13 setembro 2007

Génio



Está patente na basílica de Koekelberg, em Bruxelas, uma magnifica exposição sobre Leonardo da Vinci. É fácil não ser parco em adjectivos quando se trata de falar sobre este homem. É que, reflectindo um pouco sobre a sua dimensão, conclui-se facilmente que foi uma das mentes mais geniais de toda a história da humanidade.

Da sua biografia fica um andar daqui para ali, sendo preterido nalguns casos, como nas obras do Vaticano, em benefício de um Miguel Angelo, talvez artisticamente mais exuberante. Não se vislumbra um momento de apoteose ou de reconhecimento largo. Pelo contrário, fica a imagem de alguém que passou ao lado do seu tempo, ou que o seu tempo não identificou nem reconheceu.

Agora, à distância, o que se vê? Aqueles extraordinários caderninhos, onde se mistura arquitectura, mecânica, biologia, desenho e sei lá que mais, são um combinado e um concentrado de conhecimento, especulação e arte seguramente sem par. Não se pode dizer que se conheçam muitas das suas pinturas, mas entre essas poucas a “Mona Lisa” e a “Última ceia” são dois dos maiores símbolos da história universal da pintura. E é o mesmo homem que concebe conceitos mecânicos fundamentais que hoje estão em todo o lado com o princípio da cremalheira ou do rolamentos de esferas, e só a título de exemplo. As suas figuras andróginas são, e continuarão a ser, enigmáticas e desafiadoras. As maquetas das suas construções mecânicas que, se bem que em geral, não foram concretizadas e muitas não funcionariam sem ajustes, são um hino à imaginação humana e à capacidade de conceber coisas novas e diferentes. É fantástica a combinação rigorosa da geometria e da anatomia com a arte, da qual o homem Vitruviano, outro ícone universal, é provavelmente o expoente máximo.

Por tudo isto e pelo resto, Leonardo da Vinci é uma figura fabulosa e uma evidencia de que o génio não é compartimentado por especialidades estanques. É possível ser-se brilhante em “mais do que uma coisa....”

Nota: Foto tirada no museu do Louvre, da multidão em frente da Mona Lisa. Se é verdade que metade dela será devida ao livro de Dan Brown, também é verdade que o livro precisou da aura de Da Vinci...

5 comentários:

Anónimo disse...

..."é possivel ser-se brilhante em mais do que uma coisa"!!!

Espero que o continues a sê-lo, tu também, por muitos e bons anos.

Neste dia: PARABÉNS!

RS

Anónimo disse...

Aproveitando a boleia do Da Vinci e esperando que só leia esta mensagem amanhã... Que tenha um feliz dia! HP

Maria Manuel disse...

Na linha da falta de reconhecimento por contemporâneos de que falas, também esta exposição, espantosa pelo seu conteúdo, merecia um espaço mais amplo, iluminado, belo e digno; e, já agora, anfitriões com princípios mais humanistas!
Mas nada pode apagar a emoção de ver, mais do que as masterpieces, os tais "caderninhos" onde se condensam artes e estudos com a variação e a profundidade do génio...!

Delfim disse...

O rapaz foi longe nos estudos, não há duvidas. A questão é até onde poderia ter ido se estudasse em Portugal hoje em dia...

Carlos Sampaio disse...

Delfim

Acho que o génio não se faz bem nos estudos, embora ajude.
Agora se fosse em Portugal, como já disse aí para atrás , o problema seria que:
A tribo dos pintores não lhe perdoaria a engenharia; os anatomistas não suportariam que ele também fosse arquitecto, os culinários não gostariam dos seus dotes de escultor e por aí fora. Teria que optar e deveria ficar só num único galho.