25 abril 2025

51 e 50 anos


Que se pode dizer 51 anos depois, para lá de fazer evocações do tipo como é bela a Primavera, quando as andorinhas retornam aos ninhos? O 25 de Abril cumpriu muitas das expetativas e esperanças criadas e deixou outras por cumprir. Cada qual tem a liberdade de evocar o que acha que podia ter sido e acabou não ser… Ao fim e ao cabo, haverá sempre coisas por fazer e é de saudar ser possível haver pluralismos nessas buscas…

Hoje apetece-me evocar os 50 anos das eleições de 1975. Nunca se viu, e provavelmente nunca se verá, tamanha motivação e empenho cívico como nesta participação de 91,7% dos eleitores inscritos. Tanta gente que esperou em intermináveis filas e não quis desperdiçar a oportunidade de expressar a sua palavra sobre o futuro do país. Sobre o respeito que certas “forças” manifestaram sobre essa assembleia tão esmagadoramente democrática, a discussão é outra.

Aliás, não esqueço de, ao visitar o Museu do Aljube, ter lido na legenda da ilustração desse momento que “Os resultados desiludiram os que defendiam um processo revolucionário avançado”… povo retrógrado este!

Das minhas queixas sobre o que falta hoje neste país, X ou Y anos depois de uma data qualquer, o que falta mesmo é coragem. Coragem de apresentar e defender frontal e honestamente reflexões coerentes e sãs. Coragem para pensar livremente e assumir os riscos inerentes. Coragem para distinguir humildade de subserviência. Coragem para dizer em alta voz… “o rei vai nu” quando ele se apresenta andrajosamente. Coragem para assumir aquilo em que se acredita.

17 abril 2025

Incoporated States of America


A imagem dos representantes das grandes corporações americanas logo atrás de D. Trump na sua tomada de posse ficará para a história. Não necessariamente pela proximidade do mundo dos negócios à política e ao poder, alguém sempre pagou os milhões das campanhas eleitorais, mas sim pela visibilidade dos mesmos. O segredo é muitas vezes a alma do negócio e as influências desenvolvidas nos bastidores são frequentemente mais eficazes.

Também a linguagem arrogante e grosseira de Trump não será certamente uma estreia absoluta. As famosas gravações da Casa Branca, divulgadas durante o processo Watergate, mostraram um presidente Nixon bastante menos elegante verbalmente do que se imaginaria. A diferença aqui é, mais uma vez, o assumir publicamente essa postura.

Defender interesses nacionais com medidas protecionistas, mais ou menos camufladas, quando tal é considerado útil, também não é uma novidade absoluta, mas a diferença aqui não se fica apenas pelo estilo, é a dimensão e a imprevisibilidade.

Taxas aduaneiras altas são sinónimo de países que não conseguem ter uma economia competitiva em terreno aberto e quem as paga é quem importa. Os EUA pertencem agora a esse clube? Depois, e nomeadamente para bens industriais, que parecem ser o foco principal de Trump, não se ganha dimensão e competitividade de um dia para o outro. É necessário investimento e desenvolvimento de conhecimento, coisas que nunca avançam com regras a mudarem todos os dias. Donald Trump está a comportar-se como um caprichoso e arrogante dirigente de um país que falha e não encontra o bom remédio dentro de portas, como lhe compete.

Para a dimensão do país, a aplicação destas medidas provocaria um impacto dramático na economia mundial… e na própria. Na prática nem sabemos se irá acontecer mesmo assim, ou se é apenas bluff e tática negocial. De todas as formas jogar ao poker nesta escala, isso sim, é inédito.

12 abril 2025

Controlar submarinos e aviões


Há algumas décadas atrás discutia-se e negociava-se a compra de submarinos para a Marinha Portuguesa (o tal negócio que depois ficou famoso…) Faziam parte do pacote negocial as chamadas contrapartidas, ou seja, a parte do negócio a ser feito por empresas locais e outras repercussões económicas para o país comprador.

