17 setembro 2007

Setembro



Setembro é o meu mês. Gosto de Setembro e do início do Outono, muito mais do que da Primavera das flores em botão, passarinhos e de todas as outras delicadezas que despertam e secam, sacudindo bolores, à saída do Inverno.

Não temos os campos pintalgados de papoilas e infestados de pólens, mas temos o pastel das cores ocres e o cheiro forte das vinhas e das figueiras. É muito mais intenso e muito mais premente.

Se a Primavera é a esperança ingénua, o Outono é o momento dos balanços e da maturidade. Em Abril aguardamos o fruto da floração. Em Setembro os frutos estão maduros e serão colhidos ou perdidos e, oxalá, haverão de retornar. Em frente da Primavera está a simplicidade de um desenvolvimento linear; à frente do Outono está a realidade complexa do como renovar.

A Primavera solicita-me e cansa-me nos seus dias crescentes; o Outono aconselha-me. Anuncia o encerrar de um ciclo que nos confronta com a nossa finitude e com a necessidade de renascer e recomeçar.

Não há fins de tarde mais belos do que os do fim do Verão.
Não há mês mais belo do que o mês de Setembro.

5 comentários:

Maria Manuel disse...

Tão bonito texto, sentido e tão verdadeiramente teu! Tão subtil a beleza desta fotografia simples! Tudo tão do meu agrado, que não resisto ao elogio deste Setembro poético que amadureceste em ti!

Anónimo disse...

Pois... Amadurecer em Setembro só mesmo as saudades, indeléveis e subtis, dos tons acastanhados, violetas escuros e púrpuras rosáceos dos vinhedos nos sucalcos das memórias ancestrais...

APC disse...

Já lá dizia o outro, pimbando ou não, pouco importa: "Setembro foi um mês eternidade...".

Em resposta a um comentário lá no meu tasco, escrevi assim:

É, de facto, uma época mais aconchegante, de tons mais densos, aromas mais quentes, de um tom mais soturno, mais grave, mais difícil, mais intenso, mais sério. E a magia das fugas para um destino secreto...!

Acho que é assim que sinto o Outono. Que o espero, o recebo, o recordo e o fantasio.

Gostei dessa forma de o sentires.
E a imagem - pelo sossego e pelo tom; pela solidão prazenteira que apenas a almas de outono apreciam -, diria que é um reflexo perfeito.

Carlos Sampaio disse...

Eu, pecador, me confesso, bis!

Essa pimbice às vezes passa-me pelos lábios ao pensar em Setembro, assim como o "September Mornings" do Neil Diamond e sua versão/(original?)francesa "C'est em Séptembre..." que acho que é de um tal Gilbert Bécaud...

E pronto! Já estraguei a quietude e a beleza do post mas estava mesmo a precisar disto para abrir ruptura para o seguinte.

Maria Manuel disse...

Pimbices à parte e posts acrescentados à parte (ainda por cima, sobre "polacos pimbas"...), é nestas águas de cores e reflexos extraordinários que continuo a mergulhar o olhar, quando venho a esta página...!