05 agosto 2011

A nuvem informática e o efeito de estufa

Sou do tempo em que a transmissão de dados mais frequente era por linha telefónica com uns modems ranhosos e cantantes, que com sorte chegavam aí a uns 1200 baud, uns 120 bytes/seg (esqueçam lá os Kilos e os Megas). Passar o equivalente a uma musiquinha de 3 minutos em MP3 seriam umas 6 horas e tal. Para lá do custo de utilização da linha, manter o canal sem cair durante esse tempo todo era outra proeza.

Ainda, antes de começar a transmissão propriamente dita, era preciso que o computador se entendesse com o modem, com aqueles fantásticos sinais de controlo, RTS – CTS – CD, etc . Até que conseguisse ter canal aberto para iniciar a transmissão propriamente dita, era um cabo de trabalhos. De tal forma, que eu achava fantástico que num simples ciclo de levantamento de Multibanco, o terminal conseguisse consultar a minha a conta e informar-me sobre o meu saldo naquele momento!

Mais tarde tivemos, já em casa, umas ligações mais rápidas - 9600 baud – 4 x mais! A musiquinha chegaria em apenas uma hora e meia, mas ainda nos cobravam ao tempo de navegação/volume de tráfego e, por isso, tínhamos algum cuidado de gestão da utilização dos meios. Talvez pela memória destes antecedentes ainda franzo o sobrolho quando vejo emails com muitos megas anexados.

Hoje não nos cobram tempo de ligação e muitas vezes nem sequer o tráfego. Até podemos, por “facilidade” ter a nossa informação algures na “dataesfera”, numa nuvem qualquer, e acedê-la com a maior facilidade de qualquer ponto. Já não é o terminal MB que se esfola a pedalar para ter acesso ao simples saldo da conta bancária; somos todos nós que com um “coiso” qualquer na mão, em quase qualquer sítio, temos acesso a tudo, muito rapidamente e sem custo/custo adicional de utilização. Tão rapidamente que navegamos e cruzamos oceanos de informação para trás e para a frente com a maior facilidade e ligeireza. Da informação que se descarrega qual a percentagem que realmente se lê/utiliza? A olho, entre coisas que abrimos e fechamos no instante seguinte, coisas que saltamos e até a publicidade, acho que se a chegar 50% já não é mau. No entanto, os outros 50% (ou mais) que andam aí para trás e para a frente gastam recursos, não gastam? E com esta nova moda da nuvem (in english cloud) faz sentido que eu tenha sistematicamente os meus ficheiros textos, músicas, fotos ou filmes algures no planeta e gaste infra-estrutura e energia nessa transmissão, mesmo que não o pague directamente, em vez de os ter no disco duro aqui ao lado? Eu acho que há aqui uma pegada de carbono que é uma verdadeira patada de dinossauro…!

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