15 dezembro 2007

A leste das vespas e suas picadas (II)

Continua de

Naquele dia tudo se conjugava para ser um dia bravo, cheio de vespas assanhadas. Afonso, Cláudio e Xavier olhavam esse caminho em silêncio. Logicamente foi Xavier o primeiro a partir. Era por ali que devia ir e tinha que ser. Afonso questionou-o sobre as razões dessa necessidade mas Xavier não respondeu. Ou não quis dizer ou, às tantas, era só mesmo o desafio de querer querer o que é difícil fazer. Partiu.

Afonso teve um ataque de nostalgia do perdido. Recordou-se de todo o caminho inócuo que tinha feito na vida e no que com isso tinha ignorado. Nunca ter sido picado era uma prova de pobreza. De repente odiou-se e insultou-se revoltado. Em vez de, mais uma vez, partir contornando o perigo, fechou o rosto e partiu directamente no caminho do vespeiro. Cláudio lamentou-se e foi atrás. Ia ser mau mas tinha que ser. Era a sina dele.

E foi mau, foi mesmo mau.

Cláudio regressou em primeiro lugar e jurou que nunca mais se meteria em tais andanças. Sabia de sobra sobre o assunto para poder avançar daí para a frente evitando todo o risco de vespeiros. Passou a chamar-se António.

Afonso regressou transfigurado. Revoltado, zangado e fascinado pela dor. Nunca mais se afastou do vespeiro. A sua pele virgem rapidamente passou a martirizada. Ele cada vez gostava menos de si e passou a chamar-se Cristiano.

E Xavier não voltou, nunca mais foi visto. Para António Cláudio era absolutamente indiferente. Cristiano Afonso dizia, triste por si próprio, tê-lo ouvido dizer que seguia, que seguia. Que seguiria para onde teria que ir e que esse lugar estava a leste daquilo tudo. A leste dos Afonsos, Cláudios e das suas metamorfoses e m......

Sem comentários: