24 dezembro 2024

Ainda Natal


Neste solstício de Inverno, onde o ciclo solar recomeça e, sem ser por acaso, o ano civil muda, supostamente celebramos a data de nascimento de um tal nazareno. Há para muitos uma dimensão religiosa que não terá discussão, haverá para outros a fragilidade e o questionável rigor histórico da data e, mantendo-nos na dimensão histórica, algo mais pode ser evocado.

Em setembro 2023 percorri Israel, parte dos “últimos turistas” antes da eclosão da guerra. Um dos locais visitado foi o monte das Bem-Aventuranças, onde num cenário belíssimo face ao mar da Galileia, esse tal nazareno terá realizado um sermão e que acabou por fazer mudar meio mundo. Só por isto, já impõe respeito e reflexão.

Mas, há algo que se pode acrescentar e continuando na dimensão histórica. Num mundo intolerante e impiedoso ele disse que “Quem nunca pecou que atire a primeira pedra”, num mundo de olho por olho, dente por dente, que por vezes passa a dois dentes por um olho e três olhos por dois dentes, ele sugeriu sair pela exposição da outra face; num mundo de clãs e tribos ele disse que “Todo o homem é meu irmão” e que todos, mesmo os mais pobres e desfavorecidos têm valor e direito ao respeito e à dignidade.

Se isto não é uma precoce declaração universal dos direitos humanos, parece. Com ou sem fé à mistura, há algo associado a esta figura histórica que merece ser celebrado. Feliz Natal !

19 dezembro 2024

A falta de um Olimpo


Em contexto cultural fortemente monoteísta, seja de base cristã, judaica ou muçulmana, algum tipo de invocação dos méritos do politeísmo é quase crime. No passado foi mesmo crime e objeto de pesadas penas.

Efetivamente, na construção da relação do ser humano com a transcendência, estamos habituados que o Deus único seja um dos pilares fundamentais e inquestionáveis (e não me confundam com a Santíssima Trindade).

Se a religião serve para dar uma visão alargada da existência, uma dimensão metafísica, elevar comportamentos e promover valores mais altos do que os dos instintos básicos, … será que o mais “eficaz” é acreditar e temer um Deus único, coisa simples de explicar e assimilar?

Sobre o deserto ser monoteísta e a floresta, eventualmente, politeísta, já especulei ali atrás e uma boa parte desse texto encaixaria neste, mas não o vou repetir.

A panóplia de Deuses Gregos (e posteriormente traduzidos pelos romanos), dá múltiplas dimensões e motivações. Mais ricas, menos castradoras…?

A função reguladora de instintos, que a religião promove, obriga a disciplina e, consequentemente apresenta a ameaça de castigos terrenos ou divinos. Mas não haverá algum exagero redutor e pobreza intelectual derivados de tanta simplicidade, rigor e severidade…?

Acredito que para muitos a religião e a fé têm uma dimensão dogmática que vai muito para lá destas especulações racionais e heréticas. Acredito também que outros se possam sentir perdidos e ter dificuldade em definir uma hierarquia entre Atena e Baco…

Mas também acredito que o esforço para conseguir um mundo melhor tem dimensões e fontes de inspiração múltiplas, divinais ou naturais, dogmáticas ou racionais que irão para lá do receio do castigo.

Será pecado às vezes visitar o Olimpo e valorizar o que por lá anda?

15 dezembro 2024

A Vendeia e as ideias


A Vendeia está no centro da costa atlântica francesa, um departamento não muito conhecido. A região não tem os pergaminhos históricos da Aquitânia ao Sul, nem a especificidade cultural da Bretanha ao Norte. Um episódio marcou, no entanto, a sua crónica. Nos finais do século XVIII, nas convulsões do processo pós-revolução francesa, ocorreu um levantamento popular contra um recrutamento maciço, tendo-se formado um exército “irregular” que algum trabalho deu àqueles que defendiam a liberdade a todo o custo, passando pelo terror, sempre que “necessário”.

Há uma altura em que, para acabar de vez com a perturbação, os que queriam impor a (sua) fraternidade, custasse o que custasse, decidem enviar expedições punitivas que circularão pela região matando todos os que se apresentam à sua frente, minimamente ou supostamente suspeitos, independentemente da atividade, sexo ou idade. Uma brutal sequência de massacres, existindo um memorial evocativo, em Lucs-sur-Boulogne (imagem abaixo), num dos locais onde essas execuções sumárias foram  realizadas.

Obviamente que os tempos hoje são outros e que este tipo de violência já não é usado para impor ideias, pelo menos por estes lados. No entanto, ainda há quem não hesite em usar toda a força disponível, e socialmente aceitável, para calar opiniões diversas. Chama-se cancelamento. Se antes se entendia que os contestatários podiam perder o direito a viver, hoje ficamos pela perda do direito a falar. Do mal, o menos…

Felizmente que o limite da agressão aceitável está noutra escala e dimensão, mas, por muita bondade que possa existir na sua génese, as ideias que não admitem contraditório são fontes de pobreza, para o mundo e para elas. Uma ideia que se autoproclama inquestionável e se arroga o direito de destruir as outras, está ela própria a caminho da destruição de todos os seus eventuais méritos.



12 dezembro 2024

D Gouveia e Meio – O Almirante Perfeito


Acho que todos já viram aquelas revistas/boletins municipais em que há uma fotografia, pelo menos uma, com o senhor “Prasidente” em todas as páginas, noticiando o que começou a fazer, o que está a fazer, o que acabou de fazer ou o que está a pensar fazer…

Parece que esse vírus atacou para os lados da revista da Armada, cujo último número com o atual Chefe do Estado-Maior é, digamos que muitíssimo, dedicada ao senhor que parece querer ser “Prasidente” desta nossa República.

O cúmulo da descaradez, chegando mesmo ao grotesco, é o bonacheirão almirante aparecer desenhado ao lado do determinado D. João II, que na opinião do mui isento editor da revista, não hesitaria em trocar ideias com o putativo Prasidente, quase um seu espiritual herdeiro. Efetivamente, se o Príncipe Perfeito dispusesse dos atuais drones da nossa marinha, Bartolomeu Dias teria tido muito mais facilidades em dobrar o maldito cabo.

Toda a imagem é de um caricato indescritível.

Quem ficou dobrado e arquivado no meu arquivo de gente de pouca confiança foi quem se ridicularizou desta forma. Enfim, ao menos ficou claro.

11 dezembro 2024

CCB – Alguém me explica?

Em 2023, o então presidente do CCB, Elísio Summavielle, foi convidado por Pedro Adão e Silva, ministro da tutela, a contratar Aida Tavares, uma apoiante do PS e de António Costa, para a direção artística do centro, diretamente, sem concurso público. Pedido recusado por, no entender de Summavielle, a função já estar coberta.

Em finais desse ano Summavielle é empurrado para a saída e substituído por Francisca Carneiro Fernandes, que rapidamente contrata a tal Aida, licenciada em “Educação de Infância”… Duas diretoras artísticas existentes terão ficado sem funções e obrigadas a sair.

Agora, a nova ministra resolve exonerar Francisca e colocar novo diretor… Ai Jesus, é uma calamidade! Protestos de todos os quadrantes, nacionais e internacionais. Comunicado da comissão de trabalhadores, chocada. Convocatória da ministra ao Parlamento. Petição a circular somando mais de 2100 assinaturas. Que capacidade de mobilização!

Pedro A. Silva pedir um tacho para uma camarada partidária não escandaliza ninguém; o novo governo substituir quem andou a fazer fretes ao anterior, isso sim. Isso sim, é um atentado à meritocracia a justificar todas estas reações em cadeia… Ainda por cima, as loas à sua capacidade, competência e resultados, não parecem ter correspondência com a realidade dos factos que começam a vir a público.

