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20 janeiro 2025

Carlos Lopes


Não é que sejamos sistematicamente os melhores entre os melhores, como alguém gosta de andar por aí a repetir, mas Carlos Lopes foi certamente um dos melhores do mundo no seu domínio.

Aquela madrugada da maratona de Los Angeles foi um momento histórico e dos mais intensos vividos por muitos portugueses. Era a medalha de ouro, e logo numa das mais emblemáticas e prestigiosas provas olímpicas, ganha com um inequívoco domínio da corrida e uma desconcertante frescura final.

Um destes dias apanhei na televisão um programa recente em que o atleta conversava com Fátima Campos Ferreira. Para lá dos detalhes que em parte já conhecemos, como a compatibilização daquele nível de preparação com uma atividade profissional, do atropelamento na segunda circular escassas semanas antes dos jogos, etc, há uma imagem que me fica do campeão.

Carlos Lopes foi ambicioso e assumiu essa ambição. Trabalhou duro para a cumprir. Apesar de possuir certamente características genéticas que o ajudaram, reconhece que não chegou lá por acaso, nem se perdeu em choradinhos. Assume a sua ambição e autoconfiança, mas de uma forma absolutamente sã.

Sim, a ambição, e a mais elevada, não implicam forçosamente golpes baixos nem oportunismos duvidosos, arrogância ou altivez.

Um muito bom exemplo este senhor, parece-me

14 agosto 2012

69º lugar

Foi esta a posição final de Portugal no ranking das medalhas das Olimpíadas de 2012 (e por pouco, uma remada mal dada, teríamos era ficado a seco, em último). Por comparação, no recente mundial de futebol chegamos às meias-finais e no ranking da Fifa estamos em 5º lugar. Efectivamente há aqui uma grande diferença entre “futebol” e a restante paisagem desportiva. Não será simples acaso e quem de direito deverá tirar as relativas conclusões e, se possível, tomar a necessárias acções. Não me parece que esteja em causa o esforço, e sacrifícios, que muitíssimos atletas terão aplicado na preparação como também não me parece que seja uma questão de falta de apoios directos a estes atletas… a raiz do problema está mais funda.

Depois, para que servem estes jogos? Sinceramente parece-me festa e promoção a mais e espírito desportivo a menos. A começar e a acabar nos espectáculos de abertura e encerramento, o Reino Unido organizou os jogos para se promover descaradamente, sendo o desporto um simples veículo e embrulho. Aqueles espectáculos podiam ter servido para qualquer actividade…

E, ainda, se é fantástico o que o corpo humano pode realizar, e a foto acima da atleta que ganhou o ouro no salto em altura feminino diz tudo, quantos não haverá em que a dedicação mais que exclusiva e até a própria formação/deformação do corpo condicionam negativamente a vida para lá dos jogos? Sinceramente, não me parece que o espírito esteja certo.

PS: O golfe vai passar a ser desporto olímpico e o hóquei em patins não …!

06 agosto 2012

"Acabei em sofrimento..."

Foram as últimas palavras de Dulce Félix ao comentar a sua participação na Maratona Olímpica, terminada em 21º lugar e que a imagem picada na net ilustra eloquentemente. Não tivemos medalha, mas 3 atletas nos primeiros 21 lugares não é de forma nenhuma um mau desempenho.

Há algo curioso aqui. O panorama dos países participantes em atletismo de fundo é completamente diferente, por exemplo, da natação. Aparecem poucos países ricos, proporcionalmente muito poucos. Nesta maratona, nos 25 primeiros lugares há :

Com 3 atletas: Quénia e Portugal;

Com 2 atletas: Etiópia, Rússia, China, USA, e Japão;

Com 1 atleta: Ucrânia, Itália, Namíbia, Alemanha, Austrália, Nova Zelândia Suécia, Holanda e Peru.

E com algumas “importações” … a Alemã nasceu no Cazaquistão, a Sueca e a Holandesa nasceram no Quénia. Porque será que nestas modalidades, que não são de forma alguma “menores” em termos de importância e significado, há poucos “ricos”? Porque os meios necessários, um par de sapatilhas e espaço, são de mais fácil acesso do que uma piscina? Isso explicaria a fraca representatividade de países “pobres” na natação, mas não a ausência dos ricos no atletismo de fundo. Porque os pobres têm mais capacidade para aguentar o sofrimento prolongadamente? E será que falta alguma coisa aos “pobres”, para lá das piscinas, para serem campeões de natação? Não sei, mas alguma coisa há-de haver…

01 julho 2012

Boa !

