25 junho 2011

As primaveras árabes em curso

Dizem por ai muitos opinadores e comentadores que a “Democracia” está a chegar ao mundo árabe, que isso é fantástico e acrescentam outras teorias e baboseiras. Ora bem, eu sobre os árabes mesmo lá do Médio Oriente sei pouco, mas sobre o norte de África posso acrescentar algo. Dentro de toda a gente que mexe ou faz mexer actualmente aquela parte do mundo, identifico 4 grupos. Não necessariamente rigidamente estanques e homogéneos, mas dentro da simplificação esta divisão já é suficiente para não concluir assim rapidamente que não há “um” povo a sair à rua.

Grupo 1 – A alternativa. Aqueles que de uma forma ou de outra e com motivações distintas aspiram subir ao poder. Considerando um acesso pela via da democracia, será necessário que cheguem a uma boa camada da população. E aqui surge o primeiro problema: na maior parte desses regimes os partidos do poder podem ser um ou vários mas de nenhuma forma são projectos de mudança. Os outros, que serão mesmo de oposição, quando existem, estão desgastados numa imagem envelhecida de “pregadores do deserto” e sem conseguirem uma afirmação credível que mobilize uma larga fatia do eleitorado. Os únicos que conseguem apresentar um projecto que pode alcançar e convencer uma boa parte da população, são os de base religiosa. Aqui convém confirmar se estes se manterão democratas mesmo após subirem ao poder ou se uma vez lá e como representantes de um poder divino inquestionável trancarão as portas a qualquer outra posterior mudança.

Grupo 2 – Os esclarecidos, que querem viver num país melhor, mais justo, mais desenvolvido, que premeie o mérito, em que o poder preste contas a sério e que acreditam que a democracia é o caminho para lá chegar. Alguns desta base já emigraram e os que ainda lá estão e são mesmo esclarecidos vêm com bastante apreensão o panorama do grupo 1.

Grupo 3 - Os pobres, aqueles que simplesmente querem ter uma vida melhor. Se para viver como na Europa em que há democracia, o caminho é a democracia, eles serão democratas; se os convencerem de que essa melhoria passa pela x_cracia, eles serão x_cratas. Não estão necessariamente preocupados com a justiça na distribuição da riqueza, o mais importante é que o caminho da riqueza passe por eles. Em caso de democracia, mesmo democracia, provavelmente será da escolha deste grupo que sairá o novo poder.

Grupo 4 – Os vândalos que aproveitam a desestabilização para sair à rua e quebrar e queimar, sem uma preocupação construtiva. Destroem por instintos de maus fígados ou/e por vontade de primária de demonstrar que existem e que esta é a sua forma de afirmação.

Do peso de cada um destes grupos e da sua interacção com a realidade sócio, económica, histórico e política de cada país, nascerá uma realidade diferente e perspectivas diversas de mudança. Veremos isso a seguir.

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