Há aqui algo que me escapa.

10 dezembro 2024

Bem Bashar, Mal Bashar


Há cerca de 5 anos, o mundo celebrava o fim (estabilização?) da guerra na Síria, com a derrota dos abomináveis selvagens do “Estado Islâmico” e a manutenção do regime de Bashar al Assad. Certo que não era um santo, até se supunha que teria usado armas químicas contra o seu próprio povo, mas sempre parecia melhor do que os outros fundamentalistas bárbaros. Olhou-se com alguma complacência para os bombardeamentos a civis (não era Gaza) e dir-se-ia que o Hezbollah estava do lado certo da cena.

Hoje celebra-se a queda do ditador e a libertação do país por uns extremistas, bastante mais polidos nas intenções do que os anteriores, mas saídos do mesmo molde. A ver vamos, sendo que se isto se passa com o patrocínio da Turquia a situação não deve ficar fácil para os curdos instalados no nordeste do país.

A Rússia não veio ajudar, encravada na Ucrânia, e o Hezbollah está enfraquecido por ter provocado Israel e corrido mal. De recordar que esta frente foi aberta pelo Hezbollah, em solidariedade com os seus irmãos sunitas de Gaza. Correu mal, porque os sunitas aproveitaram para os correr da Síria, quebrando finalmente o eixo xiita horizontal Irão – Mediterrâneo, que desde sempre foi a questão fundamental na internacionalização do conflito sírio.

Estas celebrações recordam-me as da queda de outro ditador, Sadam Hussein no Iraque, com a diferença de aqui ainda havia forças estrangeiras a tentar forçar a construção de um Estado com instituições normais. Há cerca de um século especulava-se sobre os motivos do declínio e queda do Império Otomano. Cem anos depois, questionamo-nos porque é tão difícil conseguir Estados de Direito (mesmo mínimo) em torno das outrora poderosas e brilhantes Damasco e Bagdad. Algo a ver com a fácil manipulação religiosa das populações? Herança da cultura tribal e dificuldade em estabelecimento de princípios universais de cidadania? O certo é que enquanto uma parte do mundo celebrava e se encantava com a recuperação de uma catedral, aquela outra parte continua com muito dificuldade em ver a luz.

07 dezembro 2024

Votos no vazio


Há algo de comum entre o apoio ao potencial candidato à PR Gouveia e Melo e o recebido no passado por Tino de Rans. É o virem de fora dos circuitos partidários, não viverem no serralho. Apesar do vazio das expetativas quanto à sua capacidade e eventual desempenho como PR, o calceteiro de Penafiel conseguiu mais de cem mil votos. De Gouveia de Melo também pouco se sabe, mas pode vier a ter um resultado interessante, apesar do vazio atualmente existente quanto ao seu pensamento e opções políticas. Diria mesmo que, quanto menos falar, maior probabilidade de sucesso terá.

Esta atração pelo vazio diferente é consequência da repulsa pelo vazio oficial. O normal seria que o PR fosse um senador, sobejamente conhecido e respeitado pelo eleitorado pelas suas ideias e as suas práticas. Alguém sobre o qual pouco vazio pairasse. E, quanto a candidatos com esse perfil, estamos um pouco no vazio.

Não ajudará também o perfil do atual PR, sobejamente falador e opinador, mas em tamanha escala e dispersão, que os excessos e superfluidades acabaram por criar uma outra espécie de vazio.

Portanto, de uma forma ou de outra, perspetivam-se umas eleições assim em forma de vazio. Perigoso.

05 dezembro 2024

App 112


Tem sido notícia os atrasos no atendimento às chamadas de emergência e parece que um dos fatores que faz demorar a gestão das mesmas é a indicação do local da ocorrência.

Felizmente não tenho muita experiência direta nestes casos, mas, até numa chamada para a assistência em viagem, sabemos que pode não ser muito imediata e rigorosa a passagem dessa informação, especialmente quando não se está em local urbano.

Curiosamente, enquanto se pode estar a perder um tempo precioso a explicar a localização, o Mister Google e outros que tais estão “carecas” de saber rigorosamente onde estamos e mesmo mais…

Seria difícil ter uma aplicação para as comunicações de emergência que diretamente passasse a localização? Certo, não funcionaria para chamadas da rede fixa e para quem quisesse manter alguma privacidade. Mas, certamente, para uma grande percentagem de casos seria uma grande ajuda em termos de rapidez e eficácia e precisamente nos momentos em que cada segundo conta.

03 dezembro 2024

Carlos Tavares

Neste último domingo Carlos Tavares bateu com a porta e demitiu-se, ou foi delicada e determinada, direta ou indiretamente, convidado a fazê-lo, ou um pouco das duas coisas.

O gestor que tinha salvo o grupo PSA (Peugeot e cia) da falência, que tinha integrado a Opel e colocá-la a dar lucros depois de largos anos a perder dinheiro, que pilotou a fusão com a Fiat-Chrysler com sucesso, gerando e gerindo um conglomerado de 14 marcas, foi para a rua. Para a rua não literalmente porque o belo pecúlio acumulado nestes anos deve-lhe proporcionar uns telhados simpáticos.

A indústria automóvel, europeia em particular, está a passar por um processo de transformação muito desafiante. Veja-se o caso da histórica e icónica VW, verdadeiramente aos papeis. Segundo os acionistas da Stellantis, Carlos Tavares não estaria a lidar e a gerir a transformação da melhor forma. É possível, quem sou eu para o avaliar, e também ninguém faz tudo sempre tudo certo.

Fica, no entanto, uma palavra de admiração. Há o enorme sucesso da sua carreira, para não dizer extraordinário e, para lá ou por causa disso, a carreira especifica de um homem toda a vida nos automóveis gerir uma empresa de automóveis. Fazem-me um pouco de “espécie” os gestores todo-o-terreno, que um dia estão a gerir uma fábrica de batatas fritas e no dia seguinte podem estar a dirigir uma empresa de computadores.

Há certamente competências transversais e muito especialmente no que diz respeito às qualidades humanas… mas um conhecimento sectorial especifico vertical é/tem que ser uma vantagem. Acho eu…


30 novembro 2024

As frentes de libertação

A tragédia  que estamos a assistir em Moçambique, tem por vilão uma entidade intitulada “frente de libertação”. Este movimento e outros análogos, protagonizaram uma luta pela emancipação de povos oprimidos, evocando projetos de liberdade e de democracia. Poucos foram, no entanto, os que a seguir cumpriram minimamente as promessas e muito especialmente quanto à democracia.

Depois de ganharam a legitimidade de representarem o povo a libertar, adotaram o princípio do “ganhamos, é nosso”. Nos casos de não ter sido possível encontrar unicidade nessa representatividade revolucionária, seguiu-se guerra civil pela primazia “libertadora”. Nestes processos houve, é certo, influencias externas cujo objetivo era basicamente que as populações “mudassem de dono”. Pode ter havido alguma precipitação nos processos de independência, mas o resultado final é muito longe de brilhante e positivo para as populações objeto dessa “libertação”.

Há uma parte disto que é história, que não podemos mudar, mas talvez aprender. A benevolência ingénua com que os “colonizadores” olharam para o que se prenunciava e, apesar disso, daí lavaram as mãos: Querem autodeterminação? Levem-na!

Hoje a discussão não é essa, mas a pobreza do governo de muitas frentes Ex libertadoras é um problema para as suas populações, para a humanidade em geral e para a Europa em particular, onde uma parte da opinião pública ainda se crê devedora de pecados passados, passíveis de expiação recolhendo massivamente as populações desfavorecidas. Não acredito ser isso a preferência deles, nem o melhor caminho para a humanidade, nem para o desenvolvimento desses países. Entretanto, continuamos a lavar as mãos face às barbaridades, não queremos ser acusados de neocolonialismo.


