Foi-me recomendado por um colega, antigo combatente comum daquelas latitudes, o filme argentino “O segredo dos teus olhos”. E vi, com prazer, um daqueles filmes que não é linear de narrativa única e previsível, como parece ser a norma recente. Tão pouco necessita de guia e tradução para se entender o que o realizador quer realmente contar. Uma história simples mas com níveis e linhas narrativas suficientes para ter a profundidade e a riqueza necessárias. E, mais do que tudo, um filme sobre pessoas e a suas “normais/excessivas” paixões.
Tem um encanto nostálgico especial para quem viveu (e aturou) algo por ali, com aquelas saídas “bolluzadas” e afins. Sem pegar na origem da palavra e na sua tradução literal (descubra quem quiser), “bolludo” é muito amplo. Sendo originalmente sinónimo de estúpido e imbecil, pode em ambiente de familiaridade até servir de saudação: nós também podemos chamar “urso” e “camelo” a um amigo... Em caso de desgaste excessivo passa-se ao mais rotundo “pelotudo!”, mas pronunciado com todas as sílabas bem marcadas!
Na ficha do filme encontrei o nome da actriz principal, Soledad Villamil (pronunciar "Vijamil"), e descobri que também canta. Não é uma Adriana Varela, pelo menos por enquanto, mas canta de uma forma … “bolluda” – ou será que não se pode usar isto no feminino? Não sei, mas pelo menos não fica bem ser usado por quem não sabe, donde que retiro o que disse.
A Argentina é um país complexo e complexado. Tanto se sente um certo desespero ao lidar com gente frustrada por ter tentado atravessar culturalmente o Atlântico e o Equador, sem sucesso (ao contrário do Brasil que vive muito melhor a sua pele); como se admira aquela tipicidade “bolluda” (e cá estou eu de novo a reincidir na falta).
E um par dançando/representando um tango numa manhã de fim-de-semana, à sombra das árvores de uma praça de S. Telmo, não tem nem pode ter correspondência ou equivalência em nenhum outro lugar.
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