Conta-se que a orquestra do Titanic continuou a tocar enquanto o navio afundava. Se calhar até poderia fazer algum sentido para não agravar o pânico. Não sei. O que sei é que essa imagem ficou associada ao “The show must go on” e à insensatez e insensibilidade do primado do prazer, independentemente das condições, dos contratempos e até mesmo da proximidade de uma tragédia.
Vem isto a propósito do recente acidente no “Love Parade” em Duisburg na Alemanha, em que apesar da tragédia e do terror que se terá vivido, não houve coragem, nem respeito pelos mortos e feridos, nem sensibilidade para dizer: “Meninos e meninas, não deve e não vai haver show!” Justificações são a coisa mais fácil de arranjar. Podemos sempre justificar um sim e ao mesmo tempo o correspondente não. A dificuldade está em ponderar as razões e decidir qual a que vale mais em função da respectiva escala, sempre algo subjectiva.
Alguém acredita que cancelar o espectáculo poderia provocar ainda mais tumultos ? O que me cheira é que da mesma forma como a autorização para o espectáculo foi tardia porque havia muitas dúvidas... quanto à segurança.. mas foi dada porque tinha que ser, se entendeu que tinha que continuar e que há coisas que não podem ser postas em causa, nomeadamente a expectativa de festa criada.
Como se sentirá um participante que tenha andado lá entretido a “bombar” (é assim que se diz?) ao saber que alguém como ele morreu ali estupidamente e que o sangue está ainda fresco no chão a uns metros de distancia? É possível alguém saber e dizer alegremente “Que se lixe!” ? É ético esconder o facto da multidão, somente para não estragar a festa?
Apesar dos tempos notórios e inquestionáveis de crise, há algo que parece ter uma precedência indiscutível na escala de valores: a festa. Creio mesmo haver quem aceite subalimentar-se ou privar-se de cuidados de saúde, apenas para não deixar de poder ir às festas.
Quando a festa é um valor primário sobrepondo-se a tudo, inclusive ao respeito pela vida humana, não hesitando em ser feita saltando sobre a memória dos mortos frescos, temos realmente uma grande crise e muito pior do que a crise económica.
Vem isto a propósito do recente acidente no “Love Parade” em Duisburg na Alemanha, em que apesar da tragédia e do terror que se terá vivido, não houve coragem, nem respeito pelos mortos e feridos, nem sensibilidade para dizer: “Meninos e meninas, não deve e não vai haver show!” Justificações são a coisa mais fácil de arranjar. Podemos sempre justificar um sim e ao mesmo tempo o correspondente não. A dificuldade está em ponderar as razões e decidir qual a que vale mais em função da respectiva escala, sempre algo subjectiva.
Alguém acredita que cancelar o espectáculo poderia provocar ainda mais tumultos ? O que me cheira é que da mesma forma como a autorização para o espectáculo foi tardia porque havia muitas dúvidas... quanto à segurança.. mas foi dada porque tinha que ser, se entendeu que tinha que continuar e que há coisas que não podem ser postas em causa, nomeadamente a expectativa de festa criada.
Como se sentirá um participante que tenha andado lá entretido a “bombar” (é assim que se diz?) ao saber que alguém como ele morreu ali estupidamente e que o sangue está ainda fresco no chão a uns metros de distancia? É possível alguém saber e dizer alegremente “Que se lixe!” ? É ético esconder o facto da multidão, somente para não estragar a festa?
Apesar dos tempos notórios e inquestionáveis de crise, há algo que parece ter uma precedência indiscutível na escala de valores: a festa. Creio mesmo haver quem aceite subalimentar-se ou privar-se de cuidados de saúde, apenas para não deixar de poder ir às festas.
Quando a festa é um valor primário sobrepondo-se a tudo, inclusive ao respeito pela vida humana, não hesitando em ser feita saltando sobre a memória dos mortos frescos, temos realmente uma grande crise e muito pior do que a crise económica.
Nota: Fota extraída do Jornal Público
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