Um dos consórcios concorrentes, o francês e, por acaso, o que não ganhou, sugeriu que construíssemos na Efacec Automação e Robótica parte do simulador de pilotagem do submarino, utilizado para a formação dos tripulantes. Assim, fui visitar a escola de submarinos francesa em Toulon, onde pude ver vários simuladores, reproduzindo o posto de pilotagem de diversas gerações de submarinos (desculpem-me os submarinistas se o vocabulário não está a ser rigoroso).

Havia nitidamente três gerações e ambientes. A primeira, aí dos anos 60, muito analógica, com mostradores de ponteiros e tudo muito espartano. A segunda que situaria a partir dos 70, já com alguma eletrónica e sobretudo enormes painéis de interruptores retro-iluminados que, quando ocorria um problema, pareciam uma árvore de Natal (monocromática, a vermelho…) de tantas coisas a piscar em simultâneo. Finalmente a última geração, já informatizada, onde a informação era tratada e o fundamental corria bem visível num monitor, percebendo-se mais facilmente o que estava a ocorrer.

Lembrei-me disto recentemente ao “pilotar” um enorme Boeing 777. Apesar de ser um simulador estático, conseguia-se sentir um efeito de imersão e a sensação de que dirigir algo tão complexo pode ser tão simples… quando a rota está lançada e nada de imprevisto acontece. O problema estará sempre nos imprevistos e o grande desafio é, de facto, prever os imprevistos…   

04 abril 2025

Um deputado perto de si

Agora que se vão estabilizando e conhecendo as listas de candidatos às próximas legislativas, gostaria de ver os resultados de um certo tipo de sondagem.

Em cada círculo eleitoral, quantos eleitores conhecem algum dos “seus” candidatos a partir do 3º na lista, sendo que, por exemplo em Lisboa e Porto, para os maiores partidos, falamos de um total de eleitos acima da dúzia.

Depois, para os “famosos” do topo da lista, quantos os associam a algum tipo de ação de defesa e promoção da “terra”? Excluamos os autarcas a atingir o limite de mandatos e que partem em transumância para S. Bento…

Certamente que a governabilidade do país não é compatível com individualismos e caciquismos tribais em cada esquina, mas daí a os eleitores votarem em simples funcionários dos partidos ou famosos cangurus

29 março 2025

Salafismo no BE


Quando os canhões da I Grande Guerra se calaram, o mundo muçulmano sunita entrou num período de crise e de choque. O Império Otomano, seu bastião, tinha lutado do lado dos vencidos e a outrora poderosa força que dominara todo o Médio Oriente e grande parte do Norte de África, já enfraquecida antes do conflito, desmorona-se e desaparece.

Na sua sede e origem, a atual Turquia, Kemal Atartuk vai criar um novo Estado, muçulmano certo, que o digam os ortodoxos gregos e arménios que por lá andavam, mas laico, com a religião nas mesquitas e fora de escolas, tribunais e parlamento.

Ao mesmo tempo é extinto o califado, desaparecendo o Califa, o líder religioso global e reconhecido sucessor de Maomé. Imaginem que, se na unificação da Itália, em vez de o Papa passar a administrar apenas um bairro de Roma, tivesse desaparecido de vez a função. Um grande choque seria, não?

Neste processo de desagregação do mundo muçulmano, surgem reflexões do tipo: Se no passado, na origem, eramos poderosos e depois enfraquecemos, a solução passa por regressar à “pureza original”. A isto se chamará salafismo, palavra relacionada com origem e raiz, sendo o movimento mais impactante, ainda hoje, a Irmandade Muçulmana, nascida no Egito.

Como é óbvio estas visões retrogradas e anacrónicas não trouxeram muito brilhantismo e sucesso ao Islão.

Contextos e dimensões à parte, a opção do Bloco de Esquerda em ir chamar os seus “fundadores”, parece ser um reflexo com a mesma inspiração. Quanto ao resultado, logo se verá, mas as estratégias de “ó tempo volta para trás”, nunca trouxeram grande progresso.

