13 dezembro 2007

A leste das vespas e suas picadas (I)

Afonso tinha-se por sábio e bem informado. Conseguia prever com grande segurança onde estavam os riscos e contorná-los. Ao longo de todo o seu caminho nunca uma vespa o tinha apoquentado. Comprazia-se em ver a sua pele virgem de picadas, prova da sua clarividência. É certo que muitos desvios tinha feito no seu rumo, mas a satisfação de se saber sem sofrimento desnecessário, justificava bem esse pequeno esforço adicional.

Cláudio não tinha rumo nem prudência. Limitava-se a divagar e a parar onde calhasse. Evidentemente que se passavam mais coisas nos sítios com vespas do que nos outros. E tornou-se um visitante regular. As marcas das picadas que o pejavam eram a sua certidão de alguma coisa vivida. As assinaturas das vespas atestavam a sua carga de sofrimento e alimentavam a sua autocomiseração. Cláudio tinha motivos claros para ser infeliz e isso dava-lhe consistência. Pouco faltava para agradecer inconscientemente às vespas pelos sofrimentos que, nalguma coisa, o realizavam.

Xavier tinha-se por determinado e decido. Conseguia planear bem o seu caminho e realizá-lo. Desvios medrosos não faziam parte do seu dicionário. Evidentemente que algumas vespas já o tinham mordido. Comprazia-se em pensar que nem mesmo as vespas o demoviam. As cicatrizes que carregava com orgulho eram prova e tributo da sua robustez. Muitas delas tinha doído a bom doer, mas a satisfação de saber que o seu caminho tinha sido mantido superava de longe o sofrimento.

Continua para

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