29 novembro 2024

Estou chocado !


Boualem Sansal, na minha opinião um dos mais brilhantes escritores e pensadores da atualidade, de 75 anos, está preso na Argélia, desde 16 de novembro, por “ameaças à segurança do Estado argelino”. O processo pode potencialmente acabar em prisão perpetua.

Qual o crime? Terá dito que parte da Argélia do Oeste pertenceu no passado a Marrocos, inclusive a cidade de Orão e que foi a França colonial que ao definir o território denominado Argélia o separou. Não sei história suficiente para avaliar a afirmação, mas toda a gente sabe, se quiser saber, que antes da colonização não há muitas referencias a um território unificado correspondente a uma boa parte do atual país.

Daí a uma afirmação destas dar prisão preventiva e poder chegar a pena perpetua …!

O escritor engenheiro já tinha sido despedido da função pública pelo que escreveu. Mas não deixou de escrever, com elegância e com coragem, nem de viver no seu país natal, magrebino, apesar de também ter nacionalidade francesa.

Há uma coincidência temporal com uma polémica tomada de posição da França favorável a Marrocos e pouco apreciada pela Argélia, relativamente à eterna questão do Saara Ocidental, que é outro tema… Não quero acreditar que esteja relacionado e que o estado argelino possa prender um intelectual do seu calibre como forma de pressão…

Força Boualem ! Parabéns pela obra! Esta ninguém a tira.

25 novembro 2024

Onde estavas no 25 de Novembro?


Nesta data não houve uma revolução nem um corte definitivo com a tutela do MFA e do Conselho da Revolução sobre a vida política nacional, mas um passo importante para a consolidação de uma coisa chamada democracia e o fim da chamada “legitimidade revolucionária” que tantas ditaduras neste mundo instaurou, quando os (alguns) que lutaram contra um opressor se arvoram em “legítimos” herdeiros e donos do poder…

Do PS incluído para a direita, todos os partidos apoiaram o movimento. À luz das eleições constituintes de abril de 75, cerca 72% do eleitorado. Nas presidências do ano seguinte, o comandante operacional do movimento, Ramalho Eanes, é eleito Presidente da República à primeira volta com 62% dos votos. Ao longo dos anos, a esquerda pró-soviética e a extrema-esquerda nunca foram muito mais longe do que isso; hoje até são bastante menos.

Porque haveria de haver agora polémica com a data? Basicamente porque o projeto de poder do PS, a partir de 2015, inventou um alinhamento de forças e supostos princípios comuns com uma ampla “esquerda”, onde se incluem órfãos de Estaline e admiradores de Maduros… O PS de 1976 e de Mário Soares sabia que o PCP e Cunhal não eram democráticos e, se o espírito democrático permitiu que o PC continuasse a existir e a ir a votos, era importante impedi-lo de concretizar um projeto totalitário (olhe que sim, olhe que sim…)

Portanto, o PS deverá clarificar e definir-se. Ou é democrata, defensor da liberdade e condena inequivocamente os apetites autoritários dos herdeiros de Cunhal, ou assume efetivamente que tem algo em comum com eles e que o alinhamento na esquerda geringonça é ideologicamente genuíno.

Ou, então, deveria dividir-se em dois… senão, parece-me que anda uma metade a enganar a outra. Viva a democracia!

Atualizado a 27/11 com cópia da publicação no Público

21 novembro 2024

Inclusividades

A presidenta foi uma ausenta. Doenta, com febre ardenta. A agenta ficou contenta. Pareces uma estudanta, disse-lhe a tenenta…

E, por respeito a Camões, por aqui ficamos.

Se calhar ainda virá um dia em que se possa dizer que um presidento esteve ausento.

11 novembro 2024

Não ser Trump não chega


A vitória de Trump não é uma boa noticia e dispenso-me de elencar todas as razões já sobejamente enunciadas. Certamente também não será o fim do mundo, uma vez que ele já lá passou 4 anos e ainda cá estamos com as instituições cá e lá relativamente estáveis. Talvez um dos aspetos não negligenciáveis, a prazo, é a degradação de valores cívicos e éticos que uma liderança destas transmite à sociedade. Já houve no passado outros presidentes de princípios “marginais”, mas com a diferença que o escondiam ou conseguiram manter escondido. A menos de Nixon e o seu Watergate.

A surpresa quanto à derrota de Kamala, virá de quem achava que bastava não ser Trump para reunir um largo e maioritário consenso de “gente boa e luminosa”, garantidamente vencedora. E não foi assim. Kamala foi uma vice-presidente muito pouco luminosa e largos sorrisos “dentífricos” não chegam certamente para ser reconhecida como líder.

Enquanto não se encontrar uma terceira via entre o populismo arrogante e boçal e o wokismo arrogado e sofisticado, enquanto as escolhas se mantiveram entre estes dois polos, receio bem que o povo preferirá a arrogância boçal à arrogância elitista.

A “culpa” não é do Trump…

27 outubro 2024

Quando o rei vai nu


O espetáculo que estamos a assistir nos EUA com uma figura chamada Donald Trump, parece saído de um filme de ficção e dos pouco verosímeis. Leio que os Republicanos até já estão a entrar com ações em tribunal para preparar a contestação a uma eventual derrota. Esperemos que as instituições americanas sejam suficientemente robustas para aguentar estas e outras investidas. Uma coisa é ter esse senhor como Presidente, outra coisa é a democracia e o Estado de Direito se degradarem num país com a importância deste…

É chocante como esta figura pode um dia figurar numa galeria ao lado de gente como, por exemplo, Abraham Lincoln ou Franklin Roosevelt. A questão é que não se assiste a uma transição direta de líderes cultos, esclarecidos e verdadeiramente mandatados pelo povo para o interesse do povo, para estes tristes populistas fanfarrões e desrespeitadores das instituições. E também o problema não é específico e isolado dos EUA. Em maior ou menor escala, atacas várias democracias, já que quanto a isso as ditaduras têm problemas de outra natureza.

Se olharmos para as realidades mais próximas, que melhor conhecemos, é forçoso reconhecer a diminuição das qualidades e da seriedade dos líderes democráticos, cada vez mais preocupados com o poder pelo poder e só aparentemente comprometidos com o bem-estar e o desenvolvimento dos seus cidadãos. Digamos que estes “reis” andam a perder peças de credibilidade de forma contínua e irreversível…

E quando se descobre que o rei vai nu… entra o bobo!

Não é questão de ideologia, embora ela possa vir atrás, é questão de dinastia. É apenas descrédito das “famílias reais”…

19 outubro 2024

Para lá das gémeas


O caso das gémeas luso-brasileiras tem uma dimensão enorme e escandalosa, pelo valor do tratamento, pela forma expedita como a ele tiveram acesso, pelo estatuto dos facilitadores e pelo interesse da seguradora que se salvou de pagar um tratamento caríssimo.

Sobre isto, já se sabe o suficiente para serem tiradas as necessárias ilações éticas, políticas e eventualmente criminais. Não é minha intenção agora aqui fazer chover no molhado.

Mas, sem esta proporção, quem nunca apelou a uma ajudinha para ter acesso a um serviço ou ser mais bem tratado no SNS? Quem angustiado face a uma necessidade urgente não hesitou em fazer um telefonema e procurou uma atenção especial para si ou para os seus…? Talvez sobrem poucos para atirar a primeira pedra. Talvez porque, com ou sem razão, ficar na fila comum seja entendido como não suficiente para um tratamento atempado e cuidado.

