19 outubro 2023

Holodomor


Nestes tempos de bárbara agressão da Rússia à Ucrânia, refere-se por vezes o precedente da grande fome dos anos 30, imposta pela URSS stalinista, e que resultou na morte terrível de “alguns” milhões de ucranianos.

Do que me foi dado ver e ler, parece-me que este processo não foi uma repressão política, mas “simplesmente” o resultado da soma da falência do modelo de produção coletivo com a desumanidade criminosa do sistema stalinista. Começando por aqui, todos sabemos, se quisermos saber, que para Staline, matar gente era absolutamente irrelevante, face aos seus desígnios e caprichos. Hitler matou judeus porque os achava malignos, ao menos tinha um mínimo de “justificação” *; Staline matou provavelmente mais, compatriotas seus, por um sim por um não e às vezes mesmo por nada de concreto. Foi de uma barbaridade e desprezo pela vida humana sem paralelo.

Quanto ao outro fator, o da coletivização, nos amanhãs comunistas não havia propriedade privada. Todos aqueles que possuíam e cultivavam terras foram perseguidos, forçados à coletivização ou deportados. Como resultado previsível, isto não funcionou e a produção de cereais caiu a pique. Consequência muito “lógica” foi decretado ser obrigatório produzir e o pouco que a desorganização conseguia gerar era confiscado, não deixando de todo o mínimo necessário para a subsistência dos camponeses. Cada grão escondido era confiscado. Isto foi aplicado a todos as zonas agrícolas da URSS, incluindo a Ucrânia.

Este livro, acima representado, conta vários testemunhos horríveis e bárbaros de gente sem amanhã, morrendo e vendo morrer os seus de forma terrível e desesperada, vítimas de um sistema falido. O espantoso é que um século depois e sem um único caso de sucesso a registar, ainda haja quem continue a achar que o sistema na teoria está correto e o problema está apenas na implementação prática! Mudem de religião, por favor…

* nota posterior em 20/10

Para que não fiquem dúvidas possíveis de interpretação. Hitler e os nazis cometerem crimes hediondos sem justificação, objeto de julgamento no pós-guerra e cujos propósitos são ainda criminalizáveis hoje em dia. No entanto, na sua cabeça havia uma lógica e um objetivo, daí a palavra “justificação”. Para eles os judeus não eram alemães “de gema”.

Os crimes Stalinistas, se bem que alguns contra opositores ao regime e daí com alguma “lógica”, muitos foram arbitrários e gratuitos. É o caso de todos estes milhões de camponeses, seus compatriotas, condenados à morte apenas porque lhes impuseram um sistema ineficiente.

No final, um ou milhões de mortos inocentes, serão sempre mortos inocentes, mas enquanto Hitler chacina judeus por os considerar indesejáveis, Stalin impõe um regime de terror cuja autoridade passa por matar o seu próprio povo como e quando lhe apetece sem sequer precisar de “justificar”.


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