02 agosto 2011

Multiculturalismo não é uma coisa a preto e branco

Dizem uns que a natureza dos atentados de Oslo foi uma desilusão para a direita europeia xenófoba. Se na origem do atentado tivesse estado um islamita, isso provaria a “razão” dessa direita e da sua argumentação de rejeição dos estrangeiros. Assim, terão ficado “contentes” os outros, os da outra “razão”, e que acham que a tal direita tem sérias responsabilidades no drama de Oslo.

Em primeiro lugar, e por muito execrável que seja o discurso de Jean-Marie Le Pen e do Vlaams Blok, estabelecer algum paralelismo entre o que sai dessa direita e o terrorismo islâmico é um absurdo de ignorância, distracção ou desonestidade. Dizer que a extrema-direita é responsável por Andres Breivik equivale a dizer que o Islão é responsável pela Al Qaeda...

Depois, a questão do chamado multiculturalismo não é qualitativa do tipo escolher entre maçã e salada de frutas: é quantitativa. Indo aos extremos: poucas pessoas se sentirão chocadas por encontrar um diferente no seu caminho quotidiano, mas poucas aceitarão, ao regressarem de férias, encontrarem na sua rua todas as pessoas diferentes em comportamento… Algures no meio fica o limite da tolerância ao diferente, que é dinâmico e evolutivo. E poderemos entender que se um supermercado na periferia de Paris parecer um da periferia de Argel, um francês “tradicional” não se sinta em casa. Se a mensagem da extrema-direita passa é por muita gente achar que o nível da “diferença” no seu quotidiano está superior ao seu limite de tolerância e será mais útil estudar isto do que simplesmente invectivar os “Le Pens”.

Para terminar, não acredito que a “Europa” esteja em risco de sucumbir a uma investida do Islão. Parece-me que o conflito principal, mas latente, é entre Islão e Islão: entre a leitura de um livro com 1400 anos e a sua interpretação no contexto social actual. Se considerarmos algum paralelismo nos ciclos, o século XV do cristianismo foi um período terrível de mudanças e de rupturas…

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