Mais uma vez, insisto que o caso das gémeas está numa órbitra muita diferente de alguém que telefona à enfermeira de serviço a pedir uma especial atenção com quem está internado na cama X.

Convém realçar que quando se fala em igualdade no acesso e direito à saúde é também disto que se está a falar. O sistema deveria ter eficiência e reatividade para os cidadãos se sentirem confortáveis na fila comum, sem tentações para a furar. Isso seria num país a sério…

16 outubro 2024

Mudar de dono


Com 15 anos de diferença, 2 países tentam sair de uma guerra que, de uma forma ou de outra nunca conseguirão ganhar. Protagonistas, 2 generais.

Sendo o quadro institucional, reconhecimento e poder de De Gaulle na França de 1960 de nenhuma forma comparável com o de Spínola em Portugal em 1974, há alguns pontos em comum, sobretudo na forma como o processo encerrou.

Os movimentos de “libertação” exigiram e conseguiram o estatuto de interlocutores únicos, em seguida adotaram o princípio do “ganhamos, é nosso” e nos casos de haver mais do que uma força em jogo, entraram a seguir em guerra civil mais ou menos longa… Democracia, nem vê-la; pluralidade racial ou religiosa, excluídas.

Talvez que se França e Portugal tivessem tido o discernimento de entenderem os ventos da história a tempo e dirigido o processo noutra direção mais cedo, o desfecho poderia ter sido diferente, não sabemos.

O que sabemos é que, como me disseram noutra latitude e noutra língua, a independência foi “Cambiamos de manos”.

Os povos, em nome dos quais foram levantados os movimentos de “autodeterminação” não foram tidos nem achados e não tiveram a mínima palavra no pós-independência. Mudaram de dono, sendo os novos donos de outra raça ou de outra religião. No final não ficaram necessariamente a viver melhor…

12 outubro 2024

Oportunidade perdida


As crises, com todos os seus transtornos, privações e perdas, podem constituir oportunidades de aprendizagem, mesmo dramáticas e eventualmente tanto mais proveitosas quanto mais dramáticas.

Em 2011, a crise nacional, a intervenção da “troika” e todo o sofrimento que provocou poderia ter sido um desses momentos de aprendizagem dolorosa, mas não foi.

Poderia ter sido clarificado que a origem da crise fora uma governação corrupta e irresponsável e que a saída da mesma tinha sido o resultado do trabalho, empenho e sacrifício de todo o país, Podia, mas não foi… por causa das narrativas criadas.

Argumentar que o nosso colapso foi consequência da crise de 2008 é desde logo a primeira “narrativa” falsa. A crise foi mundial e não vimos todos os países de joelhos a mendigar junto do FMI. Entrar numa estrada de montanha a 140 km/h e despistar-se na primeira curva não é razão para culpar a curva…

A seguir, a perca final da oportunidade vem de outra narrativa. O sofrimento da crise foi devido à maldade da direita (e do Passos) e o alívio do aperto foi mérito da esquerda virtuosa que virou a página da austeridade. Se saímos do buraco em que o “Eng” Sócrates nos enterrou, não foi pelo esforço e sacrifício coletivo do país, mas pela generosidade e bondade do novo inclino de S. Bento.

Nos tempos que correm, parece que o PSD aprendeu a lição. Manter o poder depende de ter mãos largas e “quem mais chora, mais mama”… Trabalhar para criar riqueza que se possa distribuir não é o fundamental. Iremos pagá-lo de novo um dia, porque quem não aprende com os erros, acaba por os repetir.

11 outubro 2024

Pobres libaneses


Pobres libaneses que nascendo no que outrora era considerado a Suíça do Médio Oriente, multicultural e livre, vivem hoje num país destruído, desestruturado e de frágil autoridade.

Pobres libaneses que se viram invadidos em 1970 pelos palestinianos da OLP, expulsos da Jordânia num “setembro negro”, após programarem assinar o rei anfitrião e aí tomar o poder. Seguiu-se uma desestabilização e uma guerra civil, cujas cicatrizes ainda não desapareceram.

Pobres libaneses que a seguiram viram instalar-se no seu país uma organização militar patrocinada e dirigida pelo Irão e que, sem ser controlada nem prestar contas às autoridades libaneses, mais não busca do que violência e destruição.

Podemos entender que os Palestinianos na Cisjordânia tenham capital de queixa pela presença e controlo israelita; mais difícil é entender que a faixa de Gaza, deixada tranquila por Israel desde 2005 queira reacender a sua guerra, mas o Hezbollah? Que argumentos tem para estar há um ano a tentar massacrar o norte de Israel? Ainda por cima, sendo xiitas que ainda não há muito tempo lutavam ferozmente na Síria contra a família sunita onde se enquadra e se alimenta o Hamas?

Que, depois de um ano de ameaças e assédio, consideradas “normais” por uma certa comunidade internacional, agora Israel se defenda proactivamente, é de súbito um “ai Jesus”, que estão a escalar a guerra…?

Podemos e devemos questionar a estratégia de Israel em Gaza, mas que contra-ataque quem o ataca a partir do Líbano sem outra razão nem objetivo que não seja a sua destruição, deveria ser mais difícil de criticar.

Pobres libaneses que não os deixam viver em paz no seu outrora belo país, entre os seus cedros.

06 outubro 2024

(Des)cruzadas


É sempre interessante ver os dois lados, embora, com todo o respeito pelo Amin Maalouf e pelos seus excelentes escritos, do outro lado dos cruzados não estavam árabes, mas sim uma multitude de povos do Médio Oriente e não só. Saladino, o grande herói dos “árabes” que reconquistou Jerusalém aos “francos”, era de origem … curda. Quem diria. Uma etnia hoje não muito acarinhada por quem lhe constrói estátuas e venera como grande herói do Islão.

Árabe era, sem dúvida, o 2º califa, Omar, que conquistara a cidade aos bizantinos em 637, 15 anos apenas após a Hégira e a fundação oficial do Islão.

Hoje em dia associa-se cruzadas a abusos, barbaridades e violentas campanhas de evangelização, mas não é isso que me ficou. A não consolidação da presença latina na zona é capaz de ser precisamente resultado de o seu programa ser muito militar e pouco evangelizador/cultural. As cruzadas procuraram principalmente controlar e aceder à terra santa, nomeadamente Jerusalém. Acessoriamente marcar o poder de alguns papas e dar espaço de conquista a alguns senhores feudais aventureiros, posteriormente mesmo a reis, num caldo de misticismo medieval.

Não deixa de ser algo curioso que na mesma época a reconquista da península ibérica, “arabizada” a partir de 711, tenha sido consolidada a meados do século XIII, enquanto no outro extremo do mediterrâneo tudo acabou no final desse século com a conquista final de Acre pelos mamelucos (já agora, de árabes tinham pouco). Porque é que dois processos com tanto em comum no contexto e no calendário tiveram desfechos tão diferentes?

Falar atualmente em novas cruzadas, a propósito das intermináveis crises no Médio Oriente, é uma expressão sonante, mas oca de significado. Ninguém pega hoje na cruz (ou na metralhadora) para remissão de pecados e garantir acesso ao Paraíso…

Refletir sobre paralelismos e divergências entre processos históricos com o impacto que estes tiveram é um desafio aliciante. Por isso, hoje ficamos sem conclusões.

05 outubro 2024

IRC e IRS jovem

Parece que finalmente, vamos ter um consenso e ver um ponto final na dramática novela da aprovação do orçamento de Estado. Parece…

Independentemente do desenlace final, que desconheço no momento em que escrevo, acho impressionante que as grandes clivagens, opções estratégicas fundamentais e convicções profundas quanto ao programa orçamental do país se resumam a ponto a mais ou a menos em IRC e idade a mais ou a menos no IRS.

