29 junho 2010

Política com custos

Parece que as scut’s foram previstas sem custos para o utilizador pelo argumento de que induziriam desenvolvimento, gerador de riqueza, que as pagaria indirectamente. Não sei como foram feitos os cálculos mas o planeamento não foi brilhante. Como é possível ter duas auto-estradas paralelas do Porto a Aveiro, separadas em média por meia dúzia de quilómetros, sendo uma paga e a outra Scut ? È possível entender esta lógica?

Depois, com a “crise” decide-se que deixarão ser gratuitas, não por política planeada mas por necessidade orçamental e a confusão e as interrogações disparam.

É lógico que uma scut seja construída em cima de uma estrada nacional e, mais tarde, se pague portagem nesse troço? Ainda hoje, por exemplo, o prolongamento da A4 está a ser feito parcialmente sobre o IP4. Se no futuro eu quiser atravessar o Marão sem pagar, terei que usar a N15, como há 20 anos atrás?? É lógico que uma circular urbana que pode ser utilizada inúmeras vezes por dia seja paga? É lógico que a cobrança seja feita pontualmente nos pórticos, mais ou menos bem distribuídos e não por km’s realmente realizados? Já imaginaram/previram as assimetrias no fluxo que isso originará?

É lógico que o Algarve seja diferente do Minho? A N125 é melhor ou pior do que a N13? Estão em causa os turistas? Os turistas apenas merecem “consideração” no Algarve? O critério de vir ou não ao Algarve será pelo custo de alguns euros de portagens na via do Infante?

Melhor exemplo da falta de planeamento é o processo de cobrança e os respectivos identificadores. Escassas semanas antes da suposta entrada em vigor, ainda não estavam disponíveis e nem sequer tinham sido divulgados. E os pórticos já lá estão feitos, e certamente pagos, há largos meses.

Na última hora o PSD acha que devem pagar todos. Aparentemente tem alguma lógica. Para não ficar sem a última palavra o PS concorda e lembra-se de isentar os locais. O critério será pela residência ou pelo local de trabalho? Palpita-me que vamos entrar agora numa grande discussão sobre o conceito de ser local. E quase aposto que antes de começarem efectivamente a caírem os euros das novas portagens alguém ainda vai ter mais uma “ideia” nova...

A questão fundamental e cuja resposta não pode ser fruto de ideias avulsas é: O Estado tem ou não obrigação de disponibilizar uma rede de viária de qualidade mínima e sem custo de passagem? Eu acho que sim. Acho que não será bom termos auto-estradas por todo o lado e não se poder sair de casa sem ser portajado (novo verbo) em cada cruzamento. Só que com estes avanços, recuos e improvisos ficou uma grande confusão. Primeiro melhorou-se a rede mínima, muito bem! Agora, essa rede passou a ser considerada de luxo e, por isso, paga. Como nos contextos subdesenvolvidos, ficaremos apenas com os dois extremos: o miserável e o luxuoso.

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