18 agosto 2014

Envelhecer ou morrer ?

O Grande Jacques era um brincalhão. Gostava de trocar as voltas às coisas e ás palavras. No seu último álbum histórico que já referi aí para trás, há um tema chamado “Envelhecer”.

No momento em que ele o escreveu e cantou, já sabia que não morreria de velho, mas sim pelo "apito de árbitro”. No refrão há uma frase forte “Morrer não é nada, mas envelhecer, ó envelhecer”. Lendo, no entanto, com mais atenção… não é bem assim. Ele bem o apito trocaria por morrer de velho, mesmo sendo um mau negócio. Quem não… ?

Aqui está em tradução livre.

Morrer, corando, conforme a guerra que há
Devido aos alemães, por causa dos ingleses
Morrer de beijo inteiro entre os seios de uma gorda
Contra os ossos de uma magra, no fundo de um calabouço
Morrer de um arrepio, morrer de se dissolver
Morrer de se sapar, morrer de se dissolver

Ou terminar a corrida na noite dos seus cem anos
Velhote estridente, erguido por algumas mulheres
Pregado à Ursa Maior, cuspindo o seu último dente
Cantado “Amesterdam” !
Morrer, não é nada
Morrer, grande negócio
Mas envelhecer, ó envelhecer

Morrer, morrer de rir, é talvez possível
Aliás a prova é que eles já não ousam muito rir
Morrer fazendo de palhaço, para alegrar o deserto
Morrer face ao cancro por apito de árbitro
Morrer debaixo do cobertor, tão anónimo
Tão incógnito, que morre um sinónimo

Ou terminar a sua corrida na noite dos seus cem anos…

Morrer coberto de honras, num rio de prata
Asfixiado sob as flores, morrer em monumento
Morrer no fim de uma loura, onde nada acontece
Onde o tempo nos ultrapassa, e a cama cai em túmulo
Morrer insignificante, no fundo de um chazinho
Entre um medicamente e um fruto que fenece

Ou terminar a sua corrida na noite dos seus cem anos…

Morrer, não é nada
Morrer, grande negócio
Mas envelhecer, ó envelhecer

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