23 outubro 2013

Uma grande incorrecção moral

Ficará certamente para a história o eufemismo de Rui Machete. Ao chamar “incorrecção factual” a uma afirmação que falta à verdade, esta não deixa de ser uma mentira. Cavaco Silva resolveu também dizer que nada tinha tido com o BPN, para lá do depósito de algumas, parcas, poupanças. Ora bem, todos sabemos que teve acções da dona do BPN, que as comprou e revendeu à própria, com um lucro absolutamente injustificado e sem substancia económica que o sustentasse. Uma “esmola” enorme da qual ele, reputado economista, aparentemente, não desconfiou minimamente. Da forma como foram transaccionadas, aquilo não eram acções reflectindo melhor ou pior um valor económico subjacente, eram uns simples vales nos quais o Sr. Oliveira e Costa colocava um valor ao seu livre arbítrio.

Essa prenda oferecida simpaticamente pela SLN/BPN, é uma parcela, pequena em valor mas enorme em significado, do enorme buraco que andamos todos a pagar horrivelmente. Cavaco Silva não demonstra sequer a humildade e o discernimento de assumir: “Aceitei, mas reconheço que algo estava errado no processo!”. Se quisesse ter alguma grandeza, até podia, de alguma forma devolver, esse lucro. Mas não, está tudo correcto e formalmente irrepreensível. E eu fico arrepiado de pensar que se amanhã houver um novo BPN, tudo isto pode acontecer de novo porque não houve nada de errado. Isto é assustador e mau demais para ser verdade!

21 outubro 2013

Uma desgraça,,, !

A minha conta principal de correio electrónico é da Yahoo. Provavelmente muitos torcem o nariz: “Que é isso?!?”. Pois… Não tenho registo do meu registo, mas pelo menos desde 1999 que lá estou, donde que, contas redondas, uma quinzena de anos. E com letra mais grossa, menos grossa, mais ou menos facilidade de criar e manter pastas as pastas, ele não mudou assim tanto. Pelo menos numa coisa importante: a individualidade das mensagens – uma mensagem enviada ou recebida é um registo individual com o respectivo cabeçalho e perfeitamente isolada.

Para minha desgraça, mudou para uma forma mais moderna, em que, suponho, o objectivo é facilitar o acesso à informação. Tem aquela coisa de juntar as mensagens em conversas, de forma mais ou menos empastelada, e em que aparecem uns “eus”, Zés e Antónios, agregados às três pancadas. Hoje queria enviar uma carta para o Público. Habitualmente pego na mensagem anterior idêntica, faço “resposta a todos”, limpo o que tenho a limpar, anexo o texto e lá vai. Desta vez ao abrir o que pensava ser uma simples mensagem, nasce-me uma “conversa” com 90 entradas, lá com os “eus e os outros” a granel… Vá lá que ao longo dos anos mudei qualquer coisa, senão daria mais de 300! Ao tentar criar a nova mensagem, fiquei literalmente sem saber em que sitio dos 90 estava a escrever e se estavam a ir todos agarrados, ou não.... Só depois de 3 rascunhos é que consegui, achei eu, concluir o processo… Quase! Do Público responderam-me a dizer que o texto supostamente em anexo não tinha chegado apesar de nos meus enviados ele estar lá! Enfim… conversas desalinhadas…

Sinceramente, pode ser retrógrado da minha parte mas esta mania das máquinas acharem que adivinham o que nós queremos e nos conduzirem/formatarem irrita-me sobremaneira. Nota para quem entender: eu comecei a minha actividade profissional a colocar programas em hexadecimal em eprom’s virgens, ou seja a controlar tudo!

E se o correio da Yahoo quer ficar igual ao Gmail, quem fica a ganhar é este!

14 outubro 2013

Do que se foram lembrar…

A ideia que o Governo teve de arredondar para cima a famosa contribuição audiovisual para o pessoal dar uma ajuda suplementar à RTP, sem passar pelo orçamento de Estado, nem foi má de todo. Veio-nos recordar que essa taxa ainda existe. Do eventual desalinhamento entre pagadores e utilizadores nem vale a pena falar. O importante será falar sobre o princípio. Eu não me importo de contribuir para um canal próximo da actual RTP2, independentemente do enquadramento dessa contribuição. Agora, a RTP1 actual, não a distingo dos outros canais puramente comerciais. Recordo um estudo de mercado recente que recomendava à RTP ter menos informação e mais entretenimento, ao que esta concordou, tendo manifestado a intenção de passar a ter uma “grelha mais divertida”. Aproveito para sugerir um programa, divertido e basta-me sugerir com o título: “Famosos em cuecas!”. Sucesso garantido e como nem cobro direitos, acredito ser possível poupar os impostos dos contribuintes nessa produção e sem ser necessário criar uma outra taxa no gás ou nos telemóveis.