25 março 2025

A angústia do deputado face à Camara Municipal

Tempos houve em que o Presidente da Câmara Municipal era uma personalidade local e com pouca projeção nacional. Posteriormente os partidos descobriram que apresentarem uma figura pública “conhecida”, mesmo caída, com ou sem paraquedas, numa autarquia qualquer podia ser um “vantagem”…

Assim vemos serem apresentados/sugeridos para autarquias relevantes, personalidades “notórias”, que, naturalmente até já estão/passam no Parlamento. A atual antecipação das legislativas e a sua proximidade com as próximas autárquicas coloca um problema angustiante a estas personalidades, presumindo, naturalmente, que não irão fazer campanha simultânea para o Parlamento e para uma Câmara qualquer. Já bastaram os deputados eleitos o ano passado que sem aquecerem sequer o lugar em S. Bento, saíram logo a seguir para se apresentarem às Europeias….

Assim, que fazer? Apresentarem-se nas legislativas e deixarem em branco a opção que lhes estava prevista para as autárquicas? Passarem em branco as legislativas e irem apenas às autárquicas, correndo o risco de perderem “pau e bola”?

Não sei, mas o que não gostaria de ver é deputados eleitos a largarem S Bento no dia seguinte à tomada de posse para partirem em campanha para as autárquicas. A vida é feita de opções, não é ?


21 março 2025

Ainda a Vendeia


A cerca de 50 km a sul de Nantes, há uma placa informativa na autoestrada anunciando “Memorial da Vendeia”. A primeira vez que a vi não tinha a mínima ideia do contexto e após informação e posterior visita do local ficou-me como um dos episódios mais dramáticos e representativos daquele período de liberdade terrifica, dois conceitos que infelizmente se apresentam muitas vezes em conjunto.

O tema já foi objeto de publicação anterior, aqui, e posteriormente li a obra acima representada, verdadeiramente (bem) desenvolvida e documentada sobre o tema. Não é objetivo hoje refazer o histórico dessa guerra e guerrilha, da tentativa de genocídio sobre toda a população civil da zona rebelde e demais as barbaridades desse período de terror absoluto, sem o mínimo de respeito pelos “direitos universais do homem”, nem mesmo o direito a viver para aqueles cujo sangue fosse declarado “impuro” (ver a letra da Marselhesa).

Há aqui um fenómeno daqueles que, acreditando tão inequivocamente estarem do lado “certo” da história, não hesitam em enviar para as masmorras ou para o cadafalso, todos os que se considerem estar do lado errado. Em Nantes, chegaram a afogar sumariamente no rio os inimigos do regime, como suposta medida sanitária na sequência da saturação das prisões.

Uma questão que levanta muitas interrogações é como, séculos depois, com todos os elementos para uma visão clara de toda a barbaridade, ainda haja gente “inteligente” que consegue expressar simpatia, compreensão e benevolência para com “Robespierres” e outros que tais. É um verdadeiro mistério da natureza e da irracionalidade humana.

Numa dada passagem do livro, o autor lança um repto se este totalitarismo ideológico jacobino não foi a matriz inspiradora do que a seguir se viu na Europa com os regimes ditatoriais brutais, nomeadamente no século XX. Pode não ter sido inspirador diretamente, poderão apenas terem génese na mesma “doença do poder”, mas as semelhanças são bastantes.

Efetivamente há atualmente órfãos de Estaline e órfãos de Robespierre e com muitos a partilharem as duas orfandades… Qual será a cura, não sei, racionalidade e humanidade não parecem ser.


09 março 2025

Uma moção para ti, uma comissão para mim


Se a empresa de Montenegro vendia consultadoria e com sucesso, estaria suportada por um especialista que só podia ser ele. Quando ele assume responsabilidades políticas esse conhecimento não se passa, como num restaurante se pode passar a terceiros o avental de quem está a lavar pratos. Seria previsível que os serviços deixassem de ser prestados pela indisponibilidade do prestador. Se a empresa continua a faturar e fortemente, das duas uma: ou Montenegro continua a intervir direta ou indiretamente e está mal; ou não há propriamente prestação e a natureza da faturação é… nublosa.

