em causa recuar ao pré-1910.

Ser monárquico há 20 anos era coisa rara. Era ser ou muito chique ou muito exótico, porque dificilmente uma abordagem racional consegue justificar uma casta hereditária, que a história até provou ser necessário de tempos a tempos enxertar com novo ADN e nem sempre da forma mais elegante. Parece que agora temos mais gente chique e mais gente exótica.

Estamos em crise, é verdade, mas, pelo menos mediaticamente, se nos últimos 20 anos não temos uma crise crónica, pouco menos. O que muda agora? Uma crise mais intensa? Penso não ser isso o fundamental. O fundamental é a falta de seriedade que torna mais difícil suportar a dita crise. Falta de seriedade no governo, na oposição, nos sindicatos e na comunicação social. É exasperante!

É necessário cortar despesa pública e esse corte, mais do que cego como agora se anuncia, deveria ser selectivo. O problema principal não está em 3,5% ou 10% para toda a gente. O problema está nas estruturas redundantes em que se pode reduzir 50%. Mas, reconheço que será muito difícil que um polvo consiga arrancar a si próprio metade dos seus tentáculos... A solução é matar o polvo por inteiro? Perigoso !

É sempre assustador encontrar semelhanças negativas com o passado distante, mas sejamos objectivos. Em 1910 houve uma ruptura da qual se tiram dois elementos fundamentais: no fundo um novo regime socialmente mais justo, aberto ao desenvolvimento e liberto do anacronismo da dinastia real, por sinal decadente; na prática dos primeiros tempos uma governação catastrófica e irrealista, assim como se o Bloco de Esquerda tivesse hoje maioria absoluta (refira-se que neste capítulo a Revolução Francesa também não foi melhor).

Actualmente não vejo nenhuma possibilidade de ruptura de regime positiva. Não quero pagar uma família real decorativa e também não ficamos a ganhar nada se tivermos um Bloco de Esquerda ou um de Direita a “inventar” uma nova política autoritária e iluminada por lâmpadas fundidas.

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