Um detalhe muito curioso é a dita taxa, que não corresponde a um produto ou serviço de consumo, ser objecto de IVA. Eu não sou fiscalista, mas cheira-me, e muito forte, que é abusivo aplicar este imposto a esta taxa. Eu sei que se não fosse por aqui, sacariam de outra forma e, se calhar, em termos líquidos, o resultado final seria o mesmo. No entanto, é importante que os conceitos e os princípios não sejam manipulados tão descaradamente. E, já agora, espero bem que esta minha reflexão não dê ideias de aplicar o dito cujo IVA a outras taxas e impostos, porque, aí sim, daria para RTP’s e muito mais!

08 outubro 2013

Imigração, misérias e responsabilidades

A recente tragédia nas costas de Lampedusa, foi isso mesmo: uma tragédia. Daí a pretender que estes acontecimentos deveriam fazer a Europa repensar a sua política de imigração, é estabelecer uma relação causa-efeito que me ultrapassa. A larga maioria dos africanos que tentam entrar ilegalmente na Europa, não são refugiados em busca de liberdade. São imigrantes económicos que desistiram dos seus países. E, como é evidente, a Europa não consegue evitar que, algures no norte de África, 500 pessoas se atirem para dentro uma embarcação precária, nem pode abrir as portas sistematicamente a esses 500, 5 mil ou 5 milhões.

Repito e insisto: o que se passou em Lampedusa foi uma tragédia que impressiona pela concentração, por ter ocorrido num acontecimento único. Muitos outros 400 já faleceram e de infelizmente muitos outros se seguirão. Outros milhares morreram e morrerão nos seus países de origem. Isto é um problema da humanidade, não é de hoje nem de ontem e não tem solução feita à pressão sob a emoção da visão dos cadáveres alinhados.

Dizer ou argumentar que neste naufrágio há uma falha da Europa é uma postura típica de uma certa Europa paternalista, mas é preciso ser claro: a responsabilidade básica por esta tragédia é dos traficantes que embarcam os africanos nestas condições, ajudados pela ignorância/ingenuidade de quem assim é enganado.

Em complemento, há também responsabilidades claras dos (des)governos nos países de origem, que potencia o fenómeno, Ainda, e do ponto de vista geo-político, podemos dizer que a Europa se calhar não fez tudo o que podia para os estabilizar, mas não está sozinha nesse campo. Junte-se, pelo menos, os EUA, a Rússia, o Brasil e a China. Colocar o custo destas tragédias na conta da política de imigração europeia, é que não faz sentido nenhum e é escamotear as reais causas e desresponsabilizar os verdadeiros culpados.

05 outubro 2013

Convicções irrevogáveis

No séc XII desenvolveu-se no sudoeste de França um movimento cristão autónomo – os cátaros, palavra derivada do grego, significando “puros”. Recusavam a obediência a Roma, alguns dos seus princípios e, principalmente, muitas das suas práticas. Naturalmente, por um certo prisma, foram classificados de “hereges”. Chegaram a ter um nível elevado de desenvolvimento, organização e abrangência, o que muito irritou o bispo de Roma da altura. À questão espiritual juntaram-se ambições materiais e conflitos territoriais da época e resultou na organização de uma cruzada, exactamente no mesmo estilo das feitas aos sarracenos, com os correspondentes e brutais saques e massacres. Ficou célebre a resposta do Abade Arnaud Amaury quanto na tomada de Beziers o questionaram sobre como distinguir os hereges dos bons fieis: “Matem-nos a todos, Deus saberá reconhecer os seus…!”

A cruzada foi longa e as forças eram maiores do outro lado. À medida que a pressão subia os cátaros foram-se refugiando nos castelos da região, verdadeiros ninhos de águia. O último foi Montsegur. Da base da colina ao topo são 150 m de desnível íngreme. Após um cerco de 10 meses, o castelo foi finalmente tomado. Aos sobreviventes do assalto final foi proposto renegarem a sua fé. Mais de 200 recusaram-se e foram queimados ali mesmo.