Duma forma ou de outra, não estou a ver uma saída limpa para o caminho feito por estes euros e a questão está toda aqui.

Os nossos brilhantes líderes políticos? Empenham-se na gritaria e em maximizar o retorno do caso. A minha moção de censura é maior do que a tua; a minha comissão de inquérito durará mais tempo do que a tua moção; ameaças censura, mostra (des)confiança… Um espetáculo triste de tacticismo e palpita-me que não vai encerrar tão cedo. Depois, queixem-se … 

06 março 2025

Camarada Trump, amigo; o povo está contigo!

Constitui para mim um mistério como gente com formação, informação e discernimento conseguiu, e alguns ainda conseguem, terem benevolência, compreensão e apoiarem sistemas comunistas que, apesar de algumas boas intenções na sua génese e nessa época, resultaram em implementações miseráveis e muitas delas criminosas em grande escala.

Duplo mistério é como esses supostos iluminados ainda têm simpatia com Putins, que apesar de partilharem a geografia e alguns métodos do famoso e tenebroso pai dos povos, não tem nada de nada em comum com as teorias de Karl Marx.

Onde já não há palavras é para caraterizar o alinhamento destes EUA com os criminosos de Moscovo. Então os EUA não eram o inimigo visceral de todo os comunistas? Como ficam os órfãos de Estaline neste cenário de verdadeiro curto-circuito mental? Seguem Putin e aplaudem Trump? Iremos ver o atual presidente dos EUA discursar na próxima Festa do Avante?

Este alinhamento não lembra ao diabo e deve ser também um curto-circuito mental para os herdeiros do senador McCarthy, o tal que tanto investigou e perseguiu os perigosos comunistas infiltrados nos EUA.

É óbvio que este mundo se rege muito mais por interesses do que por princípios e os EUA já apoiaram bastantes regimes pouco saudáveis para as suas populações e respetivos direitos e liberdades. No entanto alguns princípios, mesmo que teóricos, precisam de existir, que definam a identidade das nações. Não posso acreditar que uma parte significativa da população americana se identifique com estas opções.


28 fevereiro 2025

País de porteiros em família

Já vivi num país, que não primava pela eficácia nem pela meritocracia, uma coisa vai com a outra, e onde, para funções pouco exigentes e qualificadas, o mais recomendado era contratar alguém primo ou familiar de quem já lá estava. Como praticamente qualquer um servia, ficava garantido algum compromisso, quanto mais não fosse pela fidelidade a quem o tinha contratado.

Também se tornava prático. Em vez de procurar abertamente quem poderia melhor servir, bastava dizer “Ó António, não tens por acaso um primo ou sobrinho que queira ser aqui porteiro”. E o António tinha e arranjava.

Conforme a cultura, ou respetiva ausência, o nível do recrutamento endogâmico podia subir e, especialmente para entidades não solicitadas a concorrência, nem por ela ameaçadas, era prático generalizar o critério. Só vantagens. Por um lado, o António beneficiava de uma tribo de protetores devedores, prontos a retribuírem-lhe o favor. Por outro lado, era tudo boa gente, bem previsível e comportada, retirando da equação, naturalmente, competência, desempenho e respetivas consequências.

O trabalho de seleção era também muito simplificado e querer reduzir a carga de trabalho não há quem não queira…. Grande trabalheira seria ter que ir à procura de alguém pela competência. Ainda por cima, como dizia há uns anos atrás um especialista no tema: “Os independentes são muito imprevisíveis…”

Sobretudo nada de surpresas. Imaginem que aparecia alguém mesmo competente que ridicularizasse o desempenho da família instalada na corte… !?