Foi/é um triste espetáculo de quem resolveu fazer disto espetáculo, e ponto capital que poderia até levar o país a novas eleições. Obviamente que não está/estava em causa o conteúdo objetivo, mal estaríamos se as grandes opções programáticas fossem estas.

Foi birra de quem queria ter tema de discórdia e pegou nestes, mas, sinceramente, poderiam ter arranjado assunto mais substancial. No resto estão completamente de acordo em tudo? Quanto às grandes opções nos campos económico, social, educação, saúde, justiça não há divergências nem propostas alternativas? Sinceramente…!

 

26 setembro 2024

Uma F1 que já não existe


A foto acima serve para evocar uma F1 que já não existe.

Por um lado, o piloto, Ronnie Peterson, o meu primeiro ídolo. Não teria a consistência nem a racionalidade de muitos campeões, mas tinha entusiasmo, entrega e a simpatia do público. Na época a que se refere a foto até nem foi muito bem-sucedido, mas o malogrado o sueco voador foi e é uma figura acarinhada, à imagem de alguém que depois lhe sucedeu na exuberância, Gilles Villeneuve. Depois deste não consegui acarinhar mais nenhum.

Por outro lado, o carro. 6 rodas?! Hoje, em que se discute a legalidade dos biquinhos das asas, isto seria completamente “ilegal” e banido à luz dos regulamentos que pesam na categoria. Aliás, Peterson passaria a seguir para a Lotus com o fantástico e inovador Lotus 79 e o seu efeito de solo. Se o espírito regulamentar tivesse sido desde sempre o atual, pobre Colin Chapman. Não teria podia ter inovado com o monocoque do Lotus 25, nem o motor estrutural do Lotus 49 e tantas coisas diferentes nunca teriam acontecido…

Se quiserem, façam uma “fórmula modelo único", mas deixem algum sítio onde possa haver criatividade, imaginação e evoluções disruptivas.

Já só falta vermos um dia os pilotos em poltronas de sala a pilotar os carros como drones…

20 setembro 2024

Os cinzentos pagers haram


Como introdução, a expressão “haram” usa-se para caraterizar o que é inaceitável e contrário à lei islâmica, em oposição ao “halal”, o que é aceite e permitido.

Este título e introdução denunciam que o tema é o dos milhares de pagers Hezbollah, acrescentados depois os walkie talkies, que explodiram esta semana nas mãos dos membros, simpatizantes e próximos desse movimento terrorista, “satélite” do regime iraniano.

Aparentemente os pagers eram de conceção (antiga) de uma empresa taiwanesa, licenciados a uma empresa húngara que não tinham instalações industriais. Os rádios também antigos e descontinuados tinham origem original no Japão.

Pelo que vi, não se sabe ao certo onde os equipamentos efetivamente foram efetivamente produzidos, provavelmente numa “grey zone”, mais ou menos oficial, mais ou menos pirateados, mas, pelos vistos, a Mossad saberia.

Para lá das discussões sobre os méritos e oportunidade ou (des)propósito da operação, a mesma põe a nu uma grande fragilidade destes “ativistas”, que é um enorme défice de conhecimento e de tecnologia. De facto, eles apregoam o seu ódio e rejeição a tudo o que Ocidente cria, classificando-o como “haram”, mas, aparentemente, não existem fabricantes nem tecnologias, mesmo com um atraso de algumas décadas, “halal”.

Para lá dos estragos e impactos físicos e morais que a espetacular operação provocou, fica a frustração de não haver pagers “halal”, concebidos e criados conforme os princípios anacrónicos e desunhamos dos salafistas, que querem colocar o mundo a viver como há 14 séculos atrás. Efetivamente, nessa altura não havia pagers, nem outras coisas que, no entanto, eles não prescindem de utilizar nessa missão do “ò tempo volta para trás”. Tem lógica? Depende…

31 agosto 2024

Pobres palestinianos


Pobres palestinianos de Gaza onde tantos estão a sofrer o que nenhum ser humano deveria sofrer. Mas, como dizia até o insuspeito Guterres, isto não nasceu do nada, nem começou no dia 8/10/2023. Vejamos.

Pobres palestinianos que na sequência da constituição do Estado de Israel foram empurrados para uma guerra pelos seus vizinhos árabes. Pobres palestinianos que após perderem essa guerra, viram a sua parte da Palestina ocupada pela Jordânia e pelo Egito, em vez de os terem deixado constituir livremente o seu Estado, logo naquela altura.

Pobres palestinianos deslocados que, em vez de se integrarem no novo espaço, foram colocados ad-eternum em estatuto de refugiado, a caminhar já para um século. Os gregos ortodoxos ameaçados que fugiram da Ásia Menor após a formação do novo país Turquia, ainda estão em campos de refugiados do outro lado do mar Egeu?

Pobres palestinianos de Gaza que deixados tranquilos pelos Israelitas por quase 2 décadas, viveram numa prisão, num regime ditatorial severo, sem liberdade de expressão, nem de contestação, donde não se podia sair livremente, nem para o Egito, mas onde podiam entrar camiões plenos de armamento. Pobres palestinianos que viram a larga ajuda externa servir para preparar a guerra em vez de tentar construir a paz e promover o seu bem-estar.

Pobres palestinianos que depois das iniciativas e acordos de paz com os países árabes e a próprio OLP sofrem agora um Hamas, que não tem um mínimo de vontade de encontrar um apaziguamento. E, vai uma aposta, se o Hamas acordar em calar as armas, aparecerá a seguir outra coisa qualquer para retomar a guerra?

Pobres palestinianos que viram o Hamas organizar e desencadear o brutal 7/10, que não teve mais propósito ou efeito do que provocar uma reação brutal do vizinho ameaçado.

Para que fica claro, para quem leu até aqui, Israel tem fama de responder desproporcionalmente e não está a deixar os seus créditos por mãos alheias. Infelizmente a qualidade humana dos seus líderes não está ao nível da dos de há umas décadas (não é só por lá), mas colocar o ónus do sofrimento palestiniano apenas ou principalmente em Israel não ajuda a causa do povo palestiniano.

E, já agora, uma palavra para tantos povos no mundo que estão a sofrer tanto ou mais do que os palestinianos, sem que isso pareça ser relevante para as opiniões publicas publicáveis.

28 agosto 2024

Cronometrando as diferenças

Por estes dias irão começar os jogos paraolímpicos em Paris.

Começando por reconhecer e valorizar o empenho e o esforço daqueles que, apesar de uma desvantagem nascida ou posteriormente recebida, não baixam os braços e procuram ir mais longe e superar-se; continuando por louvar a justiça que esse(a)s bravo(a)s tenham um evento e um local onde possam mostrar ao mundo o resultado do seu ânimo e trabalho, fica-me a questão do cronómetro.

Será que a avaliação e a premiação se podem restringir ao cronómetro (ou pontos marcados), será que o ponto de partida de cada um é suficientemente equitativo, especialmente neste meio com tantas diferenças?

Se pensarmos, por exemplo, nos paraplégicos, parecer ser consensual reconhecer que a desvantagem é bastante uniforme e bem definida. Outros casos, nem tanto, mesmo sem entrar em situações claramente desonestas e aldrabadas. Em Sidney 2000, a seleção espanhola de basquetebol com deficiência mental ganhou a medalha de ouro, cilindrando os adversários porque, dos 12 jogadores, apenas 2 eram realmente deficientes; os outros 10 eram perfeitamente normais, até jogavam em competições “normais” e foi a própria federação quem criou a trafulhice para ter sucesso garantido - que verguenza ò hermanos !!