Outros tempos, outro contexto social, cultural, outra escala de valores e não é fácil fazer leituras daqui para lá. No entanto, assumindo a diferença nos tempos e o facto de que também já nem sequer haver fogueiras, quantos estão dispostos nos dias de hoje, mesmo depois de irremediavelmente derrotados, a prescindirem de algo valioso, para manter um caminho e uma convicção até ao fim, nem que isso represente perder o pouco que lhes resta? E, no entanto, a grandeza da dimensão humana está precisamente nisso!

03 outubro 2013

Este bloco... !

Ao PSD também não lhe correram bem as eleições autárquicas. A direcção do BE exige que o PSD tire as devidas ilações da sua derrota e que se demita do governo! Ora bem, o mesmo BE perdeu a única câmara que tinha e não conseguiu sequer eleger um vereador em Lisboa.

Se o BE acha que uma derrota nas autárquicas é razão para o governo se demitir, então parece lógico que o seu próprio descalabro deveria ter alguma consequência interna, não é Sr Semedo? Para um partido que se considera tão puro, rigoroso e sem mancha de pecado, este “olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço”, não cai nada bem…!

02 outubro 2013

O meu iCoiso

Conforme já disse aí atrás, agora tenho um ICoiso. Depois da actualização, quando olho para ele, parece-me um campo de alfaces. Tenho aplicações, uma boa parte delas do capítulo informativo, mas que me solicitam os óculos mais do que eu gostaria e nem sempre os tenho á mão. A Siri é uma querida. Chamo e ela responde prontamente, questionando o que pode fazer por mim. Falo-lhe em francês porque ela não entendia bem o meu sotaque inglês. Agora ela entende perfeitamente o que eu digo mas nem sempre a acção subsequente faz sentido… pois…

E depois, cada vez que carrego, actualizo ou inicio algo, vem a pergunta fatal: se quero partilhar. Eu sei que se diz e se ensina que é importante saber partilhar e, portanto, será feio eu não querer “partilhar”. Só que, o partilhar que eu entendia é algo de concreto e objectivo. Aqui não sei muito bem o que eles querem dizer com isso: partilhar exactamente o quê e com quem?! Aliás parece-me que a palavra mais adequada não será bem “partilhar” mas sim “cuscar”. Donde que a questão é antes: quer ser “cuscado”? E eu respondo naturalmente: Não!!

30 setembro 2013

Fuga dos partidos

Como é habitual, em maior ou menor escala, o poder foi “castigado” e a oposição reclama uma leitura política nacional e exige mudança. É assim em todas as autárquicas e, se nestas esse castigo está bem presente, a leitura dos resultados pode e deve ser muito mais rica. Refiro-me obviamente ao sucesso dos imprevisíveis independentes. A sua origem não é toda idêntica. Há políticos de carreira em ruptura com o aparelho central e há particularmente o caso do Porto, que é uma novidade absoluta nesta escala: um movimento de cidadãos organiza-se para tomar o destino da cidade nas suas mãos. Certamente uma especificidade fruto da personalidade muito particular da cidade. Independentemente da motivação das candidaturas independentes, o seu sucesso tem uma leitura clara. As populações rejeitaram os candidatos dos partidos e não vêm o futuro da sua terra nas mãos dos “Marcantónios” e à mercê das suas tácticas.

É mais um sinal de descrédito nos aparelhos partidários, nos seus modos de funcionamento e valores. A sua preocupação prioritária em gerir o poder no seu interior, deixa-os cada vez mais afastados e estranhos às populações. Se nas autárquicas é relativamente fácil aos cidadãos organizarem-se e criarem alternativas com sucesso, será muito difícil acontecer a nível nacional, numas legislativas, o mesmo que aconteceu no Porto. Isso, no entanto, não deveria ser motivo de descanso para os partidos e é muito mau atribuírem a culpa da sua derrota à simples existência de independentes.