Quando olho para a lista de representantes, nomeados e demais escolhidos para coisa pública ou para-pública e respetivo CV, fico com a muito forte impressão que é tudo muito coisa de primos e irmãos. Basta isso, para todos ficarem felizes e contentes… todos ? Depende do universo e da ambição.

25 fevereiro 2025

O consultório Montenegro


Relativamente à polémica com a empresa familiar de Luis Montenegro, preocupa-me pouco o seu possível conflito de interesses com a famigerada “lei dos solos” ou o facto de ele eventualmente parquear a sua participação junto da sua mulher, um primo ou o motorista.

Tão pouco a primeira questão será conhecer as empresas que recorreram aos seus serviços de consultadoria, mas sim a natureza dos mesmos. Se, por exemplo, a atividade da empresa fosse vender sardinhas, os seus clientes trocavam uns tantos euros por umas tantas sardinhas e era claro o que estava a ser transacionado.

Da mesma forma que não há lojas a venderem simultaneamente sardinhas, raquetes de ténis e impressoras multifunções, um serviço de consultadoria é um trabalho especializado. Alguém tem um conhecimento profundo de um dado contexto e esse conhecimento é o valor que é vendido aos seus clientes. Pelo objeto social da empresa, “planeamento estratégico, organização, controlo, informação e gestão, reorganização de empresas, gestão financeira, gestão de recursos humanos, segurança e higiene no trabalho, objetivos e políticas de marketing, organização de eventos, proteção de dados pessoais”. não se descobre a especialidade que está em causa, nem o que poderão ser exatamente esses serviços que conseguem fazer entrar em casa do primeiro-ministro umas centenas de milhares de euros.

Qual foi a natureza da contrapartida dessas compras? Em função dessa resposta, poderá ser importante conhecer as empresas que a tal recorreram, mas a primeira questão é esclarecer o que se vende por ali…

22 fevereiro 2025

Acabou o recreio


Uma certa Europa vive o fim de uma era da inocência, quando se entretia a discutir o sexo dos anjos e a procurar novos anjos para defender.

Se Trump e Cia podem ter razão nalguns aspetos, o wokismo é uma praga irracional, uma Gronelândia autónoma à mercê da Rússia é um problema, um canal do Panamá chinês é um risco enorme, tudo disso se desvanece face à arrogância e intimidação brutais do senhor e do indescritível Elon Musk, que, quando se vê em excitados pulos, parece mais um adolescente retardado do que um esboço de estadista. A grande questão é como irão as instituições dos EUA aguentar e resistir a esta “cowboiada”.

Para a Europa, é o fim do recreio. O papá rico cortou a mesada. Terá que viver, especialmente no domínio da segurança, com os seus próprios meios. Não vale a pena chorar. Provavelmente os Trumpusks irão embater no muro, as suas famosas tarifas serão um boomerang  que retornará contra a sua própria economia, mas não é por os regentes europeus irem ajoelhar a Washington, implorar qualquer coisa ou simples bom senso que os excitados execráveis se colocarão em questão.

É o momento da Europa decidir e assumir se é “uma” coisa, se tem princípios e coragem para lutar pelos mesmos. Esqueçam os EUA, pelo menos por agora. Acabou o recreio.

13 fevereiro 2025

Seguro e o partido invisível


O PS é um partido histórico da nossa democracia, por onde muita gente passou ao longo de todo este tempo, uns mais recomendáveis de que outros. Apesar de alguns posicionamentos recentes a alinhar com a esquerda “dura”, é um partido com largo espetro eleitoral. É de estranhar que nas últimas duas décadas nunca tenha conseguido apresentar um candidato presidencial forte e respeitável, que conseguisse agregar uma parte significativa do seu eleitorado.

Para as próximas, António José Seguro reúne todas as condições e não é Augusto Santos Silva que nos irá convencer do contrário. Dificilmente se encontrará no seu percurso político algo que possa ser objeto de rejeição, pelo contrário. Apontem-lhe um defeito de caráter? Poderia ser o tal grande candidato que tem faltado ao PS.