Diferentes pontos de partida, em que a sorte e a genética resultem em vantagens menos devidas ao mérito, existem, mesmo nas competições “normais”. Imane Khelif, a polémica boxeur argelina, pode ser perfeitamente uma mulher biológica, mas há ali hormonas ou outra coisa, nascidas ou acrescentadas, que lhe dão uma vantagem brutal, face às outras competidoras…

Sem dúvida que o sucesso tem uma parte de inspiração ou genética e uma enorme componente de transpiração. Sem suor, não se vai muito longe, mas, neste caso concreto dos paraolímpicos em particular, o juiz apenas cronómetro parece-me ser potencialmente cruel.

 

27 agosto 2024

Foi ontem


Já disse aí para trás e agora repito que o Glosa Crua não vai muita nessas coisas das efemérides. Mas há sempre exceções e, como a data até foi ontem, fica justificado.

Ontem, a 26 de agosto, fez 36 anos que faleceu Carlos Paião, com apenas 30 anos de vida. Certo que este escritor de canções nunca teve o reconhecimento de outros “monstros sagrados”, mas, passado mais tempo da sua morte do que o tempo da sua vida, não restam dúvidas de que há algo a reconhecer.

Certo que as suas canções não tiveram pretensões de intervenção social ou complexidade formal de outros autores, mas … tão pouco se podem aproximar da básica e grosseira banalidade das canções de outras “variedades”.

Há uma simplicidade e elegância nas suas criações que não aparecem por acaso. No caso particular das letras, que sei avaliar melhor, há apuro e o trabalho de algo que não foi feito em cima do joelho.

Por isso há festa não há gente como esta
Quando a vida nos empresta uns foguetes de ilusão
Vem a fanfarra e os miúdos, a algazarra
Vai-se o povo que se agarra pra passar a procissão
E são atletas, corredores de bicicletas
E palavras indiscretas na boca de algum rapaz
E as barracas mais os cortes nas casacas
Os conjuntos, as ressacas e outro brinde que se faz

Obrigado Carlos pela festa que quiseste fazer e por teres decidido deixado de ser médico para dares alegrias ao mundo.

E vai à nossa
À nossa beira mar
À beira Porto
À vinho Porto mar
Há-de haver Porto
Para o desconforto
Para o que anda torto
Neste navegar

26 agosto 2024

Em V ou em O


Há organizações estruturadas em "V". Com liderança e hierarquia claras, estruturas alinhadas, perseguindo objetivos bem definidos, unidas com relações de confiança transparentes e sãs. Cultivam exigências a 360º, de cima para baixo, de baixo para cima e também para os lados. Movem-se como um todo, com a agilidade e a eficácia de uma águia.

Há outras organizações em "O", onde o fundamental é o círculo estar fechado e as “retaguardas” protegidas, sendo fundamentais as fidelidades tribais acríticas. A dinâmica é secundária, o fundamental é garantir que não haja brechas por onde algo imprevisto possa entrar e ameaçar as ditas retaguardas.  O importante é conseguirem resistir ao cerco que a meritocracia lhes pode colocar. Movem-se de forma pouco definida, a lembrar um caranguejo desconfiado.

Como é lógico, as águias chamarão um figo aos caranguejos. Sempre? Não necessariamente. Quando a cultura dominante e a preferência pelo abrigo em zonas de conforto levam à proliferação das estruturas caranguejo e à rarefação das águias. Aliás, frequentemente, as carências de liderança fazem aparecer vários caranguejos na mesma organização. Será certamente um meio rasteiro onde a vista pouco alcança e que não viaja muito longe, mas… há quem se sinta melhor assim.

21 agosto 2024

Brincamos


A imagem acima é um pouco “mazinha”, mas justifica-se pela falta de seriedade com que se tem tratado a questão do risco de incêndio nos automóveis elétricos.

São referidas estatísticas evidenciando que os automóveis tradicionais de combustão têm um risco até 60 vezes superior ao dos elétricos, mas a questão é que essa estatística é baseada apenas em número de incidentes e todos sabemos que quanto a quantificar riscos e acidentes, há um índice de frequência, número de ocorrências, e um índice de gravidade, considerando os seus efeitos.

Um dia em que há dois despistes que acabam com os carros num campo de batatas não é pior do que um dia em que um único despiste terminou numa paragem de autocarro em hora de ponta.

O contexto e os efeitos dos incêndios nos automóveis de combustão são muito diferentes do dos elétricos. Se compensa a “desvantagem” numérica das 60 vezes é outra coisa, mas ignorá-lo não é sério.

Tipicamente um automóvel convencional incendeia em funcionamento, com alguém ao volante ou perto, que facilmente encosta e, se tiver a previdência de ter um extintor à mão talvez consiga apagar o incendio, e, no pior dos casos, sem arder mais do que o veículo em causa e algumas ervas à volta.

Um elétrico detona frequentemente estacionado e abandonado, a carregar ou não, e não é bem um simples incêndio, é uma brutal explosão alimentada a partir da parte inferior do veículo. Não se apaga, confina-se, e ocorrendo frequentemente em zona densamente ocupada, dificilmente esse confinamento fica pelo veículo inicial.

Daí que o balanço final de cada ocorrência seja potencialmente muitíssimo mais pesado no caso dos elétricos.  Vai uma aposta em que, apesar de todas as mensagens tranquilizadores e estatísticas favoráveis, iremos acabar a ver estações de carga com distâncias mínimas entre veículos regulamentadas ou até muros individuais corta-fogo…?

19 agosto 2024

Desvendando labirintos


Já algumas vezes aí para trás tive a oportunidade e o prazer de referir o quanto aprecio a obra deste escritor libanês (ok, quando ele lá nasceu a zona tinha administração francesa).

Para lá dos seus romances históricos ricos e “humanos”, estamos perante alguém que pensa e com uma latitude de análise que alarga a nossa, caso nisso estejamos interessados. Este “Labirinto dos Perdidos”, sua última publicação, não é romance nem está centrado no seu Levante (Mashrek).

É a história dos sucessos e fracassos de quatro nações cujas transformações mais marcaram o século XX: Japão, Rússia, China e Estados Unidos. O que houve de novo em cada processo, o que fez o a diferença e o sucesso, onde os caminhos se perderam, como os erros chegaram.

É um livro obrigatório para quem tiver curiosidade em entender o que por este mundo está a acontecer… e pode vir a acontecer. Muito bom!

18 agosto 2024

KURSKando

Temos visto recentemente noticias sobre esta cidade e região na Rússia, a propósito da audaz ofensiva ucraniana de fazer sentir a guerra também na casa do outro. Ficamos na expetativa do que vai a seguir fazer Putin, humilhado. Os arrogantes humilhados e impotentes são sempre perigosos imprevisíveis…

Não será a primeira vez que muitos ouviram este nome. Em agosto de 2000 um submarino nuclear russo com o mesmo nome foi vítima de uma expulsão de um torpedo, afundando-se e matando todos os tripulantes. Uma vintena de sobreviventes à explosão inicial acabaram também por morrer, por incapacidade, incompetência, falta de meios e soberba da Rússia que se recusou a ser ajudada a tempo. Na altura Putin, recém-eleito Presidente, foi criticado pela forma arrogante e fria como geriu a catástrofe. Na altura ainda era possível criticar.

E porque é que o submarino se chamava Kursk?  Porque próximo desta cidade travou-se em Agosto de 1943 uma grande batalha, que terminou com a vitória soviética e marcou o fim das iniciativas alemãs na frente leste da 2º Guerra Mundial.