28 setembro 2013

Solidariedade e moralidade

Começo por esclarecer que não sofro de nenhuma alergia generalizada a funcionários públicos. Algumas das suas funções são essenciais à sociedade e muitos são excelentes profissionais. Agora, o que me choca nestes tempos recentes é o seu estatuto de “casta” diferente e devidamente confirmado pelos tribunais competentes. Por um lado, o Tribunal Constitucional entende que como cidadãos não podem ser tratados de forma diferente de todos os outros, depois descobre que afinal não podem ser despedidos… Formalmente pode estar correcto, mas moralmente não está. Temos agora as providências cautelares para bloquear o aumento do horário de trabalho. Se está em causa uma alteração contratual, e se afinal estes contratos são iguaizinhos aos outros, entende-se que não possa ser decidida unilateralmente. No entanto, nós não estamos num período normal! Já sem falar naqueles que simplesmente ficaram desempregados, quantos nestes últimos meses tiveram um aumento da carga de trabalho, obrigando a horas adicionais não remuneradas; quantos tiveram duma forma ou de outra uma redução de remuneração, quantos entrarem em situação de precariedade acrescida? No momento em que escrevo isto tenho presente um caso de um amigo que após estar desempregado foi contratado sem prazo e com período experimental de 8 meses. Pouco tempo antes do fim desses 8 meses, o contrato foi rescindido pela entidade patronal para lhe ser proposto outro, a prazo, e com redução de vencimento.

Algumas destas alterações e reduções que tantos sofreram são fruto da necessidade desesperada de sobrevivência das empresas, outras serão oportunismo abusivo das entidades patronais, no entanto o que fica é que, escudados numa legislação simpática e em tribunais amigáveis, há uma grande maioria dos funcionários públicos que não está a participar de forma proporcional no esforço de ajustamento em curso. A viabilidade económica de uma empresa ou de um país não se decreta em acórdão, alcança-se por esforço solidário. A sensação de não equidade na repartição dos esforços é um veneno que mata…

25 setembro 2013

E eu pensei que tinha visto tudo

De há uns tempos para cá tornou-se moda, para não dizer praga, colocarem-se aloquetes (ou para quem preferir cadeados) nos gradeamentos das pontes como símbolo da união, da paixão, etc e tal…

Em Argel há uma ponte na zona de Telemly chamada ponte dos suicídios, de tal forma que lá se colocou uma grade para dificultar a tarefa. Ora bem, há cerca de duas semanas, três jornalistas lançaram o desafio de mudar a imagem da ponte para ponte do amor e convidaram os apaixonados da cidade a lá irem colocar o cadeado da sua paixão. A ideia é bem recebida e a as autoridades locais até decidem mandar pintar a tal grade.

Isto estaria bem se não se contasse com uns tais de fundamentalistas, salafistas que, “naturalmente”, consideraram que andar por aí em público a falar e a recordar o amor é uma heresia e um sortilégio. Vai daí, lá vão eles rebentar com aquilo, em nome da pureza e da recusa das influencias ocidentais nefastas.

Mas os apaixonados não desistem. Regressam na semana seguinte e deparam-se com a polícia que lhes pede uma “autorização administrativa” para lá fecharem o cadeado…

E eu pensei que já tinha visto de tudo!


Foto roubada

22 setembro 2013

E vão três !

Num curto espaço de tempo ocorreram dois factos relevantes, pelo menos para mim. A Microsoft comprou a divisão de telemóveis da Nokia por “tuta e meia”, relativamente à valorização passada desta, e eu, relutantemente, tive o meu primeiro iCoiso.

Sobre o descalabro da grande referência da modelar Finlândia, uma das únicas marcas europeias de tecnologia de grande consumo, pode dizer-se que sofreu de fartura mal digerida. Quando para muitos, esta era a “sua” marca inquestionável de telemóvel, eles não viram chegar os “dual-sim” que atiraram muitos dos seus fiéis para os braços da Samsung, mesmo a contragosto. A investida da Apple, abrindo o mercado para cima, também lhes passou ao lado. Possivelmente os seus últimos gestores “nasceram” ricos e que não tiveram iniciativa nem visão suficientes para enfrentar com sucesso o desafio de existir – um problema muito frequente.

Quanto à Apple, confesso que até tenho alguma simpatia pelo seu histórico de teimosia e coragem, e que após quase desaparecer, acabou por proporcionar um sucesso estrondoso. No entanto, este novo iCoiso faz-me torcer um pouco o nariz – parece querer mandar em mim mais do que eu gostaria Porque não recebe um cartão normal, porquê o cabo é específico e não USB standard? Felizmente não precisei de apresentar numero de cartão de crédito para o activar como já vi no passado, mas o estar fechado sobre um “ecosistema” próprio, por muito excelente que esta seja, enfim… e, talvez um dia descubra que o fechado “facetime” é superior ao aberto “skype”. Para já, ainda não descobri. Ainda por cima, poucos dias depois de o ter já tinha actualizações de sistema e de aplicações “obrigatórias” a fazerem-me nervoso miudinho.