O problema e o pecado de Seguro foi ter associado o PS a certos interesses e a um partido invisível existente na sociedade portuguesa. A ser falso, hoje ninguém daria importância ao que um derrotado tinha estranhamente argumentado uma vez. A ter um fundo de verdade é incómodo para os eleitores de base, que certamente não apreciarão agendas escondidas. Será também desconfortável para as elites relacionadas, que preferirão perfis mais amenos.

Por isso, para alguns, Seguro não “tem perfil”… eu acho que tem

02 fevereiro 2025

A Pen secreta


Estar uma pendrive cuidadosamente guardada num cofre, por alguma razão será.

Alguém colocar ou encontrar uma pendrive nestas condições deverá saber ou descobrirá o conteúdo e a razão.

Conhecer um conteúdo, tão sensível, e mantê-lo sem reportar às autoridades competentes, não é normal para gente responsável e de bem.

Porque raio alguém colecionou e guardou aqueles dados está, para já, no domínio da especulação, mas que é potencialmente muito perturbador e assustador, é!

31 janeiro 2025

Deep "Sick"


Esta semana passou um furacão nos meios e empresas tecnológicas com a chegada da ferramenta de inteligência artificial chinesa, Deep Seek, mais barata e tão ou mais eficaz do que as congéneres americanas estabelecidas.

Quanto a eficácia, ela será um pouco questionável quanto a temas como “Tiananmen”, devendo-nos isto fazer refletir sobre os créditos que devemos dar à isenção destas máquinas sabichonas em geral.

Quanto a custos, sabemos que tudo o que vem da China é barato, nem se sabendo por vezes as razões de fundo da competitividade. De recordar que a Europa, ferida na indústria automóvel, quer travar o que nesse campo de lá chega, por supostas ajudas públicas ao setor.

Por último, mas não menos importante, estas ferramentas precisam de enormes infraestruturas tecnológicas e bons algoritmos, mas, sobretudo, de informação em quantidade brutal. Como uma simples “start-up” caída das nuvens conseguiu criar e ter acesso a essa biblioteca de dados colossal? Sabendo que ela depois se autoalimenta com os dados que lhes são colocados para analisar e rever, terão consciência os utilizadores que estão a engordar uma enorme base de dados chinesa?

Recordando as dúvidas e entraves colocados à utilização de equipamentos de telecomunicação chineses nas nossas redes, será que embarcar nesta IA “barata” não será potencialmente muito mais grave?

30 janeiro 2025

Nem tudo é caso de polícia

Se a imigração passou recentemente a ser tema sensível e até “fraturante” não é por acaso, nem por mera moda ideológica. É porque, menos em Portugal do que noutros locais, há transformações sociais em curso que preocupam quem se deve preocupar com a sociedade em que queremos viver.

Venissieux é uma localidade na periferia de Lyon, em França. Em agosto passado, na padaria da praça central, uma empregada enganou-se e em vez de uma quiche de queijo, entregou uma quiche lorena, que inclui toucinho. Os clientes, ultrajados, quando descobriram o engano, voltaram para agredir a empregada e tentar vandalizar o estabelecimento. Felizmente o proprietário estava presente e conseguiu acalmar os ânimos, sendo o incidente encerrado sem consequências de maior.

Na sequência deste acontecimento, o proprietário decidiu banir a carne de porco do estabelecimento e colocar o mesmo à venda. O principal supermercado tradicional do bairro já migrou para uma versão “halal. Os cafés e restaurantes retiram as bebidas alcoólicas da sua oferta. As professoras receiam apresentarem-se nas escolas com saias que possam “provocar”.

Não há aqui necessariamente um problema legal, mas, a densidade e a pressão de uma comunidade que forçam uma mudança no quadro social e cultural tradicional, sendo que essas mudanças constituem um retrocesso nos direitos, especialmente das mulheres, cerceando liberdades e tantas coisas que fizerem o sucesso deste nosso mundo.