Talvez, para alguns russos, seja uma espécie de repetição da “Grande Guerra Patriótica”. Em volta de Kursk haverá uma batalha entre invasores nazis e patriotas soviéticos. Só que esta suposta repetição é já do domínio da farsa. Para todos os que acreditavam que o fim da guerra 39-45 era um passo irreversível no caminho da liberdade e democracia, para todos os que nos anos 70 viram desaparecer os caudilhos ditadores do sul da Europa, para os que em1989 viram cair o muro que amordaçava metade da Europa, para todos os que acreditavam que mais depressa ou mais devagar o caminho tinha uma direção clara, esta Rússia brutal e desumana veio demonstrar que esse caminho não é assim tão irreversível.

O que está em causa não deveria ser objeto de “nem mas nem meio mas” por parte das gentes de boa vontade, que acredito serem a maioria...

Todos aqueles que se recusam a reconhecê-lo, estão a prestar um péssimo serviço à humanidade e trabalharem para deixarem aos próximos um mundo pior do que o que encontraram quando chegaram.


11 agosto 2024

Judeus, israelitas e Netanyahu


Uma das caraterísticas da xenofobia e de outras limitações cognitivas e/ou desonestidade intelectual é a generalização de um negativo individual para o global da comunidade. Há um Xieiro que cuspiu para o chão? Os Xieiros são gente que cospe para o chão. Há nazis na Alemanha, a Alemanha é terra de nazis. Há manifestações racistas na Inglaterra… os ingleses são racistas. Esta generalização será tanto mais fácil e intensa quanto menor for o conhecimento efetiva da realidade objetiva e facilidade manipulativa. Já agora, antes de 1974, os portugueses eram todos fascistas?

Isto vem a propósito do antissemitismo que ressurge por estes tempos, supostamente na sequência da intervenção de Israel em Gaza. Claro que a ação de Netanyahu em Gaza tem aspetos condenáveis, claro que o indecente ataque de 7/10 “obrigava” a uma reposta e claro que, atendendo à forma como o Hamas faz das populações civis escudos humanos, essa resposta afetaria certamente inocentes.

Agora, Israel é um país onde há quem discorde de Netanyahu e pode demonstrá-lo livremente na rua sem ficar com ossos partidos ou pior. E assumir que todos os judeus aplaudem e apoiam os excessos do poder atual em Israel e com isso relançar um antissemitismo global é ignorância, estupidez ou pior.

Convém recordar que todas as guerras Israel – Palestino/árabes não foram provocadas por Israel e quem lança uma guerra e perde, perde …. Convém recordar que a faixa de Gaza esteve livre, se é que para um território sob o controlo do Hamas essa expressão possa ser usada, sem presença de ocupante israelita, desde 2005…

Enfim, a facilidade com que se abraça o antissemitismo é um reacender de coisas que infelizmente não querem desaparecer. É rancor e ódio contra uma comunidade diferente e invejada por ser frequentemente próspera? É a nostalgia dos estados nação religiosamente homogéneos onde outros credos fugiam ao controlo e promiscuidade entre religião e Estado? Isto e ou muito mais, é triste e, desculpem lá uma ironia final. Frequentemente aqueles que pedem todo o respeito e tolerância para alguns “outros”, que até apresentam códigos sociais incompatíveis com a nossa norma, são os mesmos que lançam este ódio contra estes “outros” que não atrapalham rigorosamente nada nem ninguém na nossa sociedade. Descubra as diferenças…

23 julho 2024

A Inapa


Esta empresa, prestes a fechar as portas, para muitos será uma empresa como outra qualquer, a sofrer da lei natural das coisas, para mim é um pouco mais do que isso.

Nos finais da década dos 80, a Inapa, contratou-nos um projeto pioneiro, um dos mais arrojados da nossa equipa na altura. Uma empresa que acreditou na capacidade da engenharia nacional, em domínios por nós nunca dantes navegados. Nos finais dos 90, uma atualização desse projeto foi dos maiores geradores de insónias que já experimentei.

Podemos questionar o racional estratégico de abandonar a componente industrial e de se centrarem na simples distribuição, quando o papel de impressão e escrita está já há muitos anos em declive descendente, sem perspetivas de inversão. Também não acompanhei a evolução da situação acionista e aprendi agora que o Estado, via Parapública, é o principal acionista.

Não parece ser difícil concordar que neste momento os milhões que faltam não serão uma ponte para um futuro risonho, mas antes um adiar do problema e quanto mais tarde, mais caro.

Agora, o que se pode questionar é o sentido de o Estado direta ou indiretamente ser acionista de referência de este tipo de empresa. Por este “tipo” refiro-me a empresas que não funcionam em meios protegidos e estáveis. Refiro-me a empresa que precisam de lutar e de se reinventar. Parece lógico que um acionista “normal”, dono e responsável pelos seus fundos, teria forçado algo com tempo, quanto mais não fosse a alienação da empresa antes de chegar a estes pontos. Assim, é um pouco o “não faz, nem deixa fazer” (há uma expressão menos polida para esta imagem…).

Se dúvidas houvesse, é mais um exemplo que isto não são missões para o Estado.

09 julho 2024

De vitória em vitória até…


Uma larga frente, dita democrática e republicana, provocou e festejou em França a derrota da extrema-direita nas eleições deste passado domingo. Para começar, o RN tem muitos defeitos, mas nunca o vi questionar o regime republicano nem eleições e respetivo resultado. Começar por essa (não) caraterização é desde já estar a avaliar mal a questão.

Houve uma larga conjugação de forças sim, para derrotar RN, numa amplitude que em Portugal equivaleria a ir do CDS até ao PC e BE. A questão é que esta vitória não consolida nada. Em muitos círculos, mesmo assim, o RN perdeu por 40 e muitos por cento.

Tem razão Marine Le Pen quando diz que se não foi desta, será a seguir, é apenas uma questão de tempo. O vento sopra nessa direção e, continuando assim, isto é coisa de vitória em vitória até à derrota final.

Será dramático para a França e para o projeto Europeu uma vitória de um extremismo, sendo que os de esquerda também não são inócuos. Há aqui um exercício difícil entre compreender e atender às expetativas dos eleitores e fazê-los compreender os efeitos negativos a prazo das propostas populistas e extremistas. É necessário ter inteligência, seriedade e autoridade moral reconhecida, coisas que não abundam no panorama político atual. Independentemente da complicação de governação que se seguirá, este resultado é positivo, mas celebrá-lo não chega.

07 julho 2024

A Memória dos Dias

 

Correste a dizer que o dia vinha às portas da saudade

E cobriste de mil flores as varandas da cidade

Ao cantar enrouqueceste mil canções feitas à toa

Dançaste todas as ruas embriagadas de Lisboa

Leste os clássicos do tempo como toda a novidade

E a sonhar adormeceste no prazer da liberdade

Inventando mil amigos

Esquecendo velhos perigos


Não foi ontem que Fausto nos deixou fisicamente, mas as suas canções ficarão para sempre nas nossas memórias e nos nossos dias. Vi-o 3 ou 4 vezes em concertos, o último dos quais o “Três Cantos”, mas, mais do que ver, há ouvir e continuaremos a ouvi-lo.

Bastam uns poucos primeiros compassos para identificar o cantante autor em cada canção. Se “Por este rio acima” é a obra completa, não faz esquecer a magia do “Despertar dos Alquimistas” ou a delicadeza do “Para além das cordilheiras”.

 Pela beleza das melodias, pela doçura da voz, pelo brilho das orquestrações, pela riqueza das palavras, Fausto ficará na nossa memória para todos os dias e no património cultural de Portugal para sempre.

Vêm do fundo da paz da terra os sonhadores…

06 julho 2024

Acho que… será que…?