Da Microsoft tenho uma herança de anti-corpos. Tiveram um enorme sentido de oportunidade, aproveitaram bem, mas nunca foram uma empresa de inovação nem de despertar o mínimo entusiasmo. Limitaram-se a espremer os seus clientes cativos sem grandes contemplações. Lembram-se que quando faziam novas versões de aplicações, cujo principal efeito parecia ser obrigar a comprar uma máquina nova…?

Hoje a Micrsoft, em queda, desdobra-se em esforços, nem sempre conseguidos, de fazer coisas bem-feitas. Será que vou passar a ter mais simpatia por eles, do que pela Apple? Será que tenho uma propensão doentia para ficar do lado dos mais fracos? Não, acho que não, é apenas uma questão de lidar mal com arrogância e muitas vezes é necessário passar pela mó de baixo para mudar de atitude. Infelizmente, demasiadas vezes, é esse o caso…

04 setembro 2013

Incêndios e descontrolo

Recordo-me de há uns anos largos atrás um importante incêndio florestal ter ocorrido em Maio e o ministro da tutela se ter desculpado pelo facto de este ter vindo antes da época oficial. Atendendo ao que se passa este ano, fico com uma certeza muito firme de que a época de incêndios se inicia na realidade quando a comunicação social pega assunto e começa a passar imagens sugestivas. Aí a coisa multiplica-se de forma assombrosa. Julgo que vale a pena reflectir e regulamentar algum tipo de restrições à divulgação das imagens dos fogos.

Sobre os bombeiros mortos, este ano, há algo de estranho. Os casos fatais anteriores de que me recordo são passados com “grupos” de bombeiros apanhados de surpresa. Esta situação actual de serem individualmente vitimados é nova, estranha e merecia alguma reflexão. O que há/houve de novo este ano para tal ocorrer? A formação que receberam foi a adequada? Há uma diferença entre voluntariado e voluntarismo. A complexidade do combate aos fogos florestais justifica certamente um alto grau de profissionalismo e, também, se existe uma instituição encarregada e paga para defender o país, este é provavelmente um campo que justifica a sua intervenção.

A afirmação de um responsável do sector, aparentemente suportada nas tais imagens da televisão, de que para evitar mortes é melhor deixar arder, é também muito estranha. Em primeiro lugar, é óbvio que em certas situações é necessário deixar arder uma parte para confinar o incêndio, sem que isso configure abandonar o fogo. Mas, se os bombeiros se expuseram onde não deviam, a culpa é do Ministro? Em segundo lugar, traduz uma lógica de valores no mínimo incompatível com a floresta. Uma boa floresta perdida pode ter muito mais valor e ser muito mais difícil de repor do que uma casa.

Com o devido respeito pelo esforço de quem lá está e os pêsames pelos perdidos, há aqui coisas que não estão bem e que não estão a ser devidamente analisadas. E, se não for pedir muito, que se pense no assunto antes da próxima época mediática de fogos.

02 setembro 2013

Venha mais uma guerra?

O Presidente dos EUA decidiu intervir militarmente na Síria, na sequência da constatação da utilização de armas químicas pelo regime. Se não há dúvidas sobre terem sido realmente usadas, a respectiva responsabilidade pode não ser tão clara e não são certamente as certezas oficiais dos funcionários de Obama que me convencem. Por trás dos rebeldes está, entre outros, o Al-Qaeda. Imaginar que eles próprios possam ter recorrido a essas armas contras os “seus”, para obterem o efeito que se perspectiva não é nada de improvável, atendendo ao histórico e aos valores de tal organização.

Agora, se até for verdade que a responsabilidade foi do regime, qual a base legal para a tal intervenção? Não pode ser obviamente uma decisão do presidente dos EUA, eventualmente validada pelas suas câmaras de representantes. E não pode ser porque isso dará argumentos a qualquer país para intervir em qualquer sítio, bastando-lhe uma decisão interna. É certo que os EUA não são um país qualquer, mas isso só lhes traz responsabilidades acrescidas. Se a Síria ultrapassou uma linha vermelha em direito internacional, a resposta teria que vir por direito internacional e não por iniciativa de um justiceiro solitário…

Finalmente há a questão de para que serve e o que mudará com essa intervenção. Enviam-se uns mísseis, fazem-se uns estragos, assusta-se os maus da fita e depois…? Radicalizam-se os ódios ao Ocidente, eventualmente cai um regime para um novo Iraque ou uma nova Líbia… consegue-se imaginar um balanço final positivo?