Para evitar entrar por esse caminho devíamos definir e balizar hoje a sociedade em que queremos viver. Deixar rolar até haver uma outra maioria que imponha outros valores não será o ideal e não terá final feliz.

25 janeiro 2025

As malas e as mães


A atualidade nacional tem andado entretida estes dias com as malas do Chega e as mães do Bloco, desenvolvendo-se algum paralelismo. Se quisermos ir ao fundo e ao sério, o que está em causa, em termos políticos, é completamente diferente.

O deputado do Chega rouba malas no aeroporto por ele, para ele. Não tem instruções do partido, nem este beneficia e até se desmarca rapidamente. A culpa do Chega será não ter escrutinado a pessoa e ter elegido um cleptómano.

No caso do Bloco, o cenário é muito diferente, porque está em causa a direção do partido. É um assunto de foro institucional, onde a primeira reação do partido é gritar por “cabala política” e apresentar queixa à ERC. Para lá dos detalhes (i)legais da dispensa das funcionárias, há um pragmatismo, frieza e desumanidade, daqueles que o BE acusa o grande capital, mas que não se coibiu de fazer igual e de tentar esconder, atacando o mensageiro. Muito mau.

O Chega estará a sofrer as consequências de ter um grupo parlamentar precipitadamente escolhido e díspar em muitas dimensões. O BE descobriu que, na prática, o radicalismo combina mal com a necessidade de pagar contas no fim do mês, mas que há capitalistas mais humanos, há…

20 janeiro 2025

Carlos Lopes


Não é que sejamos sistematicamente os melhores entre os melhores, como alguém gosta de andar por aí a repetir, mas Carlos Lopes foi certamente um dos melhores do mundo no seu domínio.

Aquela madrugada da maratona de Los Angeles foi um momento histórico e dos mais intensos vividos por muitos portugueses. Era a medalha de ouro, e logo numa das mais emblemáticas e prestigiosas provas olímpicas, ganha com um inequívoco domínio da corrida e uma desconcertante frescura final.

Um destes dias apanhei na televisão um programa recente em que o atleta conversava com Fátima Campos Ferreira. Para lá dos detalhes que em parte já conhecemos, como a compatibilização daquele nível de preparação com uma atividade profissional, do atropelamento na segunda circular escassas semanas antes dos jogos, etc, há uma imagem que me fica do campeão.

Carlos Lopes foi ambicioso e assumiu essa ambição. Trabalhou duro para a cumprir. Apesar de possuir certamente características genéticas que o ajudaram, reconhece que não chegou lá por acaso, nem se perdeu em choradinhos. Assume a sua ambição e autoconfiança, mas de uma forma absolutamente sã.

Sim, a ambição, e a mais elevada, não implicam forçosamente golpes baixos nem oportunismos duvidosos, arrogância ou altivez.

Um muito bom exemplo este senhor, parece-me

18 janeiro 2025

Quanto vale, quanto custa?


O país comentarista chocou-se com a possibilidade de ser nomeado para secretário-geral do Governo, uma função supostamente muito importante, potencialmente geradora de enormes poupanças e ganhos de eficiência, alguém que iria manter o seu salário atual de mais 15 mil euros.

A polémica apareceu e as contestações proliferaram como cogumelos, até por representar uma remuneração superior à do primeiro-ministro, e essa opção abortou.

Não sei se esse valor é o “correto” em termos de mercado de trabalho para o posto em causa, mas chocam-me duas coisas. A primeira é o valor muito baixo que é pago aos mais altos responsáveis do país. Está certo que não estarão motivados exclusiva ou principalmente pela remuneração direta, mas se queremos “profissionais” de primeira-água, não é com estes valores que eles virão. A segunda, e que terá chocado muito menos gente, é essa pessoa estar atualmente a auferir desse vencimento, supostamente “escandaloso”, no Banco de Portugal, sem se saber muito bem o que por lá faz.

