18 julho 2011

Negócio indigno



Milly Dowler é o nome de uma jovem inglesa, foto acima, raptada em 21 de Março de 2002, com 13 anos, e assassinada. O chamado “jornal”, News of the World, contratou um detective particular para descobrir coisas sobre o caso, a história da vítima, a família, os amigos, etc, enfim tudo aquilo que o povo gosta de saber e que dá “business” aos média. Entre outras coisas, os jornalistas conseguiram ter acesso, obviamente ilegal, à caixa de correio de voz do telemóvel da vítima e ficaram a saber quem lhe tentava ligar e as mensagens que deixavam, obtendo assim informações muito interessantes para o seu “jornalismo”.

Ao fim de alguns dias ocorreu um problema: a caixa de correio encheu. Como não queriam perder a “fonte”, encontraram uma solução. Apagaram as mensagens antigas para permitirem o registo de novas, numa altura em que a vítima até já estaria morta. Além da eventual destruição de provas importantes para a polícia, o facto indiciava que ela ainda estava viva, dando falsas pistas à investigação e uma enorme esperança infundada à família, que até concedeu uma entrevista exclusiva ao dito cujo “jornal”, referindo-se à enorme alegria que esse “facto” lhes tinha proporcionado!!! Essa edição deve ter vendido muto bem ! E, por muito sincero que seja, o que vale hoje um pedido de desculpas para isto…?

Este caso de escuta é apenas um de muitos, mas tem um significado muito mais fundo do que o simples coscuvilhar a vida privada de uma “socialite” qualquer. Por um lado, ainda bem que foi na Inglaterra que tem alguma tradição em levar estas coisas ao fundo, doa a quem doer (não como cá com a nossa “Casa Pia”).

O proprietário do jornal e grande empresário do sector, Rupert Murdoch, encerrou o jornal. A última edição de despedida teve uma tiragem quase dobrada e esgotou os cerca de 4,5 milhões de exemplares. Nas imagens da despedida não vi claramente vergonha estampada na cara dos “jornalistas”, vi mais consternação e, apesar de tudo, um certo sentido de terem feito o seu trabalho, de dignos guerreiros derrotados. Este caso não se resume a um jornalista isolado e tresmalhado, mas ao espírito de todo um sistema “pragmático” que factura em cima de qualquer valor. Houve e continua a haver quem não hesita em invocar os direitos e o respeito que merece o jornalismo e, ao mesmo tempo, sem ter o mínimo pejo em recorrer a tudo, e mesmo tudo, a bem da tiragem/audiência. É possível sobreviver individualmente um jornalista e colectivamente um título sem se renderem? Não sei mas espero sinceramente , ingenuamente talvez, que tamanha monstruosidade conduza a alguma mudança consolidada nas práticas do sector.

Nota: Informação e foto recolhidas no "Guardian"

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