Um destes dias em que saio tranquilamente na minha bicicleta, na fase inicial, ainda em velocidade moderada, sou ultrapassado por dois atletas ali a bater a sapatilha no asfalto com grande pinta. Que é isto? Então estes tipos correm mais depressa do que eu pedalo!? Atrás deles vai um automóvel devagarinho a controlar. Acelero um pouco para recuperar a ordem natural das velocidades e percebo que é uma atleta certamente de grande nível a ser “rebocada” por um colega um pouco à frente a marcar o ritmo. Já disse aí para trás que gosto muito de ver correr e aqueles estavam mesmo soberbos. 

Sou de novo ultrapassado, agora pelo carro, que pára lá o fundo, treinadora cá fora de cronómetro em punho e o condutor calça sapatilhas para render o “lebre”. Segui o meu percurso com alguma curiosidade sobre quem seria. 


Hoje entendi quem era: Dulce Félix é a menina da fotografia que hoje ganhou a medalha de ouro dos 10000 m nos Europeus de atletismo. Será que o ter-me ultrapassado deu alguma motivação adicional..?

12 agosto 2009

Valeu a pena

Não há muito tempo e por mero acaso vi passar à frente dos meus olhos na televisão uma daquelas cerimónias pretensamente chiques e mundanas de entrega de prémios. Começam a ser tão frequentes que não sei se haverá stock de “glamour” suficiente para abrilhantar tanto evento. Tratava-se da “III Gala Amália” e o Prémio Composição Poesia foi para um tal Sr Moniz Pereira que do alto dos seus 88 anos entrou divertido no palco em passo de corrida.

Se há momentos em que apetece bater palmas e tirar o chapéu no sentido literal ou figurado da palavra, esse foi um deles.

Aquele “Senhor” estava ali para ser homenageado pelo seu contributo para o fado e, mesmo ignorando o autor, toda a gente conhece e sabe trautear o “Valeu a pena, ter vivido o que vivi, ter sofrido o que sofri....” . Mas aquele “Senhor” é também o responsável pelo desenvolvimento do atletismo português que, em Los Angeles, faz hoje 25 anos dava a Portugal a sua primeira medalha de ouro olímpica.

Um outro “Senhor” entra nesta história, Carlos Lopes, que com 37 anos (sim, trinta e sete) e um atropelamento 2 semanas antes enquanto treinava, emocionou o país inteiro nessa célebre madrugada.

Em termos de meios e de condições estávamos a anos-luz do Pequim 2008, onde algumas declarações pareciam mais de gente divertida em passeio de finalistas do que aplicada num desafio de alta competição.

Sem diminuir a importância dos recursos e da existência de cada vez melhores condições, atingir algo que vale a pena passa por esforço humilde, trabalho rigoroso e... acreditar.
Senão, ficamos pela diversão.

01 setembro 2006

Eu tive um sonho

Ao ouvir as catastróficas notícias sobre a possível exclusão das nossas equipas e selecção das competições internacionais, sonhei que teríamos um verdadeiro colapso no nosso futebol profissional.

Que se zangavam todas comadres e que se descobriam todas as verdades. E de tal forma que não se conseguia disfarçar mais e que estourava mesmo.

Que acabava essa “economia” que não gera nada de bom. E não estou a pensar nas vedetas milionárias. Preocupam-me mais os miúdos que têm jeito para dar uns toques na bola. E que, por meia dúzia de toques, por meia dúzia de anos, recebem meia dúzia de tostões fáceis e descuram o investimento pessoal em algo mais sustentável. Sem dinheiro não há vícios e sem dinheiro de origem fácil muito menos.

Sonhei que os recursos e as energias eram dirigidos para desportos, mesmo desportivos, de praticar e não de assistir. Que, por exemplo, a Câmara de V.N. de Gaia tomava a atitude revolucionária de, em vez de financiar centros de estágio para vedetas, promover a prática de desportos “caros” como o atletismo em todas as suas freguesias.

Seria bonito.

18 agosto 2006

Correr...

Desta vez acompanhei um pouco os Campeonatos Europeus de Atletismo. E descobri que acho mais belo ver correr do que ver dançar! Porquê? Talvez porque:

Aprendi a correr. Não o correr atabalhoado da fuga, não o correr acometido do predador. O correr sustentado do desacompanhado. Aquele em que cada passo é dado com o fim de haver sempre um passo seguinte. Em que o cansaço se agrava ao descontinuar e em que se recupera ao não parar.

Amava-me ao ver o mundo deslizar pelos dois lados de mim. Ao sentir a minha velocidade como minha. Criada, mantida e gozada. Sob o calor que me destilava e expurgava; sob o vento que me desafiava, sob a chuva risonha que me fecundava.

Amava-me principalmente quando ressuscitava, quando de uma reserva interna de dimensão desconhecida ia descobrir energia nascida só da vontade e de um ânimo incansável.


Já não consigo bem correr mas gosto muito de ver correr!