Ou seja, é inaceitável uma remuneração assim para uma função crucial no Governo do país e altamente exigente, mas isso ser pago no BdP para funções de “consultoria”, menos mal…?

15 janeiro 2025

Influenciar no palco ou nos bastidores


Elon Musk tem-se evidenciado por uma série de intervenções e expressão políticas, que não agradam a todos. com Podemos concordar ou discordar, mas não é por ser a pessoa em causa em vez de um simples José Silva que terá maior ou menor direito a dizer o que pensa.

Muitos políticos eleitos e com responsabilidades importantes manifestaram-se e manifestam-se com regularidade sobre outros políticos, outros países, sem serem acusados de ingerência, no sentido nocivo da palavra. Será certamente muito mais pesado alguém eleito com poder executivo dar palpites em casa alheia do que um cidadão, rico ou pobre.

A liberdade de expressar publicamente opiniões é um direito fundamental da sociedade em que vivemos. Como alguém dizia: “Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”

Confesso que me preocupam muitíssimo mais as ingerências de bastidores. Se Elon Muslk utilizar o X para veicular prioritariamente uma certa ideologia, aí será muito grave. É isso o que deve ser escrutinado. O que é dito no palco é ouvido claramente por todos e pode ser contestado ou contra-argumentado.

12 janeiro 2025

O que esperar da extrema-direita?


Esta semana faleceu Jen-Marie Le Pen, um dinossauro e um dos principais fundadores dos “novos” movimentos de extrema-direita, que tanto espaço conquistaram recentemente na Europa.

 Ao ouvir a truculência, grosseria e falta de respeito pelos princípios básicos do regime democrático proferidos em devido tempo pelo senhor Le Pen, dá para entender perfeitamente a campanha de “cerca sanitária” montada ao seu partido e a estupefação quando em 1995 conquistam a câmara de Toulon, a primeira de uma grande cidade, e quando em 2002 ele passou à segunda volta das eleições presidenciais.

Ao ouvir agora a sua filha e sucessora, Marine le Pen, que tem a segunda volta das presidenciais garantida e salvo reviravolta jurídica ou outra vai mesmo acabar no Eliseu, há um mundo de diferença. O discurso não é de todo do mesmo calibre do do seu pai, que originou a diabolização daquela franja política e, sejamos objetivos, não coloca em causa os princípios básicos do regime. Podemos dizer que o protecionismo não é solução e podermos questionar o nível de abertura das fronteiras, mas, tanto quanto ouvimos, o RN joga o jogo institucional em vigor. O sucesso e crescimento do movimento em França tem duas razões principais. Uma é a perda de credibilidade da classe política tradicional e outra são as transformações culturais e sociais que a imigração está a provocar e para as quais enfiar a cabeça na areia não é solução.

Os resultados de uma eventual governação da extrema-direita são outra discussão e interrogação. Para lá dos resultados concretos das suas políticas, a questão é: a transformação do discurso do Le Pen pai para a Le Pen filha corresponde a uma efetiva mudança de princípios e valores do movimento ou foi apenas “marketing”?

07 janeiro 2025

Sobre o Novo Ano


Aqui estamos, com mais um aninho novinho para estrear. Não acrescenta muito dizer que este vai ser diferente de todos os anteriores, mesmo sendo verdade, porque isso é o que sempre se diz, com maior ou menor rigor…

É certo que não somos nós quem vai resolver todos os males do mundo, os antigos e os novos, mas isso não será também desculpa para ficarmos pela fatalidade passiva.

É certo que cada qual no seu âmbito e no seu espaço pode sempre fazer um esforço para que, no que deles depende, tornar as coisas amanhã melhores do que estavam ontem e todos esses pequenos passos somados, serão um bom salto no bom sentido.

Fica a questão da definição do bom. Há tanta gente absolutamente convencida de ter a bondade inequivocamente do seu lado, que, por ela, assumem a necessidade de avançar com maldades, sempre em prol da sua bondade.

Será talvez uma boa ideia começar por aí. Tentar entender a bondade dos outros