O exercício de “achar que”, assim tipo palpite, sem conhecimento profundo do contexto é caminho perigoso… frequentemente a realidade não corresponde com o que a ignorância imagina… De forma que eu achar algo relativamente ao futebol é perigoso e será prudente passar para a forma interrogativa.

Será que tenho razão ao achar que uma grande parte dos jogos do Euro2024 têm sido chatos e enfadonhos?

Será que no passado havia/era dado mais espaço a jogadores virtuosos que fintavam em série e emocionavam o público?

Será que excessos de individualismo e desenvolvimento de táticas e estratégias, com prioridade com circulação ao primeiro toque mudaram o paradigma?

Terá sido principalmente a partir do Barcelona de Guardiola que passou a ser mais importante o jogar em equipa, dando mais relevo ao papel do treinador e conseguindo resultados razoáveis, mesmo para equipas sem vedetas?

Será que as táticas de defesa evoluíram e aquela coisa de fazer um carrocel à frente da área, esperando provocar uma desconcentração e uma falha no adversário já não funciona?

Será que sem iniciativas virtuosas, este esperar por uma falha que não aparece é o que torna os jogos enfadonhos, em que se prefere a segurança de trocar a bola sem avançar, a correr o risco de um contra-ataque?

Pois, não sei, mas a França chegar às meias-finais com 3 golos marcados, 2 de autogolo do adversário e um de penalti, sem um único golo marcado em jogo corrido deve ser algo inédito.

 

Quitte ou double

Enquanto se achar que a razão do crescimento da extrema direita está na extrema direita...

01 julho 2024

Quitou, não dobrou


A estratégia ultra-arriscada de Macron de provocar eleições antecipadas em França foi um tiro de bazuca que saiu pela culatra. Sendo óbvio que a extrema-direita iria repetir o sucesso das europeias, qual era a ideia?

As contas do presidente devem ter tido em consideração o fato de se tratar de umas eleições a duas voltas e, sendo fácil gerar uma larga frente contra esses vencedores inoportunos, haveria grandes hipóteses de os segundos saírem reforçados e acabarem por ficar à frente na segunda volta.

O que baralhou as contas foi a criação de uma larga geringonça francesa onde o líder não parece ser o tradicional PS, mas sim o “insubmisso” Jean Luc Mélenchon, que advoga a saída da França da Nato, eventualmente da EU, tiques de antissemitismo, além de outras particularidades e excentricidades, muitas delas comuns às da cartilha de Le Pen. Acontece que foi essa geringonça quem ficou em segundo e serão os seus candidatos a receberem o voto útil contra a extrema-direita.

Portanto, o partido do presidente vai mingar e os pobres franceses terão de optar entre Le Pen e Mélenchon. Não lhes invejo o dilema!! Se a primeira opção constitui um perigo para a França e para a Europa, a segunda também tem riscos que baste …

Acho curiosas as eloquentes declarações de opção de desistência dos terceiros, para ajudar a combater a extrema-direita. Numas eleições a duas voltas, os terceiros têm direito a opção!?

30 junho 2024

Quitte ou double


França é um país que gosta de ideias, mas também alinha facilmente atrás de líderes fortes, que se impõem mais pelo carisma, do que pelas mesmas. Mesmo sem recuar aos tempos de reis solares ou de imperadores autoritários que confiscaram regimes republicanos, todos com boa aceitação popular, tivemos muito recentemente um tal de “mon general” De Gaulle, que na ressaca da traumática participação francesa na II G Guerra, fundou um partido pessoal e um regime com um nível de poder concentrado no presidente de fazer inveja a muitos reis, mesmo reinantes.

Emmanuel Macron, noutra escala certamente, é também alguém que aparece, funda um partido e que toma o poder, muito mais assente na sua personalidade do que numa ideologia. Não está a correr bem, se bem que não é fácil imaginar quem ali podia fazer melhor. No top 3 das últimas presidenciais, nos alternativos, entre Le Pen e Mélenchon, que veja o diabo e não escolha.

Depois das últimas europeias e respetivo descalabro, Macron resolveu jogar o “quitte ou double”. Efetivamente se quisermos excluir xenófobos, putinistas, anti-semitas e irresponsáveis “iluminados”, só mesmo o partido presidente apresenta alguma razoabilidade e racionalidade. Vamos a ver o que a razão dirá este domingo,

27 junho 2024

SOS Automóvel


Nem sei bem em que canal passa, nem os dias exatos, mas quando o zapping por lá passa, obrigatoriamente para. Carros…

Para lá das mecânicas, dos detalhes e especificidades das reconstruções de veículos de outras eras, alguns de que nos recordamos de ainda ter visto na estrada, há algo mais. Há a relação dos mesmos com os seus donos. Um carro da família, mesmo que esteja há anos abandonado e degradado, é parte da família. Daí, tantas imagens emocionantes de proprietários e famílias quando reencontram o “seu” carro, tal como um ente querido que esteve longe em viagem e que, surpreendentemente, a casa retorna.

Um carro da casa, talvez mais antes do que agora, quando duravam mais tempo, não é apenas uma coisa que se move sobre rodas. É um repositório de experiências e de vivências. É um símbolo de um tempo e de uma fase das vidas. Tendo no passado os carros especificidades e personalidades mais marcadas e distintas do que hoje, mais intensa é essa memória.

Por estes lados, sem a projeção mediática nem o financiamento do “SOS”, fiz recuperar o carro especial que tinha sido do meu avô desde 1974. Um 124 “Special T”. E recordo-me dos sorrisos que no final provocou...        

Reportagem aqui

12 junho 2024

O tamanho do S Gonçalo


Entre os vales do Cávado e do Neiva, há um ponto culminante, próximo dos 500 m de altitude, com uma vista enorme e abrangente a partir de lá, sendo também visto de “todo o lado” com a sua a torre de observação e antenas.

A primeira vez que lá tentei chegar a pedalar, foi numa tarde de verão tão quente que fiz meia-volta a menos de metade, ali pelo monte do Castro. De uma segunda vez, mais recente e mais pela fresca, fui um pouco mais acima, mas a combinação do declive com a irregularidade do terreno é tal que torna a coisa um pouco difícil. Aliás, o percurso sinalizado será quando muito para subir a pé e para quem não receia torcer um tornozelo. Foi esta combinação e “incapacidade” que me deu a motivação (e a justificação!) para comprar a elétrica.

Tanto assim, que após uma primeira volta de ambientação, a segunda saída foi subir ao S. Gonçalo, com a coisa melhor estudada, pelos estradões e não por leitos de ribeira secos…  Aliás, com a assistência elétrica no mínimo, já é um bom treino ir por ali acima.

 Mais do que altitude e da vista lá no ponto final, o que fascina é a dimensão daquela área enorme, sem uma casita para amostra. Há estradões que sulcam o monte em todas as direções e a sensação de que dificilmente se passará por todos os cantos e recantos. Liberdade é um pouco isso, também, não? Haver sempre algo por descobrir.

E a uma distancia de uma dúzia de quilómetros da base.., ou umas dúzias de pedaladas.



04 junho 2024

Afinal havia outra…

Ao vermos a horrorosa imagem de Luis Camões na moeda comemorativa dos 500 anos, imaginamos que será uma “experiencia” única, sem antecedentes nem subsequentes, tão consensual parece ser o absurdo e o ridículo de tal representação.

Mas não, afinal… havia outra!

No átrio principal do Palácio de São Bento, no nosso mui nobre Parlamento português há uma escultura, do mesmo artista, largamente aparentada com a moeda. Presumo que tenha dado direito a um bom desconto na conceção da segunda “obra de arte”…!

Aqui podem ver uma tentativa de explicação da mesma, mas apenas para quem for mesmo muito intelegentio…