Que se pode dizer 51 anos depois, para lá de fazer evocações do tipo como é bela a Primavera, quando as andorinhas retornam aos ninhos? O 25 de Abril cumpriu muitas das expetativas e esperanças criadas e deixou outras por cumprir. Cada qual tem a liberdade de evocar o que acha que podia ter sido e acabou não ser… Ao fim e ao cabo, haverá sempre coisas por fazer e é de saudar ser possível haver pluralismos nessas buscas…
Hoje apetece-me evocar os 50 anos das eleições de 1975.
Nunca se viu, e provavelmente nunca se verá, tamanha motivação e empenho cívico como
nesta participação de 91,7% dos eleitores inscritos. Tanta gente que esperou em
intermináveis filas e não quis desperdiçar a oportunidade de expressar a sua
palavra sobre o futuro do país. Sobre o respeito que certas “forças” manifestaram
sobre essa assembleia tão esmagadoramente democrática, a discussão é outra.
Aliás, não esqueço de, ao visitar o Museu do Aljube, ter lido
na legenda da ilustração desse momento que “Os resultados desiludiram os que defendiam
um processo revolucionário avançado”… povo retrógrado este!
Das minhas queixas sobre o que falta hoje neste país, X ou Y
anos depois de uma data qualquer, o que falta mesmo é coragem. Coragem de apresentar
e defender frontal e honestamente reflexões coerentes e sãs. Coragem para pensar
livremente e assumir os riscos inerentes. Coragem para distinguir humildade de subserviência.
Coragem para dizer em alta voz… “o rei vai nu” quando ele se apresenta andrajosamente. Coragem
para assumir aquilo em que se acredita.